Feliz Aniversário, Stephen Hawking!
Hoje o físico vivo mais famoso do mundo faz 70 anos. Parabéns para o homem que vem mostrando desde os anos 1970 como investigar buracos negros e o universo quanticamente, ao mesmo tempo que nos dá uma verdadeira lição de vida.
Se você está online agora, pode conferir o final da conferência em homenagem ao físico britânico.
Fonte de imagem: Brickshelf
Micróbios fazem chover granizo, mais água na Lua e o espelho que cria luz do vácuo – destaques da semana
Micróbios fazem chover granizo
Pesquisadores encontraram bactérias bem no centro de pedras de granizo, sugerindo que esses micróbios foram semente a partir da qual as pedras de gelo cresceram e caíram. É mais uma evidência de que microorganismos seriam tão importantes para a precipitação de granizo, neve ou chuva, quanto as partículas a poeira e a fumaça que os cientistas atmosféricos tradicionalmente levam em conta em seus modelos do clima. A Sociedade Americana de Microbiologia dedicou uma sessão inteira ao tema em seu encontro anual, onde o estudo das pedras de granizo foi apresentado. A repórter Veronique Greenwood lembra no site 80beats que a ideia não é nova. Outro estudo realizado em 2008, por exemplo, analisou a população de bactérias de 19 quedas de neve em todo o mundo, descobrindo que os micróbios faziam com que os cristais de gelo crescessem em uma temperatura muito maior. Uma das espécies de bactéria induzia os cristais de gelo a crescer a -2∘C, em vez dos esperados -40 ∘C. Aliás, bactérias já são ingredientes de misturas usadas por resorts de ski em máquinas de fazer neve. Fazer neve ou chuva seria evolutivamente favorável às espécies, pois assim se dispersariam para novas regiões. (Fontes: 80beats, Physics Today News Picks. )
Mais água na Lua (será mesmo?)
Sondas espaciais confirmaram faz menos de 2 anos que há água em forma de gelo na superfície da Lua. Acredita-se que essa água chegou lá pelo impacto de asteroides e cometas. Mas um novo estudo sugere que ela pode ter vindo também do interior da Lua. Geoquímicos analisaram fragmentos microscópicos de lava endurecida encontrados no interior de cristais de olivina em meio a uma amostra de solo lunar trazida pela missão Apollo 17. Os cristais impediram que a água evaporasse durante o resfriamento da lava, permitindo assim saber qual era o conteúdo aquoso original dela. Surpresa: a concentração de água é de 20 a 100 vezes maior que a encontrada em outros estudos de rochas lunares, uma quantidade comparável a da lava da Terra. A descoberta contraria a teoria mais aceita para a formação da Lua, segundo a qual ela teria se formado há uns 4 bilhões de anos, a partir dos destroços da colisão da Terra com outro planeta de tamanho parecido ao de Marte. Os destroços teriam perdido seu conteúdo de água antes de se fundir para formar a Lua. A descoberta também contraria outro estudo, que por um método distinto concluiu que o interior da Lua é seco. (Fontes: NYT, BBC e Nasa; Imagem: foto microscópica de vidro vulcânico incluso em olivina da Lua, Crédito: Nasa)
Espelho cria partículas de luz do vácuo
Imaginem um espelho se movendo quase à velocidade da luz. Os físicos prevêem que esse espelho geraria partículas de luz, ou fótons, um fenômeno conhecido como efeito Casimir dinâmico. Isso porque o vácuo não é de fato vazio, mas sim cheio de “campos quânticos”, cujos valores flutuam constantemente. Essas flutuações podem ser interpretadas em certos casos como o nascimento de pares de partículas elementares que desaparecem tão rapidamente quanto surgiram – são as chamadas partículas virtuais. Um espelho quase na velocidade da luz dá uma raquetada em alguns dos fótons virtuais, fornecendo a energia que eles precisam para se tornarem reais. É quase impossível acelerar um espelho normal para observar o efeito Casimir dinâmico. Um grupo de físicos, entretanto, conseguiu observar pela primeira vez o fenômeno, construindo uma aparelhagem que cria na prática a mesma perturbação no vácuo que um espelho viajando a 5% da velocidade da luz criaria. (Fontes: The ArXiV Blog, Ars Physica)
Censo dos filamentos da teia cósmica
Quando li a manchete no site da revista Cosmos “Estudante encontra massa faltante do universo”, logo pensei na minha ingenuidade, “descobriram uma quantidade de matéria normal que dispensa a existência de matéria escura?” Não, não foi dessa vez. Como explica Ethan Siegel em seu blog, a porcentagem de matéria normal e a de matéria escura são determinadas por diversas observações independentes (flutuações da radiação cósmica de fundo, abundâncias esperadas dos elementos químicos mais leves, etc.) que, se estiverem erradas, levam todo o modelo do Big Bang por água abaixo. A “massa faltante” que a manchete se refere é parte da matéria normal do Universo que, de acordo com o modelo cosmológico, estaria em sua maior parte (90%) contida nos filamentos de gás e poeira entre os aglomerados de galáxias (como pode ser visto na imagem acima, um mapa do universo local também divulgado esta semana, cuja versão em 3D pode ser vista nos vídeos neste site). Ninguém até agora, porém, havia verificado a previsão. Um grupo de astrônomos australianos, incluindo a aluna de graduação Amelia Fraser-McKelvie, fez justamente isso mapeando as emissões de raios-X de 41 desses filamentos para estimar sua densidade e temperatura. (Fontes: Cosmos, Starts with a Bang; Crédito da imagem: T.H. Jarrett (IPAC/SSC))
E MAIS NOTÍCIAS:
*Cristais de olivina espiralando ao redor de uma estrela jovem (Nasa)
*Cachorros têm mais em comum com gatos do que gostariam, inclusive a maneira como usam a língua para beber, revelaram vídeos em raios-X (New Scientist)
*A melhor medida da “forma” do elétron até agora sugere que ele é perfeitamente esférico (como assim?
o elétron não é pontual? Mais sobre isso em um próximo post…) (Nature News, Uncertain Principles)
*Colisões de ions de chumbo no LHC criaram plasma de quark-gluons duas vezes mais quente que o produzido no RHIC (National Geographic News)
*Como calcular a idade de uma estrela por seu giro (mais sobre isso em um próximo post!) (Physics World)
E IMAGENS E VÍDEOS:
*Mais uma vez, o telescópio espacial Swift quebra recorde de erupção de raios gama mais antigo já vista. O universo tinha “apenas” 520 milhões de anos quando essa luz foi emitida:
*Campos elétricos e magnéticos criam estranhos padrões em um gás ionizado (plasma ) como este que aprece uma flor (via Physical Review Focus):
*A Sonata das Supernovas Ia (via Observations da SciAm):
*Fotografias de impactos de Alan Sailer (via Boing Boing):
*Imagens de Titã e Encedalus, luas de Saturno, tiradas pela sonda Cassini (via Universe Today):
*”Parque fotovoltaico” inaugurado na França, em Le Mées, fornecerá energia elétrica para 8 mil famílias (Fonte: The Guardian, via @carloshotta ):
*A Orquestra Tesla (via Physics World blog):
*Uma bela imagem de parte da Nebulosa da Tarantula, uma região formadora de estrelas na Grande Nuvem de Magalhães, obtida pelo telescópio ESO:
MAIS LEITURAS INTERESSANTES:
*Universos paralelos: a interpretação dos muitos mundos da mecânica quântica e o multiverso da inflação cosmológica são a mesma coisa? (The ArXiV Blog, Cosmic Variance)
*Sonda Voyager 1 a um passo das estrelas (CH Online)
*A física e a imortalidade da alma (SciAm )
*Jornada ao Centro da Terra (SciAm)
*Cáusticas nos olhos (Gurney Journey)
*Kurt Vonnegut transforma Cinderela em uma equação (Krulwich Wonders)
*As paixões de Marie Curie: uma delas foi a radioatividade; as outras são contadas em um livro peculiarmente ilustrado de Lauren Redniss (via BrainPickings)
*Aaarrr! A física da vela, para piratas (io9)
Ketchup venenosos e planetas solitários, em uma galáxia muito, muito simétrica – destaques da semana
Veneno de cobra flui feito ketchup
