Mais notícias sobre o projeto de Exu

É com muita satisfação que podemos dizer que o PaleoLab (Laboratório de Paleontologia da UFPE, Recife) está aos poucos mudando o cenário do sertão do Araripe pernambucano.
Abaixo está a entrevista com a paleontóloga responsável pelo projeto, Dra. Alcina Barreto, publicada no Jornal do Comércio nesse último domingo.
Em breve, a região terá seu primeiro Museu Paleontológico e os Colecionadores de Ossos têm o prazer de acompanhar todo esse desenvolvimento.
Haverá mais documentários sobre essa região em 2014. Fiquem atentos.
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Catálogo Digital de Paleoartistas brasileiros – Brazilian Paleoart

Fruto do I Concurso de Arte Paleontológica dos Colecionadores de Ossos (ICAP), realizado no primeiro semestre deste ano, nós temos a honra de finalmente apresentar o Catálogo Digital de Paleoartistas Brasileiros: Brazilian Paleoart – Arte Paleontológica no Brasil (http://brazilianpaleoart.colecionadoresdeossos.com/).

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O catálogo reúne artistas participantes do concurso, muitos dos quais fazem parte da nova geração de paleoartistas nacionais, além de conter alguns nomes consagrados que influenciaram e continuam por influenciar a arte paleontológica brasileira.

O objetivo do catálogo é servir como vitrine e facilitar a busca por paleoartistas, procurando aproximá-los do público geral e dos profissionais que têm interesse em sua arte. Os artistas podem ser procurados pelo nome ou de acordo com o seu tipo de arte. É possível encontrar uma breve biografia de cada um, acompanhada de suas especializações e interesses específicos, além de dados para contato e links externos para seus portifolios. Cada artista disponibilizou uma pequena mostra de seus trabalhos, que podem ser apreciadas por todos aqueles apaixonados por Paleontologia.

Agradecemos mais uma vez a todos os apoiadores do concurso e dessa ideia (veja aqui quem apoiou!). Em breve esperamos voltar com mais novidades!

Por enquanto é só. Não deixem de visitar: http://brazilianpaleoart.colecionadoresdeossos.com/ !!

Gostou? Divulgue em seu site:

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Paleontologia Mirim: Dando asas aos sonhos

Fabio Davi tem 19 anos e mora em Pires Ferreira, sua cidade natal, um município com pouco mais de 10.000 habitantes, no interior do Ceará. Ele é apaixonado por Paleontologia, mas confessa que nunca teve a oportunidade de visitar um museu.

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Fabio Davi e seus alunos

Fabio gosta de todo tipo de arte e é fascinado por escrever. Está temporariamente cursando Administração em sua cidade, mas seu sonho é se especializar em algo no ramo das ciências paleontológicas ou da arte. Ele acredita que existem muitas crianças talentosas no mundo, o que falta é “só um pouquinho de estímulo para desabrocharem“. Uma das coisas que mais lhe trazem alegria é “poder alimentar sonhos e ajudar jovens talentos“.

O Colecionadores de Ossos convidou Fabio Davi para conversar um pouco sobre o lindo trabalho que ele vem realizando com jovens de sua região. A nossa expectativa é que o seu relato inspire atitudes semelhantes a se proliferarem ao redor de nosso Brasil, e que pessoas como Davi se sintam ainda mais confiantes em continuarem buscando realizar seus sonhos.

Texto por Fabio Davi:

“A Paleontologia sempre me fascinou. Desde a infância desejei estar em um sítio paleontológico e ver surgir em meio à fragmentos de rocha e areia uma descoberta que pudesse contribuir com o quebra cabeça gigantesco e complexo que são os mundos esquecidos que a paleontologia revela.

Durante algum tempo comecei a desenvolver algumas técnicas para construir meus próprios fósseis e fazer reconstituições de animais. Cinco anos se passaram e a cada dia me envolvi cada vez mais com essa atividade, criando um forte vínculo com a área da Paleontologia. Com o tempo, percebi que mais do que produzir e descobrir, a sensação mais gratificante é a de compartilhar conhecimento com o próximo.

