Imagens do Lab

… ou “porque eu amo tudo isso”…

Bonito, né? (clique na foto para vê-la ampliada)

Vende-se ou Troca-se

Físico, ano 2002, mestrado e doutorado, 2 pós-doutorados sendo 1 no exterior. Duas dezenas de publicações, 6 vezes mais citações. Toda a documentação comprobatória. Escreve e fala inglês. Arranha alemão. Trabalha duro, de sol a sol, segunda a segunda se necessário. Movido a álcool e comida. Única dona. 11.680 dias rodados. Final da placa: 9. Vendo, troco, financio.
Tratar: (0987) 6555-4321

Seria bom se fosse assim, não? Mas não é. Pra fazer concurso, a gente tem que preparar algo como uma mini-autobiografia, chamada “Memorial”. Eu até adoro escrever (se não gostasse meus posts não seriam tão longos eu nem teria o blog), mas se tem algo que me tira do sério e consome um monte de energia é ter que preparar o meu “memorial”. Me propagandear, me vender, mostrar como eu sou interessante, lindo, charmoso, esperto…  e como a banca deveria me contratar por isso.

“Esse cara tá de mimimi!” vai dizer você, caro leitor. Afinal, todo mundo tem que se vender em algum momento não? Entregar CV pra procurar emprego, fazer entrevista… Mesmo cientista: a gente vende ideia pra aprovar projetos e vende resultados pra publicar papers.

Você está certíssimo em pensar assim, em quase todos os aspectos. Eu gosto da parte de escrever sobre ciência, convencer alguém que vale a pena dar dinheiro pra um projeto ou outros alguéns que os resultados que eu medi à base de sangue, suor e lágrimas são bacanas e valem uma publicação. Até mesmo preparar meu CV, ou ir numa entrevista de emprego… nenhum problema com isso. Mas colocar em palavras, contar a sua história, dar opinião sobre você mesmo e sobre o seu trabalho… Enfim: colocar humanidade naquilo que normalmente é tão exato, bem definido, tem barras de erro claras… é duro. Eu acho até que pro povo de humanas isso deve ser mais fácil que pra gente de exatas como eu, afinal lá nem tudo é preto no branco, mas há muitos tons de cinza e mesmo cores. Mas se eles precisam fazer isso pros concursos, eu não faço a menor ideia. Baita contradição se não tiverem, né?

Bom, faz parte do jogo, eu sei. Mas é daquelas regras que te consomem um bocado de energia pra atender. O jeito é torcer pra não precisar fazer isso muitas vezes.

Reunião dos Prêmios Nobel em Lindau – lá vamos nós!

Você sabe o que é a Reunião dos Prêmios Nobel em Lindau (Lindau Nobel Laureate Meeting)?

É uma reunião organizada anualmente por uma fundação que têm o mesmo nome e reúne em Lindau, às margens do lago Constance, na fronteira entre Alemanha, Suíça e Áustria e pertinho de Lichtenstein, diversos ganhadores do Prêmio Nobel (este ano serão 31!) com jovens pesquisadores do mundo inteiro (cerca de 550).

A reunião deste ano é dedicada à Física e por isso a maioria dos Nobel participantes são ganhadores do Nobel de Física. Esta será a 62a reunião, que acontece desde 1951.

O blog têm o prazer de anunciar que foi indicado e selecionado para participar da reunião em Julho deste ano, junto com os Nobel e outros jovens pesquisadores. 😀

Se tudo der certo, ao longo dos próximos meses, vou colocar aqui detalhes da reunião, e, se possível, todas as impressões e experiências, durante a semana do encontro (1-6 de julho). Fique de olho!

O paper e a bomba

Um tempo atrás eu comentei que estávamos escrevendo um paper aqui e que o processo observado lembrava o que acontecia na detonação de uma bomba atômica. Pra não deixar ninguém ser pego “no meio da conversa”, antes de discutir meu ponto, deixa eu lembrar o que acontece, em um e no outro.

