>Não é justo…
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(…mas também ninguém disse que ia ser) O ritmo de trabalho em muitas profissões influi diretamente na vida pessoal. Médicos que têm de dar plantão, jornalistas que têm que cobrir um evento fora de hora ou nos fins de semana, operador de tráfego aéreo que tem que trabalhar sob pressão e muitas vezes à noite. No entanto, na maioria dos casos, há uma folga ou compensação financeira, na forma de hora extra ou o que quer que seja.
Eu não sei se vocês vêem isso como eu vejo, mas sinto que o trabalho na ciência pode ser tão ou mais puxado sem as devidas compensações. Ficou trabalhando até a madrugada no laboratório? Ninguém vai nem falar de hora extra. Folga então? Passou o fim de semana conectado ao computador da universidade mandando ele rodar uma simulação atrás da outra? Nem tapinha nas costas seu chefe vai te dar. Teve que ficar corrigindo monografia ou respondendo críticas de referees ou escrevendo projetos noite adentro? Ou seu chefe marca reunião sexta às 20h, enquanto qualquer um com um trabalho normal está no bar ou com sua família? Ou pior, ele te liga no sábado (ou domingo) à tarde perguntando se você não pode dar uma passadinha na Universidade para uma reunião? Esses são alguns poucos exemplos de situações que eu já vi/vivi trabalhando com ciência. Isso sem contar as viagens para congressos que fazem a gente ficar semanas longe de quem a gente gosta.
No final das contas, é óbvio que tem compensações: um artigo aceito, um resultado bacana, a excitação de uma descoberta aparecendo e mesmo o conhecer novos lugares para cada conferência que você vai. E, claro, mais importante que tudo: a gente (falo por mim) curte muito o que faz, e por isso as agruras são um pouco menores e as alegrias um pouco maiores.
Mas fato é que definitivamente não é como “profissões convencionais”, sem nenhum julgamento aqui.
Bom, todo esse discurso pra compartilhar aqui que esse fim de ano vai ser especialmente injusto pra mim e pra minha família. A pouco descobri que no meu aniversário E no aniversário da minha mulher, eu vou estar longe, a trabalho. Na maioria dos outros casos/profissões, eu tenho certeza que dá pra dar um jeitinho, trocar um plantão, mudar uma escala, adiantar/atrasar um compromisso. No nosso caso, é inapelável. Definitivamente, isso não é justo.