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Um prelúdio ao fim dos tempos? – Parte 2

A perspectiva geológica do fim do mundo: agora sim, comece a se preocupar…

O ‘fim do mundo’ é algo mais do que natural na expectativa geológica. Não que o planeta vá ser vaporizado, na verdade ele deve continuar por aí por mais algumas centenas de milhões de anos, mas sua configuração como conhecemos… essa é mais volátil do que você pode imaginar.

O ‘fim do mundo’ aconteceu diversas vezes durante a história do planeta e pelo menos 5 ou 7 dessas vezes foram realmente marcantes. A pior delas foi há 250 milhões de anos atrás e delimita o fim do período conhecido como Permiano.

Esse sim foi o verdadeiro apocalipse terrestre. Trata-se do maior evento de extinção conhecido, que quase acabou com a vida no planeta.

Nessa época, pelo menos dois pulsos catastróficos aconteceram. As extinções foram sentidas tanto em terra quanto no mar. A partir deste episódio, a vida nunca mais seria a mesma.

O golpe foi sentido primeiramente entre os seres marinhos e posteriormente refletido em terra. Calcula-se que mais de 96% das espécies marinhas foram exterminadas, assim como 70% das espécies de vertebrados terrestres. O cenário era realmente desolador. Até mesmo os insetos, que passaram ilesos por todas as outras extinções terrestres, sofreram perdas consideráveis.

A causa? Ainda muito discutida, mas provavelmente uma massiva erupção vulcânica que liberou centenas de  milhares de toneladas rochas derretidas na região que hoje corresponde a Sibéria, além de ter também envenenado a atmosfera com outros milhares de toneladas de gases venenosos.

Apesar de ter sido o pior, este não foi o único ‘apocalipse’ terrestre. O evento de extinção dos dinossauros também é bem conhecido, assim como a extinção da megafauna pleistocênica durante o fim do período de grandes glaciações, há 11.000 anos atrás.

Há 65 milhões de anos um asteróide com entre 10 e 15 km colidiu com a Terra

A vida na Terra já sucumbiu por meio de uma variedade de catástrofes. Desde frio intenso até o aquecimento global, passando por erupções vulcânicas, atividades tectônicas e até mesmo a queda de bólidos extraterrestres.

Grandes eventos de extinção parecem quasi-periódicos e geralmente estão associados a fenômenos geológicos ou astronômicos expressivos (deriva continental, vulcanismo massivo, alterações no campo magnético terrestre, alterações na intensidade de atividade solar, geometria da órbita, impacto de bólidos extraterrestres, etc.). A interação de grandes ciclos dessa natureza (geo-astronômicos) é que gera as aparentes ‘coincidências’ e o conhecimento de algumas dessas variáveis é que nos dá poder aproximado de previsão.

Grandes eventos de extinção ao longo do tempo geológico

Bem, isso sim nos leva a ficar preocupados!

Alguns ciclos astronômicos já foram bastante estudados e os seus efeitos calibrados olhando-se para o passado geológico. A influência dos ciclos de Millankovich nas grandes glaciações terrestres, por exemplo, já foi corroborada por diversos trabalhos. Assim como a influência dos grandes picos de radiação solar no mesmo tipo de evento de resfriamento.

Fora isso, apesar de menos compreendido, os eventos de alteração do campo magnético terrestre também podem ser reconhecidos, assim como podemos calcular a probabilidade de um asteróide de grande magnitude atingir a Terra.

E então? Estamos em perigo?

Bem, estamos vivenciando um período de grande estabilidade geológica e isso se estende para dentro do Cenozóico. Essa ‘calmaria’ favoreceu imensamente a ascensão dos mamíferos após a extinção dos dinossauros e ajudou, sobretudo, a humanidade: Nós evoluímos na sombra do melhor período de calmaria.

Sim, temos tido muita sorte! Porém, temos que lembrar que, “quanto mais tempo passa, mais próximos de um desastre estamos”…..

