Procurando emprego?
Eu sei que a situação do emprego no nosso país nem anda tão ruim assim se comparado aos nossos amigos espanhóis e italianos e em outras praças por aí.
Mas é óbvio que ainda há muitos que procuram um emprego, um emprego novo, o emprego dos seus sonhos ou ainda só um bico pra reforçar o orçamento. É esse o seu caso? Então este post pode te interessar.
Fazendo ciência pela ciência
Coloque-se na seguinte situação: você é um pesquisador estabelecido, tem alunos, pós-docs, um laboratório, algumas linhas de pesquisa. Mas unido a tudo isso, você tem todos os problemas inerentes da carreira: administrar alunos, continuamente brigar procurar por fontes de financiamento para manter seus pós-docs e experimentos, publicar, rebater referees, ter paper rejeitados e publicados, escrever projetos, reescrvê-los, fazer milagres com o dinheiro, etc, etc.
Aí um dia Estocolmo acha legal o que você faz e te dá um Prêmio Nobel. Festa, palestras, dinheiro, palestras, reconhecimento, palestras, viagens, palestras, enfim: a curto prazo a única atividade que você vai ter que fazer é contar pros outros porque Estocolmo gostou do seu trabalho.
Mas o calor arrefece e é preciso voltar ao trabalho. No entanto, dado o seu recém-adquirido prestígio, não vão te faltar alunos, pós-docs, colaboradores, parcerias e, suponho eu, publicar trabalhos se torna mais fácil e aprovar projetos e conseguir dinheiro também.
Nesse momento, e com todos esses aspectos favoráveis em mãos, o que você faria? Continuaria à “toda velocidade”, forçando mais e mais as fronteiras daquela área de pesquisa que te consagrou, fazendo, na maior parte do tempo, “ciência incremental”, como todos fazemos na maior parte do tempo, procurando um novo “jackpot”? Ou você chutaria o pau da barraca e mudaria completamente o seu ramo de pesquisa, abandonaria a competição com outros e iria se dedicar a algo novo? Pense bem: agora você pode “fazer o que quiser”, fazer “ciência pela ciência” e atacar problemas considerados “insolúveis” ou algo assim só pela vontade de fazer porque, afinal, ninguém mais vai te julgar, porque você pode.
Eu sei a minha resposta e não tenho dúvidas que eu sairia da competição e iria escolher estudar problemas os mais complicados possível. Nada de pressão por publicar, nada de pressão por dinheiro, simplesmente fazer ciência para aprender mais e mais e eventualmente, se algo funcionar, fazer outra contribuição decisiva pra ciência.
Mas perguntando aqui e ali, vi que tem gente que pensa o contrário e gostaria de continuar fazendo física dentro do mainstream, do que é tendência, do que é competitivo, porque é aquilo que os motiva a continar fazendo ciência.
Na vida real, o que vejo é que acontecem ambos os comportamentos: alguns vencedores do Nobel simplesmente investem mais e mais e continuam líderes em suas áreas apostando em se manter relevantes na sua área original de pesquisa. Mas alguns outros largam mão e vão estudar tópicos os mais diferentes possíveis. Eu já vi, entre outros: espiritualidade, biologia, o cérebro, a física do câncer e mesmo problemas sem solução aparente, como o tamanho do elétron.
E você? O que faria?
Utilidade Pública: Quer ver 5 prêmios Nobel em ação?
Serviço de utilidade pública: o Instituto de Física da USP em São Carlos promove nos dias 28 de fevereiro e primeiro de março um simpósio em homenagem ao pesquisador Daniel Kleppner.
O prof. Kleppner nunca foi agraciado com um Prêmio Nobel, mas formou vários deles e contribuiu de forma significativa para o entendimento da matéria em escala atômica. Seu status é tão grande que nesta semana se reúnem em São Carlos, interior de São Paulo, 5 ganhadores do prêmio Nobel além diversos picas grossas “eternos candidatos”, gente que fez muito pela ciência e sempre tem seus nomes cogitados aos mais prestigiados prêmios. A seleção de nomes é impressionante. O progrma completo você vê aqui: http://cepof.ifsc.usp.br/symposium_kleppner/program.php .
