Texto de Gian Guadagnin, Gildo Girotto Júnior e Ana Arnt

O que é uma vacina e quais os tipos de vacina

As vacinas são produtos biológicos que promovem o desenvolvimento do que chamamos de memória imunológica ativa. Isto ocorre por meio da interação do organismo (nosso corpo) com os agentes causadores de doenças (vírus e bactérias) mortos, enfraquecidos ou fragmentados ativando a produção de anticorpos e células de memória (os nossos agentes de proteção). Assim, esses “agentes” atuarão futuramente contra o invasor biológico ativo (o vírus) caso o indivíduo seja infectado pela doença no futuro. E o melhor, os materiais biológicos da vacina são intensamente testados para não causarem reações adversas.

A imunização ativa promovida pela vacina é semelhante a de quando o indivíduo contrai a doença naturalmente, com a diferença de que a vacina não vai causar problemas uma vez que o causador da doença (patógeno) está morto, desativado ou o que injeta é apenas um fragmento. Isto é, ele apenas servirá de alerta, ou de demonstração de suas características para o organismo estar preparado para atuar no caso de uma infecção real. 

“Ah, mas eu ouvi dizer que uma pessoa tomou vacina e passou mal”.

Existem casos em que no desenvolvimento da imunidade o corpo possa ter sintomas leves da doença, mas isso não gera riscos à saúde de quem tomou. 

Espera aí que nós vamos repetir mais uma vez:

VACINAS SÃO TESTADAS PARA NÃO CAUSAREM RISCOS.

Por exemplo, o artigo publicado no dia 17/11/2020, na revista The Lancet, traz os resultados da vacina CoronaVac (desenvolvida pela chinesa Sinovac) mostrando eficiência de 97% enquanto a Pfizer divulgou, no mesmo dia, estudo com eficiência de 95% para seu produto com efeitos colaterais em apenas 2 a 3,8% dos pacientes. Ainda assim, não há efeitos graves noticiados.

As ressalvas são para quem apresenta alguma reação alérgica à substância da vacina ou a uma doença específica. Dessa forma, nesse caso, é importante lembrarmos da responsabilidade social na chamada imunidade de rebanho. Ou seja, aqueles que não apresentam reações (a imensa maioria) precisam tomar a vacina para diminuir a probabilidade de disseminação dos vírus ou bactérias, protegendo a si mesmo e à quem não pode tomar a substância.

“Mas eu li que têm mais de um tipo de vacina, e uma delas pode fazer mal”

Bom, é importante saber que são três os principais tipos de vacina: as de agentes atenuados (ou seja, vivos mas incapazes de causar a doença), as de agentes inativados e as de subunidades (proteínas, partes ou fragmentos, quando é impossível utilizar o patógeno todo). Além disso, há diferentes técnicas ou formas de entrada destes agentes no nosso corpo (sobre os tipos de vacina você pode consultar esse texto aqui).

Destaca-se aqui que a vacina produzida pela Pfizer utiliza uma tecnologia inédita mas não nova. É uma tecnologia que vem sendo estudada desde meados dos anos 1990. Como assim? A tecnologia está sendo usada pela primeira vez em humanos, sim.

Todavia, vem sendo desenvolvida e testada há anos, seguindo protocolos de segurança rígidos tanto para vírus, como para bactérias e até doenças autoimunes. Isto é, as etapas de segurança – que envolvem testes com animais – já estão consolidadas e não apresentam risco algum. Tal como as outras técnicas de desenvolvimento de vacinas. Sim! Todas as técnicas possuem etapas de desenvolvimento com cobaias, antes de testarem em seres humanos.

Assim, parte da “rapidez” que temos desenvolvido neste momento é por estarmos testando vacinas cujas etapas de segurança se relacionam às etapas testadas em animais previamente – antes dos testes de segurança em seres humanos. E estas etapas são absolutamente necessárias, testadas e seguras.

A terapia de vacinação gênica é fruto do desenvolvimento de pesquisas no campo da biotecnologia e com desenvolvimento da técnica em si, aprimorada ao longo deste tempo. Ela consiste basicamente em fazer nosso corpo produzir uma proteína do vírus.

Mas é seguro?

Em suma, a vacina gênica induz nosso corpo a produzir uma proteína e, em seguida, estimula uma resposta imune muito precisa. Dessa forma, estas pesquisas têm demonstrado que as vacinas gênicas são mais seguras, mais rápidas de serem produzidas e mais eficazes. No caso específico da vacina que vem sendo produzida pela Pfizer, a grande questão reside, ainda, no armazenamento. Vocês já devem ter visto noticiado que esta vacina precisa ser armazenada em freezers que se mantêm a temperaturas de -70ºC e há muito pouca estrutura para isto – no Brasil e, talvez, no mundo.