O prenúncio de um desastre

Estudos procuram calcular a probabilidade de colisões de asteróides de grande magnitude com o planeta.  Para isso, astrônomos verificam não somente bólidos gigantes que ainda estão em órbita, como gigantes cicatrizes de impacto que ficaram preservadas no registro geológico.

Alguns estudiosos do assunto dizem que corpos extraterrestres com mais de 13 km de diâmetro colidem com a Terra em períodos entre 60 e 65 milhões de anos, causando um desastre descomunal. O último impacto gigante que se tem notícia causou a extinção dos dinossauros, há exatos 65 milhões de anos. Segundo essa idéia, portanto, a qualquer momento poderia haver uma colisão daquela grandeza.

Outros cientistas, todavia, discordam da idéia. Eles acreditam que a probabilidade de impacto não é maior agora do que há 20 milhões de anos, por exemplo…. Eles dizem, que, na verdade, a qualquer momento estamos sujeitos a esse tipo de catástrofe e que isso é muito pouco previsível. A única coisa que poderiam nos assegurar é que, de 250 milhões de anos para cá, o número de impactos com o nosso pequeno planeta azul tem sido muito maior.

Outro fator preocupante é o enfraquecimento e a inversão do magnetismo terrestre. Periodicamente, o campo magnético da Terra sofre um progressivo enfraquecimento, seguido por uma inversão, devido a alterações de fluxo no núcleo líquido da Terra. Sabe-se que a grande extinção em massa do Permo-Triássico veio também acompanhada de intensas oscilações do campo magnético em um curto período de tempo geológico, porém o que causou esse fenômeno e se ele influenciou na extinção, é tudo muito pouco compreendido.

Os verdadeiros impactos das inversões magnéticas não passam de grandes especulações. Não se tem idéia do que pode acontecer! Acredita-se que o enfraquecimento do magnetismo terrestre nos deixaria mais vulneráveis a radiações cósmicas letais (os ventos solares, por exemplo) e a alteração de pólos poderia causar uma massiva desorientação em grupos animais que baseiam-se no sistema de localização magnética. Isso influenciaria seu padrão migratório, por exemplo, e poderia levá-los a extinção.

Por muito tempo acreditou-se que essas inversões magnéticas eram aleatórias, porém, recentemente descobriu-se que, na verdade, as inversões seguem um padrão de distribuição. Atualmente o campo magnético está a enfraquecer e poderíamos estar a beira de um fenômeno dessa natureza.

Atividade de manchas solares

Outro fator preocupante são as oscilações na atividade solar. O sol funciona como um grande protetor para o nosso planeta. Sua composição e atividade ajudam a nos proteger de partículas e raios cósmicos provenientes do espaço. As oscilações de atividade do Sol, podem, portanto, nos deixar mais ou menos vulneráveis aos efeitos deletérios de radiações cósmicas. Fora isso, acredita-se haver uma forte ligação entre a atividade solar e o clima na Terra. Detecta-se uma notável relação entre resfriamento global e a atividade de manchas solares. Os grandes períodos de glaciação coincidem com o aumento de atividade das mesmas.

A atividade de manchas é previsível, ela segue um ciclo regular, e estaríamos para entrar em um período de maior atividade. Não só estaríamos sujeitos aos efeitos negativos de radiações extraterrestres, como a um iminente resfriamento global em grande escala.

Um resfriamento global seria exponencialmente pior do que um grande aquecimento…

Procurando não ser alarmista, todavia, uma outra corrente de cientistas acredita que o ciclo de manchas solares pode, na verdade, estar entrando em um período indeterminado de ‘hibernação’.

Pagar para ver?

A certeza da catástrofe

A vida funciona em equilíbrio com o seu meio e está sujeita a mudanças com a transformação do mesmo. Enumeramos alguns fatores de ordem natural que desencadeiam essas alterações, mas não podemos deixar de discutir um novo elemento, de apenas algumas centenas de milhares de anos, que tem demonstrado poder causar efeitos devastadores na biosfera: o homem.

Sim, nós também estamos gerando mudanças expressivas. Essas já desencadeiam conseqüências severas para os ecossistemas terrestres. Atualmente a taxa de extinções é tão alta, que já podemos nos considerar em uma nova extinção em massa – quiçá, a maior de todas. No meio dessa história, nós, primatas bípedes com polegares opositores, ainda estamos ‘ilesos’ (o que depende muito do ponto de vista), mas muito em breve começaremos a sentir as conseqüências severas de nossas atitude.

O nosso descuido levará a escassez severa de alimentos, o aumento no número de doenças e pragas letais, a alterações climáticas em grande escala e maior expressividade de seus extremos. A miséria, a peste e a fome serão os nossos predestinados cavaleiros do apocalipse. Isso se a guerra não vir antes deles.

Seja lá qual for a natureza do fator que nos leve ao ‘apocalipse’, não podemos esquecer que o mais certo deles é aquele que geramos com nossas próprias atitudes. É a simples lei da ação e reação.

Uma luz no fim do túnel: Terminando com o conceito antropocentrista do ‘fim do mundo’

Essa história toda de fim do mundo gira muito em torno do nosso umbigo.

Mesmo após as grandes catástrofes naturais, como aquela do Permiano, há 250 milhões de anos, a vida se recuperou. Nem o asteróide gigante dos dinossauros conseguiu acabar com essa história toda! A vida sempre floresceu depois de um golpe duro. As grandes extinções funcionaram, na verdade, como grandes gatilhos evolutivos de surpreendente criatividade.

No que diz respeito a nossas atitudes descontroladas, vejam bem:

O primeiro grande registro de ‘poluição’ do planeta foi o oxigênio, liberado de forma massiva por esteiras microbianas durante o Proterozóico. Ele foi tanto, que envenenou toda a atmosfera. Porém, abriu as portas para um novo tipo de vida – a que nós conhecemos (a vida aeróbica). Temos que lembrar que, se estamos cavando a nossa própria cova, o nosso ‘fim do mundo’, estaremos criando a oportunidade de um novo começo para outras formas de vida.

Então, no fim, “Life finds a way”

Se quisermos acompanhar a história do planeta por mais algumas dezenas ou centenas de milhares de anos, precisamos começar a mudar nossas atitudes.

Quanto aos desastres naturais, bem… quanto a esses, só dependemos da sorte.

A lição que podemos tirar dos maias, é a de que tudo faz parte de um grande ciclo e essa história de fim do mundo, seja lá quando acontecer, é somente parte dele. Funciona apenas como uma renovação, um novo começo… o 22 de dezembro ou o 1 de janeiro de uma nova era.

Quanto ao seu carnaval: O nosso tempo de vida no planeta depende muito da sorte, mas principalmente de nossas atitudes. A única certeza é que, de qualquer forma, tudo se acaba um dia. O melhor é aproveitar cada dia como se fosse o último de sua existência.

Um prelúdio ao fim dos tempos? – Parte 1

O prognóstico maia para o fim do mundo e a sua procedência do ponto de vista geológico. Será mesmo possível que o fim dos tempos tenha hora marcada para 2012? A previsão maia é tão acurada que o “dia-d” dar-se-ia, segundo cálculos, exatamente em 21 de dezembro desse ano. Se isso for verdade, você teria apenas 10 meses para realizar seus maiores anseios em vida e além do mais, aproveitar seu o último carnaval…

Mas mantenha a calma. Não é necessário pânico… ainda.

Vamos destrinchar essa história e entender se realmente há motivo para preocupar-se e aproveitar esses 10 meses como se fossem os últimos de sua existência.

Este post será dividido em 2 partes. Na primeira daremos uma breve introdução ao assunto – quem são os maias e que história é essa de fim do mundo – e na segunda, entraremos em algumas minúcias geológicas….

