O que você NÃO precisa aprender na escola

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Rá, yeyé, pegadinha do malandro!!!!

Fingi que eu estava surtando dando aula, e que um aluno estava filmando meio escondido, só pra testar uma ideia: um canal com uma anti-aula, ou seja, uma aula que ensina o que você NÃO precisa saber do que se aprende na escola.

Currículo escolar é uma discussão sem fim. Primeiro porque os conhecimentos mudam, ainda mais em ciências. Segundo porque as opiniões do que é importante variam muito, e terceiro porque há interesses  econômicos e ideológicos envolvidos.

O que temos agora como grande definidor de conteúdos é o vestibular, ou seja, um mar de conhecimentos com um palmo de profundidade, e o aluno termina o 3o ano sabendo quase nada de quase tudo. Quando o aluno passa para alguma universidade tem que aprender novamente o que realmente tem a ver com a carreira escolhida. Todo o resto do tempo gasto na escola aprendendo outras coisas foi jogado no lixo. E quem não vai prestar vestibular (sim, existe vida fora da academia) perdeu mais tempo ainda.

Agora a onda é ensinar habilidades e competências. O problema é que não tem tempo para ensinar isso sendo que o aluno tem que resolver a lista de exercícios semanal em formato de FUVEST desde a 6a SÉRIE, como alguns colégios fazem! Vamos ver quantos anos vão se passar até habilidades e competências realmente entrarem nos currículos, ou até  trazerem a nova moda da educação, já que a cada período uma nova mudança estrutural grande é proposta e acaba sendo aplicada parcialmente ou não aplicada, para dar espaço a uma outra reestruturação, que por sua vez não vai até o fim porque agora vão trazer outra estrutura… Bom, você entendeu.

Com isso na cabeça, vou começar uma série de vídeos me baseando nos conteúdos de uma apostila muito utilizada no Brasil. Preferi não dizer qual é para evitar qualquer ligação de advogados de grandes empresas de educação, mas é muito conhecida e se parece com muitas outras utilizadas por aí.

O meu ponto vai ser: esquecendo o vestibular, o que precisamos aprender na escola? O que realmente é útil no nosso dia a dia?
Claro que essa vai ser a minha visão pessoal.

Isso vai dar um rolo…

Você o estudou mas ele NÃO EXISTE: o mesossomo

miniatura mesossomo

É incrível, descobriram que o mesossomo não existe desde o final dos anos  70 e ele ainda é ensinado e está em todos os livros didáticos!

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Geografia da Pós-graduação brasileira.

É péssimo admitir isso, mas só conheci o portal GeoCapes há duas semanas em uma palestra sobre política cientifica ministrada pela presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Profa. Dra. Helena Bonciani Nader.

Entre os dados pode-se consultar o número de bolsas de pós-graduação concedidas, a distribuição de discentes, docentes e de programas de pós-graduação, tudo isso em nível municipal, estadual ou federal.

Também são interessantes os dados de acesso ao Portal de Periódicos disponibilizado pela CAPES.

A imagem abaixo mostra um pouco da interface, para ampliá-la basta clicar.

Interface do portal GeoCapes. Acesse!

Um prato cheio para quem precisar ou se interessar por um raio-X da pós-graduação no Brasil.

Odeio esse termo, mas #ficadica!

Um professor rio abaixo

Este Blog Action Day sobre a água caiu bem no dia do professor. E eu com essa mania pragmática e direta de resumir tudo e fazer duas coisas ao mesmo tempo não me contive e pensei no que uma coisa podia se ligar a outra, e acabei me lembrando da experiência mais fantástica da minha vida. Uma experiência didática sobre a água (não que eu tenha caminhado sobre ela) que mudou mesmo minha vida pra sempre.

Foi durante a graduação em biologia, quando tínhamos aulas de prática de ensino que consistiam em aulas teóricas por um semestre e no outro aulas reais na rede pública de Rio Claro, interior paulista.

A enrascada começa no ensino fundamental, no qual o conteúdo não respeita a minha tacanha formação biológica e eu podia pegar aula de matemática, português, ciências sociais e, com muita sorte, ciências, que ainda sim engloba TODAS as ciências básicas. [adendo – interessante que a única aula que eu não corria o risco de pegar era a de educação física. Essa mania de separar essa aula das outras é uma coisa que sempre me incomodou, mas deixo esta saga para os educadores físicos.]

Sorteada a sala de aula, fico com uma quinta série em aulas de geografia. O tema é rios e relevo.