Sempre imaginei que as presas de cobra injetassem veneno na gente do mesmo jeito que uma agulha de seringa médica injeta uma vacina. Isso é verdade para algumas espécies. A maioria das cobras venenosas, porém, não injetam seu veneno. Em vez disso, o veneno escorre por um sulco em suas presas (foto acima). Em um novo estudo, físicos desvendaram a dinâmica desse processo. Eles descobriram que, assim como a ketchup, o veneno é um fluido chamado não-newtoniano: sua viscosidade diminui quanto mais rápido se mexe. É por isso que temos de chacoalhar ou espremer a embalagem de ketchup para o condimento sair, e é também por isso que o veneno da cobra não pinga antes da hora da picada. Quando a cobre morde sua presa, o veneno escorre para o interior da vítima, sempre pelo sulco, devido à diferença de tensão superficial do líquido dentro e fora do sulco. (Fonte: 80 Beats, ISNS; Imagem: Leo van Hemmem e Bruce Young)
Mundos Vagamundos
Vasculhando o espaço entre 50 milhões de estrelas perto do centro de nossa galáxia, um grupo de astrônomos observou dez planetas vagando livres, leves e soltos pelo espaço interestelar. Eles não viram os planetas diretamente, mas os detectaram por uma técnica chamada de micro-lente gravitacional. A massa de uma planeta funciona como uma lente, distorcendo a luz de uma estrela distante que por acaso passe justamente atrás dele. Das centenas de eventos de microlente observados, dez duraram menos de dois dias, o implica que foram gerados por corpos com uma massa parecida com a de Júpiter. Por uma análise estatística, os astrônomos estimaram que esses planetas solitários podem ser até duas vezes mais comuns que os planetas orbitando estrelas. Seriam 400 bilhões deles só na Via Láctea. Sua existência já havia sido prevista por simulações computacionais do nascimento de sistemas planetários, nos quais a interação gravitacional entre os planetas em formação lançariam alguns deles – tanto rochosos, quanto gigantes gasosos – para fora do sistema. Seria possível a vida em um planeta solitário? Estudos recentes sugerem que sim, graças ao calor produzido pelo decaimento de isótopos radioativos e mantido por atmosferas espessas de gás hidrogênio. Imaginem só, se um desses planetas visitasse o nosso sistema solar. O que aconteceria??? (Fontes: Nasa, Chi Vó Non Pó, Nature, Physics World Imagem: concepção artística, NASA/JPL-Caltech)
Simetria Galáctica
Uma pena não podermos ver de longe nossa própria galáxia, a Via Láctea, como vemos as outras. Seria uma bela imagem, perfeitamente simétrica, sugere um achado recente. Ao analisarem dados sobre as emissões de rádio de hidrogênio e de monóxido de carbono de nuvens de gás da Via Láctea, astrônomos descobriram que um dos maiores braços de sua forma espiral, o braço Scutum-Centaurus, se estende por muito mais do que se imaginava. Isso significa que ele é tão grande quanto o braço do outro lado da galáxia, o braço de Perseus. Assim, metade da galáxia seria uma imagem espelhada da outra metade, com ambos os braços se estendendo a partir de extremos opostos do aglomerado de estrelas em forma de barra no centro galáctico. Por que só agora os astrônomos notaram uma estrutura gigantesca dessas com mais de 18 kiloparsecs de comprimento? A maioria dos estudos observa o plano da galáxia, enquanto essa extensão do braço Scutum-Centaurus se curva para fora, feito a borda de uma tampinha de garrafa. Os pesquisadores ainda precisarão de anos para mapear as nuvens de gás para ter certeza absoluta de que a estrutura é mesmo uma extensão gigante de um dos braços galácticos. A forma exata da espiral de nossa galáxia é uma questão polêmica entre os astrônomos, que discordam quanto ao número de braços , seus formatos e tamanhos. (Fontes: Science News e The ArXiV Blog; Imagem: T. Dame, Robert Hurt)
Extinção em massa recalculada
Algumas estimativas prevêem a extinção de 18 a 35% de todas as espécies de seres vivos até 2050. Mas esse processo de extinção em massa pode ser na verdade cerca de 2 a 2,5 vezes mais lento, de acordo com um novo estudo de como as espécies desaparecem pela perda de seu hábitat – a principal causa da extinção. Isso significa que talvez possamos salvar mais espécies do que imaginávamos. Mesmo assim, não dá para sentir muito alívio, já que as taxas de extinção atuais continuariam de 100 a 1000 vezes maiores que as naturais. É impossível medir diretamente a perda de espécies, primeiro porque não conhecemos todas elas, segundo porque é muito difícil registrar a extinção da maioria que conhecemos. Em um dos métodos usados para estimar as taxas de extinção, os ecólogos assumem que o tamanho da área de hábitat que precisa ser destruída para extinguir uma certa espécie é igual a área mínima que precisariam vasculhar para encontrar pelo menos um indivíduo dessa espécie. No novo estudo, entretanto, os pesquisadores notaram que a perda de área necessária para remover o último indivíduo de uma espécie precisa ser muito maior, implicando que o método tradicional sobrestima as taxas de extinção. Eles também compararam seus cálculos usando um novo modelo com a distribuição de espécies de aves e árvores na América do Norte, demonstrando que o novo modelo fornece uma estimativa melhor. (Fontes: New Scientist, Ars Technica; Imagem: Nasa, tirada daqui)
Energia escura confirmada (mais uma vez)
Observações de quase 240 mil galáxias realizadas durante cinco anos pela eq
uipe de astrônomos do WiggleZ Dark Energy Survey confirmou que 70 a 75% da energia do universo não está na forma de matéria normal, radiação ou matéria escura. Essa forma desconhecida de energia descoberta pela observação de supernovas distantes em 1998, a chamada energia escura, age como uma espécie de anti-gravidade, constantemente acelerando a expansão do universo. A equipe do WiggleZ estudou aglomerados de galáxias a uma distância na qual os vemos como eram quando o universo tinha cerca de 7 bilhões de anos, mais ou menos a metade de sua idade atual. É nessa época que a anti-gravidade da energia escura começaria a superar a atração gravitacional entre as galáxias. Os cientistas confirmaram a ação da energia escura por dois métodos diferentes. Em um deles, observaram como as galáxias estão distribuídas no espaço. Medindo a distância entre elas e comparando com o valor esperado se essas distâncias fossem determinadas apenas pelas variações de densidade no início do universo, impressas na radiação cósmica de fundo, eles determinaram a contribuição da energia escura para o afastamento das galáxias. No outro método, verificaram o quão rápido os aglomerados de galáxias crescem ao longo do tempo, à medida que mais e mais galáxias se atraem mutuamente pela gravidade, ao mesmo tempo que são repelidas pela energia escura. Ambas técnicas confirmam que a aceleração do universo devida a energia escura permanece constante ao longo do tempo. Não é a primeira vez que a energia escura é confirmada, e pelo jeito não será a última. (Fontes: Nasa, BBC e Starts With a Bang; Imagem: Nasa/JPL-Caltech)
MAIS NOTÍCIAS:
*O “Dogma Central” da biologia parece que não é tão dogmático assim. Trechos idênticos de DNA, trancritos em cadeias de RNA editadas por alguma coisa que ninguém sabe, podem produzir proteinas bem diferentes.
*Em Saturno, uma tempestade do tamanho da Terra.
*Na Terra, relâmpagos gigantes disparados para cima.
*O planeta Gliese 581d, vizinho do famoso 581g (que talvez não exista), também pode ter água líquida, sugerem simulações.
*Os elétrons captados pelo observatório espacial de raios cósmicos PAMELA continuam apresentando sinais inconclusivos, mas tantalizantes, de matéria escura…
*Sentimos aqui em cima na crosta terrestre os efeitos da dinâmica do manto e do núcleo do planeta. Mas parece que o contrário também é verdadeiro! Parte do núcleo da Terra derrete embaixo de regiões sem muita atividade tectônica, como o Brasil, sugere estudo que saiu na Nature.
VÍDEOS E IMAGENS SENSACIONAIS:
*Imagens de alta resolução dos jatos emitidos (muito provavelmente) por um buraco negro supermassivo no centro de uma galáxia:
*Para quem acha que pêndulos são chatos (mais informações aqui):
*Fotos da trilha de fumaça do ônibus espacial Endavour vista de balão lançado por estudantes (via G1):
*Um laço de tartan escocês foi o objeto da primeira foto colorida da História, tirada dia 17 de maio de 1861, pelo fotógrafo Thomas Sutton e por ninguém mais nem menos que o físico James Clark Maxwell (via thedailywhat, betapixel e BBC):
E MAIS LEITURAS INTERESSANTES…
*Robert Krulwich não consegue parar de pensar na boca irreverente dos Platybelodons.
*Daniel Ferrari conta como as formigas o ensinaram a fazer programas de computador.