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Alunos da Escola Joaquim Gomes de Lima, Pires Ferreira, CE

Desenvolvi um projeto junto à Escola Joaquim Gomes de Lima com as crianças do 4º e 5º ano na Cidade de Pires Ferreira, no Ceará, onde foram realizados um total de dois encontros. Esses encontros só foram viáveis por meio do apoio dos professores e coordenadores locais, como Dona Francisca Gomes e Sra. Núbia.

No primeiro encontro, os alunos puderam conhecer o universo da Paleontologia, envolto estranhos nomes e muitas curiosidades. Eles foram apresentados também ao conceito até então estranho de Paleoarte.

Nessa ocasião tudo foi muito fascinante pra eles e pude identificar muito empenho e vontade de aprender.

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Tudo tem uma pitadinha de diversão aos olhos das crianças, o que deixa o ambiente leve e agradável.

No segundo dia de estudos, as crianças tiveram contato com o que seria um ‘sítio paleontológico’. Esse foi preparado cuidadosamente com réplicas que produzi. Os olhinhos estavam ansiosos por descobrir o que havia embaixo dos sedimentos. Como a sala continha 21 estudantes, tive que dividi-la em equipes, para que todos pudessem escavar um pouquinho os diversos ‘fósseis’ que ficavam espalhados pelo local.

Cada equipe era organizada entre os que trabalhavam nas anotações, os que faziam o diário de campo, os que escavavam e os descreviam as características do ser.

Os sorrisos expressam o momento da descoberta.
Os sorrisos expressam o momento da descoberta.

Os fósseis eram, na verdade, placas de cimento que esculpi cuidadosamente, já as réplicas menores foram produzidas com argila.

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Esta equipe de ‘pesquisadores’ ficou muito intrigada com o que conseguiu escavar: vestígios de um réptil há muito extinto!

Curiosidade, ânimo e muitas comemorações. Acredito que a experiência desses jovens não tenha sido muito diferente das emoções que envolvem um paleontólogo ao encontrar algo tão raro e precioso.

Seguem aqui alguns depoimentos a respeito das aulas realizadas, para que se conheça como foi experiência para eles:

Paulo Átila, 09 anos de idade, 4º ano.

“O que eu mais gostei foi quando os ossos começaram a aparecer no meio da terra e quando descobrimos como eles se chamavam”.

Maria Eduarda, 11 anos de idade, 5º ano

“Gostei muito porque aprendi a escavar os fósseis de animais extintos. Foi muito interessante”.

Francisco Heliton, 10 anos de idade, 4º ano.

“Gostei muito da Paleoarte, é muito interessante descobrir os seres que já existiram na terra”.

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Estes são alguns dos momentos do meu trabalho, espero poder continuar à disseminar ainda mais sobre esse mundo tão vasto, admirável no passado e o presente, a Terra.”

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Fabio Davi, parabéns pelo esforço e pelo belo trabalho!!
É maravilhoso ver como a Paleontologia, em qualquer meio em que se desenvolva, inspira os jovens, instiga sua curiosidade e desperta nas crianças o gosto pela ciência e pela descoberta.
Quem quiser conhecer mais sobre as realizações de Fabio Davi, visite o seu incrível blog: daviartesemanias.blogspot.com.br – onde ele fala mais sobre suas artes e manias!
Alimentar sonhos vale a pena!
 

Exu: A Chapada, Gonzagão e os fósseis – Tesouros do Araripe

Exu é um município do interior do Estado de Pernambuco, nordeste do Brasil. Sua população é de pouco mais de 30.000 habitantes. O clima é semi-árido e quente. A vegetação dominante, a Caatinga. Sua zona rural encontra-se aos pés da belíssima Chapada do Araripe, onde a terra é fértil e nascentes brotam da terra.

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Chapada do Araripe. Foto de Alcina Barreto.

Nessa região, a água é tão preciosa quanto o ouro. Exu esta incluída na zona conhecida como Polígono da Seca. A falta d’água judia do gado e das plantações, mas há muita riqueza nessa terra.