Hum… e agora? Foi importante ter uma biblioteca didática na faculdade, não cheia de livros, mas com material como mapas, globos e maquetes. E foram essas coisas que me deram o insight. Peguei emprestado e fui pra aula com um mapa do estado de São Paulo, um globo terrestre e uma maquete do relevo do rio Tietê.

Chegando lá, mapa na parede, aponto o rio e pergunto “Pra onde o rio aqui corre?”
“Dâââ fessor, de cima pra baixo até o mar, né! (professor besta)” disseram e pensaram os alunos.
Etapa 1 concluída
rio tietê.jpg

http://blogactionday.change.org/Eita rio danado que corre pra cima!


Agora a etapa 2 foi a maquete. Ela mostrava um corte do rio e revelava o perfil do relevo do Tietê. E eita rio danado que, ao contrário de quase todos os outros, nasce no mar e corre para o meio do continente ao contrário de todos os outros.

Ok, na verdade não nasce no mar, mas na Serra do Mar, e vem descendo até encontrar o rio Paraná.
Passei para a próxima etapa: colocar o mapa sobre a mesa com a maquete do relevo em cima. E veio a pergunta novamente: “pra onde corre o rio Tietê?”. Hum, agora na horizontal é tudo diferente. Mas então o rio pode correr pra cima? Onde é “cima”?

Foi aí que entrou o globo e a mágica aconteceu: não existe “cima” ou “baixo” num mapa; um rio pode correr para cima; pensava uma coisa e agora entendi outra; e outras idéias que eu nem posso imaginar.

Posso dizer que essa foi uma das maiores emoções que já tive na vida, e é esse brilho no olhar da molecada tendo seus insights, quase que em transe, que me acompanha e me impulsionou a inaugurar este blog. Não sou um professor com P maiúsculo, esse é meu hobby. Mas quem sabe meu rio não me leva a ser um professor profissional?

Change.org|Start Petition

Alice no país da programação computacional!

060310_alice_vsml_1p.jpgQuem acompanha meu Twitter sabe que me direciono cada vez mais para iniciativas ligadas a educação.

Uma que conheci recentemente foi o software Alice, que busca fazer da programação computacional orientada a objetos algo simples e divertido de se aprender. Ao contrário das intragáveis sentenças computacionais clássicas (até quem só mexe com html, como blogueiros, arrepia às vezes), o programa possui um ambiente gráfico amigável e a sensação de se brincar com um jogo de computador. Conhecer o Alice me fez pensar imediatamente na oportunidade que pessoas como eu têm nas mãos.

Explico: tenho muito interesse em desenvolver material didático animado e nenhuma noção de programação. Com esse software posso tentar criar animações relacionadas ao ensino de biologia, química e, por que não, fazer apresentações mais interessantes para palestras, cursos, etc.!

O programa é uma ferramenta de ensino gratuita utilizada em várias escolas americanas e que permite ao usuário criar e até compartilhar na web filmes animados e videogames simples. Os estudantes visualizam imediatamente o funcionamento do programa que eles criaram, o que permite o fácil entendimento da relação entre as sentenças de programação e o comportamento dos objetos na tela.

logo_alice_Brasil.jpgO mais legal: fui convidado para o Congresso Alice Brasil 2010, evento organizado pelo Mackenzie que reunirá educadores, profissionais e cientistas para debater o ensino da programação computacional no Brasil. A ideia é mostrar a crianças e jovens brasileiros o verdadeiro potencial dos computadores.

Fato interessante: o nome Alice é uma homenagem a Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho. A homenagem veio por Carroll ter percebido o grande poder de se comunicar de modo claro e interessante.

O evento acontecerá nos dias 2 e 3 de março no campus São Paulo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e contará com oficinas, palestras, apresentações literárias e lançamentos de livros.

Quer saber mais? Acesse www.alicebrasil.com.br para todas as informações do evento e www.alice.org para conhecer mais sobre esse ótimo projeto!

Bate papo sobre as preocupações e os anseios de um educador e de um cientista.

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As preocupações e os anseios de um educador e um cientista com relação à educação, o papel das Universidades e o acesso da população aos meios científicos. 

Aqui, um dos blogueiros do RNAm conversa com um grande amigo apelidado Sangue, professor do Estado há alguns anos, sobre a educação, o método científico e tudo mais.

Esta conversa não foi planejada, simplesmente surgiu pelo msn, e foi transcrita praticamente sem alterações. Por isso desculpem a informalidade e elogiem a franqueza.

E, claro, nos digam o que acham de tudo isto.