As origens do carbono, o laser que entorta água e uma nova luz sob o câncer – destaques da semana
Os TOP 5 da semana passada:
Os blocos dos blocos da vida
Se a água é o “solvente universal”, o carbono é a “fita crepe” da vida, disse uma vez a jornalista científica Natalie Angier. Agora, mais de 60 anos depois que Fred Hoyle propôs a reação pela qual nasceriam os núcleos atômicos de carbono, pesquisadores conseguiram desenvolver o poder computacional e os truques matemáticos necessários para calcular como prótons e nêutrons grudam uns nos outros durante essa reação. O que se sabe sobre a formação dos elementos químicos é que logo após o Big Bang, o universo era cheio de hidrogênio, hélio e um pouquinho de lítio. Os elementos mais pesados restantes, incluindo o carbono, foram forjados no interior de estrelas massivas e na explosão que marca o fim delas. Em 1954, Hoyle imaginou como três núcleos de hélio-4 poderiam se fundir no interior dessas estrelas formando um núcleo de carbono-12. Primeiro, dois núcleos de hélio se juntariam em um núcleo de berílio-8. Em seguida, o berílio precisaria colidir com outro hélio para formar um núcleo de carbono-12. Esse carbono nasceria com energia em excesso, ou no jargão dos físicos, em um “estado excitado”, que era desconhecido na época, sendo observado em laboratório apenas três anos depois. Os cálculos agora publicados na Physics Review Letters revelam como a dinâmica dos prótons e nêutrons do berílio e do hélio criam esse estado excitado. (Fontes: The Photonist, Physics, Dot Physics, A Física Se Move. Crédito da imagem: Carin Cain)
Laser entorta água
Uma gota d’água normal funciona como uma lente biconvexa, explica muito bem o Prof. Dulcidio. Mas um aparato usando feixes de raios laser de potência tão fraca quanto o de um aparelho de DVD pode ser capaz de transformá-las em qualquer tipo de lente (em bicôncava, por exemplo), afirma o casal de físicos franceses Janine e Olivier Emile, em artigo na Physical Review Letters. Eles incidiram um feixe laser em um recipiente cheio d’água com um espelho no fundo e descobriram que, inclinando o feixe no ângulo certo, a combinação da pressão da luz dos raios incidente, transmitido e refletido era capaz de superar a tensão superficial da água, forçando o líquido a se curvar para dentro, criando um vale na superfície (Até onde entendi, não dá para fazer a experiência em casa, pois a curvatura na superfície é pequena demais, sendo verificável apenas com um aparelho especial). A descoberta foi uma surpresa, pois apesar de experimentos anteriores demonstrarem desde os anos 1970 a capacidade da luz deformar a superfície de líquidos, esses foram realizados com laseres de alta potência, e o resultado era um calombo na superfície, não um vale. O por quê da diferença ainda não está claro. Seja como for, a descoberta abre a possibilidade de usar laseres para criar lentes que mudam de forma, para telescópios ou celulares, por exemplo. (Fonte: Physical Review Focus. Crédito da imagem: telegraph.com.uk)
Uma nova luz sobre o câncer
Sabe aquela luminescência azul das piscinas dos reatores nucleares, a chamada radiação Cherenkov? Ela está começando a ser usada agora em uma nova técnica para identificar células cancerígenas. Nicole Ackerman e seus colegas da Universidade Stanford, EUA, apresentaram na última reunião da American Physical Society, o seu Imageamento por Luz Cherenkov de tecidos vivos. Na técnica, o paciente ingere glicose contendo o elemento radiativo actínio-225. Como as células cancerígenas consomem mais glicose que as normais, o actínio-225 se concentra dentro delas. O elemento radioativo dispara elétrons que viajam mais rápido que a velocidade da luz na água. Em um processo que lembra o estrondo gerado pelos aviões quando eles quebram a barreira do som, esses elétrons velozes criam uma onda de choque eletromagnética, emitindo luz (a tal radiação Cehrenkov) que pode ser detectada pelos mesmos sensores que os biomédicos já utilizam em outras técnicas de imagem, como a bioluminescência. A técnica já está em fase de testes clínicos nos EUA. (Fonte: Dyscovery News)
Raios cósmicos influenciam o clima da Terra?
Tudo indica que a resposta é não, pelo menos não a ponto de causar mudanças grandes no clima como o aquecimento global. Todos pesquisadores respeitados acreditam nisso, com exceção de Henrik Svensmark. Segundo o físico dinamarquês, a passagem dos raios cósmicos pela atmosfera ionizaria as partículas de poeira e fumaça em torno das quais o vapor d’água se condensa para formar nuvens. Essa ionização aumentaria a formação de nuvens, o que por sua vez afetaria o clima, aumentando ou diminuindo a temperatura global. A quantidade de raios cósmicos galácticos que atingem a Terra depende da atividade do Sol, já que o campo magnético solar age como escudo protetor desviando parte deles. Assim, Svensmark defende que há uma conexão intensa entre a atividade solar e o clima terrestre, embora não haja evidências disso. Em um artigo recentemente publicado na Geophysical Research Letters, Svensmark e colegas reportam como um feixe de elétrons, simulando os raios cósmicos, aumentou a formação de aglomerados de moléculas d’água em uma câmara de 0,05 m³cheia de gases, simulando a atmosfera terrestre. Mas um dos membros da equipe contou ao Physics World que para provar mesmo a conexão entre os raios cósmicos e a formação de nuvens, terão de repetir a experiência com uma câmara de nuvens maior, o que esperam realizar no experimento CLOUD, do CERN. Ainda assim, mesmo se o CLOUD for bem sucedido, ainda restará responder se o efeito dos raios cósmicos nas nuvens seria desprezível ou não para afetar o clima. (Imagem: Experimento CLOUD)
Computador dito quântico tem algo de quântico afinal
Em 2007, a maioria dos especialistas classificou de golpe de marketing o anúncio da empresa canadense D-Wave, afirmando ter criado o primeiro computador quântico comercial, com um processador de 16 “qubits” – que, ao contrário de uma sequência de bits convencional, poderia assumir todas as possíveis combinações de 0s e 1s simultaneamente, permitindo em tese à máquina resolver problemas impossíveis para um computador normal. Na época, a comunidade científica se queixou porque a empresa não apresentou nenhuma evidência de que sua invenção funcionava quânticamente. Agora, finalmente, cientistas filiados a D-Wave publicaram na Nature um artigo com os resultados de um experimento que mostra que o mecanismo pelo qual seu aparelho funciona envolve um processo quântico chamado de tunelamento. A demonstração, entretanto, ainda é pouco. Uma prova crucial que falta é mostrar se os qubits do mecanismo permanecem “emaranhados” – o estado que permite rodar programas explorando aspectos quânticos dos qubits (Fontes: ScienceNOW, blog da D-Wave, blog do Scott Aaronson. Imagem: processador da D-Wave)
Mais notícias que me chamaram atenção:
*Atmosferas espessas de hidrogênio podem tornar planetas distantes de suas estrela habitáveis.
*Telescópios captaram as erupções de raios gama mais brilhantes que já vieram do centro da Nebulosa do Carangueijo, onde acredita-se há uma estrela de neutrons e turbulentos campos magnéticos. A intensidade e o período de poucos dias dessas erupções desafiam explicações. :
*Vem ai um novo tipo de fone de ouvido que promete eliminar o desconforto causado pelos fones atuais devido às pressões que exercem no sistema auditivo (via iG e io9)
* Fazer um buraco negro em casa é complicado, mas uma analogia matematicamente precisa de um buraco branco é fácil de criar bem na pia da cozinha.
*Missão de barco robótico para explorar mares de Titã, lua de Saturno, mencionada ao Estadão por brasileiro que trabalha na Nasa, está na lista das finalistas da agência para receber financiamento.
Imagens e vídeos incríveis da semana:
*A lua Iapetus, de Saturno, tem uma estranha cadeia montanhosa em seu equador (via ArXiV blog):
* A sonda SOHO flagra cometa caindo no Sol (via Universe Today):
*Para quem lembra das aulas de química do colégio, a equação de Henry para dissolução de gases em líquidos, escrita em forma de gases dissolvidos em líquidos, na revista Wired:
*No mar da Islândia, entre duas placas tectônicas (via Folha):
*A macieira de Newton (via Daily Mail):
*As Caverna de Carlsbad iluminada com LEDs, e sem LEDs (via EPOD):
*A natureza por números (via Ciência na Mídia):
*Como funciona o detector de fumaça (via The Best Physics Videos):
*Conan O’Brein pede ajuda a um físico do MIT para quebrar seu recorde de girar uma aliança (via Dot Physics, com boas observações sobre como conduzir um experimento):
*Amebas sociais reproduzem mapa rodoviário da Espanha (via Wired Science):
*E para terminar, um vídeo inspirador mostrando a Via Láctea vista da montanha de El Teide, na Espanha, por Terje Sorgjerd:
E mais uma miscelânia de textos que ainda quero dar uma lida:
*Entrevistas com Stephen Hawking no NYT e no the Guardian, sobre vida, morte, vida após a morte, teorias de tudo,
essas coisas.
*Um discurso inspirador de Robert Krulwich para os novos jornalistas.
*Buracos negros eclipsando raios-X no núcleo de galáxias ativas.
*Planos para observar raios cósmicos ultra-energéticos em satélites.
*Todos sabem como os dinossauros se extinguiram, mas como eles surgiram?
* Celebrando os 100 anos da descoberta da supercondutividade
*O problema da replicação nos experimentos científicos
*Novo livro sobre a emergência das baterias de lítio, cada vez mais importantes
*Entrevista com João Steiner sobre astrofísica de buracos negros
*Quem é mais eficiente: fotossíntese das plantas ou as células fotovoltaicas dos painéis solares?
