Publicado
22 de nov de 2011
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O professor ideal? Ele dava aula,
fazia pesquisa de campo e a extensão…
bom, essa era pouco convencional:
enfrentar nazistas de vez quando.
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Este post nasceu de uma reflexão que venho fazendo a algum tempo já, sobre como deve se portar, agir e que tipos de atividade deve desenvolver um professor universitário durante a sua vida acadêmica. Bom, como eu sou do tempo em que a gente aprendia que a Universidade contruía-se, existia até, sobre um tripé de funções essenciais: ensino, pesquisa e extensão, me parece natural que o professor, como parte integrante e, por que não dizer, parte fundamental da estrutura universitária tem que ter as suas atividades norteadas por esse trio de princípios.
Algumas considerações sobre cada um deles separadamente.
Ensino. Não é sobre dar uma aula decente. Isso, com um pouco de prática e treino, qualquer um dá. O comprometimento com o ensino é o de dar uma aula empolgante, que desperte nos alunos a vontade de saber mais, querer mais. O comprometimento com o ensino, é o comprometimento com transmitir o conhecimento, formar novas gerações capazes não de reproduzir, pura e simplesmente, aquele conhecimento, mas capazes de pensar, de saber (e querer) procurar mais respostas e outras perguntas. Parodiando uma conhecida minha, é dar aos alunos a infra-estrutura, o “serviço de água e esgoto”, sobre o qual eles vão poder construir, sobre essa base sólida, seu próprio conhecimento.
Pesquisa. Se no ensino, transmite-se conhecimento, aqui é o lugar de produzí-lo. Não importa o impacto. A pesquisa pode ser pequena ou revolucionária. De base ou aplicada. O importante aqui é produzir conhecimento. Novo. De fato, pesquisa e ensino andam de mão dadas muitas vezes pois, normalmente, se somos capazes de transmitir conhecimento bem, somos capazes de produzí-lo bem. Ainda tem, a pesquisa, uma outra face: a formação de novos pesquisadores. Pensadores independentes, com vontade de saber, capazes de dominar técnicas e conceitos avançados porque você, como professor/orientador, soube direcioná-los assim.
Extensão. O patinho feio do nosso trio, muitas vezes negligenciado, mas pelo qual eu tenho carinho especial. A extensão é a atividade onde a universidade se abre à comunidade externa e busca se integrar com ela. As formas de agir aqui são as mais variadas: um site sobre ciência, a produção de vídeos educativos, programas com estudantes de ensino médio, crianças ou pessoas de terceira idade. Não importa muito. A Universidade, especialmente a pública é financiada por todos e não pode se furtar, como o faz muitas vezes, de devolver para a comunidade parte desse financiamento, na forma de divulgação de ciência ou o que quer que seja.
É óbvio que as atividades de um professor não se restringem, nem poderiam, à esse trio. Sempre é preciso buscar fontes de financiamento, participar da administração da própria Universidade, organizar reuniões científicas, buscar colaborações, enfim, contribuir para o crescimento da instituição de uma forma ou de outra. Mas é naquele trio ali em cima onde, na minha forma de ver, residem os requisitos essenciais para que um professor se torne alguém que deixará uma marca no mundo, seja nos seus alunos, seja no crescimento do conhecimento científico, seja na sua comunidade.
Publicado
13 de nov de 2011
>Primeiro o pedido: você vem aqui com freqüência? Ou vem uma vez só? Enfim, você leu ou lê alguma das besteiras que eu escrevo? Deixe seu comentário. É bacana saber se o que eu escrevo interessa, ajuda, desgosta, ofende, enfim, faz alguma diferença pra alguém… Porque uma das coisas mais bacanas em ciência (na verdade, em qualquer área da vida) é interagir. E eu adoraria saber o que você pensa.
Agora o aviso: o dono do blog estará em viagem durante os próximos dias e no fim do mês de novo, um viagem mega-ultra-super importante, que será emendada com pequenas-minúsculas-microscoópicas-mini-férias. Então, de hoje até o dia 12/12, quando eu volto, o blog ficará (mais) intermitente. Então, por favor, tenham paciência, mas voltem.