A Física:

Eu tenho um gás, separado em diversos pedacinhos e assim eles vivem “felizes e contentes”. Eu então tiro as repartições que mantém esses pedaços de gás separados. Quando eles expandem uns por cima dos outros e se juntam acontece o que a gente denomina um “colapso” da nuvem. O colapso pode ser entendido como uma explosão: o sistema não suporta as novas condições em que você o colocou e expele violentamente partículas e energia de forma a ficar apenas do tamanho que ele suporta. Essa reação “violenta” é o colapso. A novidade do paper, no fim das contas, não é o colapso em si (isso é assunto velho), mas a forma como o colapso é induzido e, principalmente, o fato de ele acontecer em condições não observadas anteriormente. Essa é a física dentro do paper que vamos publicar.

A Bomba:

Como funciona uma bomba atômica? De uma forma bem simples: você arranja várias amostras pequenas de um material radioativo e que, sozinhas, são estáveis. Estável nesse caso quer dizer o seguinte: quando um núcleo dentro da amostra libera nêutrons, não há um número/densidade suficiente de outros átomos ao redor que possam absorver esses nêutrons, se quebrar (liberando energia) e liberar outros nêutrons, encadeando e amplificando o processo. Na bomba, essas amostras individuais são então empurradas umas em direção às outras comprimindo todo mundo junto e… Bom você entendeu. Há um “colapso” do sistema quando as partes (estáveis) formam um todo (instável), já que agora há número/densidade suficiente de núcleos atômicos para sustentar uma reação em cadeia.

O Paper

No paper a gente discute a física do processo, resultados, análises, simulações e etc e havia/há (ainda não decidimos) um parágrafo sobre essa analogia entre o nosso resultado e o que acontece em uma bomba atômica. A analogia era puramente retórica, afinal a física por trás dos processos é totalmente diferente. De fato, a gente nem fala de bomba explicitamente, mas do fato de que enquanto as partes são estáveis, o todo não é. A bomba é a conseqüência? É. Mas não estava lá, pelo menos não explicitamente.

Bom, agora eu cheguei no ponto desse post. Eu sou totalmente a favor de incluir a analogia. Mas alguns dos meus colegas (incluindo o chefe) não pensam assim. Como eu, todos concordam que a analogia funciona pra ilustrar a física a ser discutida e ajuda a não-especialistas visualizarem o processo.

Mas alguns sentem-se “incomodados” com a analogia. E por quê? Porque acham que bombas atômicas são um assunto delicado demais pra colocar num paper. Eu não sei se eu que sou muito ingênuo, pouco afeito a armas e que tais, mas eu realmente acredito que a gente não pode “fechar os olhos” e fingir que não sabe que a analogia é boa. Pra mim isso é prejudicar a experiência do leitor. Por mais que seja apenas uma analogia, eu realmente acho que ajuda.

O argumento dos que são contra é de que processos nucleares foram e são usados para fabricar armas e que mataram gente e foram por muito tempo, até hoje, ferramenta de medo e intimidação para muito mais gente. E que fazer “apologia” a isso não é legal.

Mas aí eu pergunto: colocar a analogia no paper muda o que aconteceu? Muda o que vai acontecer? Vai fazer os EUA, Israel, a Rússia, a Coréia do Norte, o Irã, o Brasil, enfim, qualquer um com acesso a armas e/ou processos nucleares deixar estas de lado? Eu acho que não. Vai fazer menos gente conhecer como funciona uma bomba atômica? Também acho que não. Então vale a pena tirar do paper, fingindo que a gente não sabe que a analogia é boa? Você sabe o que eu acho.

Agora eu te pergunto: o que você faria? Colocaria no paper ou não? E se você estivesse fazendo isso na Alemanha, um país com o passado que tem, isso mudaria sua opinião?

P.S.: Em tempo: as escalas de energia, como você pode imaginar, são extraordinariamente diferentes entre a minha “explosão” no laboratório e a de qualquer processo nuclear.

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