Luís Gonzaga, o rei do baião
Luís Gonzaga, o rei do baião

Exu é terra de Luiz Gonzaga e de Bárbara de Alencar, foi o lar dos índios Ançus e muito antes disso, bem antes do tempo dos homens, foi um pedaço de mar. Na verdade, um grande lago perto da costa, como hoje é a Lagoa dos Patos no Rio Grande do Sul.

Exu está localizada em uma das regiões mais conhecidas, paleontologicamente falando, do mundo. Em seu território afloram rochas de um tempo em que os dinossauros eram soberanos e nos céus reinavam os répteis alados. Inserida na zona de abrangência da Bacia do Araripe, toda área no sopé da chapada rende fósseis excepcionalmente bem preservados, pertencentes a uma unidade geológica conhecida como Formação Romualdo

A maioria dos fósseis da Formação Romualdo está preservada dentro de concreções calcíferas, que se formaram ainda nos primeiros estágios de fossilização. Condições físico-químicas muito especiais permitiram a preservação detalhada dos fósseis.

"Pedra-de-peixe" - concreção fossilífera da Fm. Romualdo. Foto de Aline Ghilardi.
“Pedra-de-peixe” – concreção fossilífera da Fm. Romualdo. Foto de Aline Ghilardi.

Localmente, as concreções fossilíferas são conhecidas como “pedras de peixe” e normalmente são encontradas em áreas de ocorrência de solo massapê (intemperismo das rochas associadas as concreções é que gerou esse tipo de solo). Os próprios agricultores da região conseguem diferenciar as áreas de ocorrência de fósseis. Eles aprenderam por meio da observação e da convivência diária, durante a qual, para tornar o solo agriculturável, tinham que retirar e empilhar as centenas de duras concreções, que podiam danificar as ferramentas.

Esse é o cenário do projeto desenvolvido pela Profa. Alcina Barreto da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que procura aliar a preservação do patrimônio fossilífero local com o desenvolvimento sócio, cultural e econômico da região, focando na sustentabilidade do recurso.

Profa. Alcina Barreto, curso de formação de Prof. em Exu. Foto: Aline Ghialrdi
Profa. Alcina Barreto, curso de formação de Prof. em Exu. Foto: Aline Ghilardi

O Projeto é financiado pela Pró-Reitoria de Extensão da UFPE e conta com a participação de estudantes de graduação e prós-graduação da instituição e também da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ao longo do seu estudo na região do Araripe pernambucano, a Profa. Alcina Barreto pode perceber o grande potencial paleontológico da área, pouco explorado em relação ao que já foi feito em seu estado vizinho, o Ceará, que apresenta praticamente as mesmas riquezas geo-paleontológicas, mas abriga uma série de museus, o famoso Geopark Araripe e também se empenhou em criar diversos de cursos focados na paleontologia da região.

Junto com a sua equipe, foi possível identificar um crônico desconhecimento por parte da população do lado pernambucano do Araripe sobre o que é, como são importantes e o quê se deve fazer com os fósseis. Enquanto isso, outros moradores locais estavam envolvidos no conhecido tráfico de fósseis, uma atividade comum na região, mas ilegal perante a lei brasileira, que leva a perda desse patrimônio e o não aproveitamento de seu potencial.

O projeto da Profa. Alcina Barreto visa levar o conhecimento para a população sobre esse importante patrimônio natural e cultural da região. O primeiro município a fazer parte do projeto é o distrito de Exu. Aonde, além disso, o grupo visa colaborar na criação de museu paleontológico local, que possa incentivar o desenvolvimento de uma economia solidária na região.

Lançamento do livro "Tesouros do Araripe" - Foto de Aline Ghilardi
Lançamento do livro “Tesouros do Araripe” – Foto de Aline Ghilardi

O projeto encontra-se nas suas fases iniciais e a equipe já teve uma participação no curso de formação de professores de Exu e região, ajudando a criar multiplicadores da ideia. Na mesma ocasião também foi lançado o livro “Tesouros do Araripe”, uma publicação didática focada para público infanto-juvenil.