Publicado
11 de nov de 2011
>Pingou no email, sem autor. Se alguém souber de quem é, deixe aí nos comentários. Este merece um belo reconhecimento.
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*POEMA*
Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base…
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
“Quem és tu?” indagou ele
Com ânsia radical.
“Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa.”
E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum…
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.
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Publicado
8 de nov de 2011
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O título deste post, frase famosa de Vinícius de Morais, complementa um pouco a discussão por trás do post passado (leia aqui:
“O estranho mundo quântico”). No fundo, quando afirmamos que a luz (energia num sentido mais amplo) e os elétrons ou os átomos, enfim, o que nós chamamos de “matéria” se comportam da mesma maneira, estamos afirmando que há uma simetria fundamental permeando todas as coisas. Todas as entidades físicas se comportam da mesma forma.
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Simetria = Beleza |
O mesmo vale para o desenvolvimento das famosas teorias da relatividade de Einstein, a especial e a geral. No fundo, ele colocou todos os fenômenos físicos sob um mesmo chapéu, obedecendo as mesmas leis. Ele recobrou a simetria que esteve em dado momento perdida.
O mesmo vale para a teoria eletromagnética: se você vai um pouco mais a fundo, sabe que todas as equações de Maxwell podem ser escritas numa forma muito simplificada, elegante e que, acima de tudo, reforça a simetria entre os campos elétrico e magnético.
Enfim, a busca por simetrias, comportamentos universais, leis fundamentais são alguns dos “grandes objetos de desejo” dos que levam sua vida estudando a natureza mais fundamental das coisas. Uma busca tão grande quanto a busca pelas quebras espontâneas de simetria, desvios do comportamento universal, quebra das leis que se acreditavam fundamentais. De fato, estas últimas acabam, em última instância, por levar as primeiras a outros níveis, de modo a englobar tudo de novo e mais uma vez. Mas esse é uma outra história. 😉
Num nível mais geral, a busca por simetria na ciência é a busca por beleza, por uma consistência entre as partes de um todo bem amplo, por algo que agrade aos nossos olhos, a nossa mente, o nosso entendimento do mundo. Então, tal qual Vinícius falou, se referindo às mulheres, poderíamos falar nós, nos referindo às teorias físicas: as muito feias (pouco simétricas) que nos perdoem, mas beleza, simetria, é fundamental.
Publicado
7 de nov de 2011
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Direto ao ponto: sabe por quê todo mundo fala (inclusive o título deste post) que o mundo quântico é estranho? Porque no mundo quântico entidades incompatíveis coexistem em paz e harmonia.
No mundo clássico, partículas são partículas e ondas são ondas. Imiscíveis, como água e óleo. Suas propriedades são incompatíveis. No mundo quântico, as partículas entidades são partículas, às vezes, e ondas, em outras vezes. E por isso é tão estranho.
Mas, de verdade, o problema é semântico. Veja só: ondas que eram apenas ondas e partículas que eram apenas partículas estão no nosso dia-a-dia, desde sempre. Desde quando a gente ainda andava pelado e morava em cavernas. Toda a nossa linguagem, entendimento, modelo do mundo cresceu e sedimentou-se sobre esses dois conceitos díspares. Resultado: quando a gente descobre algo que é mais fundamental e onde coabitam os dois conceitos torna-se complicado, estranho até, descrever esse algo – o mundo quântico – com as mesmas palavras (e mesmos conceitos de antes). E por isso a coisa é estranha.
A melhor forma que eu vejo de resolver esse problema é invertendo a situação: “descrever” as entidades do mundo quântico como entidades únicas, que tem um comportamento bem estabelecido e entendido. Chame isso do nome que você quiser, menos onda ou partícula. Porque a luz é assim, o elétron é assim, os átomos são assim. E, finalmente, dizer que esse comportamento de vez em quando se parece com o comportamento do que a gente conhece como partículas e em outras do que a gente conhece como ondas.
Melhor assim? 😉