Rato que pia como um… golfinho!

By @elciorcarvalho

by @elciorcarvalho

Lembrando que a grande notícia científica que fechou com chave de ouro o ano passado foi, não a bactéria “alienígena” de arsênio, mas o rato que pia como passarinho! Se bem que na minha opinião parece mais um golfinho.

 (Veja o vídeo)

 

Sim, ele acaba de mudar a letra da clássica música “Baile dos Passarinhos”do Balão Mágico (mas estranhamente eternizada na voz de Gugu Liberato) para “Baile dos Camundonguinhos”, confira:

Camundongo quer dançar
Quer ter canto pra cantar
Alegria de viver
Tchu tchu tchu…”

Agora, se ele dobrar o joelhinho, der dois saltinhos e VOAR a coisa fica séria.

 

Por enquanto ele só serviu para assustar os cientistas da Universidade de Osaka. Afinal eles estavam fazendo mutações aleatórias, e não estavam procurando mudar a voz do bicho intencionalmente, como andei lendo em alguns lugares.

 

O objetivo do projeto é gerar camundongos com mutações não-intencionais justamente para descobrir novas possibilidades de modelos para pesquisas. Este que pia poderá ser usado agora para estudar o desenvolvimento da linguagem.

Cientistas e governo em campanha pelo uso de animais em pesquisa

FBR_Direito_animal.jpg

“Graças à pesquisa com animais, eles terão 23.5 anos a mais para protestar” – Esta não é da campanha, mas tem que ter apelo

RICARDO MIOTO
Folha.com
Na briga contra organizações de direitos dos animais que querem acabar com pesquisas envolvendo cobaias, cientistas e governo criaram uma campanha publicitária tentando convencer a opinião pública da importância desses estudos.
A partir da próxima quarta-feira, serão feitas inserções na televisão, no rádio e em jornais e revistas.
Os anúncios têm dois motes. Um é que “quase todos os medicamentos e vacinas são resultado de pesquisas com animais de laboratório”, salvando muitas vidas. O outro é que, depois da Lei Arouca, aprovada em 2008 para regular o uso de cobaias, nenhum animal deixa de ser tratado com “ética e dignidade”.
A iniciativa já recebeu R$ 1 milhão, diz Marcelo Morales, biólogo da UFRJ e um dos responsáveis pela campanha. O dinheiro vem do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e do Ministério da Ciência e Tecnologia. E o valor pode aumentar.

Entrem no site para ouvir uma das campanhas.
É importante este tipo de ação, claro. Mas o modo como ela vai ser feita acho que só vai servir para levantar a bola para os ativistas cortarem.
Porque a campanha não tem apelo (considerando que só este estilo de propaganda vai ser feita), é chata mesmo, e vai servir só para levantar a discussão e é aí que os ativistas radicais vão aproveitar para usar todo apelo emocional que está do lado deles.
Ou seja, o tiro pode sair pela culatra.
Para mais sobre direito animal, veja:

Direitos dos animais: permitindo o diálogo saudável

Transcrevo aqui o comentário do leitor José Gustavo Vieira Adler em nosso post sobre o debate de direito animal.

Achei interessante o seu ponto conciliador, mostrando a importância da pesquisa – inclusive para o embasamento dos ativistas pelos direitos animais -, mas também mostrando que não devemos nos acomodar com as práticas atuais, afinal temos o poder de continuar mudando técnicas e conceitos.

Mas antes… BÔNUS: Aqui está o link para o Conselho de Cuidado Animal do Canadá (CCAC), que são as diretrizes seguidas pelo conselho de ética animal do Instituto de Biociências da USP. Ou seja, é o que a USP segue no que se refere a bem-estar dos animais em experimentos, nos seus míííííííínimos detalhes. Vale a pena dar uma olhada (em inglês).

O comentário foi transcrito com mínima intervenção minha; o original está aqui.