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Para começar, quem foram “os Maias” e porque dão tanto crédito para ‘esses caras’?

Pirâmide maia

 civilização maia foi uma cultura mesoamericana pré-colombiana, famosa por sua notável língua escrita, arte, arquitetura, matemática e astronomia. Seu império se estendia desde Honduras até o México, passando por El Salvador, Guatemala e Belize.

No seu auge, foi uma das sociedades mais densamente povoadas e culturalmente dinâmicas do mundo. Possuíam uma religião politeísta e adoravam deuses relacionados a natureza.

Arte maia

Ergueram notáveis pirâmides e templos, que ainda hoje surpreendem pelo grande avanço arquitetônico. Além disso, elaboraram um eficiente e complexo calendário, que estabelecia com exatidão os 365 dias do ano, possuíam um estudo astronômico evoluído e, no campo da matemática, desenvolveram as casas decimais e o valor do zero.

Durante a chegada dos espanhóis, a civilização já lidava com os seus próprios conflitos internos. No momento da chegada dos europeus, no século XVI, as cidades maias já haviam abandonado seu período de esplendor e grandeza. A erosão do solo, a degradação ecológica, a crise demográfica e a fragmentação do poder dos reis figuram como a combinação de causas que podem explicar a situação de crise atravessada por essa cultura.

O Calendário Maia

O calendário

Graças à exatidão de seu calendário, considerado o mais perfeito entre os povos mesoamericanos, os maias eram capazes de organizar suas atividades cotidianas e registrar simultaneamente a passagem do tempo e os acontecimentos históricos, políticos e religiosos que consideravam cruciais a sua sociedade.

Entre os maias, um dia qualquer pertence a uma quantidade maior de ciclos do que no calendário ocidental. O ano astronômico de 365 dias, denominado Haab, era acrescentado ao ano sagrado de 260 dias chamado Tzolkin. Ambos formavam ciclos, ao estilo de nossas décadas ou séculos, mas contados de vinte em vinte dias, ou integrados por cinqüenta e dois anos.

Quanto ao “dia zero” deles, este aparentemente corresponderia ao nosso dia 12 de agosto de 3113 a.C. Não se sabe ao certo o que aconteceu nesta data, mas provavelmente era um dia mítico na história desse povo. A partir desta data, os ciclos se repetiam.

Apesar de bem estruturado, a forma do calendário maia cria alguns problemas de tradução para as datas de nosso calendário. Eles eram, simultaneamente, textos de história e também de predição do futuro. Na perspectiva desse povo, passado, presente e futuro estariam em uma mesma dimensão.

Os historiadores contemporâneos freqüentemente recorrem às profecias para conhecer episódios do passado desta sociedade. Uma profecia, portanto, pode se expressar como uma forma de memória desse povo.

O tempo para eles não era linear. Os ciclos terminavam e recomeçavam.

O problema da ‘previsão maia para o fim do mundo’

Fim dos tempos?

O problema é que na verdade, não há uma previsão maia para o fim do mundo! Do ponto de vista científico, isso é um grande mito.

A concepção de tempo maia não permite pensar em um fim absoluto. Todo alarme seria apenas um problema de interpretação. Na verdade, 21 de dezembro de 2012 seria apenas a data que marca a renovação de um grande ciclo de acontecimentos. Assim como para nós, é o dia 31 de dezembro.

A visão apocalíptica é algo que caracteriza os povos ocidentais – seja por fantasias religiosas ou parasitismo midiático e capitalista -, porém não representa a filosofia maia.

Nessa data de dezembro, os maias simplesmente esperavam o regresso de Bolon Yokte´, entidade que indica nada mais, que a renovação do presente ciclo.

Quanto a isso, portanto, não há porque se preocupar.

(“Ufa, posso curtir meu carnaval em paz?)”

Porém … como sempre há um porém:

(“droga, eu sabia!”)

