Quatro cuidados que fazem um bom jornal

A edição 690 de Jornalistas&Cia., um boletim impresso
distribuído entre profissionais da imprensa, informa que a “Folha dá mais um passo na direção de novo
conceito de jornal”. O boletim cita um co
municado escrito pelos
principais dirigentes da redação do jornal, Otavio Frias Filho e Eleonora de
Lucena, que propõe quatro novas diretrizes aos seus jornalistas.

Sinceramente, não consigo ver nada de originalnessas “novas” diretrizes. Contudo, elas resumem tão bem as regras de ouro de um bom jornal que não resisti em publicá-las aqui [texto entre colchetes são observações minhas]: 

1. Organizar a pauta [gíria dos jornalistas que
significa “assuntos/fatos/histórias sobre os quais vamos escrever”],
selecionando mais os assuntos e priorizando as abordagens exclusivas dos fatos de relevo. Buscar o furo
como prioridade máxima. Ter um planejamento de médio e longo prazo
para o desenvolvimento de pautas mais abrangentes.

2. Na produção, cuidar para ampliar o número de fontes,
buscar o contraditório e sempre entender o contexto e os interesses que cercam
a notícia. Não hesitar em pautar histórias que revigorem o prazer da leitura.

3. Na elaboração dos textos, trabalhar com concisão e
didatismo. Observar a necessidade de a redação ter: a) frases e parágrafos
curtos (máximo de 10 linhas justificadas); b) uso de aspas apenas quando houver
relevância ou quando a declaração for curiosa; c) emprego de números e cifras com
mais critério, lembrando sempre de relacionar a parte e o todo; d) preocupação
com as nuances, os matizes de argumentos e fatos, fazendo relatos com
fidelidade, sem tentar enquadrá-los em categorias preconcebidas; e) a memória
do caso e suas inter-relações; f) narração clara e fácil, evitando jargões; e
g) conexão com a vida prática dos leitores.

4. Na edição, ter a preocupação de oferecer um produto
mais compacto e integrado, sem reduzir espaço reservado a artes e fotos. É
necessário reforçar a hierarquia nas páginas. Ajuste gráfico em curso auxiliará
nessa tarefa. É preciso dar visibilidade ao “outro lado” e usar com mais
frequência recursos como: a) “análise”; b) “perguntas e respostas” / “para
entender o caso”; c) “quem ganha e quem perde”; d) “saiba mais”; e e) “e eu com
isso?”. 


No item 2, eu acrescentaria “buscar ir além de meras opiniões, verificando as evidências científicas que existem sobre os fatos”. 

Censura no Stoa – Mais um sintoma de “fachadismo”

Menos virulenta que a gripe suína, porém mais perigosa a longo prazo, uma doença crônica e altamente adaptada ao seu hospedeiro causou sintomas agudos na USP, nesta semana. A reitoria da USP censurou a rede social da comunidade da instituição. O motivo foi obviamente injusto (leia mais aqui, por exemplo). 

Trata-se de um sintoma do “fachadismo”, uma doença que João Barata, professor do Instuto de Física  da USP,  define muito bem:  

“uma atrofia moral, abundantemente observada no seio da USP, que se manifesta na tentativa de preservar a todo custo a imagem externa da instituição como a de a mais importante universidade do país, livre de vícios e máculas. Segundo essa prática, todos os escândalos e todos os desvios de conduta devem ser internamente abafados e ocultados para que a sociedade externa não altere sua visão da universidade como sendo a de uma vestal erudita e serena, impoluta e estática.” LINK 


O único tratamento eficaz contra o fachadismo, escreve Barata, “a única postura realmente eficaz em preservar a dignidade de uma instituição, qualquer instituição, é a oposta: a da transparência isenta e austera nos julgamentos e procedimentos corretivos.”

Infelizmente, o fachadismo não é exclusividade da USP. Felizmente, a cura também não é. Está amplamente disponível e é só questão de aplicar.

***

DECLARAÇÃO DE CONFLITO DE INTERESSE:  Everton Alvarenga é meu amigo e ex-colega do IFUSP, onde me graduei bacharel em física. Barata foi o melhor professor que tive durante a graduação.  

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