>Um lindo exemplar de Rauisuchia!

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Muitos devem ter acompanhado ontem pela televisão a curta notícia sobre o achado fóssil de um grande réptil de 238 milhões de anos na região do município de Dona Francisca, Rio Grande do Sul.  O material foi referido como pertencente a Prestosuchus chiniquensis, uma espécie de rauissúquio já conhecida pela ciência desde a primeira metade do século XX. O exemplar encontrado, porém, merece destaque! O estado de conservação está magnífico e o bicho encontra-se em grande parte articulado. Nas imagens é possível identificar o crânio do animal em excepcional estado de conservação.


Apesar de parecer, aviso antecipadamente: NÃO É UM DINOSSAURO. Trata-se de um Rauisuchia! – O que diabos? – Bem… já vamos entender toda história.

No Rio Grande do Sul, próximo ao município de Dona Francisca, cerca de 260km de Porto Alegre,  uma equipe de pesquisadores da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) anunciaram a descoberta de um fóssil quase completo de um superpredador do período Triássico. O animal, que teria cerca de 7 metros de comprimento e 238 milhões de anos, trata-se, segundo os envolvidos na descoberta, de um exemplar de Prestosuchus chiniquensis, uma espécie de rauissúquio que já fora descrita em 1942 por Friedrich von Huene, pesquisador alemão que na época explorava afloramentos fossilíferos do sul do Brasil.

           
Crânio e reconstituição em vida de Prestosuchus chiniquensis Barberena & Bonaparte, 1978

Prestosuchus é uma espécie de rauissúquio, grupo de grandes animais carnívoros quadrúpedes, terrestres, semelhantes a crocodilos, da linhagem dos Crurotarsi. Os Crurotarsi por sua vez são um dos dois grandes braços dos Archosauria, sendo dessa forma, grupo irmão dos Ornitodira. Os Crurotarsi englobam todos os crocodilos modernos e seus parentes pré-históricos, enquanto os Ornitodira, os pterossauros e dinossauros e aves.
Cladograma demonstrando as relações de parentesco entre os grupos citados acima

Isso ajuda a esclarecer uma questão: o animal encontrado é apenas como um primo distante dos dinossauros, apesar das semelhanças. E vale ressaltar ainda, que ele viveu num período um pouco anterior ao início da grande radiação dos seus parentes, que se deu há cerca de 230-225 milhões de anos atrás.

Qual a importância dessa descoberta?

O fóssil quase completo representa um dos mais importantes achados deste grupo de répteis. Os prestosuquídeos foram descobertos na primeira metade do século XX, em 1938, na região de Chiniquá, município de São Pedro do Sul, RS, em rochas correspondentes à Formação Santa Maria. Friederich von Huene foi quem recolheu os materiais, que constituíam-se de partes de um crânio e alguns outros ossos. Todos esses foram levados para estudos na Alemanha, onde permanecem até hoje no museu de Tübigen.


Mais tarde, na década de 70, um crânio completo foi encontrado. Ele estava associado a vértebras isoladas e outros materiais pouco preservados. Até hoje não se conhecia com detalhes, no entanto, como eram os membros posteriores desses animais.

A nova descoberta, sob essa perspectiva, veio abrir uma janela na compreensão da anatomia dos rauissúquios prestosuquídeos. “Este é o único fóssil deste grupo de animais a apresentar uma pata traseira preservada”, destaca Sérgio Furtado Cabreira, um dos paleontólogos envolvidos no achado. “Ele poderá trazer novas informações sobre a locomoção desses animais e favorecer uma reconstrução mais precisa do esqueleto”, adiciona o paleontólogo.

As rochas sedimentares do local da escavação correspondem ao que seria um lago primitivo. Herbívoros triássicos deveriam se reunir ali para matar a sede e esses predadores estariam prontos para a emboscada. O que tudo indica, pelo estado de preservação e articulação do material, é que logo após a sua morte o animal foi soterrado rapidamente. Nas rochas do entorno foram encontrados também restos de grandes dicinodontes e de pequenos cinodontes herbívoros, provavelmente presas comuns desses animais.

Os pesquisadores envolvidos na descoberta integram um projeto da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação associada ao Museu de Ciências Naturais da ULBRA Canoas. Deve levar cerca de dois anos até que o material seja devidamente preparado e sejam publicados os seus primeiros estudos descritivos.

