Fantásticas fotos e gravuras de Trouvelot

Descobri a figura curiosa do astrônomo e artista Étienne Trouvelot (1827-1895) por um post da Rebecca Rosen, no site da The Atlantic. A biblioteca pública de Nova York digitalizou recentemente os desenhos que Trouvelot fez para um atlas astronômico publicado em 1882. Um imigrante francês nos EUA, Touvelot se juntou a equipe do Observatório de Harvard nos anos 1870. Na galeria online encontramos belos desenhos em pastel dos planetas, da aurora boreal, manchas e tempestades solares, chuvas de meteoros, uma nebulosa, um aglomerado estelar, a Via Láctea e o grande cometa de 1881.

Claro, quem já viu as inúmeras fotos desses mesmos fenômenos astronômicos disponíveis hoje percebe que Trouvelot deixou sua imaginação realçar e acrescentar certos detalhes. Isso me faz pensar em como as representações artísticas geradas por computador que costumam acompanhar as notícias espaciais de hoje vão parecer aos olhos das pessoas do futuro…


Além de desenhar, Trouvelot criou na mesma época uma série de fotografias de faíscas elétricas geradas por bobinas de indução ou de Ruhmkorff (veja uma em ação aqui).

Infelizmente, Trouvelot, também um entomólogo amador, entrou para história como o infeliz que trouxe uma praga para a América do Norte, a mariposa-cigana.

Camuflagem oculta acontecimentos em certo intervalo de tempo

Da capa da invisibilidade do Harry Potter à camuflagem das aves de rapina klingon de Star Trek, a ficção nos acostumou com a ideia de ocultar a visão de objetos no espaço. Vocês já devem ter ouvido falar também de versões primitivas de objetos invisíveis criadas nos últimos anos por físicos, que funcionam para uma certa linha de visão e certos comprimentos de luz visível, infravermelho ou rádio.

Mas vocês talvez não conheçam outra ideia igualmente fantástica, proposta ano passado por pesquisadores no Reino Unido: a de fazer desaparecer tudo o que acontecer durante alguns instantes em certo lugar. Acionando o que esses pesquisadores chamam de camuflagem temporal, um ladrão poderia entrar em um banco, abrir e fechar seu cofre, e sair sem ser visto. Para as câmeras de segurança, nada teria acontecido.

Na revista Nature de hoje, uma equipe de quatro físicos da Universidade Cornell, EUA, liderada por Moti Fridman, descrevem como conseguiram produzir a primeira camuflagem temporal. Os pesquisadores criaram um “buraco” de escuridão no espaço e no tempo dentro de uma fibra ótica. A camuflagem que funcionou por 50 trilionésimos de segundo (50 x 10-12 segundos), ocultou um pulso de luz da vista dos sensores do experimento. De acordo com os registros dos sensores, nem o “buraco”, nem o sinal de luz aconteceram.

Embora a matemática por trás das duas seja semelhante, a camuflagem temporal funciona diferente da invisibilidade espacial. A última é possível graças a materiais chamados metamateriais, cujas propriedades óticas, tais como o índice de refração, são cuidadosamente desenhadas de modo que os raios de luz que atingem o objeto a ser escondido não sejam espalhados e alcancem nossos olhos, mas ao invés passem pelo objeto com uma correnteza suave de rio contorna uma pedra no seu curso, como na figura abaixo.


Os raios de luz que alcançam o observador são iguais aos que ele receberia se não houvesse objeto nenhum entre ele e a lanterna. A pessoa, portanto, não vê objeto nenhum!

Enquanto a camuflagem espacial funcione distorcendo os raios de luz no espaço, a camuflagem temporal age na velocidade da luz, alterando ao longo do tempo como a luz viaja em certa região do espaço.

Como a velocidade da luz no vácuo é o limite de velocidade universal, note que o truque só funciona com a luz se propagando em um meio material onde ela viaje normalmente de forma mais lenta.

Voltemos ao exemplo do cofre no banco. Suponha que haja uma câmera monitorando o cofre em uma sala iluminada por uma lâmpada. Agora suponha que seja possível em certo instante por mágica retardar a luz que atingirá o cofre e acelerar a luz que acabou de ser espalhada por ele. Criamos assim um área de escuridão temporária em torno do cofre, durante a qual o ladrão abre seu conteúdo, fecha-o e foge. Novamente por mágica, podemos em seguida acelerar a luz anteriormente retardada que vai atingir o cofre e retardar a luz espalhada que foi anteriormente acelerada de tal maneira que a câmera não registra nenhum sinal dos acontecimentos!


Pois foi mais ou menos isso que Fridman e seus colegas conseguiram fazer, dentro de uma fibra ótica por onde passava continuamente um raio de luz verde (item a da figura abaixo, extraida deste artigo). Primeiro, eles acionavam um dispositivo na extremidade inicial da fibra chamado de lente temporal dividida. Do mesmo jeito que uma lente comum modifica a distribuição espacial dos raios de luz, a lente temporal altera a cor da luz em diferentes instantes de tempo. Assim, a lente temporal dividida transforma o raio verde em um trem de raios de cores diferentes um atrás do outro (item b).