Caso você tenha chance, compareça. Vai ter física do mais alto nível.
Se interessou, mas não pode comparecer? Siga na TV-USP, ao vivo: para quinta (28/02), o link é este aqui. Na sexta, dia 01/03, o link é este.
Por quem os sinos dobram. Longa vida a Bell.
Nota do dono do blog: Feliz 2013! O Caderno volta à ativa e em grande estilo: com um post sensacional de um autor oculto (nem eu sei quem é!!!) como parte da primeira rodada do Interciência! Você consegue adivinhar quem o escreveu? Deixe o seu chute nos comentários! Abraços e boa leitura!
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Um dos critérios da concessão de prêmios Nobel é que o laureado esteja vivo (desde 1974, premiação póstuma só pode ocorrer se a morte do ganhador sobrevier após o anúncio dos vencedores; e, antes, só se a morte ocorresse depois da escolha [1]). Isso evita que pesquisadores vivos sejam preteridos por grandes nomes de um passado mais remoto e que a morte de um cientista influa em sua escolha (como uma espécie de homenagem in memoriam); mas, como também a tendência é de os prêmios serem concedidos por realizações já muito bem estabelecidas (coisa que pode levar muitas vezes décadas), abre espaço para algumas injustiças: indivíduos com contribuições relevantes deixam de ser homenageados porque decidiram expirar antes.
Um dos casos de grande injustiça, a meu ver, é em relação ao físico britânico John Stewart Bell. O breve relato biográfico a seguir é copiado descaradamentebaseado em texto de Andrew Whitaker [2], a menos onde indicado em contrário.
Bell nasceu a 28 de julho de 1928 em Belfastat, capital da Irlanda do Norte. Em 1945, ingressou no Queen’s Belfast University, graduando-se com louvor em Física Experimental (1948) e em Física Matemática (1949). Ainda como estudante de graduação, discutia com seus professores mostrando insatisfação com a Física Quântica e sua interpretação de modo acalorado e até agressivo.
Ao se graduar, passou a trabalhar no UK Atomic Research Establishment em Harwell, Inglaterra, sendo posteriormente realocado para o grupo de projeto de aceleradores em Malvern, também na Inglaterra – desenvolvendo modos de traçar a trajetória de partículas carregadas.
Em 1951, em ano sabático, no laboratório do físico Rudolf Peierls na Birmingham University, Bell desenvolveu seu trabalho com o teorema CPT (uma teoria quântica de campo canônica – basicamente sem considerar ações imediatas de longa distância e que trabalhe com transformações do espaço-tempo de acordo com a teoria da relatividade de Einstein – é invariante sob operações CPT [3]). Os físicos alemães Gerhard Lüders e Wolfgang Pauli, porém, publicaram seus achados um pouco antes de Bell, de modo que o britânico não tem levado quase nenhum crédito pela descoberta.
Casou-se com a física Mary Ross em 1954. Haviam se conhecido em Malvern e manteriam uma intensa parceria – afetiva e profissional – por toda a vida, publicando, inclusive, alguns trabalhos conjuntos.
Obteve o doutorado em 1956 e, em 1960, mudou-se com a esposa para o CERN. Algumas fontes [2] dizem que a mudança ocorreu pela alteração da linha de pesquisa em física teórica para aplicada em Harwell; outras, que se deu pelo redirecionamento dos esforços britânicos na pesquisa experimental com física de partículas para o CERN [4]. De todo modo, Bell passaria o resto de sua vida trabalhando no CERN.
Seus principais trabalhos abordando a questão das variáveis ocultas exposta no chamado paradoxo EPR (de Einstein, Podolsky e Rosen, os autores do artigo original que apresentava um questionamento sobre a completude da física quântica), juntamente com crítica ao argumento do matemático von Neumann contra a existência de variáveis ocultas foram desenvolvidos em 1964 (mas publicado só em 1966).