Na próxima parte deste post:

A perspectiva geológica do fim do mundo: agora sim, pode começar a se preocupar

 O ‘fim do mundo’ é algo mais do que natural na expectativa geológica. Não que o planeta vá ser vaporizado, na verdade esse deve continuar por aí por mais algumas centenas de milhões de anos, mas sua configuração como conhecemos… essa é mais volátil do que você pode imaginar….

Continua…

Sugestão de leitura on line:

Para saber mais sobre os mais, visite http://discoverybrasil.uol.com.br/guia_maia/index.shtml

Como os cientistas conseguem reconstituir o passado?

Mesmo com evidências escassas e pistas fragmentadas, paleontólogos conseguem recriar histórias complexas de interação entre seres extintos e povoar mundos perdidos com criaturas de toda sorte e natureza. Como isso é possível?

Afloramentos cretácicos em Sousa, Paraíba, Brasil – Foto por Aline Ghilardi, todos os direitos reservados

Nas mãos de paleontólogos, ossos, mesmo poucos e fragmentados, se tornam poderosas ferramentas e parecem suficientes para esclarecer relações biológicas intrincadas e até mesmo recriar o retrato esquecido de criaturas há muito desaparecidas.

Ao passar os olhos por um afloramento fossilífero, um paleontólogo pode saber exatamente em que período de tempo geológico ele se encontra e – para o espanto de muitos – em que exato tipo de ambiente aquele registro se formou.

Como o passado pode ser tão claro para estes cientistas?

Em tempos modernos, os paleontólogos trouxeram não só o passado, mas muitas de suas criaturas de volta a vida e não foi por meio de uma máquina do tempo sensu strictu, mas através do bom e velho método científico alimentado por uma boa dose de questionamento intelectual.

Para falar a verdade, é como se essas simples ferramentas da ciência fossem verdadeiras máquinas do temposensu lato, desta vez -, permitindo-nos espiar mundos antigos e examinar criaturas cuja existência foi negada. Temos que concordar que são maquinas do tempo muito pouco usuais....

Para viajar ao passado utilizamos teorias, computadores, complexos equipamentos de laboratório e até mesmo experimentos. Porém, mais comumente são utilizadas somente as rochas. As rochas que procuramos são bem específicas. Elas são estratificadas e conhecidas como ‘rochas sedimentares’. Este é o tipo de rocha que contém fósseis e são elas e os fósseis que nos ajudam a explorar o tempo profundo.

As rochas sedimentares contém a melhor informação que temos para estudar o passado. Mas como podemos acessar essa informação?

Qualquer afloramento de rochas sedimentares contendo fósseis apresenta pistas sobre a sua idade e o local de origem do material, que pode ser bem diferente do local aonde as rochas hoje se encontram. – Temos que lembrar, que a superfície do planeta não é estática, mas incansável.

Serra da Capivara – Rochas sedimentares, estratos através dos tempos – Foto por Aline Ghilardi, todo os direitos reservados

Rochas contém pistas sobre a natureza do ambiente aonde elas foram formadas. Algumas das características úteis nesta investigação são o tamanho ou a organização de seus grãos e ainda a qualidade dos mesmos. 

Após serem torturadas, as rochas contam quase tudo! 

É possível descobrir se os materias de que são compostas litificaram (se tornaram rocha) no continente ou em mares rasos, em um clima quente ou frio, seco ou úmido, pobre em oxigênio ou não, entre outras tantas outras variáveis ambientais.

É um ótimo começo, porém nenhuma intervenção científica por si só extrai toda a informação. Muitas ferramentas e técnicas devem ser combinadas. Por isso, “ler” os fósseis também é importante. Eles oferecem informações complementares. O passado é uma rede complexa de interações e temos que estudá-lo em todas as suas dimensões.

Fóssil de peixe, Bacia do Araripe, Fm. Santana, Nova Olinda, Ceará, Brasil – Foto por Aline Ghilardi, todos os direitoss reservados

As rochas informam sobre o ambiente, assim como também os fósseis. O elenco biológico está intimamente ligado ao seu entorno, não é mesmo? Fósseis de peixes, por exemplo, só podem indicar um ambiente aquático.

