Menos é mais
Eu estava numa conferência esta semana (é, de novo). É uma conferência com um formato que me agrada: apenas algumas palestras plenárias, sem sessões paralelas e uma imensidão de posters. Assim você pode ver todas as palestras que mostram, em princípio, os tópicos mais importantes da área num passado recente e ainda têm muitas opções (e tempo) de posters, com chance de discutir “a fundo” os trabalhos, incluindo aí trabalhos de muita qualidade mas que ficaram fora das palestras plenárias.
Mas esse formato têm um efeito colateral muito ruim: os palestrantes tentam “valorizar” o tempo precioso que ganharam pra falar e espremem numa mesma palestra uma infinidade de temas e tópicos diferentes. Não é incomum palestrantes correndo, vomitando resultados, 10s por slide ou menos, 3, às vezes 4 tópicos diferentes numa mesma palestra. E isso é muito ruim. Ao contrário de se valorizar, no meu modo de entender, o palestrante se desvaloriza, porque passa uma mensagem errada ao público.
Não me entenda mal: ele passa a mensagem de que é alguém super produtivo, com 763.5 trabalhos publicados na Nature, Science, Cell e etc, no último mês e meio. Mas nenhum dos trabalhos fica retido na memória do público, simplesmente porque o palestrante não ocupa mais que alguns minutos com ele, por mais complexo que seja. A palestra que tinha tudo pra mostrar algo no topo do conhecimento não faz nenhum impacto porque ninguém (ou quase ninguém) é capaz de seguir os tópicos. E isso é muito ruim.
Ao contrário, quando o palestrante usa seu tempo para focar em um (único) assunto é como um oásis: mesmo os tópicos mais complicados são possíveis de entender, porque há tempo para uma introdução bem feita, uma conclusão decente e um tempo razoável em cada slide de resultados. Em resumo: a palestra tem um impacto, porque a audiência leva uma mensagem “pra casa”. Quem dera fosse sempre assim.
Se você se interessa pelo assunto, aqui tem uma discussão bacana na mesma linha.
Diários de Lindau, dia 5
Hoje, uma vez mais “old school” ou, pelo menos sem vídeo meu, porque hoje tem vídeo de música.
Dudley Herschbach, prêmio Nobel de Química, terminou sua apresentação com uma música de Cole Porter, composta em 1933, sobre experimentos e ciência. Eu fui atrás da letra completa e da música pra compartilhar com vocês! Vai aí embaixo:
————–
EXPERIMENT
From the London Stage Musical “Nymph Errant” (1933) (Cole Porter)
Before you leave these portals
To meet less fortunate mortals
There’s just one final message
I would give to you
You all have learned reliance
On the sacred teachings of science
So I hope, through life you never will decline In spite of philistine
Defiance
To do what all good scientists do
Experiment
Make it your motto day and night
Experiment
And it will lead you to the light
The apple on the top of the tree
Is never too high to achieve
So take an example from Eve
Experiment
Be curious
Though interfering friends may frown,
Get furious
At each attempt to hold you down
If this advice you’ll only employ
The future can offer you infinite joy
And merriment Experiment And you’ll see
Eu deixo vocês com uma foto do pôr-do-sol aqui em Lindau.
E lembrando: amanhã é o último dia, mas vai ser bem complicado postar à noite, pós-conferência. Então a última edição dos Diários de Lindau vai chegar, mas provavelmente com alguns dias de atraso! Espero vocês lá!
Diários de Lindau – dia 1 #lnlm12
Olá! Eu estou em Lindau, participando do “Encontro com os Prêmios Nobel de Lindau.”
Resolvi fazer uma “cobertura” com vídeo, tentando mostrar pra vocês as minhas impressões, da melhor forma possível. Não espere nada no nível Steven Spielberg, ok? É tudo meio mambembe, gravado do jeito que dá e editado no quarto do hotel.
Se funcionar, quem sabe a gente não faz mais vídeos em outras ocasiões, pro blog?
Aproveite e me diga aí nos comentários o que achou. Mesmo que tenha detestado, diz aí: é meu primeiro vídeo e todo feedback é bem-vindo.
Abraços e até amanhã!
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Reunião dos Prêmios Nobel em Lindau – lá vamos nós!
Você sabe o que é a Reunião dos Prêmios Nobel em Lindau (Lindau Nobel Laureate Meeting)?
É uma reunião organizada anualmente por uma fundação que têm o mesmo nome e reúne em Lindau, às margens do lago Constance, na fronteira entre Alemanha, Suíça e Áustria e pertinho de Lichtenstein, diversos ganhadores do Prêmio Nobel (este ano serão 31!) com jovens pesquisadores do mundo inteiro (cerca de 550).
A reunião deste ano é dedicada à Física e por isso a maioria dos Nobel participantes são ganhadores do Nobel de Física. Esta será a 62a reunião, que acontece desde 1951.
O blog têm o prazer de anunciar que foi indicado e selecionado para participar da reunião em Julho deste ano, junto com os Nobel e outros jovens pesquisadores. 😀
Se tudo der certo, ao longo dos próximos meses, vou colocar aqui detalhes da reunião, e, se possível, todas as impressões e experiências, durante a semana do encontro (1-6 de julho). Fique de olho!
>Refletindo: é tão ruim ser audiência?
>
Estive em um workshop recentemente. Público restrito a especialistas, tópico idem. O que você espera de uma reunião assim? O óbvio: que cada uma das palestras cative a imensa maioria da platéia.
Mas quando, por qualquer razão, você olha para a audiência, uns poucos gatos pingados estão realmente atentos ao apresentador. Uma grande parte está mais preocupada com ler e-mails, navegar na internet, ou distraído com alguma outra coisa.
Até aí, nenhuma novidade: nos grandes congressos ou reuniões científicas, essa é (infelizmente) uma cena comum. Normalmente, coloca-se a culpa no orador ou no tema da palestra: este é muito distante do que se faz ou o aquele não consegue manter a atenção da platéia, etc, etc. Até aí, eu consigo entender, afinal, nessas reuniões muito grandes, os temas são variados e o tempo escasso, não é possível agradar a todos e a cada um. Mas numa reunião pequena, onde quem está lá na frente pode até nem ser um orador maravilhoso, mas com certeza é um especialista, falando de um tópico intrisicamente relacionado à sua área de pesquisa… Não, eu não consigo entender.
Se você olha o lado de quem está na platéia, haverá sempre argumentos: um projeto de pesquisa que precisa ser terminado e/ou remendado, um parecer a dar ou responder, um artigo a ser escrito, o e-mail de um colaborador/aluno/professor que precisa ser respondido. Em princípio, são argumentos válidos… mas se era pra ir para a conferência para fazer isso, então que nem fosse… Economizaria o tempo de translado.
Enfim, eu realmente acredito que (nem sempre) a culpa da falta de atenção da platéia é do orador. E por isso a pergunta no título desse post: é tão difícil assim ser platéia? Manter a atenção e o foco por 15, 30 ou 45 min que seja?
P.S.: Um adendo… O workshop era no ICTP – International Center for Theoretical Physics. Se você é brasileiro e trabalha com ciência no Brasil, fique de olho no programa deles, geralmente bem interessante e variado. Além disso, você é elegível para receber deles todo o custeio da sua viagem, da passagem aérea à aliementação e hospedagem, pois eles financiam participantes de países em desenvolvimento. Fora que o lugar é lindo…