Em 1969, juntamente com o físico polonês naturalizado americano Roman Jackiw e com contribuição de Stephen Adler, físico americano, resolveram um problema na teoria quântica de campos. Pela teoria, um píon neutro não deveria decair em dois fótons, mas era exatamente o que ocorria na prática. O modelo algébrico padrão utilizado continha uma falha e quando procedeu-se a quantização (em vez de soluções contínuas), obteve-se a quebra de simetria no modelo, o que explicava o decaimento do píon. Isso é conhecido como anomalia ABJ ou anomalia quiral.
Foi eleito membro da Royal Society em 1972. Em 1988 recebeu a Medalha Dirac do Physics Institute [5], em 1989 foi agraciado com a Medalha Hughes da Royal Society [6] e com o Prêmio Dannie Heinemann de Física Matemática pela American Physics Society [7].
Em 1990, Bell faleceu em decorrência de um derrame cerebral.
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O teorema CPT e a anomalia ABJ já dão mostras do papel importantíssimo de Bell na física teórica e, em particular, na física quântica. Mas Bell foi fundamental com o resultado de seu trabalho de 1964. A partir dele derivaram-se as desigualdades (ou inequações) de Bell. Essas desigualdades puderam ser experimentalmente testadas e os resultados contradisseram as esperanças de Einstein com seu paradoxo EPR (e do próprio Bell, que acreditava nas variáveis ocultas e no realismo local).
Para tentar entendermos melhor a genialidade das inequações de Bell, precisamos entender a questão do realismo local. Até o desenvolvimento da física quântica nas primeiras décadas do século 20, a visão que predominava era a do determinismo. Esse determinismo era ilustrado pelo demônio de Laplace: uma inteligência a quem fosse dado saber o estado de todas as partículas do universo em um determinado instante, poderia simplesmente aplicar as leis da mecânica e conhecer o estado de cada partícula em qualquer outro momento futuro ou passado [8]. Heisenberg mudaria o quadro com seu princípio da incerteza (ou indeterminação).
Duas grandezas conjugadas, como velocidade e momento, não poderiam ter seus valores conhecidos com grau infinito de precisão ao mesmo tempo: quanto mais precisa a determinação do valor de uma das grandezas, menor a precisão do valor de outra. Heisenberg ilustrou com um experimento mental para a observação de um elétron ao microscópio. Para determinar a posição do elétron, seria preciso lançar fótons sobre ele e verificar o espalhamento (difração). Quanto menor o comprimento de onda, menor o espalhamento e maior a precisão da posição do elétron. Porém, quanto menor o comprimento de onda, maior a energia dos fótons e maior a transferência de momento ao elétron, tornando mais imprecisa a determinação da velocidade do elétron. Quanto menos energético o elétron, menos interferência no momento e mais precisa a determinação da velocidade do elétron. Porém o espalhamento é maior e a precisão da posição é menor. [9]
Na interpretação radical para a época da Escola de Copenhagen, isso significaria que, antes da observação, uma partícula não teria um estado definido: ela não estaria na posição x, y ou z. Ela estaria em um estado de sobreposição, em que a partícula estaria ao mesmo tempo na posição x, y e z. Uma função de onda (uma expressão matemática que descreve uma onda) indicaria a probabilidade de a partícula estar na posição x, y ou z depois da observação.
Albert Einstein não aceitava essa interpretação. Para ele (e boa parte dos físicos de então), a partícula tinha uma posição definida antes mesmo da observação. Apenas não saberíamos qual era. É o que os físicos chamam de interpretação realista – qualquer sistema tem um estado bem definido independentemente de observação. No artigo que escreveria com o físico russo Eric Podolsky e com o físico americano e israelense Nathan Rose, é proposto o seguinte experimento mental: dois sistemas (p.e. partículas) são colocados em contato e deixados interargir e se afastarem em linha reta. Princípios físicos bem estabelecidos (e aceitos na física quântica), garantiam a conservação de certas grandezas, como o momento de um sistema. Assim, sendo duas partículas de mesma natureza, teriam a mesma massa, ao se afastarem entre si, partindo da situação de repouso na interação inicial, a velocidade de uma seria exatamente igual a de outra, mas em sentido oposto – conservando o momento inicial (qual seja, zero). Partindo do mesmo ponto, a posição de uma seria a uma mesma distância do ponto inicial do que a posição de outra. Assim, quando suficientemente afastado, se medíssemos a posição de uma, imediatamente saberíamos a posição de outra; e, medindo a velocidade da outra, saberíamos a velocidade de uma. Sendo os autores, como a velocidade da luz é finita e nenhum sinal pode ter velocidade maior – isto é, não haveria nenhum efeito imediato à distância (o princípio da localidade – qualquer evento só pode ser afetado por outro evento que esteja nas imediações, não há uma ação imediata à distância); não haveria tempo de qualquer medição na posição na primeira partícula alterar a velocidade na segunda partícula e vice-versa. Isso permitiria que se conhecesse com precisão tanto a posição de ambas as partículas quanto suas velocidades (e, portanto, momento). Em não havendo possibilidade de um sinal superluminal (com velocidade acima da da luz) ir de um sistema ao outro, os valores das grandezas só poderiam estar definidos desde o começo. [10] Ou será que não?
Os seguidores da interpretação de Copenhagen mantinham que os valores não estavam predeterminados. Bell, que defendia a posição de Einstein, então bolou um modo de verificar a diferença entre as duas interpretações.
Consideremos três parâmetros A, B e C. Digamos, A – é loiro; B – tem menos de 1,60m de altura; C – é do sexo masculino. Em qualquer sala de aula, há um certo número (igual ou maior do que zero) de alunos que são loiros e têm 1,60m ou mais de altura N(A~B); um certo número que são loiros e do sexo feminino N(A~C) e que têm menos de 1,60m e são do sexo feminino N(B~C). É fácil ver que:
N(A~B) + N(B~C) ≥ N(A~C) [ineq. 1]
Se todos que são B são também C, então o número de alunos que são A, mas não são B, é igual ao número de alunos que são A, mas não são C (e, naturalmente, o número de alunos que são B, mas não são C, é igual a zero). Se nenhum que é B é C; o número de alunos que são A, mas não B, é igual ao de alunos que são A e C; o número de alunos que são B, mas não C, é igual ao número de alunos que são B; e o número de alunos que são A, mas não C, é igual ao número de alunos que são A e B. O número de alunos que são A e B, no máximo, é igual ao número de alunos que são B (caso todos os que são A sejam também B). Então, qualquer situação intermediária também obedece à inequação 1.
Isso vale para quaisquer conjuntos de variáveis A, B e C, desde que sejam variáveis clássicas: que obedeçam aos princípios do realismo e da localidade – o realismo local.
Se os estados das partículas, como elétrons, são definidos independentemente de observação, então teríamos a estatística das observações de parâmetros A, B e C que obedecem à inequação. Obviamente não faz sentido falar em elétrons garotos ou elétrons loiros (embora certamente todos sejam menores do que 1,60m). Uma característica quântica do elétron que se pode medir é o spin (grosso modo correspondente ao momento angular). Se um par de elétrons é gerado a partir de um processo em que se possa aplicar os princípios de conservação (digamos decaimento de uma partícula com spin 0, como um fóton), então teríamos um determinado número de elétrons com spin a 0°, 45° e 90° em uma dada direção para a direita ou para a esquerda (cuja soma ao fim fosse de 0). Sendo A = 0° direita; B = 45°direita e C = 90° direita:
N(0° direita e 45° esquerda) + N(45° direita e 90° esquerda) ≥ N(0° direita e 90° esquerda) [ineq. 2]
(Não há nada de particularmente especial nesses valores de ângulos para o spin, poderiam ser outros.)