Mais detalhes sobre a descoberta

Há cerca de três anos Sérgio Cabreira e Lúcio Silvia encontraram duas grandes vértebras isoladas na área de estudo, um afloramento da Formação Santa Maria. De acordo com os pesquisadores, essas foram as pistas de que poderiam encontrar mais materiais naquela localidade, e que, pelo tamanho do material, poderiam pertencer a algum tipo de grande predador.

Foram as fortes chuvas do último verão que acentuaram a erosão do terreno rochoso e acabaram por expor as demais partes do esqueleto do animal ali sepultado. Nas fotos é possível ver o material preparado para retirada dentro dos bolsões de gesso.



 — O Rio Grande do Sul é umas das principais zonas de escavação paleontológicas brasileiras e é reconhecido mundialmente pela importância de seus fósseis. As rochas sedimentares mesozóicas, como a da área na qual foi encontrado o Prestosuchus, afloram preferencialmente na região central do estado e constituem uma destacada área de geoturismo.


— Quando se fala do Rio Grande do Sul não se pode deixar de falar do chamado Geoparque Paleorrota. Os afloramentos do geoparque abrangem rochas de idades permiana (Permiano Superior) e triássica (Inferior, Médio e Superior), entre 270 e 210 milhões de anos, das conhecidas unidades litoestratigráficas Santa Maria, Caturrita, Sanga do Cabral, Rio do Rasto e Irati.


— Foram as Formações Santa Maria e Caturrita que nos forneceram os registros dos mais antigos dinossauros brasileiros e dentre esses, algumas das formas mais basais de dinossauros do mundo. Os dinossauros gaúchos ajudaram e continuam a ajudar na elucidação do início da história evolutiva desses animais. 


— Em março desse ano pesquisadores da UFRGS anunciaram também a descoberta de um outro predador Triássico, Trucidocynodon riograndensis, um animal do tamanho de um lobo que viveu há cerca de 220 milhões de anos atrás.

Para saber mais:

>A MEGA Importância dos MICRO e NANO organismos

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Há quem diga que estudar os microfósseis não tem nada de interessante ou não seja tão emocionante como encontrar um grande crânio ou fêmur de dinossauro. Oras, eu também poderia pensar o mesmo. Entretanto não é bem assim. O estudo de microfósseis é extremamente importante para a Paleontologia, e não deve ser subestimado, muito pelo contrário. Veremos logo abaixo, de maneira bastante sucinta, alguns dos por quês!


São considerados microfósseis todos aqueles vestígios microscópicos de organismos vAdicionar imagemivos, que representam ou o organismo todo ou partes deles – como ossos, unhas, dentes, conchas, fragmentos do exoesqueleto ou pólen. Os mesmos podem não só ajudar, mas são essenciais à paleoecologia e à paleoclimatologia, sendo muitos, peças fundamentais para determinar como se estruturava o ambiente primitivo. São peças-chave também na bioestratigrafia, ajudando a correlacionar estratos entre os depósitos sedimentares por todo o Planeta.


Alguns Microfósseis: diatomáceas, ostracodes, radiolários, espícula de esponja,foramíniferos planctônicos e cocólitos

Microfósseis e o Petróleo


A utilização de microfósseis na petrologia se dá pela correlação, a partir de estudos, de espécies de determinados microorganismos em diferentes camadas sedimentares. Esses microorganismos, na maioria dos casos, são representados por microfósseis carbonatados ou calcários. Tratam-se de foraminíferos, ostracodes e cocolitóforos. Abaixo tratarei mais especificamente dos cocolitóforos.

Os nanofósseis calcários são um conjunto de partículas de calcários, com dimensões menores que 50 micra, com grandes variedades de formas, mas geralmente constituem-se de placas arredondadas conhecidas como cocólitos. Parece redundância, mas esses cocólitos formam a cocosfera e são encontrados nos cocoliforídeos, seres unicelulares, biflagelados, fotossintetizantes, geralmente planctônicos e predominantemente marinhos.

O primeiro registro de cocoliforídeos se dá no Triássico Superior. Sua importância na indústria do petróleo está no fato de apresentarem grande diversidade biológica, alta taxa evolutiva, especificidades ecológicas e muito de seus representantes serem cosmopolitas, o que os torna fantásticos indicadores cronoestratigráficos e elementos identificadores de zonações ecológicas.

