O contrabando de fósseis e o que perdemos com isso

Recentemente foi veiculada na televisão a apreensão de um lote de fósseis brasileiros pela Polícia Federal dos Estados Unidos (FBI) (veja a notícia aqui), cujo contrabando envolvia até mesmo geólogos e outros profissionais da área. Poucos meses antes, foi noticiada a devolução de *mais de 3 mil* fósseis que seriam levados para fora do país ilegalmente (veja a notícia aqui), sendo que entre eles haviam até mesmo possíveis espécies novas para a ciência. Isso sem contar as dezenas de fósseis brasileiros vendidos pela internet em sites como E-bay e até mesmo o Mercado Livre (veja AQUI, AQUI e AQUI).

fosseis apreendidos policia federal

Qual a melhor atitude a se tomar quando você se deparar com qualquer atividade que envolva o comércio de fósseis brasileiros?

DENUNCIAR.

Fósseis são pedaços da memória biológica do nosso planeta. São, literalmente, fragmentos da vida do passado que se preservaram na forma de rochas. Como figurinhas em um álbum de histórias gigantesco e complexo, os fósseis nos contam a saga da evolução da vida. Cada depósito fossilífero (como o Araripe, por exemplo, de onde a maioria dos fósseis brasileiros traficados são retirados) contêm um capítulo dessa história. Portanto, compreendê-los bem e preservá-los é de importância fundamental para que a crônica toda faça sentido.

Os depósitos fossilíferos, todavia, são finitos. Seus fósseis não são recursos renováveis. O que significa que no dia em que acabarem, acabou para sempre, e nesse momento ter-se-ão perdido não só dados científicos sobre um determinado período de tempo da história da vida no nosso planeta, mas um recurso que, se tivesse sido melhor administrado, poderia ter gerado lucros contínuos para sua região de origem.

Como assim gerar lucros contínuos?

O lucro que as pessoas geram com o comércio (ilegal!) de fósseis é temporário (e arriscado!). Quando esse recurso acabar, acabou a entrada de dinheiro e ponto. Com a extração controlada e o encaminhamento dos fósseis para museus e universidades locais ou regionais, além de ajudar o desenvolvimento educacional e científico da população (o que culmina em melhores condições de vida e melhores oportunidades para essa comunidade), o turismo atraído pelos museus e parques paleontológicos pode gerar renda direta e indireta para a região.

Como assim? Ora, para sustentar a visitação é necessária uma rede de hotéis, pousadas, restaurantes, atrações turísticas, lojas de artesanato, pequenos comércios, da qual TODA a população sai ganhando e de forma contínua e sustentável. Resumindo: é um negócio muito melhor em longo prazo. De tabela, parte da história da vida no planeta vai estar sendo preservada para as futuras gerações conhecerem, apreciarem e estudarem.

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Ainda não entendeu? Vou desenhar.

VALE A PENA preservar o patrimônio paleontológico nacional. Países ditos de primeiro mundo são recheados de museus de história natural e muitos lucram com os nossos fósseis nas paredes e vitrines. As pessoas QUEREM ver fósseis, pois são coisas que despertam a curiosidade. Poderíamos há décadas estar recebendo os benefícios dos museus e parques paleontológicos, mas ainda nos comportamos como colonizados e nos vendemos por muito pouco.

Museus não caem do céu, é necessário um esforço conjunto. O esforço começa preservando o patrimônio. Se não houverem mais fósseis, como haverá museus?

É importante se engajar nessa batalha. Denuncie o comércio ilegal de fósseis (denúncias devem ser encaminhadas à Polícia Federal e/ou ao DNPM de seu estado). Se você tem fósseis em sua região, entre em contato com pesquisadores. Junte-se com a sua comunidade e exija dos governantes medidas para proteção e aproveitamento desse patrimônio. Seu ato ou seu nome podem ficar para a história!

Seja lembrado por uma coisa boa.