Crédito: revista Nature

Os pesquisadores projetaram as propriedades do meio da fibra ótica de maneira que a luz mais vermelha viaja mais lenta e a mais azul viaja mais rápido. Isso então vai abrindo gradualmente o “buraco” de escuridão (c). Quando o buraco atinge seu tamanho máximo no centro da fibra, os pesquisadores criam um evento dentro dele, na forma de um pulso de luz com cor diferente de verde (d).

A segunda metade da fibra tem propriedades óticas exatamente o contrário da primeira metade, de modo que a luz vermelha acelera e a luz azul viaja mais lenta, fechando o buraco aos poucos (e). No fim da fibra, outra lente temporal desfaz a decomposição realizada pela primeira, recompondo o feixe verde (g), não deixando vestígios do evento ocorrido em (d).

Na prática, o aparato funcionou muito bem, ocultando em até dez vezes a intensidade do sinal do pulso de luz criado em (d). Os pesquisadores acreditam que podem melhorar sua performance usando uma fibra quilométrica para criar uma camuflagem que dure até nanossegundos. Tentar algo mais longo que isso, porém, faria com que outros fenômenos óticos ocorrendo no material da fibra estragassem o efeito.

Uma camuflagem espaço-temporal macroscópica com minutos de duração exigiria um metamaterial que mudasse suas propriedades no espaço e no tempo, com uma performance muito além da tecnologia atual, ressaltam dois dos pais da ideia, Martin McCall e Paul Kinsler, do Imperial College, em um artigo em julho do ano passado na revista Physics World. Além de esconder eventos, eles observam no artigo que uma camuflagem espaço-temporal avançada poderia ser usada para criar uma ilusão de teletransporte à lá Star Trek, com uma pessoa desaparecendo e aparecendo em outro lugar.

Mas voltando à realidade, tanto eles quanto Fridman e seus colegas acreditam que a camuflagem temporal em fibras óticas tenha uma aplicação importante no processamento de fluxos de dados óticos, em um futuro computador ótico, por exemplo. Seria possível usar o efeito para processar dois fluxos de dados chegando ao mesmo tempo em uma unidade de processamento. Um “buraco” seria aberto temporariamente em dos fluxos para permitir a passagem e processamento de um segundo fluxo.

Referências:
Fridman, M., Farsi, A., Okawachi, Y., & Gaeta, A. (2012). Demonstration of temporal cloaking Nature, 481 (7379), 62-65 DOI: 10.1038/nature10695

Fita crepe dispara raios X

Luz visível emitida de fita adesiva sendo desgrudada do rolo. A foto tirada com câmera fotográfica com filme exposto. Crédito:  Carlos Camara e Juan Escobar Download File  	Visible light emission from peeling tape. The image is a 30 second exposure on a Cannon EOS 10D. Credit Carlos Camara and Juan Escobar

Acredite se quiser. Uma fita adesiva “Photo Safe 3M” dispara feixes de rádio, luz e até de raios X ao ser desenrolada.Quando alguém puxa a fita para descolar um pedaço do rolo, a substância adesiva da parte interna da fita recém exposta fica temporariamente com excesso de carga elétrica positiva, enquanto a superfície antes grudada ao adesivo fica negativamente carregada. O resultado são mini-relâmpagos entre as duas superfícies, provocados por elétrons viajando entre elas (elétrons acelerados emitem radiação).

Mas é somente no vácuo, onde os físicos da Universidade da Califórnia fizeram as experiências com as fitas, que os elétrons aceleram o suficiente para emitirem um pulso de nanosegundos de raios X. A energia dos pulsos foi suficiente para tirar uma radiografia do dedo de um dos pesquisadores…

Uma imagem dos ossos  do dedo de um dos pesquisadores obtida com os raios X emitidos pela fita adesiva no vácuo. Crédito:  Carlos Camara, Juan Escobar e Seth PuttermanX-ray image of a human finger taken with peeling tape as the x-ray source. The composition is a compounded image of the experimental set up with the hand on top and the x-ray images of the finger. Credit Carlos Camara, Juan Escobar and Seth Putterman

A energia do pulso de raios X é 10 vezes maior que a de uma experiência anterior e ninguém sabe explicar da onde vem tanta energia. Sabem apenas que a emissão está relacionada com o fenômeno chamado de triboluminescência–uma emissão de luz que acontece quando dois cristais são fricicionados um contra o outro. O adesivo da fita, porém, não é um cristal e sim um líquido amorfo. O artigo publicado hoje na Nature é apenas um relato do fenônemo. Os pesquisadores esperam agora analisar outros tipos de adesivos para tentar explicar o mistério.LINK

Pedaço de fita adesiva descolado do rolo, visto ao microscópio (cores artificiais). A fita foi descolada  da esquerda para a direita  a uma velocidade de 5mm/s. Crédito: Carlos Camara e Seth Putterman

Artificially colored microscope image of the peeling vertex of pressure sensitive adhesive tape. The tape was peeled from left to right at about 5mm/s. Credit Carlos Camara and Seth Putterman

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM