Duas vias para o Computador Quântico

Escrevi para a Folha de S. Paulo no começo do mês uma reportagem especial sobre em que pé estamos de construir um computador quântico. Me detive mais em uma das vias principais, baseada no spin de elétrons em pontos quânticos (ponto quântico é uma espécie de “curral” para elétrons em um material com propriedades elétricas semelhantes ao do silício, onde dá para deixar preso um único elétron; também é chamado de “átomo artificial”, porque um elétron preso no ponto quântico emite luz como um elétron isolado em um átomo).

Isso porque entrevistei Daniel Loss, um dos teóricos que desenvolveu a idéia de computador quântico com pontos quânticos, e Seigo Tarucha, o físico experimental que construiu os primeiros pontos quânticos em laboratório, durante um congresso internacional de spintrônica.

Quando perguntei ao Loss se havia alternativas aos pontos quânticos, ele respondeu que sim, havia uma outra abordagem baseada em íons presos por raios laser. Mas ele ironizou, afirmando que a outra abordagem não tinha chance de ser miniaturizada. “Como você põe um canhão laser dentro de um chip de computador?”, ele disse e nós rimos.

Bem, no dia seguinte, perguntei a Stuart Wolf, que havia dirigido um programa do governo norte-americano para promover a pesquisa em computação quântica nos EUA, o que ele achava disso. Meu queixo caiu quando Wolf disse que David Wineland e seus colaboradores já tinham colocado os tais canhões laser dentro de um chip…

Foi dai que corri atrás de entrevistar alguém que trabalhasse com armadilhas laser de íons. E para minha surpresa, descobri que um colega de graduação, Alessandro Villar, trabalhou ano passado na Universidade de Innsbruck (Áustria) no laboratório de Rainer Blatt, o principal “concorrente” de Wineland.

Para quem quiser saber mais sobre as armadilhas de íons, poder ler na Scientific American Brasil de setembro um artigo de Wineland, disponível online em inglês.

E para quem está com vontade de ir realmente a fundo na coisa, pode ler as perspectivas publicadas pela revista IEEE Spectrum sobre a computação com armadilhas de íons e com pontos quânticos.

Uma outra coisa que não ficou clara na reportagem para a Folha é que um computador de 10 mil qubits é algo muito além dos sonhos de muitos pesquisadores. “Quem te falou 10 mil qubits devia estar pensando em algo avançadíssimo…”, comentou Villar. Na verdade, tanto o Villar, como o Loss e o Tarucha disseram que com uns 100 qubits já daria para fazer coisas muito interessantes como as tais “simulações de sistemas quânticos”, que seriam simulações detalhadas do comportamento quântico de moléculas. As simulações atuais usam várias aproximações, algumas que são inerentes a própria natureza clássica do computador normal.

Escrevendo com estilo, por Kurt Vonnegut

Dicas de como escrever com estilo, do escritor norte-americano Kurt Vonnegut (via 3QuarksDaily):

  1. Encontre um assunto que lhe interesse
  2. Não divague
  3. Simplifique
  4. Tenha estômago para cortar
  5. Soe como você mesmo
  6. Diga o que você quer dizer
  7. Tenha pena dos leitores
  8. Leia Strunk&White

Os oito pontos só fazem realmente sentido se você ler o ensaio completo.

O escritor Kurt Vonnegut (1922-2007) era um soldado norte-americano aprisonado pelos alemães em Dresden, quando um bombardeio dos Aliados dizimou a cidade. As estimativas de mortes provocadas pelo bombardeio vão de 250 mil a 25 mil, dependendo da ideologia do historiador. Uma sorte enorme foi Vonnegut ter escapado e se tornado escritor, para nos contar o que aconteceu em seu livro tragicômico Matadouro 5, que morro de vontade de reler para resenhar aqui.

Halo em São Paulo

O paulistano que resolveu fazer uma pausa para olhar para o céu, ontem, viu um halo– um halo solar nada haver com este halo.

Um arco-íris em forma de anel ao redor do Sol, mais ou menos do tamanho de um palmo, pôde ser visto ontem de manhã. O halo solar, como é conhecido o fenômeno, é produzido por nuvens de minúsculos cristais de gelo a uma altura de 10 km.”Os cristais de gelo funcionam como prismas que decompõem as cores que formam a luz branca dos raios do Sol”, explicou a meteorologista Mônica Lima, do Cptec, por telefone para mim, na redação da Folha.

Veja várias fotos do halo, tiradas por pessoas ontem em São Paulo no Flickr.

“Os cristais de gelo e o ângulo de incidência dos raios do Sol acabam formando o halo”, explcou Lima. Uma frente fria e úmida que avança sobre a camada de ar seco que permanecia até ontem em São Paulo produziu os cristais. A frente avança primeiro na alta atmosfera, onde os ventos são mais fortes, e depois chega ao nível do solo. Os halos, portanto, apesar de bonitos, alertam para uma mudança de tempo. “São um indicativo de que o tempo vai mudar e deve chover.”