O Universo iluminado por detrás, uma Super Terra infernal e os 15 minutos de fama da antimatéria – Destaques da Semana
Esta é a primeira edição em muitos meses do “destaques da semana” do Universo Físico. Espero reviver um hábito antigo meu de pegar a enxurrada de notícias de ciência que nos atinge toda semana e selecionar cinco ou seis delas que mais chamaram minha atenção para ler com mais cuidado e resumir aqui no blog. Tomara que isso seja útil para alguém além de mim…
O Universo iluminado por detrás
Astrônomos criaram o maior e mais detalhado mapa tridimensional do universo visível, quando ele tinha apenas 3 bilhões de anos (hoje tem quase 14 bilhões). Para tanto, usaram um instrumento chamado BOSS que acoplado ao telescópio SDSS, permitiu coletar a luz individual de 14 mil corpos celestes chamados quasares – galáxias extremamente brilhantes e distantes, cuja a maior parte da luminosidade é emitida concentrada em um feixe, que serve de holofote para iluminar o universo mais recente. No caminho em direção a Terra, parte da luz desses feixes é absorvida por nuvens de gás hidrogênio, que re-emitem a luz em comprimentos de ondas diferente, imprimindo no espectro da luz dos quasares uma série de linhas que os astrônomos chamam de “floresta Lyman-alfa”. Analisando essas “florestas” é possível criar um mapa das variações de densidade das nuvens de hidrogênio, revelando quando e como elas se expandiram ou contraíram O mapa foi divulgado em um encontro da American Physical Society esta semana. Os pesquisadores acreditam que acrescentando mais quasares ao mapa, poderão alcançar a sensibilidade para testar o papel da energia escura na aceleração da expansão do universo. (Fontes: Wired, New Scientist e LBNL. Imagem 1 extraída desta apresentação . Crédito da imagem 2: A. Slosar e colabroção SDSS-III, extraida da Wired)
Super Terra infernal em estrela visível a olho nu
“Há um certo prazer em ser capaz de apontar para uma estrela visível a olho nu e saber a massa e o raio de um de seus planetas”, escreve um grupo de astrônomos em um artigo, no qual reportam observações com o telescópio espacial canadense MOST. Observando a queda de luminosidade provocada pela passagem do planeta “55 Cancri e” em frente de sua estrela, a 55 Cancri, há 41 anos-luz de distância e com massa semelhante a do Sol, eles calcularam a distância do planeta à estrela (20 vezes mais próximo que Mercúrio do Sol) e o seu raio (60% maior que o da Terra). De observações anteriores da oscilação da velocidade radial da estrela, eles já sabiam o período de translação (17 horas e meia) e a massa do planeta (14 vezes a da Terra). Assim, determinaram que a densidade do “55 Cancri e” é quase o dobro da Terra, tão denso quanto chumbo. Outro grupo de astrônomos, porém, usando o telescópio espacial infravermelho Spitzer, da Nasa, obteve um valor 1,3 vezes maior para o raio, o que daria para o planeta uma densidade um pouco menor que a da Terra. Ambos grupos não sabem explicar a discrepância, que esperam resolver apontando o telescópio Hubble para a 55 Cancri. Em todo caso, está claro que o “55 Cancri e” faz parte de uma nova classe “Super Terras” próximas a suas estrelas – planetas rochosos um pouco maiores que a Terra, muito provavelmente com uma face sempre voltada para o seu sol, coberta por um oceano de lava – do qual fazem parte também os planetas recém descobertos Corot 7b e Kepler 10b. (Fontes: Universe Today, National Geographic News, Centauri Dreams e Starts With a Bang! Crédito da imagem: Jason Rowe, NASA Ames and SETI Institute and Prof. Jaymie Matthews, UBC)
Os 15 minutos de fama da antimatéria
Físicos do experimento ALPHA, no CERN, quebraram o recorde de aprisionamento de antimatéria estabelecido por eles mesmos em 2010. Ano passado, os pesquisadores anunciaram que haviam criado 38 átomos de anti-hidrogênio ao colidir uma nuvem de pósitrons (partícula de mesma massa que o elétron, mas com carga elétrica positiva) com um nuvem de antiprótons (partícula de mesma massa que o próton, mas com carga elétrica negativa), e os haviam aprisionado por 1/5 de segundo em uma armadilha magnética, tempo após o qual os anti-hidrogênios acabavam sendo aniquilados, ao entrar em contato com a matéria normal. Agora, o time do ALPHA conseguiu criar 309 anti-hidrogênios e mantê-los aprisionados por mil segundos, um pouco mais que 15 minutos. Conseguindo manter a antimatéria intacta por mais tempo vai permitir nos próximos anos realizar experimentos que vão testar se a antimatéria reage de maneira diferente à gravidade (será que antimatéria cai para cima?) ou ao eletromagnetismo (o espectro de emissão e absorção de luz do anti-hidrogênio é diferente do hidrogênio? ). (Fontes: Physics World, New Scientist, The ArXiV Blog. Crédito da imagem: Niels Madsen, ALPHA, CERN)
Brisa de matéria escura?
A famosa matéria escura – cuja existência é invocada pelos astrofísicos para explicar do giro das galáxias à evolução do universo inteiro – constitui 80% de toda a matéria, na forma de nuvens de gás rarefeito englobando a maioria das galáxias. Ela permeia tudo a nossa volta, embora seja imperceptível por interagir quase nada com a matéria comum. Alguns experimentos estão tentando obs
ervar colisões de partículas de matéria escura com os átomos de seus detectores, instalados no subterrâneo de minas ou montanhas para isolá-los da colisão com outras partículas que vem do espaço. Esta semana foi anunciado que o experimento CoGeNT registrou durante seus 15 meses de operação um excesso de colisões no verão e um déficit delas no inverno – um sinal atribuído a um “vento” de matéria de escura, que atingiria a Terra em seu giro em torno do Sol. A chance do sinal ser obra do acaso, porém, é muito alta. Serão necessários muito mais dados para confirmar uma possível descoberta. O sinal, entretanto, chamou a atenção por ser o primeiro resultado que se parece com o observado por outro experimento, o DAMA/LIBRA, em funcionamento há mais de dez anos, mas que contradiz os resultados do XENON100 e do CDMS II, que não registraram nada até agora. (Fontes: Cosmic Variance, Physics Buzz, New Scientist, Science News. Imagem: Pesquisador-chefe do CoGeNT segurando a peça de germânio que serve de detector de matéria escura ).
Relatividade Geral confirmada (de novo)
Dois efeitos previstos pela teoria da gravitação de Einstein, a Relatividade Geral, foram confirmados pela equipe de cientistas da missão Gravity Probe B (GP-B). O projeto mais longo da Nasa (nasceu em 1959), a sonda ficou em órbita da Terra entre 2004 e 2005, carregando um conjunto de quatro esferas de quartzo cobertas de nióbio, cada uma girando rapidamente em torno de si, isoladas o máximo possível do ambiente de modo que o eixo de rotação de cada uma delas fosse influenciada apenas pela gravidade da Terra. Infelizmente, uma série de defeitos inesperados em sua aparelhagem e uma tempestade solar comprometeram seriamente a precisão do experimento. Agora, finalmente, a equipe do GP-B afirmou conseguir extrair de seus dados cheios de ruído os sinais de que os eixos de rotação das esferas foram desviados 0,0018 graus em um ano na direção norte-sul, como se esperaria de um corpo em queda livre no espaço curvo da Terra, e desviados de 0,000011 graus em um ano na direção leste-oeste, devido à curvatura provocada pela rotação do planeta. O anúncio serviu mais como uma prestação de contas da Nasa, uma vez que a GP-B foi muito criticada por sua demora e seu custo (760 milhões de dólares), além desses dois efeitos já terem sido comprovados por outros experimentos, inclusive com maior precisão. Mas ninguém pode negar o pioneirismo da GP-B e as tecnologias que sua equipe desenvolveu ao longo dos anos, que levaram à criação do GPS, por exemplo. (Fontes: Discovery News, Wired Science, Science News, Centauri Dreams, Carlos Orsi, Chi vó non pó, Science NOW Imagem: Gravity Probe B)
Fontes misteriosas de raios cósmicos no hemisfério sul
Embora tenha sido planejado para observar neutrinos, o experimento IceCube, próximo ao pólo Sul, detecta todo ano involuntariamente dezenas de bilhões de raios cósmicos – núcleos atômicos vindos do espaço que atingem a Terra a velocidades próximas a da luz. Raios cósmicos colidem com átomos da atmosfera, produzindo partículas carregadas chamadas múons. No gelo da Antártica, os múons emitem luz que é registrada pelos foto detectores do experimento. Físicos apresentaram na reunião da American Physical Society um mapa do hemisfério sul que mostra um excesso de raios cósmicos vindos de metade do céu, e um déficit na outra metade. Um padrão semelhante foi observado por outros experimentos no hemisfério norte. O problema é que esperava-se que os raios cósmicos viessem igualmente de todas direções, uma vez que suas prováveis fontes estão bem longe da Terra e os campos magnéticos da galáxia e de suas estrelas embaralharia suas direções. Algum fenômeno magnético, talvez dentro do nosso sistema solar, está concentrando o raios cósmicos em certas partes do céu. Mas o que? (Fontes: New Scientist, PhysOrg e Astronomy)
Grãos de espaço-tempo, Ninguém entende estatística, Ninguém entende aerossol, como pássaros migratórios enxergam magnetismo e porque as hemácias são tortas
Destaques de ciências físicas na Internet, semana passada:
Telescópio Fermi impõe limites aos “grãos” do espaço-tempo
O espaço e o tempo são lisinhos e contínuos, segundo a teoria da gravidade de Einstein. A maioria dos físicos argumenta, porém, que perto de tamanhos da ordem de centésimos de bilionésimos de bilionésimos do raio de um próton– isto é, ⁻³⁵ metros–a gravidade precisa também obedecer às leis da mecânica quântica. Nessa escala absurdamente pequena, o espaço-tempo deve ser rugoso, feito de “grãozinhos” cujo tamanho e comportamento seriam descritos por uma ainda desconhecida teoria da gravidade quântica.
Sendo impossível observar diretamente esses grãozinhos, físicos perceberam uma chance de medir o efeito acumulado deles em um raio de luz ultraenergético que viajasse bilhões de anos-luz até chegar na Terra. Alguns modelos prevêm que a granulação provocaria um atraso no tempo de chegada dos raios mais energéticos. Esse atraso violaria a lei fundamental da teoria da gravidade de Einstein de que a luz sempre viaja a uma mesma velocidade no espaço vazio.
(in)Felizmente, esse atraso não foi observado pela equipe do telescópio espacial Fermi, que fez a análise mais precisa até hoje do problema, estudando uma explosão de raios gama vinda de uma galáxia há 7 bilhões de anos-luz de distância, registrada pelo Fermi dia 10 de maio. Dentro de uma precisão de uma parte em 100 milhões de bilhões (!), raios gama de energias diferentes chegaram praticamente ao mesmo tempo na Terra.