Tesouros do Araripe II: no tempo em que o sertão era "mar"

A equipe de pesquisadores do PALEOLAB-UFPE está no sertão de Pernambuco mais uma vez para buscar fósseis de 115 milhões de anos. Nesse curta-documentário, co-produzido com a equipe dos ‘Colecionadores de Ossos’, alguns dos segredos da Paleontologia do Araripe são revelados para o público. Entenda por que são encontrados fósseis de peixes na região e como eles ficaram tão bem preservados dentro das rochas.

A perspectiva do documentário é focada nas localidades fossilíferas encontradas na porção sul da bacia, no Estado de Pernambuco, área que engloba os municípios de Exu, Ipubi e Araripina. As novas localidades aí encontradas demonstram o potencial de novas descobertas na região.

Conhecer é o primeiro passo para preservar. Descubra um pouco mais sobre o passado de nosso país:

https://www.youtube.com/watch?v=1_mrMy44RNg

Sorteio: Quer ganhar uma cartilha sobre Paleontologia?

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Estamos sorteando essa cartilha em nossa página do facebook! Participar do sorteio é fácil. Você pode ler o regulamento e pegar seu cupom
AQUI.

Essa cartilha de 60 páginas dá noções básicas sobre conceitos fundamentais da Paleontologia e destaca a riqueza paleontológica do Estado de Pernambuco. Com ela você vai poder conhecer mais sobre a paleontologia nacional e viajar pelo Pernambuco pré-histórico.

O sorteio será realizado no dia 04/05/15. Você tem pouco tempo, então corra!

Para entrar no sorteio basta: 1) clicar no botão “Quero participar”, neste link (sorteiefb.com.br/colecionadoresdeossos/450827); 2) curtir a página dos ‘Colecionadores de Ossos’ no Facebook (https://www.facebook.com/colecionadoresdeossos); e 3) compartilhar a postagem do sorteio (essa aqui: http://sorteiefb.com.br/colecionadoresdeossos/450827de forma pública em sua página pessoal do Facebook (participantes que não cumprirem essas essas condições não poderão concorrer ao prêmio). Só podem concorrer participantes residentes NO BRASIL! Não residentes no Brasil serão desclassificados – ATTENTION: Please note that this promotion is only valid for residents in Brazil, otherwise the participant will be disqualified ;(

O ganhador será anunciado na nossa página do Facebook no dia 04/05/2015 até as 20h e também comunicado via e-mail. A cartilha será enviada para o endereço informado pelo participante em até uma semana.

Atenção: O participante é responsável pelo fornecimento correto dos seus dados! Nossa equipe não se responsabiliza por possíveis erros nessa etapa!
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Se o ganhador não se pronunciar em no máximo 3 dias (ou seja, até o dia 07/05/2015), ele perde o direito ao prêmio e a cartilha será sorteada novamente.
Ao participar da promoção você estará aceitando todo o regulamento.
Boa sorte!! 🙂

Um dinossauro no centro da cidade

Há algumas semanas, recebemos um e-mail por meio de nosso site (www.colecionadoresdeossos.com), de um senhor chamado Luciano Alves, de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Esse senhor dizia ter encontrado e resgatado materiais fósseis durante a construção de uma obra no centro da cidade. Todos os meses nós recebemos vários e-mails similares, porém, geralmente o que as pessoas encontram são rochas com formatos estranhos ou ossadas de bichos recentes. Todavia, o caso do Sr. Luciano era diferente…

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São José do Rio Preto, SP

A região de São José do Rio Preto é amplamente conhecida pela ocorrência de fósseis do final do Período Cretáceo. Esse intervalo de tempo é conhecido como o auge da “Era dos dinossauros”, entre 100 e 66 milhões de anos atrás. Nas rochas dessa região são comuns restos não somente de dinossauros, mas também de crocodilos, tartarugas, lagartos, cobras e peixes pré-históricos. Foi por isso que o e-mail do Sr. Luciano era tão especial.