Todavia, isto também tem sido fonte de debate e pesquisa, para contornarmos este problema!

Quer saber mais desta vacina? Recomendamos estes dois fios da @mellziland  e da @dogarret no Twitter

Bom, mas sempre bom lembrar:

Independentemente do tipo, as vacinas têm se mostrado bastante eficientes na proteção a várias doenças. Por exemplo, um caso especial, queridíssimo da ciência (e não à toa) é o da poliomielite, ou paralisia infantil, erradicada no Brasil em 1989 exatamente por causa da ampla vacinação no território nacional. Mas ainda lembrando (como falamos no texto anterior) que esta doença gravíssima corre o risco de voltar com o crescimento do movimento anti-vacina. 

Ah mas será que dá pra confiar na vacina chinesa?”

Quem produz as vacinas? Como ter certeza que seguem um método rigoroso de testes e de preparo? Estas questões juntamente com informações desconexas que circulam por aí podem causar certo receio. No entanto, as vacinas são desenvolvidas segundo um código de práticas internacionais rígido, que regula a produção de insumos para a saúde em todos os países, da Estônia ao Brasil, da Alemanha à Índia.

No próximo texto

Nós vamos responder: Mas que protocolos são esses? Calma que logo logo a gente já volta a falar sobre isso! Aguarde!

Para saber mais

BBC (2020) Vacina da Pfizer: como funciona a nova tecnologia que pode revolucionar a imunização

Brasil, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Resolução RDC nº 4, de 10 de fevereiro de 2009, Brasília: Anvisa; 2009

Costa, C e Tombesi, C (2020) Covid-19: os três passos do método revolucionário para criar vacinas de RNA, BBC.

Domingues, CMAS, & Teixeira, AMS (2013) Coberturas vacinais e doenças imunopreveníveis no Brasil no período 1982-2012: avanços e desafios do Programa Nacional de Imunizações, Epidemiologia e Serviços de Saúde, 22(1), 9-27.

Ferrera F, La Cava A, Rizzi M, Hahn BH, Indiveri F, Filaci G (2007) Gene vaccination for the induction of immune tolerance, Ann N Y Acad Sci, 2007 Sep,1110:99-111.

Fiocruz: Vacinas: as origens, a importância e os novos debates sobre seu uso.

Homma, A, Martins, RM; Leal, MLF, Freire, MS, Couto, AR (2011) Atualização em vacinas, imunizações e inovação tecnológica, Ciênc saúde coletiva vol16 no2.

Pinto, EF, Matta, NE e Cruz, AM (2011) Vacinas: progressos e novos desafios para o controle de doenças imunopreveníveis, Acta Biol Colômbia.

Reinhardt, G, Walflor, HSM, Trigo, JHB, Ribas, JLC (2017) Desenvolvimento e aplicações de vacinas gênicas no tratamento e prevenção de doenças, Saúde e Desenvolvimento, v11, n7.

Yanjun Zhang, Gang Zeng, Hongxing Pan, Prof Changgui Li, Yaling Hu, Kai Chu, Safety, tolerability, and immunogenicity of an inactivated SARS-CoV-2 vaccine in healthy adults aged 18–59 years: a randomised, double-blind, placebo-controlled, phase 1/2 clinical trial, The Lancet Infectuous Diseases.

Textos do Blogs sobre Vacinas:

E aqueles resultados das Vacinas? (Parte 1)

Obrigatoriedade da Vacina: discurso contrário vem do século XIX

Vacinas: de onde vêm e para onde vão

Sobre Vacinas, método científico e transparência na ciência (parte 1)

Vacina, Estado e Liberdade: a manipulação do debate – Parte 1

De graça, até injeção na testa? (parte 1)

Os Autores

Ana Arnt é Bióloga, Mestre e Doutora em Educação. Professora do Departamento de Genética, Evolução, Microbiologia e Imunologia, do Instituto de Biologia (DGEMI/IB) da UNICAMP e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PECIM).

Gildo Girotto Junior é Licenciado em Química (UNESP), Doutor em Ensino de Química (USP) e atualmente é professor e pesquisador no Instituto de Química da Unicamp

Gian Carlo Guadagnin é estudante de graduação em Licenciatura em História (UNICAMP)

Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


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