Os resultados, publicados agora na Nature, impoem um limite às propriedades que esses hipotéticos grãos de espaço-tempo podem ter.
Muito bom o vídeo que a equipe de comunicação do Fermi preparou para explicar a pesquisa:
Leia mais sobre em Symmetry Breaking (ótima explicação da diferença entre teoria e fenomenologia), Backreaction (comenta a diferença pra melhor entre as afirmações no preprint e no artigo publicado) PhysicsWorld (cita outras observações astrofísicas que testam e confirmam a simetria de Lorentz), Science News , New Scientist e Stanford Report.
Provavelmente você não analisa a estatística como devia
Nem eu e a imensa maioria dos jornalistas. E isso é ruim, certeza, porque deixa a gente vulnerável a interpretar errôneamente evidências sobre questões essenciais como, por exemplo, o futuro do clima da Terra ou a validade de uma vacina contra a AIDS, ou ainda as evidências em julgamentos de tribunais de justiça. É o que mostraram duas reportagens e uma entrevista semana passada.
Anda circulando pela Internet uma afirmação de que o aquecimento global é um mito, pois desde 1998 a temperatura média do planeta vem esfriando. Para verificar a tal hipótese do “esfriamento global”, a Associated Press mostrou os dados de temperatura em que se baseiam os defensores do esfriamento a quatro estatísticos independentes. O repórter da AP pediu a eles que analisassem os dados em busca de tendências. Detalhe: para os estatísticos era apenas uma tabela de números; eles não sabiam do que se tratava. A conclusão dos quatro foi unânime: a queda de temperatura de 1998 para cá é uma pequena flutuação; a tendência da temperatura global é de aumentar. Tanto assim, que um dos climatológos ouvidos pela AP espera um recorde de temperatura para o El Niño de 2010. Preparem-se… (via Laboratório)
Já o site de notícias da revista Science publicou uma entrevista com o estatísitico Victor De Gruttola, da Escola de Saúde Pública Harvard, em que o especialista se mostra irritado com a confusão que a maioria dos jornalistas e seus colegas cientistas fazem com o conceito de valor p, que convenhamos é mesmo difícil de entender. A conversa gira em torno da empolgação excessiva da mídia com um teste de vacina da AIDS feito na Tailândia. Das 8197 pessoas que tomaram a vacina, 51 foram infectadas pelo HIV. E das 8198 pessoas que tomaram o placebo, 74 foram infectadas. O “sucesso” do teste foi comemorado porque seus resultados atingiram um “valor p” de 0,04. Isso porque, reza a lenda, um valor p abaixo de 0,05 indica que o resultado é estatisticamente significante. Mas De Gruttola explica que a regrinha de ouro do 0,05 é totalmente arbitrária e que um valor p próximo de 0,05 não quer dizer muita coisa, principalmente em se tratando de um assunto urgente como saúde pública. O ideal seria chegar a um valor p no mínimo menor que 0,01.
Nos tribunais de justiça, reporta Angela Saini para a revista New Scientist, os julgamentos dependem cada vez mais de evidências quantitivas, como os exames de DNA, por exemplo. Os juízes precisam fazer as contas das probabilidades condicionais direito. Uma das confusões mais frequentes é igualar a probabilidade do acusado ser inocente dada um evidência acusatória encontrada na cena do crime, com a probabilidade da evidência ser encontrada na cena do crime seja lá quem for o culpado. A diferença é sutil mas pode levar um inocente à cadeia. (Uma boa referência sobre estatísitica e probabilidades é este pacote especial da revista Plus, em inglês.)
Gases estufa interagem com aerossóis modificando seu efeito
Aerossóis são partículas suspensas na atmosfera tais como poeira, sal marinho, sulfatos e fuligem. Além dos vulcões e da água do mar, uma grande fonte de aerossóis são os poluentes exalados por nossas chaminés.
Alguns aerossóis como os sulfatos resfriam o clima, refletindo calor de volta para o espaço, enquanto outros como a fuligem de carbono absorvem calor esquentando o ar. Estudos sugerem que o efeito antiestufa dos sulfatos supera o aquecimento provocado pela fuligem atualmente.
Um modelo mais sofisticado da atmosfera publicado na revista Science mostra que a interação com os aerossóis modifica a intensidade do efeito de importantes gases estufa. O gás metano (CH₄), que sozinho tem efeito estufa 25 vezes maior que o do gás carbônico (CO₂), reagindo com os aerossóis passa a ser 28 vezes mais potente que o CO₂. O monóxido de carbono (CO), cujo efeito estufa sozinho é 18 vezes maior que o do CO₂, torna-se 33 vezes maior que o do CO₂. O efeito estufa de ambos gases aumenta ainda mais se levada em vonta a infuência deles nas formação de nuvens.
O metano, por exemplo, reage de maneiras diferentes com os demais gases do ar em alturas diferentes da atmosfera, produzindo ozônio (um gás estufa) na parte mais baixa, e CO₂ ou vapor d’água (outro gás estufa) nas partes mais altas. O CH₄ também participa de reações que reduzem a formação de aerossóis de sulfato.
Já vários gases de efeito estufa tipo óxidos nitrosos podem aumentam a concentração de aerossóis de sulfato, triplicando seu efeito de resfriamento.
O modelo pode ainda ser usado para estimar o quanto os aerossóis estão mascarando do aquecimento provocado pelos gases de efeito estufa.
Os autores alertam que as políticas de redução de emissão de gases de efeito estufa estão centradas demais no CO₂. Os governantes deviam voltar mais atenção a outros gases de efeito estufa que se degradam rapidamente na atmosfera, como o metano e os aerossóis, pois a resposta do clima pode ser bem mais rápida à redução da emissão desses gases, do que será para o dióxido de carbônico.Não dá para considerar políticas de clima separado de políticas sobre a poluição do ar. Leia mais em Nature News e principalmente em Science News.
Pássaros percebem magnetismo pelos olhos, não pelo bico
Os pássaros usam o campo magnético da Terra do mesmo jeito que um navegador consulta sua bússola para viajar longas distâncias. Mas como funciona essa bússola interna?
Existem duas explicações concorrentes. Alguns pesquisadores acreditam que são cristais de ferro encontrados nos bicos das aves que percebem o campo magnético terreste e transmitem a informação ao cérebro por um nervo conhecido como trigeminal.
A outra explicação envolve os olhos da ave. Partículas de luz chegam às células do olho, onde quebram proteínas chamadas de criptocromos em pares de moléculas ionizadas que se alinham ao campo magnético do ambiente. O alinhamento dos criptocromos ionizados de alguma forma é registrado e transmitido a um centro nervoso chamado de aglomerado N.
Para testar as duas teorias, pesquisadores criaram piscos-de-peito-ruivo e submeteram os passarinhos a neurocirurgias. Um grupo teve o nervo trigeminal cortado. Outro teve o aglomerado N lesionado. Depois, observaram o comportamento dos animais sob ação do campo magnético terrestre natural e de campos artificiais com direção diferentes.
Apenas os pássaros com o aglomerado N intacto conseguiram perceber os campos magnéticos. Desse modo os biofísicos concluíram que pelo menos essa espécie enxerga os campos magnéticos pelos olhos.
Embora os cristais de ferro no bico pareçam inúteis, os autores do estudo publicado na Nature especulam que eles tenham um papel secundário na navegação da ave, talvez indicando mudanças na intensidade do campo magnético.
Pesquisas como essa podem ajudar na conservação de aves migratórias. Leia mais em Wired e New Scientist.
As células vermelhas sanguíneas, também conhecidas como glóbulos vermelhos ou hemáceas constituem 45% do sangue. São elas que transportam o oxigênio dos pulmões para todo o corpo.
Uma série de doenças, do infarto à malária, estão relacionadas com o formato das hemácias e sua mobilidade.
Em repouso, as hemácias são uma panqueca mais ou menos circular, com 8 milésimos de milímetro de diâmetro. Quando viajam pela corrente sanguínea, a forma das hemácias encurva, lembrando um pára-quedas aberto. Às vezes, o pára-quedas, que é simétrico, se deforma ficando parecido com um chinelo.
Como a forma de chinelo foi observada em laboratório pela primeria vez quando o vaso sanguíneo por onde as hemáceas passavam era menor que duas vezes e meio o diâmetro de uma só hemácia, acreditava-se que era a proximidade da parede do vaso que causava a deformação. (Ailás, a elasticidade das hemácias é impressionate: elas podem se espremer em vasos capilares quatro vezes menores que elas mesmas…)
Já experimentos recentes mostram que a forma de chinelo aparece, sim, em vasos maiores, onde as hemácias ficam longe da parede. O que faz as hemácias mudarem de forma afinal?
Um novo modelo simplificado das hemácias na corrente sanguínea sugere que a transição da forma de pára-quedas para a de chinelo acontece pela interação do fluido viscoso do sangue em movimento com a superfície da célula. O resultado das simulações aparecem em um artigo na Physical Review Letters publicado online dia 26 de outubro. No modelo bidimensional dos físicos, as hemáceas são representadas por bolsas com as propriedades elásticas de uma hemácea.
Os biofísicos ainda descobriram que a forma de chinelo diminui a diferença de velocidade entre a hemácea e o fluxo imposto pelo bombeamento do coração. A forma de chinelo,portanto, aumenta a eficiência da corrente sanguínea.
Em uma apresentação dia 22 de novembro em um encontro da American Physical Society, os pesquisadores vão explicar como a forma de chinelo depende da rigidez da membrana da hemácia.
Leia mais em PhysOrg e em Physics .
Pobres dinossauros,holograma de DNA,tensão Pré-Copenhagen
Esses foram alguns dos destaques nos sites de notícias de ciência que chamaram minha atenção semana passada:
Dois asteróides (no mínimo) mataram os dinossauros
Os dinossauros se extinguiram quando o clima da Terra sofreu mudanças extremas, há 65 milhões de anos. A cratera Chicxulub, no México, com 180 km de diâmetro, foi onde caiu o asteróide que muitos cientistas acreditam ser o principal culpado por essas mudanças.
Mas semana passada, no Encontro Anual da Sociedade Geológica da América, foi anunciada a descoberta de uma cratera de 500 km de diâmetro, submersa próxima ao litoral de Mumbai, na Índia. A cratera nasceu de uma colisão com um asteróide 100 vezes mais energética que o impacto de Chicxulub e apenas 300 mil anos depois.
Parece, então, que a extinção dos dinossauros aconteceu por uma série de catástrofes. As colisões com os asteróides coincidiram com (foram a causa de ????) um dos períodos de atividade vulcânica mais intensa da história do planeta e que certamente afetou o clima. Saiba mais na The Economist (via Physics Today).
Imagem holográfica de um pedaço de DNA
Uma nova técnica desenvolvida na Suíça usa elétrons de baixa energia para obter imagens holográficas de biomoléculas, como a imagem acima (extraída daqui), de um pedaço de DNA. Isso é impossível de se fazer pela técnica tradicional de cristalografia de raios X, pela qual se descobriu a estrutura de dupla hélice do DNA (Prêmio Nobel de Medicina/Fisiologia de 1962) e com a qual se explorou a estrutura do ribossomo, atómo por átomo (!) (Prêmio Nobel de Química de 2009). (via PhysicsWorld ; obs.: a imagem no PhysiscsWorld está errada.)
Tensão Pré-Copenhagen
Estamos às vésperas da conferência de mudanças climáticas da ONU, em Copenhagen, Dinamarca, que acontecerá entre os dias 7 e 18 de dezembro. Esperamos que todas nações assumam compromissos de verdade para mitigar as emissões de gases de efeito estufa, embora já se preveja a mesma palhaçada que produziu o pífio Protocolo de Kyoto.
Aproveitando o gancho, as revistas científicas Nature e Science publicaram semana passada artigos e reportagens especiais sobre emissões de dióxido de carbono.
Como monitorar todo o carbono da Amazônia
Na Nature, a reportagem de Jeff Toleffson destaca um novo método para monitorar a biomassa de grandes áreas de floresta na Amazônia, sem precisar medir cada tronco de árvore com uma fita métrica.
Testado com sucesso no Peru, o método chamado de CLASLite foi criado pelo ecólogo Greg Asner. Combina imagens de satélite, com medidas à laser (método LIDAR) tomadas de avião e poucas medidas de campo para produzir uma imagem em 3D da floresta. Livre de patente, o método pode ser adotado por um custo razoável por qualquer governo de boa vontade para monitorar áreas continentais de florestas.
O monitoramento de florestas é feito principalmente por imagens de satélite, cuja resolução é de 30 metros. Dê uma olhada na Amazônia no Google Earth, que você vai observar umas clareiras como se fosem espinhas de peixe saindo das estradas. São essas atividades madeireiras em larga escala que os satélites conseguem detectar.
Dados preliminares de Asner mostram que a soma do desmatamento em pequena escala–invisível nas imagens de satélite–chega a ser 20 vezes maior que o da atividade madeirera em larga escala.
Asner fez uma parceria com o Google para diponibilizar dados do CLASLite via Internet por um serviço que a empresa deve estrear até o fim do ano.
Contando direito o carbono dos biocombustíveis
Na Science, um comentário de pesquisadores norte-americanos alerta para um erro cometido pela legislação do Protocolo de Kyoto, que omite o carbono produzido durante a produção de biocombustíveis. O etanol pode ajudar a mitigar emissões, mas não é santo. O processo de sua fabricação tem de ser fiscalizado, senão pode aumentar mais as emissões do que diminuí-las.
Esses políticos cagões não fazem nada mesmo, então…
Que tal você salvar o mundo?
Quer salvar o mundo? Seja um cientista, recomenda um caderno especial da New Scientist.
Mais especificamente, que tal ser um cientista de novos materiais? Um artigo muito bom sobre sustentabilidade na revista Physics World de outubro mostra que tecnologias limpas como a energia solar precisam de um empurrãozinho da nanotecnologia para se tornarem imbatíveis também comercialmente.
Além de energia limpa, um cientista de materiais pode ajudar a controlar a poluição, como fizeram químicos da UFMG ao desenvolverem um filtro de CO2 para chaminés.
Mas se química e física da matéria condensada não é bem sua praia e você prefere algo com mais energia, que tal salvar o mundo sendo um engenheiro de acelerador de partículas?
Um feixe de elétrons bem acertado pode eleminar resíduos tóxicos e biológicos de uma vez de água, esgoto e chaminés de fábricas, informa a revista Symmetry. Para popularizar o método (países como a Polônia já usam!) falta os aceleradores de elétrons funcionarem mais confiavelmente por longos períodos e diminuirem de tamanho.
Quem sabe com uma nova geração de tecnologia de aceleração de partículas a base de ondas de plasma, os aceleradores se tornem mais portáteis?
Reciclagem de plástico em números
A revista Discover tem uma lista impressionante de números sobre plástico e sua (falta de) reciclagem. Um relatório da Royal Society estima que em 2010 serão produzidos 300 milhões de toneladas de plástico no mundo. Metade desse plástico é para embalagens. Em 2007, apenas 6,8% dos plásticos norte-americanos foram recuperados para reciclagem, de acordo como a agência de proteção ambiental dos EUA. E lembram daquela lenda que uma garrafa de plástico demora 1 milhão de anos para se degradar no mar? Pois bem, não demora tanto, só uns 450 anos…
Robôs humanóides devem se parecer com humanos?
O ideal seria que eles fossem indistinguíveis de nós, como em… err… Westworld? Blade Runner? Inteligência Artificial? Ok, não seria tão desejável assim. Na verdade, hoje é impossível construir um robô funcional igualzinho ao um ser humano. As nuances da textura da nossa pele, por exemplo, estão além das propriedade de qualquer material sintético conhecido. Essa foi a conclusão de um estudo recente que Philip Ball comenta em seu blog.
Mas uma semelhança ainda que remota com nós é importante, diz o roboticista Karl Iagnemma na revista Frieze (via 3quarksdaily). Engenheiros e designers diante de um projeto de robô humanóide precisam descobrir quais detalhes do design nos inspiram confiança e simpatia.
Ah, os mistérios do céu…
Uma descoberta do telescópio de raios X Chandra anunciada semana passada foi a quebra de recorde do aglomerado de galáxias mais distante já observado. O aglomerado está a 10,2 bilhões de anos-luz de distância, um bilhão de anos-luz mais distante que o recorde anterior. Astrônomos já observaram galáxias mais distantes, mas elas não estão agrupadas em aglomerados. A imagem do aglomerado recém-descoberto ajuda a entender como surgiram os aglomerados. (Parabéns ao trabalho de divulgação do telescópio Chandra, que mantêm um site cheio de recursos multimídia e informação fácil de achar e bem explicada.)
Já a revista New Scientist destacou sinais estranhos observados nas lentes gravitacionais provocadas por aglomerados de galáxias. Alguns físicos especulam que esses sinais possam ser desvios da relatividade geral em escala intergalática ou ainda um efeito desconhecido da energia escura. Quem pode esclarecer o mistério é o Dark Energy Survey, uma varredura de lentes gravitacionais em uma área do céu bem maior que as anteriores e que deve começar em 2011, com participação de pesquisadores brasileiros.
Outro sinal estranho foi captado pelo Telescópio Espacial de Raios Gama Fermi, que uma dupla de astrofísicos sugere que possa ser radiação causada pela colisão de partículas de matéria escura no centro da Via Láctea. O estudo é independente da equipe que opera o Fermi, que deve apresentar sua própria análise dos dados no começo de novembro. (via NatureNews)
E se você ainda não entende como os astrônomos sabem que tal galáxia está a tantos e tantos anos-luz de distância da Terra, recomendo este artigo introdutório muito bem escrito do Lee Bilings (em inglês).
Deixem Higgs em paz!,magnetricidade,buraco negro portátil
Esses foram alguns dos destaques nos sites de notícias de ciência que chamaram minha atenção semana passada:
Magnetricidade – a “eletricidade” do magnetismo
“Gelo de spins” é o nome de um material sólido feito de cristais ionizados, magnetizados e congelados a temperaturas próximas do zero absoluto, em que o arranjo conjunto do momento magnético faz surgir “monopólos magnéticos”. É como se polos magnéticos norte ou sul andassem separados e independentes pelo material. A descoberta desses monopólos no gelo de spins foi anunciada em setembro. Agora, outro grupo de pesquisadores mediu a corrente de carga magnética gerada pelo movimento desses monopólos pelo material, um efeito que eles chamam de magnetricidade. Saiba mais em New Scientist , Physics Today e BBC.