Perguntei mais detalhes sobre o fenômeno, mas a meteorologista não soube me responder. Procurei algum especialista em ótica atmosférica no Brasil, pelo Google, e não achei. Alguém conhece algum?

Em todo caso, achei um site dedicado ao assunto, em inglês. Descobri que existem vários tipos de halos e o que foi visto ontem em São Paulo é chamado de “halo de 22 graus“, por ter um diâmetro ângular de 22 graus no céu, mais ou menos o tamanho de um palmo. Os vários tipos de halo se formam dependendo do formato e do tamanho dos cristais de gelo e dá para simulá-los com um software gratuito, disponível no site.

Também achei um blog, em inglês, dedicado totalmente à ótica atmosférica, com fotos lindas. Uma delas, emociona qualquer lablogueiro…

O fenômeno é freqüente, segundo Lima. “É que nem sempre a gente olha para o céu e enxerga”, ela diz.

Ontem, assim como o blogueiro do Idéias Cretinas, não olhei para o céu e perdi o fenômeno… :- (

Meu consolo é que a maioria dos meteorologistas também não deve ter assistido, pois estava enfurnada no centro de convenções do Shopping Frei Caneca (sem janelas, com um ar condicionado frio para chuchu…), participando do Congresso Brasileiro de Meteorologia

Conserve primeiro, pesquise depois

Essa é a opinião do ecólogo Daniel Janzen, da Universidade da Pensilvânia (EUA), um dos principais responsáveis pela economia sustentável da Costa Rica, baseada na preservação da biodiversidade do país.

Mandei um email para o Janzen, enquanto preparava minha reportagem sobre as frutas brasileiras que os mamíferos gigantes pré-históricos deviam comer.A reportagem focaliza uma pesquisa inspirada em um artigo de Janzen de 1982, que é uma beleza de ler, só pelo estilo (se todos os artigos científicos fossem escritos assim, eu voltava a ser cientista…).

Fiz ao Janzen a seguinte pergunta: O que podemos aprender do estudo da origem ancestral dos mecanismos de dispersão de semente que possa ajudar a conservar ecossistemas ameaçados?

A resposta dele é um verdadeiro discurso, que infelizmente não tive espaço para incluir na reportagem. Aqui está, na íntegra, traduzido por mim: CONTINUE LENDO

Restos de lipoaspiração tratam distrofia muscular de camundongo

Esta é uma versão pré-editada da minha reportagem publicada pela Folha, ontem.

Quando a bióloga Natássia Vieira decidiu fazer uma lipo, não imaginava que assinaria seis anos mais tarde um artigo científico na revista “Stem Cells” com dez pesquisadores, incluíndo Vanessa Brandalise, a sua cirurgiã plástica.

Preocupada com sua lipoaspiração, em 2002, Vieira lia sobre o assunto quando descobriu que um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles havia encontrado células-tronco no meio das células do tecido de gordura que existe, em maior ou menor quantidade, debaixo da pele dos seres humanos.

Células-tronco são capazes de se transformar em praticamente qualquer tipo de tecido do corpo humano e são justamente a especialidade da orientadora do doutorado de Vieira, Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo.

Zatz, Vieira e Brandalise iniciaram então um trabalho com células-tronco de gordura humana com o objetivo a longo prazo de criar uma terapia para tratar as distrofias musculares progressivas. CONTINUE LENDO

Novo portal explica física… para físicos

Sim, os físicos andam precisando de uma ajudinha para entender o que anda acontecendo em sua própria disciplina. A American Physical Society, fundação responsável pelo mais pretigioso dos periódicos de física, o Physical Review Letters, inaugurou mês passado o portal Physics, que publica breves comentários resumindo ou contextualizando o conteúdo de um artigo científico, ou analisando as tendências de uma subárea de pesquisa em particular.

Conversei com Daniel Ucko, editor assistente do Physical Review Letters, durante a 5ª PASPS, uma conferência internacional sobre spintrônica, que aconteceu em Foz do Iguaçu no começo do mês. Ucko estava animado com as sinopses de artigos que escreveu para para o portal Physics, onde pôde deixar de lado longos parágrafos detalhando a pesquisa e ir direto ao ponto, explicando porque ela é interessante.

“Dada a quantidade do que é publicado, encontrar os melhores artigos é como achar uma agulha no palheiro; temos de fazer todo o possível para fazer o periódico mais legível”, disse Ucko. O físico Richard Feynman (1918-1988) lembrava com saudade do tempo em que podia ler um exemplar da Physical Review de cabo a rabo. Quem já visitou uma biblioteca de instituto de física sabe que, faz muitas décadas, cada volume semanal da Physical Review ocupa quase uma estante de livros inteira, dividido, de acordo com a subárea da física, em Physical Review A, B, C, D e E, cada um com a grossura de uma lista telefônica. A Physical Review publicou 18 mil artigos ano passado.

