Conheça Teyujagua, uma nova (e estranha!) espécie fóssil da região Sul do Brasil

Um grupo de pesquisa multinacional, incluindo cientistas de três universidades brasileiras e um pesquisador do Reino Unido, identificou uma nova espécie de réptil fóssil que viveu há 250 milhões de anos no Rio Grande do Sul. A descoberta ajuda a explicar como foi a evolução inicial do grupo de animais que originou os dinossauros, pterossauros, jacarés e aves.

Ilustração de Voltaire Paes
Ilustração de Voltaire Paes

A nova espécie, identificada a partir de um crânio bastante completo e bem preservado, foi batizada de Teyujagua paradoxa. O trabalho foi publicado no periódico científico Scientific Reports, do grupo Nature, em 11 de março de 2016,

“O Teyujagua é bem diferente de outros fósseis de mesma idade. Sua anatomia mostra que este animal era um intermediário entre répteis primitivos e os arcossauriformes, grupo bastante diversificado que inclui todos os dinossauros extintos, além das aves e jacarés atuais”, explica Felipe Pinheiro, professor da Unipampa (Universidade Federal do Pampa) e coautor do trabalho.

Figura 2 - Fotografias
Fóssil de Teyujagua

A descoberta de Teyujagua comprova que os arcossauriformes se tornaram diversos após um grande evento de extinção em massa que ocorreu há 252 milhões de anos. Esta extinção eliminou cerca de 90% de todas as espécies de seres vivos, sendo desencadeada pelo efeito estufa causado por imensas erupções vulcânicas que ocorreram no leste da Rússia. Depois da extinção, o planeta estava despovoado, o que deu oportunidade para que alguns grupos de animais crescessem em número e diversidade. Após essa diversificação inicial, os arcossauriformes se tornaram animais dominantes nas faunas terrestres do planeta, originando incontáveis formas carnívoras e herbívoras. Teyujagua foi encontrado em rochas do início do período Triássico, testemunhando a recuperação da diversidade biológica após a extinção do período Permiano.

O nome do animal, Teyujagua, significa “réptil feroz” na língua Guarani. Faz referência a Teyú Yaguá, um personagem mitológico indígena, representado por um lagarto com cabeça de cachorro.

O Teyujagua era um animal pequeno, quadrúpede, com cerca de 1,5 m de comprimento. Seus dentes curvados, agudos e serrilhados indicam uma alimentação carnívora. As narinas de Teyujagua eram localizadas na parte de cima do focinho, o que é característico de animais aquáticos ou semiaquáticos, como os jacarés atuais. O Teyujagua provavelmente vivia às margens de rios e lagos, caçando anfíbios primitivos e pequenos répteis parecidos com lagartos, os procolofonídeos.

Figura 4 - Desenho
Reconstituição do crânio de Teyujagua

O fóssil foi encontrado no começo do ano 2015 pela equipe do Laboratório de Paleobiologia da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) no município de São Francisco de Assis, Rio Grande do Sul

Os pesquisadores continuam realizando escavações na localidade onde Teyujagua foi encontrado, com a constante recuperação de novos fósseis. Estas novas descobertas nos darão informações sobre como eram os ecossistemas terrestres em uma época anterior ao surgimento dos primeiros dinossauros e como as faunas se recuperam após grandes extinções em massa.

Figura 5 - Trabalho de campo
Pesquisadores da Unipampa em campo, no afloramento onde o fóssil foi encontrado

O trabalho completo pode ser encontrado em:  www.nature.com/articles/srep22817 

PARABÉNS, colegas!!!!

Sobre o(a/s) autor(a/es):

Aline é bióloga, especialista em paleontologia de vertebrados e criadora da rede de divulgação científica "Colecionadores de Ossos". Atualmente é professora adjunta de Paleontologia do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em Natal, RN.

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