>Ciência, Pesquisa e Responsabilidade

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Pingou ontem na caixa de email o boletim 19 deste ano da Sociedade Brasileira de Física (texto completo aqui). 
Neste boletim, Daniel Neves Micha, doutorando da UFRJ e professor do CEFET/RJ, discute um problema que nos cerca mais do que a gente normalmente nota: o engodo de certos produtos que prometem super efeitos físicos e mentais aos seus usuários sem qualquer embasamento científico e conseguem emplacar vendas astronômicas e mesmo garotos-propaganda famosos. Tudo isso fonte da “ignorância científica” da maior parte da população.
Nesta mesma mensagem ele bem coloca que parte da responsabilidade é nossa, de cientistas e pesquisadores que fazemos nossas pesquisas ultra especializadas, publicamos em revistas científicas de impacto, vamos a conferências científicas mas pouco nos preocupamos com a divulgação, popularização e boa divulgação, não só da nossa ciência, mas da ciência do dia-a-dia, aquela que permite ver e evitar engodos, enganações e absurdos que esses ditos produtos propagandeiam.
Finalmente, ele conclama a comunidade científica a mudar, procurar jornalistas, divulgar ciência para o grande público, tanto quanto possível. 
Eu preciso dizer que concordo em gênero, número e grau (e declinação) com as posições colocadas pelo Daniel. É preciso reconhecer que fora do campo acadêmico há várias iniciativas pessoais/institucionais nesse sentido de popularização da ciência, incluídas aí blogs sobre ciência, programas de TV (apesar de em horários normalmente esdrúxulos) e ações empreendidas por associações de abnegados. 
Mas dentro do campo acadêmico, acho que podemos fazer ainda mais. Muito mais. De fato, se cada um que faz ciência se preocupasse em educar a própria família, e para isso não precisa ser professor-doutor-pesquisador, mas apenas estudante, o ganho já seria gigantesco. De verdade, eu acho que o verbo não deveria ser poder, mas dever. Cada um do meio científico que de alguma forma é financiado por dinheiro público, não só pode mas DEVE, TEM QUE se envolver com divulgação, popularização, espalhamento da ciência na sociedade. Seria uma forma de contrapartida, justa e válida, a meu ver, de devolver à sociedade o investimento que foi feito nas suas pesquisas. Seria uma forma de criar uma sociedade melhor, mais consciente. E seria uma forma de aproximar a academia, normalmente tão fechada em si mesma, do mundo real.
Eu reconheço minha ignorância nesse sentido, mas não seria bacana se houvesse, nos termos de outorga de contratos de bolsa de estudo, projetos científicos ou o que quer que fosse, uma cláusula de “divulgação de ciência”? Por enquanto, eu acho que o que existe vindo do meio acadêmico é fruto de ações espontâneas. Num mundo ideal, seria bem bacana que sempre fosse assim, mas numa escala maior, onde cada um assume sua responsabilidade perante os outros. Fora do mundo ideal, se as agências de fomento impusessem cláusulas do tipo, fariam também sua parte, obrigando os “semi-deuses” cientistas a se aproximarem dos meros mortais, assumindo a responsabilidade por levar ciência a um número cada vez maior de pessoas. 
Fica a sugestão.

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