(…)
Quanto aos experimentos, dizer que se tem que acabar com os

experimentos é realmente difícil uma vez que nossa crença, nossos
conhecimentos e nossa cultura é baseado no metodo de pensar ciência e
como tal é impossível no estagio que estamos abdicar por completo do
uso de animais em experimentos. Mas usar isto como travas, correntes e
poltronas cômodas do costume é um equívoco, uma aberração contra a
nossa própria natureza, que é o avanço cultural.
Muito já se mudou, sendo que
hoje a pesquisa não depende de experimentação animal como dependia
em anos atrás, devido em grande parte graças ao movimento
ativista (que engraçado ter surgido por conta da visão mecaniscista dos
animais que eram vistos quase como máquinas e portanto não os
consideravam seres dotados de sentimentos e conhecimentos). O
diálogo só surgiu porque surgiu a emergência dos valores
intrínsecos aos demais animais, graças a luta pelos “direitos
animais”, e se faz necessário a continua luta e diálogo para forçar
financiamento para que mais e mais sejam desenvolvidas novas técnicas,
métodos e pensamentos voltados para a contínua retirada dos animais
dos laboratórios.

Agora, essas brigas de ego (macaco-alfa) de muitos que defendem os
direitos dos animais com ciêntistas que tem plena consciência da
problemática, a demonização dos que praticam a, realmente, enfadonha
tarefa de utilizar os animais em experimentos é um erro de julgamento,
um disturbio da idealização. Fazendo um paralelo com um argumento
muito usado pelos que lutam a favor dos valores dos outros animais,
vemos a escravidão do periodo colonial como uma ação demoníaca
dos donos de escravo, mas na verdade em muitos casos os donos de
escravo julgavam-se tratar da melhor forma possível seus escravos,
criavam empatia e um certo estreitamento. Quando esses escravos atacavam
ou matavam alguns de seus donos e fugiam pros quilombos eram julgados
como animais sem alma, selvagens, assim como um elefante mata seu
treinador ou uma orca afoga sua treinadora. Os julgamos como animais
selvagens, indomáveis. Os julgamentos e crenças são frutos do
contexto de cada época e cultura – condenar a caricaturas malevólas os
escravocratas é um desvio da valoração idealista. Os escravocratas
em grande parte acreditava que os negros eram realmente animais, ou que
seus sentimentos não valiam por não terem a consciência que seus
donos tinham a respeito da moral e costumes. Foram precisos muitos anos
de luta e uma mudança de interesses comerciais e econômicos para que
houvesse uma mudança no modo de julgar os negros, de enxergar os
negros, para depois entender que os negros são tão brancos quanto
nós e nós somos tão negros quanto eles, que somos todos humanos, da
mesma espécie, da mesma raça.

Para mudar o contexto socio-cultural que estamos imersos é preciso de
tempo, de muito diálogo, confronto de idéias, aquisição de
conhecimentos novos, aberturas de perspectivas, e PRINCIPALMENTE uma
mudança e um avanço no enfoque, nas ferramentas que temos para obter
nossos conhecimentos, criando alternativas viáveis e interesses
morais, éticos e economicos diferentes quanto a utilização de
animais, da coisificação de outras espécies.

Tratar os cientístas como demônios, assim como muitos humanistas,
esquerdistas tratavam os escravocratas como demônios é um erro de
julgamento, quando o que tem que ser combatido é a ação. O que tem que se
fazer é forçar cada vez mais a necessidade de se utilizar de outras
ações que dispensem o uso de outras espécies. Mesmo porque, ironia
do destino, a valoração dos animais ganhou visibilidade cética
graças a muitos experimentos com animais em cativeiro,
experimentações que chegavam até a ser invasivo.