Assista o vídeo feito pela equipe para divulgação da fase inicial do projeto, conheça um pouco mais sobre essa ideia e compartilhe:

http://vimeo.com/73341310

Mais sobre o novo gigante brasileiro e as pesquisas de dinossauros no Brasil

Elaine Batista Machado, doutoranda no programa de pós-graduação em Zoologia da UFRJ, fala um pouco mais sobre Brasilotitan, o mais novo dino brasileiro, e nos conta sobre as perspectivas futuras quanto ao estudo de dinossauros no Brasil.

Col.: Quais as relações desse novo animal com os dinos já conhecidos no nosso país?

Elaine: A nova espécie, Brasilotitan nemophagus, é a nona espécie de titanossauro brasileiro (contando somente as que são consideradas válidas), e dentre todas estas, este é apenas a terceira a apresentar material craniano. Brasilotitan nemophagus é também a segunda espécie de titanossauro da região de Presidente Prudente, SP, e a quinta proveniente da Formação Adamantina (Bacia Bauru).

Titanossauros
Reconstituição artística de titanossauros

Col.: O que Brasilotitan traz de novo? O que o torna uma importante descoberta?

Elaine: Um dos pontos principais desta nova espécie é a presença da mandíbula preservada, que é bastante peculiar. Diferente da maioria das espécies a mandíbula do Brasilotitan possui uma forma “quadrada”, sendo semelhante à dos titanossaurideos Bonitasaura salgadoi e Antarctosaurus wichmannianus. Além da mandíbula, este dinossauro apresenta também novas características nas vértebras cervicais, que o diferencia dos demais.

Col.: Algum outro aspecto interessante desse animal que você queira destacar?

Elaine: Um aspecto interessante que pode ser observado é que em parte dos ossos desse animal foram encontradas marcas de mordidas, o que indica que ele foi vítima de predadores ou necrófagos.

CT Scan do dentário de Brasilotitan, mostrando um dos alvéolos dentários com três dentes inseridos.
CT Scan do dentário de Brasilotitan, mostrando um dos alvéolos dentários com três dentes inseridos.

Neste estudo, além da descrição formal da nova espécie, pudemos também realizar algumas observações sobre as estruturas internas dos ossos através de tomografias. Nas vértebras foi possível ver o padrão de estrutura pneumática camelada comum a titanossaurídeos, enquanto que no dentário pode-se observar a presença de até 3 dentes dentro de um mesmo alvéolo, o que nos dá a ideia de quão rápida era a troca dentária desse animal.

Col.: O que, na sua opinião, ainda temos por descobrir quanto aos dinos do Brasil? Quais os próximos passos?

Elaine: As perspectivas futuras sobre o conhecimento dos dinossauros brasileiros são boas pelos seguintes motivos: O Brasil tem um enorme potencial para a preservação dos fósseis, suas bacias fossilíferas são não somente ricas, mas extensas – algumas abrangendo vários estados; e outro é que cada vez mais vemos o crescimento de interesse e também incentivos a pesquisas na área.

Devemos lembrar que a paleontologia no Brasil ainda é uma área de pesquisa recente se comparada com outros países, e esperamos que com o tempo e investimento muitas outras descobertas fantásticas sejam realizadas.

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Elaine B. Machado é doutoranda do programa de pós-graduação em Zoologia da UFRJ, pelo Setor de Paleovertebrados do Museu Nacional. Seus estudos são focados em paleontologia de dinossauros e ela já participou de diversas escavações e da descrição de outros dinossauros brasileiros, como Oxalaia quilombensis.

Os Colecionadores de Ossos agradecem a atenção e disposição de Elaine em conversar conosco!

Referência:

MACHADO, E.B.; AVILLA, L.S.; NAVA, W.R.; CAMPOS, D.A.; KELLNER, A.W.A.. (2013). “A new titanosaur sauropod from the Late Cretaceous of Brazil”. Zootaxa 3701 (3): 301–321. DOI:10.11646/zootaxa.3701.3.1.

Não deixe de ler também “A descoberta de um titã”, postagem anterior à essa, que também fala sobre o novo dino brasileiro e apresenta uma entrevista com o seu descobridor, William R. Nava.

Ilustração (Titanossauros): autoria de Aline Ghilardi.