Nanofóssil Calcário: Cocolitoforídeo

Cocólitos apresentam características ideais para o estudo de camadas sedimentares. Um pesquisador estudando um bolsão de combustível fóssil em qualquer parte do mundo pode saber com uma boa margem de segurança qual a época de sua formação. Por exemplo, se uma espécie tal qual a Braarudosphaera chalk, for encontrada em uma determinada camada estratigráfica, o pesquisador logo saberá que esta pertence ao Oligoceno – época marcada por esta espécie. Então, se o mesmo ou outro pesquisador encontrar essa espécie em outra camada estratigráfica em outra parte do mundo, ele pode caracterizar aquele estrato como também pertencente ao Oligoceno, descartando muitas vezes a necessidade de uma datação radiométrica.

Outros objetos de estudo da Micropaleontologia: Palinologia e os Microfósseis de vertebrados

Dentro da micropaleontologia encontramos vertentes importantíssimas, tal qual a Paleopalinologia, ciência que dedica-se a estudar os grãos de pólen e esporos fósseis. É um ramo paleontológico extremamente importante para o estudo de paleoclimas e paleoecossistemas. Uma vez que cada espécie vegetal possui tipo particular de pólen ou esporo, torna-se possível determinar a composição vegetal e as características climáticas de Eras passadas e como foi sua evolução ao longo do tempo geológico.

Não menos importante, é o estudo dos microfósseis de vertebrados, Além de ajudar a entender melhor a diversidade de vida do passado e estabelecer marcos estratigráficos (como acontece com os dentes de conodontes), eles podem em alguns casos auxiliar a reconstruir características de ambientes extintos. Microfósseis de roedores cenozóicos oferecem essa possibilidade, por exemplo. Esses animais têm exigências ecológicas específicas e estudando a sua assembléia fóssil em uma localidade, podemos reconhecer como eram fisionomias vegetacionais do passado, mais abertas ou florestais por exemplo.

Concluindo, não devemos subestimar o “poder” dos microfósseis. eles são, na verdade, as principais ferramentas da paleontologia. A importância não está no tamanho, mas nas informações que eles são capazes de fornecer sobra a nossa fantástica e misteriosa história evolutiva.

Quando se fala em paleontologia, a primeira coisa que se vem a cabeça, são os fantásticos e imponentes dinossauros do mesozóico, mas o que as pessoas não sabem, ou ignoram, é que a paleontologia é muito mais que isso. Ela é abrangente assim como a genética, que não se baseia só no estudo de relações de paternidade entre indivíduos, ou a ecologia, que não estuda somente as relações entre organismos, ou ainda a bioquímica, que esta além do funcionamento do ciclo de Krebs. Essa abrangência se confirma em congressos de paleontologia, com temas diversificados em todas as escalas, nano, micro, macro ou mega. Considerando a diversidade dentro da micropaleontologia e o seu fantástico poder de predição, muito do que é discutido nesses congressos tem sim por base esse ramo paleontológico.

Em outras oportunidades voltaremos ao assunto, abordando outros grupos de microfósseis bastante importantes na Paloentologia.

Refêrencias

Alves, C.F.; Wanderley, M.D. Utilização dos Nanofósseis Calcários na Industria do Petróleo. 2º Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo & Gás.

Carvalho, I.S. 2004. Sumário. In: Carvalho, I.S.(ed). Paleontologia. Vol 1. Rio de Janeiro: Interciência.

Fauth, G. ; Fauth, S.B., 2009. Microfósseis. Livro digital de paleontologia na sala de aula, UFRGS. Disponivel em: http://www.ufrgs.br/paleodigital/Microfósseis.html.

SEED, 2009. Geology: Microfósseis. Disponível em: http://www.seed.slb.com/v2/FAQView.cfm?ID=970&Language=PT

Aqui vai uma dica de site para quem se interessa por micropaleontologia, o criador, Jere H. Lipps, aborda sobre os mais comumente e importantes microfósseis estudados dentro da Micropaleontologia. Boa leitura!
http:/www.ucmp.berkeley.edu/fosrec/Lipps1.html