Corrente elétrica eterna
Físicos conseguiram gerar e medir uma corrente elétrica de um bilionésimo de Ampére circulando por um anel metálico de um milésimo de milímetro de diâmetro, congelado a 1 Kelvin. Um efeito quântico previsto em 1983 faz os elétrons no anel se comportarem como se estivessem orbitando um núcleo atômico, indefinidamente, sem resistência elétrica. Em princípio essa corrente pode durar para sempre. Em um arranjo experimental extremamente difícil de construir, os pesquisadores usaram um mesmo campo magnético para induzir a corrente e medir sua intensidade. Mais detalhes em Physics World.
Carga fracionária em grafeno
Mais um efeito observado em grafeno–um plano feito de átomos de carbono, com propriedades fantásticas e que promete substituir as placas de silício da microeletrônica. Trata-se do bom e velho Efeito Hall Quântico Fracionário, em que grupos de elétrons agem como se fossem partículas com uma carga elétrica menor que a própria carga de um elétron. A descoberta abre a possibilidade de usar o grafeno para construir computadores quânticos “topológicos”. Saiba mais em Science NOW.
Modelo de Hubbard para leigos
O Modelo de Hubbard é uma espécie de jogo de tabuleiro com elétrons que pulam de um ponto a outro de uma rede quadriculada. Surgiu como explicação simplificada para o fenômeno complexo do eletromagnetismo em materiais, mas se revelou tão difícil de calcular que hoje é estudado por si só. Leia essa curiosa história contada em linguagem comum por Brian Hayes, em sua coluna na American Scientist (via 3quarks daily).
Buraco negro artficial de bolso
Físicos chineses criaram o primeiro “buraco negro” de microondas. Buraco negro entre aspas, porque o pequeno cilindro de 22 centímetros de diâmetro feito de anéis concêntricos cada um com propriedades eletromagnéticas diferentes captura apenas radiação na faixa das microondas e nada mais. Os criadores da engenhoca prometem em breve outro “buraco negro”, mas que captura radiação eletromagnética visível, isto é, luz. A invenção pode servir para capturar energia do Sol mais eficientemente que os atuais painéis solares. Leia mais em New Scientist, the ArXiv blog e Wired Science.
Geólogos encaram falhas em modelos de terremotos
Grandes terremotos são estudados por modelos simples de acúmulo e liberação da tensão em falhas geológicas, que sugerem que eles acontecem ciclicamente. A velha teoria está ruindo frente a evidências de que levar em conta a interação caótica entre falhas, às vezes em escala global, é importante para evitar catástrofes. Leia mais em reportagem de Glennda Chui para a Nature .
Deixem o Higgs em paz!
Em sua coluna no New York Times, Mr. Dennis Overbye destacou um artigo científico honesto, sim, mas absurdamente especulativo e desnecessariamente alarmante, sugerindo que os acidentes que impediram o LHC de funcionar até agora são sinal de que o universo quer ocultar o bóson de Higgs de nós. Ensaios nos blogs Built on Facts, Backreaction e Cosmic Variance explicam inteligentemente a “ameaça”.
Mapa da exploração do Sistema Solar
Fantástico mapa do Sistema Solar com todas as missões interplanetárias já lançadas, produzido pela National Geographic Books. A versão oficial é complicada de visualizar (uma cópia mais amigável aqui). A Lua é o corpo celeste mais visitado, enquanto Plutão nunca foi (missão New Horizons a caminho!). Via Boing Boing.
Opera Cosmique até 25 de outubro em Paris
De 9 a 25 de outubro, das seis da tarde a meia noite, cada vez que um múon vindo do espaço acertar um detector instalado no edifício Torre de Montparnasse em Paris, o observatório astronômico da cidade luz vai disparar um feixe laser sobre o céu. (queria saber ler em francês para entender os detalhes …). Saiba mais em Radio France e no site do evento, Opera Cosmique.
Como se faz física teórica na prática, pelo menos na teoria
A bela foto acima é parte de um ensaio que o alemão Peter Ginter fez sobre o SLAC (Acelerador Linear de Stanford), uma das principais instituições de física de partículas dos EUA. Além de razões estéticas, a foto chamou minha atenção porque acho que ilustra bem como se faz física teórica. A cena parece com o tipo de discussão real que costumava presenciar quando era aluno no IFT, com os físicos improvisando juntos um raciocínio no quadro negro, se não soando tão bonito quanto músicos de jazz, tão concentrados quanto.
Também me atraiu pelo fato de todos na foto serem mulheres, infelizmente ainda em minoria na física. É tão raro encontrar um grupo de pesquisa em física só de mulheres que fiquei curioso em conhecer a história da foto.
E então descobri que se trata de uma montagem…
“Desculpe desapontá-lo, a foto foi posada, nós quatro raramente conversamos sobre física como um grupo, embora todas nós já tenhamos interagido”, me contou em um email Helen Quinn, a senhora de pé no centro da foto. Quinn faz parte da história da física de partículas (todo aluno da disciplina já ouviu falar na teoria de Peccei-Quinn) e é co-autora com Yossi Nir do livro de divulgação The Mistery of the Missing Antimatter, que está na minha lista de futuras leituras. Agachada com as mãos no quadro negro está JoAnne Hewett. Colega de Quinn no SLAC, ela é outra física teórica de calibre e que nas horas vagas contribui para o blog coletivo Cosmic Variance. Agachada segurando um papel é Yue Chen, uma estudante de pós-graduação chinesa. A moça pensativa sentada à direita é outra estudante, a iraniana Jasamin Farzad. “Se tem uma coisa que a foto mostra é a natureza internacional da nossa área!”, Quinn escreveu.
A foto foi tirada no “aquário”, a sala de discussão no andar da seção de teoria do SLAC que, segundo Hewett me garantiu em um email, está sempre em uso por grupos de verdade. Os cálculos e diagramas que preenchem os quadros são de discussões que aconteceram ali anterioremente.
Descobertas da Semana, 17/01/2009
Resumo e análise de cinco assuntos importantes de ciências físicas que foram destaque na imprensa na semana de 12 a 16 de janeiro.
Ano da Astronomia começa com apagão de megaestrela
+ Poluicão luminosa
O Ano Internacional da Astronomia começou oficialmente em cerimônia em Paris, França, nesta quinta-feira. Aqui no Brasil, porém, houve motivo para comemorar mais cedo.
Na madrugada de segunda-feira, por um telescópio em La Serena, no Chile, o astrônomo brasileiro Augusto Damineli e seus colegas observaram a estrela Eta Carina–a mais massiva já descoberta, com 100 a 150 massas solares–diminuir seu brilho em certos comprimentos de onda (via Folha de S. Paulo). O “apagão” aconteceu na data prevista por Damineli com precisão de dias e reforça a sua teoria de que Eta Carina é na verdade um par de estrelas extremamente gordas. A cada 5 anos e meio, o par se aproxima tanto que suas camadas externas colidem, causando o apagão.
Um dos nossos astrônomos mais importantes, Damineli coordena as atividades no Brasil do Ano Internacional da Astronomia, uma celebração dos 400 anos do nascimento da astronomia e da ciência modernas, organizada pela União Astronômica Internacional, com apoio da Unesco. Uma série de programas em mais de 135 países vai mostrar a importância da astronomia na nossa cultura e sociedade, além de incentivar as pessoas a apreciar o céu noturno.
Um programa importante será o de combate à poluição luminosa. Um quinto da população mundial não enxerga a Via Láctea de noite, por causa da iluminação mal feita que emite mais luz para o céu do que ilumina o chão (via Wired). Além de encobrir o espetáculo do Universo, esse desperdício de energia elétrica confunde aves e outros animais migratórios, os levando à morte, além de prejudicar a saúde humana (leia este artigo na Nat Geo). O Ano da Astronomia tem de resultar em novas leis que regulem a iluminação pública e privada nas cidades. Fiquemos de olho nos astros e nos políticos…
(P.S. p/ físicos: Uma simulação computacional publicada na Science de hoje mostra o papel de instabilidades do tipo Rayleigh-Taylor na formação de grupos de estrelas maiores que 20 massas solares, como a Eta Carina.)
Energia dos ventos é a melhor + mudanças climáticas vão resolver crise financeira global? + geoengenharia vale a pena?
Evitar catástrofes climáticas exige que o despejo de dióxido de carbono na atmosfera atinga seu máximo antes de 2020 e começe a cair até que, em 2050, as atividades humanas absorvam mais carbono do que emitem, concluiu um relatório do Instituto Worldwatch.
A meta não será atigida, porém, se governantes patrocinarem as fontes de energia erradas, alerta Mark Jacobson, especialista em energia eólica da Universidade de Stanford (EUA). Ele calculou o que aconteceria se toda rede elétrica e frota de veículos dos EUA fosse movida por um único tipo de combustível alternativo ao petróleo e, a partir dai, criou um ranking das energias alternativas com menor impacto no meio mabiente e na saúde (via New Scientist).
As opções que atraem mais fundos e atenção do governo, como biocombustíveis, energia nuclear e “carvão limpo” (captura dos resíduos da queima de carvão, injetando o carbono de volta ao subterrâneo) são de 25 a 1.000 vezes mais poluentes do que as do ranking de Jacobson, cujo campeão é a energia dos ventos capturada por turbinas.
A afirmação soa suspeita na boca de um especialista em energia eólica, mas o estudo parece sério e, de acordo com o press release da Univ. de Stanford, “Jacobson não recebeu nenhum financiamento de qualquer grupo interessado, companhia ou agência governamental”.