Tudo confirmou-se quando vimos as primeiras fotos:

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O osso branco destacava-se da rocha rosada, típica da Formação Adamantina, unidade geológica local na qual os fósseis do Cretáceo são encontrados. O osso estava fragmentado devido às atividades da obra, porém, pelas fotos, era possível reconhecer que o material era grande, bem maior que qualquer osso de vaca. Além disso, suas características morfológicas não eram semelhantes à de nenhum organismo atual e o fato de ele estar entranhado na rocha confirmou sua natureza fóssil.

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Sr. Luciano Alves ao resgatar o material fóssil
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Local onde os ossos foram encontrados

Histórias de fósseis encontrados durante a abertura de estradas, a perfuração de poços artesianos ou construções de edifícios não são raras. É nesse momento, quando as rochas são desbastadas, que os fósseis aparecem, e diferente do que muitos podem pensar, essas atividades muitas vezes acabam ajudando os paleontólogos e podem levar à grandes descobertas. O Sr. Luciano foi um vetor positivo nessa história, que, confesso, nem sempre tem um final feliz. Ao identificar algo diferente, ele imediatamente separou o material para que não fosse mastigado pelas máquinas e fez o que é aconselhável: entrou em contato com especialistas, para identificação das peças. De acordo com ele, haviam mais ossos, porém não foi possível resgatá-los devido ao avanço rápido das atividades.

Sr. Luciano, além de trabalhar dirigindo caminhões, é operador de máquinas. É um curioso por natureza, que gosta de pesquisar e ler, e possui um enorme senso de ética e cidadania. Ao confirmarmos a identificação do material como “ossos de dinossauros” (mais precisamente um úmero de saurópode e fragmentos de costelas) ele prontamente quis que tudo fosse encaminhado para um Museu ou Centro de Pesquisa. De acordo com suas próprias palavras: “Isso não pertence à mim, pertence ao mundo todo, pertence à todos nós, e por isso deveria ser estudado e ficar em um museu”Na mesma semana fomos resgatar as peças e elas foram integradas à coleção do Laboratório de Paleoecologia e Paleoicnologia da UFSCar, aonde o material será estudado.

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O úmero de saurópode resgatado pelo Sr. Luciano, depois de reconstruído
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Em vermelho, a posição do osso em uma reconstituição de um dinossauro saurópode

DSCN0104Essa história somente reforça o importante papel da divulgação científica e também do diálogo entre o cientista/pesquisador e a população. Sr. Luciano, ao ter acesso à informação, propiciou o encaminhamento correto do material e acabou contribuindo com mais uma peça do quebra-cabeça sobre a história da vida no passado de nosso planeta. Além disso, ele acabou dando uma grande lição à todos os seus amigos e alguns familiares: ele não só estava certo sobre a natureza do material, mas também sobre como um cidadão deve agir em benefício de todos. O material em breve ficará em exposição no “Museu da Ciência Prof. Dr. Mário Tolentino” em São Carlos, junto ao nome do seu descobridor, “Luciano Alves”.

Para que mais “finais felizes” se realizem, é necessária a conscientização das pessoas envolvidas. Geralmente, quando obras são realizadas em localidades onde são comuns achados paleontológicos, um trabalho prévio de consultoria deve ser realizado. O resgate do material é fundamental, já que eles são únicos, raros e fazem parte da memória geobiológica de nosso planeta. Para o resgate, especialistas devem ser contatados. Depois de levados à instituições de pesquisa, os materiais devem ser estudados, catalogados e ter seu acesso garantido à toda população. É importante lembrar, que fósseis são bens da União, ou seja, pertencem a todos os cidadãos, e por isso sua comercialização ou escambo é considerada crime. Seu valor é científico e cultural, não podendo ser calculado em termos monetários.

Obrigada por contribuir com a ciência do seu país, Sr. Luciano Alves! Que outros sigam o seu exemplo!

Mulheres paleontólogas

No dia internacional das mulheres, que curiosamente sucede o dia dos profissionais da Paleontologia no Brasil (dia 07 de março), resolvemos fazer uma homenagem às mulheres paleontólogas. Parabéns pelo seu dia, mulheres fortes!
“A questão não é porque não existem mulheres na ciência, mas sim porque nós não escutamos falar delas.”
Naomi Oreskes