Segundo Ucko, a APS está trabalhando em vários “fronts” para divulgar os resultados mais relevantes publicados em seus periódicos. “Temos uma pessoa, James Riordon, em nosso escritório principal em College Park, Maryland, passando dicas de artigos interessantes para a imprensa”, ele disse. A APS também mantém desde 1998, outro site de divulgação, o Physical Review Focus. “O Focus començou voltado para estudantes de graduação e seleciona resultados que tem uma história interessante. Mas os textos não dizem nada a respeito da relevância do artigo em relação aos outros do periódico”, explica Ucko. “O “Physics” pretende trazer a luz os resultados publicados em nossas revistas, não apenas para a imprensa, mas principalmente para os pesquisadores.”

A vida por um nariz

O olfato talvez seja o sentido mais maltratado pela modernidade, depois da audição (sobre a negligência com a audição veja esta aula do maestro Daniel Barenboim). Cheiros desagradáveis de produtos de limpeza, de aparelhos de ar condicionado sujos e de fumaça de automóveis predominam na paisagem olfativa que percebem os poucos habitantes de São Paulo com o nariz descongestionado.

Que a situação é terrível para a memória dos paulistanos, dá para concluir da reportagem “Nariz, uma Máquina do Tempo Emocional”, de Natalie Angier, do New York Times, sobre o Simpósio Internacional sobre Olfatação e Paladar , que aconteceu em julho, em San Francisco, Califórnia. Segundo Angier, pesquisadores estudam terapias que usam cheiros para tratar perda de memória, demência e depressão. CONTINUE LENDO

Escreva mal, destrua a Terra

Este é o ganhador do 3º Concurso de Cartoons Editoriais de Intergridade Científica, promovido pela UCS (União dos Cientistas Responsáveis), nos EUA:

destroyingearth.jpg


Cientista: “Pesquisa Conclui: ESTAMOS DESTRUÍNDO A TERRA”
Governo: “Você poderia, por gentileza, parafrasear isso em termos equívocos, inacurados, vagos, interesseiros e indiretos de maneira que possamos entender?” Crédito: Justin Bilicki

O concurso, de acordo com a UCS, é um protesto contra a interferência do governo no trabalho dos cientistas norte-americanos. Um relatório da UCS lista uma série de casos em que cientistas trabalhando para o governo foram censurados por razões políticas. O relatório é curiosamente organizado na forma de uma tabela periódica dos elementos químicos, onde cada elemento representa um dos casos. No elemento Carbono, por exemplo, está o link para o caso do pesquisador Pieter Tans, do Noaa (agência de pesquisas oceânicas e atmosféricas dos EUA), que foi obrigado pelo diretor de seu laboratório a não usar as palavras “mudanças climáticas” nos títulos das apresentações de uma conferência sobre gás carbônico na atmosfera que estava organizando, em 2005.

Veja você, o poder da palavra.”O mal uso da língua induz o mal na alma”, dizia Sócrates. “Ele não estava falando de gramática”, explica a escritora Ursula Le Guin, em suas palavras a um jovem escritor. “Usar mal a língua é usá-la da maneira que políticos e publicitários a usam, por lucro, sem assumir responsabilidade pelo o que as palavras dizem.” Leia Mais

Física fotografada como astro musical

Uma pena que dê para ver apenas um pedaço do retrato da física teórica Aleksandra Wlczak, na edição online da série “Revolutionary Minds: The Re-envisionaries”, da revista Seed. Na versão inteira da foto, as manchas de giz do quadro negro parecem formar uma aura de mistério em volta da pós-doutoranda da Universidade de Princeton, que aplica as ferramentas da física estatística–o ramo da física que estuda sistemas com muitas partes interagentes–para entender como os genes controlam uns aos outros dentro do ambiente barulhento de uma célula viva.

A escolha do fotógrafo Michael Schmelling, especialista em retratos de músicos pop, para fazer o retrato de Aleksandra, é típica da revista Seed, que um ex-colega físico meu classificou de “Caras” da ciência. Quem folheia a Seed, percebe alguma semelhança com revistas do tipo Vogue ou Vanity Fair. No lugar de top models e estrelas de cinema, porém, estão ganhadores do Prêmio Nobel e cientistas jovens em destaque. A proposta da Seed é valorizar a ciência, fazendo com que ela pareça mais “sexy” e glamourosa aos olhos do público. Acho isso válido, principalmente por causa da auto-estima baixa dos cientistas tanto nos EUA, quanto no Brasil. Para muita gente, cientista é sinônimo de pessoa chata e assexuada. E vocês, o que acham?

Hello world!

Ufa! A inauguração do portal me pegou totalmente desprevinido e só agora arranjei tempo para postar algo aqui.

Agradeço de coração ao Átila e o Carlos pela iniciativa corajosa de produzir o Lablogatórios. Precisava mesmo do espaço e do estímulo que as ferramentas e a comunidade do Lablogatórios estão oferecendo ao meu trabalho.

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM