Zumbis! Entrevista com o cientista que confirma, sim, matem, MATEM os zumbis!!!

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Não tenha dó de morto-vivo. Se avistar um ou mais, atire nos miolos deles sem parar ou estamos perdidos. Essa é a conclusão do primeiro modelo epidemiológico do ataque de mortos-vivos comedores de carne humana que transmitem sua maldição por saliva.

Sim, estou falando do famigerado estudo que caiu no radar de sites populares como Boing Boing e Wired em agosto deste ano.

Meu colega scibling Gabriel Cunha, do RNAm, se fartou de explicar o estudo. Na época, eu estava atrapalhado demais para blogar, mas cheguei a enviar umas perguntas por email ao Robert Smith? (o nome dele é assim mesmo, com ponto de interrogação), da Universidade de Ottawa, no Canadá, que é o autor do estudo e que deve visitar o Brasil ano que vêm para participar de um congresso de biologia matemática.

A seguir, após o quadro abaixo resumindo a pesquisa, as respostas que Smith? me passou por email, explicando como por trás da piada dos zumbis há muita pesquisa séria envolvida.

Matemática Zumbi

Smith? e três de seus alunos matemáticos resolveram estudar seriamente como evoluiria um ataque de zumbis capaz de destruir a civilização. Pasmem, o estudo foi publicado no quarto capítulo de um livro sobre modelos de doenças infecciosas.

Eles assumiram condições biológicas baseadas em filmes de terror populares, filhos do clássico de 1968, Nigth of the Living Dead, de George Romero.

O que fizeram foi simplismente usar uma classe de modelos matemáticos conhecido como SIR usado no estudo de doenças infecciosas. Três equações diferenciais relativamente simples que determinam como três variáveis evoluem no tempo: o número de pessoas Sucetíveis a serem infectadas, o número de pessoas Infectadas, e o número de pessoas Recuperadas (daí a sigla do modelo) .

No caso dos zumbis, as variáveis são Sucetíveis (todo mundo que topar com zumbis), Zumbis (autoexplicativo) e Removidos (zumbis mortos por destruição do cérebro). O desafio de modelar a “doença” é que os doentes voltam à vida.

Simth? e colegas partiram desse modelo simples e foram adicionando complicações. As conclusões do estudo nas palavras dos pesquisadores:

“Um surto de zumbis infectando humanos será provavelmente um desastre, a menos que táticas extremamente agressivas sejam empregadas contra os mortos-vivos. Enquanto uma quarentena agressiva possa erradicar a infecção, é improvável que isso ocorra na prática. Uma cura apenas resultaria em alguns humanos sobrevivendo ao surto, embora eles teriam ainda que coexistir com os zumbis. Apenas ataques suficientemente frequentes, com força cada vez maior, resultariam em eradicação, assumindo que os recursos disponíveis possam ser agregados a tempo.”

Como surgiu a ideia de modelar um ataque de zumbis?

Robert Simth? : Eu estava dando uma aula sobre modelagem de doenças e propus um projeto a meus estudantes. Eu disse que eles poderiam fazer qualquer modelagem que quisessem, desde que envolvesse alguma doença. Em seguida, um grupo veio até minha sala dizendo “Temos uma ideia, mais é meio fora do convencional: zumbis!” Respondi prontamente que eles fossem em frente, o que pode tê-los surpreendido um pouco.Quando eles voltaram com um manuscrito preliminar, examinei o modelo e disse “já vi Shaun of the Dead e isso não funciona assim. Senhores, vocês precisam voltar pra casa e assistir alguns flimes este fim-de-semana…” Dessa maneira, nós desenvolvemos a “biologia” até termos um modelo satisfatório.

Como vocês conseguiram publicar o artigo como capítulo de um livro?

Robert Simth? : Eu já tinha um capítulo de livro sobre gênero e HIV em localidades urbanas e rurais em um publicação irmã, Advances in Disease Epidemiology. Quando li o relatório da grupo, pensei que seria interessante submetê-lo, então enviei um email perguntando ao editor. Ele disse sim, mas que precisava dele em 3 dias. Eu estava em Newfoundland para uma defesa de doutorado. Então transformei o relatório em um artigo acadêmico e o submeti. Quando recebemos a confirmação oficial, ela dizia algo como “o corpo editorial avaliou seu capítulo e o considerou apropriado para publicação. O modelo matemático é consistente, o problema bem colocado, as quantidades apropriadas… Oh, e aliás, acreditamos que seja o primeiro modelo matemático de uma doença fictícia.”

Como outros pesquisadores reagem quando ficam sabendo que vocês publicaram um modelo de ataque de zumbis?

Robert Simth? : A maioria fica intrigada, embora algumas poucas pessoas nunca tenham ouvido falar em zumbis e me perguntem “essa doença é real?”. Isso provavelmente porque apresentei a pesquisa na conferência da Sociedade de Biologia Matemática em Vancouver no último julho, fingindo que era tudo real. Também foi a primeira palestra que já fiz onde o tempo para questões durou mais que a palestra original. Todo mundo tinha ideias do que fazer a seguir!

No artigo vocês dizem que “claramente, esse é um cenário improvável se tomado literalmente, mas possíveis aplicações na vida real podem incluir filiações a partidos políticos ou doenças com infecção dormente”. Poderia me dar um exemplo de como a filiação a partidos políticos poderia se parecer com zumbis?
Robert Simth? : A principal maneira pela qual zumbis diferem de outras doenças infecciosas é que os mortos podem volta a vida. Assim, pensamos nessa mudança de estado–de vivo para morto e vivo de novo, ou de Democrata para Republicano e de novo Democrata–como algo que pudesse ser análogo.

Além da diversão, o que você aprenderam sobre doenças reais trabalhando na matemática dos ataques de zumbis?

Robert Simth? : É muito instrutivo, porque te dá as ferramentas para lidar com uma doença que não é familiar. De fato, a gripe suína não tinha ainda surgido quando escrevemos o artigo, mas desde então emergiu. É muito importante estar preparado para entender rapidamente como novas doenças podem se espalhar e como certas intervenções (vacinas, remédios, quarentena etc) podem afetar o resultado. A modelagem matemática é uma grande maneira de fazer isso rápido e barato. Assim, embora a aplicação a zumbis seja divertida, também é bastante útil.


Vocês estão plenejando publicar um International Journal of Zombie Studies?

Robert Simth? : Um número de pesquisadores tem mencionado que está fazendo trabalhos em cima do artigo original, o que acho fantástico. Então, nunca se sabe…  

Confiram “Histórias da Medicina”

A repórter de ciência Luciana Christante escreve sobre o pai da farmacologia brasileira, médicos pré-históricos, plagiadores renascentistas, uma campanha anti-tabagismo ilustrada pelo Ziraldo, uma obsessão insana por raios X no começo do século passado, o viagra tosco dos anos 80 e por ai vai, em seu blog Histórias da Medicina. Já está na lista dos meus favoritos. LINK

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