Leiam a conversa clicando abaixo:

Continue lendo “Bate papo sobre as preocupações e os anseios de um educador e de um cientista.”

Um argumento a menos para os “defensores dos animais”: Brasil regulamenta o uso de cobaias.

Demorou 13 (sim, TREZE) anos para sair (ou entrar, depende do referencial) do papel, mas o Ministério de Ciência e Tecnologia finalmente regulamentou a Lei Arouca, que trata do uso de animais para Ensino e Pesquisa no Brasil.

400px-Lab_rat.jpg

Os verdadeiros Heróis da Ciência


Quem tiver interesse em conhecer tudo à respeito dessa nova Lei, pode acessar o Portal do Ministério da Ciência e Tecnologia, que contém toda a informação necessária.
Agora os defensores de animais precisarão rever parte de seu discurso, já que a idéia de “uso indiscriminado e assassino”, em teoria, não se aplicará mais. Como o Lula adora dizer, “nunca antes na história desse país” houve qualquer tipo de controle oficial sobre a utilização de animais, mas agora isso faz parte do passado.
Formação do Concea
A lei nº 11.794 de 8 de outubro de 2008 havia sido sancionada em Outubro de 2008, e foi publicada no Diário Oficial da União do último dia 15 de julho (Decreto nº 6.899). Também ficou estabelecida a criação do Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), que será presidido pelo ministro da Ciência e Tecnologia.
O Concea será formado por 14 integrantes, e incluindo dois membros de sociedades protetoras de animais legalmente criadas no país. No conselho também estarão representados órgãos públicos e associações científicas, como a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a ABC (Academia Brasileira de Ciências).
Todas as instituições que criam ou utilizam animais para fins científicos ou didáticos também deverão se adequar. Será considerado ilegal quem não criar ou se associar a uma comissão de ética em até 90 dias. Vale lembrar, no entanto, que todas as instituições de pesquisa e ensino sérias do Brasil já possuem seus comitês de ética há vários anos, de modo que o controle sempre foi exercido internamente (todos os projetos que envolviam experimentação animal de que eu participei até hoje foram avaliados e aprovados pelo comitê de ética da universidade em que trabalho.
Hoje, no Cobea (Comitê Brasileiro de Experimentação Animal), já existem 150 comissões de ética cadastradas. “A maioria das universidades federais e estaduais, assim como as particulares e as diversas instituições [públicas] de pesquisa e laboratórios particulares já tem sua comissão ou está criando”, afirmou Marcel Frajblat, pesquisador da Universidade do Vale do Itajaí (SC) e presidente do Cobea (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal), em entrevista à Folha de São Paulo.
O Estado chega atrasado mais uma vez
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Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório


Apesar de a Lei Arouca ser de extrema importância, vale ressaltar que já havia uma noção consciente sobre o manejo dos animais usados em experimentação animal, sendo necessário dar destaque à atuação da Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório, a SBCAL, e dos Comitês de Ética em Pesquisa que já haviam sido formados muito antes de qualquer ação governamental, dada a importância desse controle.
* Em breve, teremos aqui no |RNAm| um parecer jurídico sobre o conteúdo da Lei Arouca, fiquem atentos!