Os fósseis também ajudam a dar uma resolução temporal, ou seja, eles calibram a máquina do tempo. Determinados organismos funcionam como fósseis guia e indicam períodos específicos do tempo geológico.

Os amonites (cefalópodes com concha, cujo primo ainda vivente é o Nautilus), por exemplo, são indicadores da Era Mesozóica (250 a 65 milhões de anos atrás), período bastante extenso de tempo. Já alguns microfósseis (fósseis de microorganismos), costumam ser indicadores muito mais acurados: Pelo fato de sua taxa evolutiva ser alta, diferentes espécies ou associações de espécies estão representadas em períodos mais restritos de tempo.

Avaliar o passado sob diferentes perspectivas – utilizando diferentes ferramentas -, pode gerar, no entanto, ambiguidades. Isso é comum quando se adicionam muitas variáveis a uma equação…

Veja bem, o passado não existe mais, é apenas uma memória, certo?

Duas pessoas que tenham presenciado o mesmo evento podem guardar lembraças diferentes do que ocorreu. A interpretação do registro fóssil pode ser exatamente assim. Diferentes testemunhas ou diferentes “máquinas do tempo” frequentemente fornecem diferentes perspectivas do acontecido.

Usualmente existem multiplas versões de uma mesma história. Decidir qual representa a verdade pode ser difícil. Mesmo assim, a ambiguidade acaba sendo um aspecto positivo. As pessoas discutem, os argumentos são resolvidos e normalmente o resultado é o progresso científico. A ambiguidade pode ser aceitável quando se investiga o tempo profundo. Afinal, o único material que temos para trabalhar é uma pequena amostragem do todo. Vamos concordar que isso  aumenta a diversão de se empenhar neste tipo de ciência: sempre haverá uma descoberta nova e maravilhosa que vai mudar o rumo do que se conhecia até então.

Nenhuma ‘máquina do tempo’ consegue recriar inteiramente o passado. Cada uma é como uma pincelada ou uma única cor de um quadro complexo. Por si só, carregam muito pouco significado, mas quando combinadas, montam um quadro compreensível daquilo que passou.

O paleobotânico, o paleozoólogo, o palemicrobiologista, o geoquímico, o tafonomista etc., combinam as suas artes para ajudar a espiar um singelo quadro do que teriam sido complexos e maravilhosos ecossistemas enterrados no passado distante. Cada um utiliza a sua ‘máquina do tempo’ – sejam equipamentos complexos ou o humilde e poderoso  ‘poder preditivo da rocha’ – e oferecem assim as suas interpretações mais precisas. O final pode ser sim uma obra de arte…

Painel de Raul Martin ilustrando o Eoceno de Messel, na Alemanha.

Como isso tudo é traduzido para o público? Aí precisamos de outros profissionais, os paleoartistas, mas isso é outra história. Se tiver interesse, continue lendo AQUI.

O Rei da Amazônia: o Super Croc da selva

 

Figura acima: Fóssil do crânio do P. brasiliensis e a reconstrução computadorizada em escala. Direitos autorais: Tito Aureliano, 2009.

Bem-vindos à nova versão do blog dos Colecionadores de Ossos, agora na plataforma da Science Blogs!

Para inaugurar minhas postagens, preparei um breve resumo sobre o meu objeto de estudo atual. O Purussaurus brasiliensis, o caiman gigante da Amazônia.

O primeiro espécime de P. brasiliensis foi descoberto no interior da Amazônia do século XIX, na região onde hoje é a divisa entre os estados do Acre e Amazonas.

Seu descobridor, Barbosa-Rodrigues, descreveu e relacionou os restos do novo animal gigante ao gênero Caiman, devido a grandes semelhanças osteológicas. Porém, esta classificação viria a ser destituída frente a caracteres únicos apresentados pelo novo caimanidae.