Aqui no Brasil, Fernando Barros Martins e seus colegas também defendem mais investimento em energia eólica, neste artigo publicado no começo de 2008 na Revista Brasileira de Ensino de Física (via Agência Brasil. Humm… estaria a Ag. Brasil divulgando esse artigo só agora para desviar a atenção do plano vergonhoso do governo federal de construir 68 usinas termoelétricas movidas a combustíveis fósseis até 2017?).
Jacobson defende outra idéia que parece cada vez mais popular: investir em energias renováveis vai gerar os empregos necessários para sair da crise econômica mundial.
Também nos EUA, o ativista político Van Jones faz pressão em Washington para que pobres e desempregados sejam a força motriz da reforma que a infraestrutura americana precisa para se tornar sustentável (via The New Yorker). No Reino Unido, a organização Green New Deal tem um plano de salvar a economia com “empregos verdes” (via BBC).
Uma reforma radical na economia é mamão com açucar, perto de projetos que pretendem mitigar o aquecimento global na marra. Uma das idéias da chamada geoengenharia global é despejar toneladas de nutrientes nos oceanos para forçar uma explosão de crescimento de algas microscópicas (fitoplâncton) que absorveriam carbono durante a fotossíntese e por fim morreriam, seus microcorpos afundando no leito oceânico. Assim, bilhões de toneladas de CO2 seriam retirados da atmosfera a cada ano, dizem as empresas que pretendem ganhar dinheiro com a venda
de créditos de carbono de projetos de fertilização oceânica.
Em 2007, uma convenção das Nações Unidas proibiu experimentos de fertilização oceânica que não sejam em pequena escala e em regiões costeiras, até que se esclareça quais as suas consequências nos ecossistemas marinhos.
Esta semana, porém, foi por pouco que um navio não despejou 20 toneladas de sulfato de ferro em uma área de mar de 300 km2 entre a Argentina e a Península Antártica, próxima à bela Ilha Georgia do Sul (via Nature News). A expedição hindo-alemã LOHAFEX seria o sexto experimento de fertilização oceânica desde 1993. Foi aprovada pelo ministro do meio ambeinte da Alemanha, que voltou atrás após críticas e suspendeu o experimento até que nos próximos 10 dias uma comissão independente analise os riscos ao meio ambiente.
Menos megalomaníaca que a feritilização oceânica, uma nova proposta de geoengenharia se aproveita da mais velha das geoengenharias–a agricultura. Em um artigo no periódico Current Biology, Andy Ridgwell e colegas da Universidade de Bristol (Reino Unido) propoem selecionar variedades de plantações com folhas mais brilhantes, capazes de refletir mais luz solar do que absorvem para resfriar no verão as zonas temperadas da América do Norte e da Eurásia e assim impedir o surgimento de ondas de calor mortais. No blog do jornalista Oliver Morton há uma discussão interessante dessa proposta e outras semelhantes.
Para concluir o assunto da geoengenharia, fico com o pensamento de Gavin Schimdt, do blog Real Climate: “Então, a solução para a conhecida influência humana cada vez maior no clima é um sistema mais elaborado de controle do clima? Ou a pessoa balançando a canoa devia simplismente se sentar?” (link)
Lua primitiva era magnética como a Terra
A rocha na foto acima veio da Lua. Foi trazida pelo único geólogo a passear por lá, o astronauta Harrison Schmitt, da última missão tripulada ao satélite, a Apollo 17, em 1972. Batizada de troctólito 76535, a rocha é a única amostra trazida da superfície da Lua que não mostra nenhum sinal de ter sofrido o impacto de meteoritos. É um relíquia quase intacta do tempo em que a Lua se formou da fusão dos destroços da colisão da Terra com um meteoro do tamanho de Marte, bilhões de anos atrás.
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA) examinaram as propriedades magnéticas do troctólito com uma precisão 10 vezes melhor que estudos anteriores. Em seguida, compararam seus dados com o de uma análise da proporção de dois isótopos de argônio que reconstituiu o perfil de temperatura da rocha ao longo de bilhões de anos. Concluiram que há 4,2 bilhões de anos, havia na Lua um campo magnético constante, 50 vezes menor que o terrestre.
Segundo o estudo, esse campo era provavelmente gerado pelas correntezas de ferro líquido no núcleo ainda quente da jovem Lua, exatamente como a Terra até hoje produz o seu campo magnético.
(Será que havia auroras polares na Lua como as terrestres? Há bilhões de anos a Lua estava bem mais próxima da Terra. Só posso imaginar o espetáculo da Lua, enorme no céu, com auroras, vapores, vulcões, rios de lava …)
A pesquisa publicada na Science de hoje é mais uma evidência contra a crença de que corpos menores que Marte não poderiam ter campos magnéticos constantes, apenas campos passageiros produzidos durante impactos com meteoros. Agora, parece que não só a Lua, mas outros corpos pequenos como Mercúrio e luas de Júpiter e Saturno possuem traços de campos magnéticos ancestrais. (Fontes: MIT, ScienceNOW, Nat. Geo. News)
Ressonância magnética enxerga vírus em 3D
A série de imagens em preto-e-branco acima pode não ser bonita mas vai deixar bioquímicos felizes. Cada quadro é o perfil da estrutura interior de um vírus da espécie “mosaico do tabaco” com uma resolução menor que 10 nanômetros. Elas foram obtidas com uma nova técnica que produz “o raio X” do interior de um vírus, sem de fato usar raios X.
A técnica desenvolvida por pesquisadores do Centro de Pesquisa Almaden da IBM (EUA) e descrita em um artigo na PNAS é uma versão 100 milhões de vezes mais sensível da ressonância magnética usada em hospitais. Um campo magnético oscilante faz os núcleos dos átomos de hidrogênio das moléculas orgânicas produzir seu próprio campo magnético em resposta que é registrado em imagens.
Na versão nanométrica, a amostra de vírus é cuidadosamente posta sobre a superfície de um peça móvel de silício (em foto de microscopia por varredura de elétrons, na imagem mais acima). Os núcleos de hidrogênio do vírus vibram em resposta ao campo magnético da ponta de uma agulha magnetizada próxima da amostra. A vibração dos hidrogênios faz a peça de silício se mexer. O movimento da peça é registrado por um feixe laser. Um software processa os sinais do laser e da agulha para criar as imagens. Tudo precisa ser feito em temperaturas abaixo de zero, para que as vibrações térmicas não atrapalhem nas medidas.
A resolução das imagens é similar a de outras técnicas em uso. Entretanto, ao contrário da cristalografia por raios X, a nova técnica permite enxergar a estrutu
ra de proteínas que não podem ser cristalizadas. E, ao contrário da microscopia por força atômica e da microscopia de varredura por tunelamento, será possível com o aprimoramento da técnica enxergar a estrutura atômica interna de amostras biológicas (Fontes: NYT, RSC e Nature News).
Marte emite metano que pode ser sinal de vida, ou não…
+ Cristais inorgânicos imitam formas orgânicas
Astrônomos norte-americanos descobriram que a superfície de Marte emite gás metano em uma quantidade que sugere a possibilidade de microorganismos vivendo no subsolo.
Em 2003, ao longo do verão do hemisfério norte marciano, astrônomos observaram Marte por dois telescópios no Havaí (EUA) e detectaram um gás na atmosfera do planeta absorvendo três faixas estreitas de comprimentos de onda de luz infravermelha características do metano (CH4).
Em 2006, a quantidade de metano em Marte era metade da observada em 2003, o gás destruído por uma série de reações químicas (vejam estes slides da Nasa), entre elas a quebra das moléculas de metano pela radiação solar.
Analisando as observações, os pesquisadores criaram um mapa que revela três regiões do planeta de onde o metano parece ter sido emitido. As três regiões mostram sinais de gelo de água no solo.
Os pesquisadores têm duas hipóteses preferidas para explicar as emissões. A mais prosaica seria a de que algum processo geológico do passado, como vulcões, ou um processo ainda ocorrendo, como a oxidação de ferro das rochas, produziu depósitos subterrâneos de metano debaixo da camada de solo congelado (permafrost). Durante o verão, o metano vazaria por rachaduras no premafrost.
A hipótese mais ousada é a de que os depósitos de metano seriam produzidos pelo metabolismo de microorganismos semelhantes a bactérias terrestres capazes de viver no subterrâneo, usando hidrogênio da quebra de moléculas de água por radiatividade como fonte de energia.
Não há evidências suficientes para descartar uma ou outra hipótese. Os pesquisadores consideram ainda que a origem do metano possa ser a colisão de cometas ou asteróides. A pesquisa foi publicada online pela Science. (Fontes: Nasa e New Scientist).
Essa ambiguidade entre biológico e mineral também aparece em outro estudo publicado nesta edição da Science. Juan Manuel Garcia-Ruiz e colegas filmaram passo a passo como oscilações no pH de uma solução química produzem cristais de carbonato de bário e silica, com lindas formas microscópicas arredondadas.
Vejam as imagens, cortesia do Laboratório de Estudos Cristalográficos da Universidade de Granada:
São chamadas de biomorfos, por serem parecidas com formas cristalinas produzidas com a ajuda de moléculas sintetizadas por organismos vivos. Garcia-Ruiz demonstrou a exsistência de biomorfos pela primeira vez em 2003. Antes disso, acreditava-se que cristais inorgânicos só podiam ter formas retas e que cristais curvos encontrados em rochas terrestres ou no famoso meteorito ALH 84001 vindo de Marte eram sinais inequívocos de atividade biológica fóssil. (Fontes: Eurekalert! e Nat.Geo. News)