A importância da ignorância na pesquisa científica

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Por Martin A. Schwartz
Originalmente publicado no Journal of Cell Science e traduzido por Rafael Soares
Reencontrei recentemente uma velha amiga que não via há anos. Éramos alunos de doutorado na mesma época, ambos estudando ciência mas em diferentes áreas. Ela deixou a área e foi para faculdade de direito em Havard e agora é advogada sênior de uma grande organização ambiental. Num determinado momento a conversa pendeu para o porque de ela ter largado a academia. Para meu total espanto ela disse que saíra porque se cansou de se sentir estúpida. Após alguns anos se sentindo estúpida todos os dias ela percebeu que estava pronta para fazer outras coisas.
Para mim ela era uma das pessoa s mais brilhantes que eu conheci, e a sua carreira posterior prova esta constatação. O que ela disse me incomodou. Eu continuei pensando naquilo, até que no dia seguinte caiu a ficha. A ciência me faz sentir idiota também. O que acontece é que eu me acostumei com isso. Tanto me acostumei a isto que persigo ativamente novas oportunidades de me sentir estúpido. Não sei o que eu faria sem este sentimento, e até acho que é assim que deve ser. Deixe-me explicar.
Para a maioria de nós, uma das razões para gostarmos de ciências na escola era que nós éramos bons nisto. Mas esta não pode ser a única razão – fascínio por entender o mundo físico e uma necessidade emocional de descobrir novas coisas devem existir também. Mas para a escola e a faculdade a ciência consiste em fazer aulas, e ir bem nas aulas significa dar as respostas certas nas provas. Se você souber as respostas você passa bem e se sente esperto.
No doutorado, onde você tem um projeto de pesquisa, a coisa é bem diferente. Para mim foi uma tarefa amedrontadora. Como eu poderia formular a pergunta que me levaria a uma descoberta significativa; desenhar e interpretar um experimento para que as conclusões fossem absolutamente convincentes; prever obstáculos e achar maneiras de circundá-los, ou, caso falhasse nisso, resolvê-los quando aparecessem? Meu projeto de doutorado era interdisciplinar e, por um tempo, sempre que tive um problema eu podia importunar alguém em meu departamento, que tinha especialista em várias disciplinas de meu interesse. Eu me lembro de um dia em que Henry Taube (que ganhou o prêmio Nobel dois anos depois) me disse que não sabia como resolver um problema que eu estava tendo, mesmo se tratando de sua área.
Percebi que eu era apenas um aluno de trinta anos e que Taube deveria, por baixo, saber 1000 vezes mais do que eu. Se ele não tinha a resposta, então ninguém tinha.
Foi aí que entendi: ninguém sabe. Por isso mesmo que é um problema em pesquisa. E sendo a MINHA pesquisa, era minha responsabilidade resolvê-lo. Ao encarar este fato resolvi o problema em poucos dias. (E não era realmente muito difícil; apenas tive que testar algumas poucas coisas.) A moral da história é que a área das coisas que eu não sabia não era apenas vasta; era, na prática, infinita. Ao invés desta constatação ser desencorajadora, ela era libertadora. Se a ignorância é infinita, a única atitude que nos sobra é dar o melhor de nós.
Eu gostaria de dizer que os programas de pós-graduação geralmente fazem um desserviço para a formação do estudante de duas formas. Primeiro porque os estudantes não percebem o quão difícil é fazer pesquisa. Mais difícil ainda pesquisa de grande importância. É muito mais difícil que ir bem nas aulas, mesmo nas mais exigentes. O que torna a pesquisa difícil é o mergulho no desconhecido. Nós simplesmente não sabemos o que estamos fazendo. Até termos um resultado, nós nem ao menos estamos certos se estamos fazendo as perguntas certas ou os experimentos adequados. Para atrapalhar, ainda temos a competição por financiamento e visibilidade em revistas de prestígio . Mas fora isto, fazer pesquisa relevante é intrinsecamente difícil, por isso qualquer mudança nos cursos, departamentos ou instituições não vão diminuir esta dificuldade intrínseca.
Segundo, nós não ensinamos nosso alunos a serem ignorantes produtivos – ou seja, se eu não me sinto estúpido, significa que eu não estou realmente me esforçando. Não estou falando de ´ignorância relativa´, como quando os outros alunos na turma lêem as lições, estudam, passam na prova, e você não. Também não estou falando de pessoas brilhantes que estejam em áreas que não aproveitam seus talentos. Ciência envolve confronto com a ´ignorância absoluta’. Aquela que é um fato existencial inerente a nosso esforço de adentrar no desconhecido. Exames de admissão e bancas de defesa atingem seus objetivos quando forçam o aluno até começar a dar respostas erradas ou desistir e dizer, ´não sei´. O objetivo do exame não é avaliar se o aluno responde todas as perguntas. Se ele responder, quem falhou no teste foi a banca. O objetivo real é identificar as fraquezas do aluno, primeiro para ver onde ele deve se esforçar mais, e segundo para saber se o conhecimento dele estaciona no nível alto o suficiente para tocar um projeto de pesquisa.
Estupidez produtiva significa ser ignorante por escolha. Focar em uma questão importante nos coloca numa posição de ignorância. Uma coisa boa em ciência é que ela nos permite tropeçar por aí, errar de vez em quando, e mesmo assim nos sentirmos bem, contanto que aprendamos algo com isso tudo. Claro que isto é muito difícil para alunos que estão acostumados a ter a resposta certa. Claro que um bom nível de confiança e equilíbrio emocional ajudam, mas eu acho que educação científica deve fazer mais para atenuar esta grande transição: de aprender as descobertas de outras pessoas para começar a fazer as suas próprias. Quanto mais confortáveis estivermos sendo ignorantes, mais profundamente poderemos penetrar no desconhecido para fazer grandes descobertas.