Em 1982, equipe liderada pelo físico francês Alain Aspect colocou o teorema de Bell à prova. Usando fótons no lugar de elétrons e medindo ângulo de polarização no lugar de spin por razões técnicas. A inequação de Bell foi violada [11a, b]. A esperança de Einstein (e de Bell) em que variáveis ocultas locais salvariam o realismo local estava abalada.
Alguns modelos abandonam a localidade para tentar salvar o realismo. Mas alguns resultados relativamente recentes descartam um certo grupo de teorias de realismo com variáveis ocultas não-locais [12].
O trabalho de Bell abriu caminho para uma linha de investigação que permitiu avançar sobre o paradoxo EPR e colocar a estranha (por anti-intuitiva) interpretação de Copenhagen do estranho (por além de nossa experiência cotidiana) mundo quântico em bases experimentais bem sólidas. As implicações disso na visão de mundo que podemos ter é alvo de intenso debate entre epistemologistas [13]. Mas podemos dizer com segurança que mudou o mundo (ao menos o modo como o enxergamos) para sempre. E a Academia Sueca perdeu uma grande oportunidade de reconhecer tal fato.
[1] http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/nomination/nomination_faq.html
[2] http://www-history.mcs.st-andrews.ac.uk/Biographies/Bell_John.html
[3] http://www.lbl.gov/abc/wallchart/chapters/05/2.html
[4] http://migre.me/cOi4P
[5] http://www.iop.org/about/awards/gold/dirac/medallists/page_38431.html
[6] http://royalsociety.org/awards/hughes-medal/
[7] http://www.aps.org/programs/honors/prizes/heineman.cfm
[8] http://www.stsci.edu/~lbradley/seminar/laplace.html
[9] http://www.aip.org/history/heisenberg/p08.htm
[10] http://www.drchinese.com/David/EPR.pdf
[11a] http://prl.aps.org/abstract/PRL/v49/i25/p1804_1
[11b] http://prl.aps.org/abstract/PRL/v49/i2/p91_1
[12] http://www.sciencedaily.com/releases/2008/03/080318174941.htm
[13] http://plato.stanford.edu/entries/bell-theorem/
[Este texto é parte da primeira rodada do InterCiência, o intercâmbio de divulgação científica. Saiba mais e participe em: http://scienceblogs.com.br/raiox/2013/01/interciencia/]
Uma boa proposta! O que você escreveria?
Aqui onde eu trabalho, recebemos uma proposta de escrever um capítulo de um novo livro sobre átomos frios, especificcamente sobre esses átomos muito magnéticos com os quais trabalhamos. Nem sempre esses livros são muito úteis porque os autores tendem a simplesmente escrever um artigo de revisão e colocá-lo lá: não há profundidade e nem ensina nada. No máximo, serve como uma coletânea de referências, usualmente daquele autor et caverva.
Mas o editor do livro tem uma proposta diferente para este. Numa tradução livre do “manual de instruções” que recebemos para o livro: “…o objetivo do livro é responder às seguintes questões: 1) se um novo estudante começar a trabalhar nesta área, o que ele deveria aprender sobre a física básica da área e sobre problemas avançados, possíveis erros de interpretação, etc… e 2) se um pesquisador que nunca trabalhou nessa área tentar entender os resultados teóricos e experimentais desta área, o que ele deve aprender para fazer as interpretações corretas e se fazer capaz de trabalhar na área sozinho?…”
Eu gostei e estamos quebrando a cabeça para filtrar o que é realmente essencial e importante para responder essas perguntas e comum a todo a sub-área que trabalhamos. Tem sido um exercício interessante e bem difícil. Veremos em breve o resultado.
Eu deixo aqui uma sugestão: coloque aí nos comentários a sua área de atuação (trabalho, pesquisa, etc, etc) e o que você ressaltaria para alguém que quer começar na sua área. O que é fundamental? Enfim, como você responderia a pergunta-objetivo do livro?