Os fósseis encontrados por Barbosa foram levados, na época, ao Museu Botânico de Manaus, hoje inexistente. Frente ao fechamento desta instituição, os materiais originais (o holótipo – o primeiro do gênero e espécie) de P. Brasiliensis infelizmente desapareceram.

Alguns colegas paleontólogos acreditam que os fósseis podem ter ido para na Itália, na casa de algum parente do cientista do Museu…. A verdade é que niguém encontrou o material e estes deram-se como perdidos para comunidade científica. Isso acabou não sendo um grande problema, acredite sse quiser! Hoje temos materiais abundantes desse o Super Croc Amazônico depositados nas coleções do Museu Paleontológico da Universidade Federal do Acre (UFAC) e em instituições peruanas e bolivianas. Atualmente, o P. Brasiliensis é um dos Super Crocs melhor conhecido, se comparado com outros gigantes famosos, como o Deinosuchus  e o Sarcosuchus.

Os fósseis da maior espécie Purussaurus, a brasileira, estimada em 12,5 m, são provenientes dos depósitos do Mioceno Superior da Bacia do Acre, localizada no coração da Amazônia Ocidental. Uma intrépida localização que veio sendo explorada primeiramente por diversos paleontólogos como L. I. Price, Alceu Ranzy, Jean Bocquentin-Villanueva, Jonas Souza-filho, Ricardo Negri, Edson Guilherme e Andrea Maciente.

Figura acima: Mapa da localização do Sítio Paleontológico Niterói, no Acre. Amazônia Sul Ocidental. Direitos autorais: Tito Aureliano, 2009.

Eu tive o prazer de conhecer a equipe da UFAC para participar de uma das expedições no início da primevera de 2009, quando o nível do Rio Acre é baixo e é possível realizar escavações à beira do mesmo. Foi uma experiência excepcional, bem melhor do que esperava, levando em conta ter passar uma semana na mata tendo que conviver com pessoas desconhecidas.

 

Figura acima: Dr. Edson Guilherme, à direita, e eu escavando um par de mandíbulas de Purussaurus na expedição de 2009. Sítio Niterói, Acre. Direitos reservados.
 

Até o presente, três espécies de Purussaurus foram descritas: P. brasiliensis, do Mioceno Superior da Formação Solimões (Brasil, Peru e Bolívia),  P. Neivensis, do Mioceno Médio da Fm. La Venta (Colômbia), e P. mirandai, do Mioceno Superior da Fm. Urumaco (Venezuela).


Figura acima: Purussaurus neivensis. Crânio. Depositado na coleção da INGEOMINAS, Bogotá, Colômbia. Direitos autorais: Tito Aureliano, 2009.
 

No caso do P. Brasiliensis, nosso super-predador amazônico de 8 milhões de anos, o crânio possuía uma extensão de mais de 140 cm, maior que o de um Tyrannosaurus rex! Adaptações específicas como o achatamento do crânio, sua robustez e a expansão da fossa nasal, levaram os pesquisadores a supor que poderia suportar um estresse de choque e pressão absurdamente alto. Mas somente agora, estudos dedicados no assunto vem sendo realizados. Esse é o tema da pesquisa que estamos realizando no momento e andamos apresentando em alguns congressos.

Materiais antigos vêm sendo revisados e novos, descobertos.

O interessante é que esses monstros têm muito mais a nos ensinar através de sua robustez e força bruta. Os Purussaurus foram muito abundantes durante finais do Período Mioceno, mas a super-população subitamente extinguiu-se. Foi um evento ambiental? Paleoecológico? Os dois?

Por meio dos estudos mais detalhados do Super Croc poderemos em breve responder de forma mais acurada essas questões. Assim que obtivermos novos resultados, revelaremos ao leitor mais detalhes do andamento nossa pesquisa. Ajudar a revelar os segredos da Amazônia Miocênica é realmente um trabalho excitante  echeio de surpresas!