Ou seja, é verdade que os que lutaram pelos direitos animais
empurraram a necessidade por uma abordagem dos valores dos outros
animais, também é verdade que que as pesquisas crescentes na
cognição e na sua evolução deram conteúdo, embasamento, para
tornar a visão de valores animais encorporada no contexto da Cíencia
,
tornar o assunto tema de respaldo e de valor cientifico. Os dois lados
caminharam em convergência para alcançar o grau de entendimento e
questionamento que chegamos atualmente. Muitos dos ativistas usarão o
discurso de que a inteligência animal era óbvia e clara, e que não
precisava de experimentos para atestar o que se podia averiguar
bastando conviver com os animais em seus habitats. Mas sem o respaldo
da Ciência, dos seus métodos e critérios, a idéia de inteligência
nas demais espécies estaria fadada a um saber local, ilhado,
desconectado dos processos do saber do homem contemporâneo. Estaria
reclusa na crença popular, em valores de povos regionais, não teria o
alcance e nem o corpo investigativo e criterioso em que uma metodologia
experimental de uma investigação científica dá à crença.

Ainda somos dependentes dos animais para nosso avanço como ser
cultural, mas não podemos tornar essa dependência como uma
naturalidade, como uma situação imutável.

Um relato sobre o incêndio no Butantan

incêndio butantan.JPG

Pobres garotos e pobres de nós sem a coleção do Butantan!

Este é um post de luto. E não é porque a grande maioria dos animais perdidos já estava morto que diminui a dor da perda. Aliás ela só aumenta quando percebemos a sua importância e propósito.
Segue aqui o relato de um grande amigo que trabalha, ou trabalhava, no Instutúto Butantan, e teve o seu laboratório totalmente destruído pelo incêndio da manhã do dia 15 de maio. Aqui ele mostra a importância real desta perda, não só para a ciência, mas para a sociedade brasileira e mundial.

A essa altura do campeonato vocês já devem ter escutado sobre o incêndio no Butantan. Infelizmente ele foi no meu laboratório.
Era um sábado tranquilo… daqueles que a gente levanta sem pressa e, no meu caso, enrola pra começar a trabalhar (até porque estou nas vésperas de entregar a minha dissertação e sábados são dias de trabalho). Acordei com o celular tocando e a notícia de que tinha um incêndio no Butantan. No começo não dei muita bola, mas logo que vi no video os bombeiros jogando água no meu lab cai na real.
O meu trabalho talvez tenha sido o menos afetado, até porque estou escrevendo a dissertação e já tenho toda a parte mais importante no computador e a salvo, mas queria dividir algumas coisas com vocês…
Ontem, a maior coleção de aranhas da américa latina e a maior coleção de serpentes do mundo foram severamente danificadas . A nossa coleção tinha mais de 150.000 lotes de aranhas, considerando que cada lote pode conter de uma a mais de 10 aranhas da pra ter uma ideia do número real de animais que estavam ali preservados.
A coleção da herpetologia tinha por volta de 80 mil exemplares de serpentes, algumas espécies que podem estar em extinção e exemplares tombados pelo próprio Dr. Vital Brazil, que fundou o Instituto Butantan 109 anos atras.
Não só pelo valor histórico dessas coleções e pelo respeito que devemos ter por elas queria discutir algumas coisas para esse não virar mais um e-mail sensacionalista de desabafo de alguém que está muito triste.
Uma coleção como esta, no olhar de um leigo pode até parecer coisa de um naturalista que coleciona besouros, mas tirando o fato de que Darwin criou a teoria mais importante para a biologia fazendo isto, estas coleções, como as que existiam no butantan, tem um valor inestimável para os estudos de biologia, taxonomia e ecologia. E não só para estes estudo de ciência básica. Toda a produção de ciência aplicada do Instituto depende desses laboratórios. Não adianta nada você fazer os estudos mais avançados sobre as proteínas tais dos sítios de clivagem alfa dos canis iônicos glutamatérgicos se ninguém identificar os animais que você coletou para este trabalho ou ainda se você não tiver um lugar para depositar alguns exemplares de testemunho para futuros trabalhos.
Uma coisa que acontece com essas coleções, principalmente no nosso país, é que ninguém dá valor. A impressão que dá é que os poderosos realmente acreditam que isso é coisa de naturalista do século passado que fica colecionando besouros. Quando as pessoas pensam no Instituto Butantan só estão preocupadas com a produção… com as vacinas e com o soro, mas esquecem ou não sabem que essa produção toda começa lá naquele laboratório.
Tudo isso que vocês escutam falar sobre ecologia, meio ambiente e principalmente sobre BIODIVERSIDADE uma hora ou outra passa pelas mãos das pessoas que trabalham nessas coleções. Um trabalho de formiguinha… pra organizar, catalogar e preservar todos aqueles exemplares que representam a nossa fauna de aranhas. Cada aranha tem um número de referência, uma etiqueta com informações de onde foi coletada, por quem e quando. É lá que descobrimos novas espécies e principalmente… é lá que conhecemos nossa BIODIVERSIDADE… se a gente não conhece. Pode ter certeza que os gringos vão vir aqui e catalogar tudo, e guardar nas coleções deles.
Mesmo no meio daquele caos e da tristeza de ver uma parte da minha casa virando pó, ainda tenho que escutar a conclusão da reportagem dizer “O instituto Butantan é responsável por 80% da produção de vacinas e soros no país e essas atividades não foram atingidas”. Como se estivesse tudo bem… Só que a produção do soro depende do trabalho daqueles garotos, que não ganham nem de longe o que merecem, mas levam esse laboratório com o coração. Garotos que passam os seus dias cuidando das aranhas como vocês cuidam dos cachorros e gatos que tem como pet para conseguir extrair alguns mililitros de veneno para a produção do tal soro. Garotos que pulam de alegria quando descobrem uma nova espécie… garotos que ficam tristes e preocupados quando alguma coisa com o livro tombo está errado… E garotos que ontem eu vi chorar e que mesmo sabendo dos riscos daquele prédio vir abaixo entraram lá pra tentar salvar pelo menos os exemplares que chamamos de “tipos”, aqueles que foram utilizados para descrever as espécies e que sem eles… não podemos mais ter certeza se a aranha que vamos coletar amanhã pertence de fato àquela determinada espécie.
Desculpe pelo e-mail de desabafo… mas é complicado ver um laboratório que você passou momentos alegres e dificeis virar pó e ferro retorcido!
Anexei algumas fotos… de como era… e como estava quando entrei pela ultima vez lá… aquela pilha de caderno sujos na ultima foto é tudo que sobrou do meu lab.