Em tempo: no nosso caso há vários pontos a ser ressaltados. O fundamental: cuidado ao generalizar os resultados dos gases não-magnéticos para os magnéticos. A direção Norte-Sul dos átomos se comporta completamente diferente das outras duas.
Menos é mais
Eu estava numa conferência esta semana (é, de novo). É uma conferência com um formato que me agrada: apenas algumas palestras plenárias, sem sessões paralelas e uma imensidão de posters. Assim você pode ver todas as palestras que mostram, em princípio, os tópicos mais importantes da área num passado recente e ainda têm muitas opções (e tempo) de posters, com chance de discutir “a fundo” os trabalhos, incluindo aí trabalhos de muita qualidade mas que ficaram fora das palestras plenárias.
Mas esse formato têm um efeito colateral muito ruim: os palestrantes tentam “valorizar” o tempo precioso que ganharam pra falar e espremem numa mesma palestra uma infinidade de temas e tópicos diferentes. Não é incomum palestrantes correndo, vomitando resultados, 10s por slide ou menos, 3, às vezes 4 tópicos diferentes numa mesma palestra. E isso é muito ruim. Ao contrário de se valorizar, no meu modo de entender, o palestrante se desvaloriza, porque passa uma mensagem errada ao público.
Não me entenda mal: ele passa a mensagem de que é alguém super produtivo, com 763.5 trabalhos publicados na Nature, Science, Cell e etc, no último mês e meio. Mas nenhum dos trabalhos fica retido na memória do público, simplesmente porque o palestrante não ocupa mais que alguns minutos com ele, por mais complexo que seja. A palestra que tinha tudo pra mostrar algo no topo do conhecimento não faz nenhum impacto porque ninguém (ou quase ninguém) é capaz de seguir os tópicos. E isso é muito ruim.
Ao contrário, quando o palestrante usa seu tempo para focar em um (único) assunto é como um oásis: mesmo os tópicos mais complicados são possíveis de entender, porque há tempo para uma introdução bem feita, uma conclusão decente e um tempo razoável em cada slide de resultados. Em resumo: a palestra tem um impacto, porque a audiência leva uma mensagem “pra casa”. Quem dera fosse sempre assim.
Se você se interessa pelo assunto, aqui tem uma discussão bacana na mesma linha.
Um jornal extra-terrestre
Um dos maiores desafios de editores de publicações científicas é convencer autores a submeterem artigos de qualidade aos seus jornais e leitores a lê-los e citá-los. O sistema todo se auto-alimenta desse processo: bons papers implicam muitas citações e muitas citações implicam mais bons papers.
Uma das estratégias para alcançar o sucesso é dar uma cara “global” para um jornal que parece regional. O Brazilian Journal of Physics, por exemplo, tem poucas chances de atrair papers de outros países.
O mesmo se aplica ao Europhysics Letters, por mais que os editores sempre reforçassem o carácter global da revista, o nome dá toda a cara de ser um jornal “europeu para europeus”. Para aumentar a penetração entre autores e leitores de outros lugares o jornal mudou seu nome, em 2007, para EPL apenas, suprimindo o “euro” da história mas ainda assim mantendo o acronímio. Tenta-se assim atrair autores e leitores de todos os cantos do planeta.
Pois em dezembro de 2011 o EPL superou suas próprias expectativas e tornou-se um jornal extra-terrestre ao publicar um trabalho onde um dos autores vinha da Estação Espacial Internacional (ISS, da sigla em inglês International Space Station).
Você pode ver a história contado pelo próprio editor aqui. O paper mesmo, sobre plasmas complexos em condições de microgravidade pode ser visto aqui (uma assinatura pro jornal é necessária.)
Diários de Lindau, dia 4
Um dia de Luz, de espera por Higgs e de dicas valiosas para a sua pesquisa de todo dia.
Um dia que começou cedo demais. Com café-da-manhã num barco.
Isso e algo mais, no quarto dia dos Diários de Lindau.
[youtube_sc url=http://www.youtube.com/watch?v=ZkFiY9M7c28]
Habemus Higgs
Annuntio vobis gaudium magnum
Habemus Higgs
ou em português:
Anuncio-vos uma grande alegria
Temos um Higgs
Não foi bem assim que, hoje pela manhã, o diretor do CERN (o grande acelerador de partículas europeu) anunciou a confirmação de uma nova partícula que tem tudo para ser o tão sonhado Bóson de Higgs, mas eu aposto que se ele pudesse, era assim que teria feito. Afinal, o anúncio de hoje guarda semelhanças com o anúncio de um novo papa: ele virá com certeza e será positivo, mas ainda assim, a espera enche seus fiéis de expectativa, e o anúncio, de júbilo.
Mas por quê? Apesar de não entender quase nada de física de partículas, é essa a questão que eu quero tentar responder aqui.
- O que é o Bóson de Higgs?
- Qual a causa desse frisson todo em torno dessa descoberta?
- Mas como eles têm certeza de que este é o Bóson de Higgs?
- E agora?
Diários de Lindau, dia 3 (sem vídeo)
Hoje a edição dos Diários de Lindau, vai ser “old school”. Não, nada de “Querido diário” pra começar ou algo do tipo. Mas hoje não vai ter vídeo, eu vou só escrever. Mas não vai ser muito não. 🙂
O dia começou com Carlos Rubia falando pra um computador, mas pra todo mundo ouvir (e rir): “Eu odeio computadores”, e iniciando sua palestra em seguida (tire suas próprias conclusões). Ele foi seguido por outros dois físicos de partículas (Martinus Veltman e David Gross). No fundo o foco deles foi o anúncio de amanhã do CERN, onde espera-se que finalmente o bóson de Higgs seja confirmado.
Mas um deles levantou um ponto interessantíssimo para o qual eu nunca tinha atentado: se descoberto (confirmado), o bóson de Higgs completa o chamado “Modelo Padrão” da Física de Partículas. Em termos práticos, isso significa que esses físicos vão estar, de repente, em uma sala escura sem portas e sem janelas. A Priori, acaba aí. É sempre possível refinar, medir outras propriedades, fazer isso e aquilo: mas o Modelo Padrão se completa. E isso é, ao mesmo tempo, grande e triste.
Um outro destaque das palestras da manhã foi David Gross tentando nos convencer de que a Física Quântica está fazendo 100 anos exatamente agora. Siga o argumento: Planck, sem saber muito bem o que estava fazendo, foi o primeiro a introduzir a ideia do quantum em 1900. No entanto, uma teoria formal e completa da Mecânica Quântica só surgiu com Heisenberg, em 1925. Então, em média, a Física Quântica foi criada em (1900+1925)/2=1912.5 , ou seja, faz(fez) 100 anos por esses dias. E aí, você compra a ideia?
A segunda parte da manhã foi dedicada a átomos frios, e outros assuntos. O mais interessante ficou por conta de Brian Josephson (sim, o que dá nome ao efeito e às junções de Josephson), que abriu a discussão sobre campos onde a física teórica não consegue soluções elegantes e fechadas (ou mesmo nem se arrisca a tentar), apesar de todas as ferramentas disponíveis. Dentre os sistemas que ele citou explicitamente estão a mente, sistema biológicos e a espiritualidade. Se um dia a gente vai conseguir descrever matematicamente esse tipo de… de… assunto (?), eu não sei, mas que tem gente tentando, ele mesmo, tem. Afinal, tem doido pra tudo, como diria minha mãe.
A tarde foi reservada à discussões com os palestrantes da manhã, como eu expliquei no video de ontem. E como é bom ouvir um cara que tem profundidade no que fala! E por hoje é só, que amanhã tem que acordar muito cedo! Deixo vocês com umas fotos de hoje. Até!