Danilo Guarda
Aqui o Danilo e uma de suas amadas

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Aqui o que era o laboratório

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Aqui o que virou o lab

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Veja também a manchete comentada pelo Ciência à Bessa: Incêndio no Butantan Destroi Importante Coleção Zoológica
No blog do Luis Nassif um relato sobre a condição de outras coleções zoológicas, por Hugo Fernandes Ferreira

Evolução da consciência e direito animal – o debate

consciencia animal.jpg

Primata admirando seu reflexo

Aconteceu em São Paulo, na Livraria Cultura, dia 3 de maio de 2010, a palestra “Evolução da consciência e direito animal”. Consciência por si só já é o assunto mais espinhoso e difícil de debater, afinal sobram, e por isso mesmo faltam, definições só pra poder começar a conversa. E misturar a isto “direito animal”, é a mesma coisa que juntar nitroglicerina e um moleque do interior em época de festa junina. “Será que explode?!”
Organizada pelo escritório de advocacia do advogado Rubens Naves [adendo -difícil chamar advogado de doutor. Para mim doutor é quem tem doutorado, mas parece que D. Pedro Segundo estipulou o tal título para bacharéis em direito e eles adoram jogar isto na nossa cara], teve a presença ilustre de Cesar Ades, psicólogo que trabalha com etologia ou comportamento animal e o cientista mais gente boa dos trópicos; Sidarta Ribeiro, famoso neurocientista que foi o braço direito do mais famoso Nicolelis; eu (Zé ninguém) e mais uma porção de pessoas interessantes, alguns amigos e outros nem tanto; e um grupo organizado de um instituto de proteção dos animais.
(veja o prospecto com mais sobre os participantes aqui)
Tudo começou com uma explicação de porque raios um “adEvogado” tem que se meter em assuntos de animais. Naves já avisou que o escritório tem atuado em algumas causas relativas a direitos animais, e citou outros casos emblemáticos como a farra do boi no Paraná e problemas de saúde pública, as sempre presentes zoonoses. Ou seja, o direito tem q estar atento ao assunto sim.
Chegou a hora do bom velhinho falar, Cesar Ades. Como sempre cativou todo mundo com seu jeito moleque e deslumbrado perante a natureza e o comportamento animal. Lembrou que os animais sempre nos acompanharam durante nossa evolução, e que a própria definição do que é ser humano vem mudando conforme vai se entendendo mais o animal. E ele deu aqui vários exemplos de o quanto animais podem se sobressair em relação a nós, com chimpanzés mais rápidos que estudantes universitários [nenhuma novidade aqui], e até corvos resolvendo problemas que uma criança de 5 anos não resolveria [confesso que mesmo este blogueiro não teria resolvido a parada].
Veio então Sidarta tentar buscar as diferenças entre animais humanos e não-humanos. Tamanho de cérebro? Não, golfinhos e baleias tem cérebros maiores e passarinhos com cérebros minúsculos fazem coisas incríveis.
Comunicação? Não também. Animais conversam entre sim das mais diversas e sofisticadas formas.
Capacidade de entender símbolos? Hum…não. Macacos e pássaros podem entender símbolos se forem acostumados a tal.
Então por que “coisificamos”, ou utilizamos os animais como coisas? Bom, isso foi vantajoso pois foi o que nos trouxe até aqui: evoluimos puxados à charrete e comendo um bom bife. E além do mais fazemos a mesma coisificação com os próprios homens, como em Auschwitz. Sidarta conclui que não estaríamos aqui sem nos utilizar de animais (e homens), e que o problema do direito animal toca também o direito humano.
Começa o quebra-pau
Foi então que esquentou. As perguntas começaram inocentes, mas o grupo de proteção animal ficou com uma comichão na cadeira, se remexendo e falando alto. Deu pra perceber o nervosismo antes mesmo de eu entender que aquele grupo estava junto e sob a mesma causa.
Algumas coisas desse grupo me irritaram:
Acusaram o Sidarta de ter usado de ironia na apresentação para sacanear os defensores de animais que ele supostamente sabia que estariam lá. – Não procede. Não houve cinismo e acho que esse pessoal foi com pedras na mão. A atitude deixou isso mais claro.
Não argumentaram, só atacaram. Um dos adEvogados do grupo de defensores usou o brilhante e inédito argumento “e se fosse você sendo torturado para pesquisa em lugar do rato”, o que eu acho bem infantil para um doutor em direito.
Aí a coisa descambou. O Sidarta disse que fato é que mata animais profissionalmente, apesar de não gostar disso e compensar o fato dando um fim maior ao que faz, e enfatizando que a sociedade como um todo, democraticamente, lhe deu este direito.
Perguntou até quem mais matava animais profissionalmente e eu tive que levantar a mão, né (veja aqui o porquê).
[Se bem que se pensarmos bem, profissão é o que se faz por necessidade, se comemos por necessidade, todo mundo que come algum animal está matando profissionalmente, mas esse não foi o ponto levantado]
Na saída da palestra o grupo, que descobri ser do Instituto Nina Rosa, distribuiu CDs com um documentário sobre experimentação animal, que eu prometo assistir e contar pra você.
E é isso, meu amigo. Peço mais serenidade neste tipo de debate.
E para não pensarem que sou tendencioso, afinal eu uso animais no laboratório, veja aqui um relato do debate de uma advogada (o único comentários que achei sobre o debate até agora, inclusive olhando no site do Instituto Nina Rosa).

Greve na USP matará meus animais?!

greve11.jpgNão que a culpa seja dos funcionários da USP, que por um lado foram apunhalados pelas costas (até onde sei aboliram o RH do Instituto de Biociências e eles perderam plano de carreira e outras confusões), mas o que meus ratos tem a ver com isso eu não sei.
Contarei a história e você será o juiz.
camundongo sem pelo.jpgVou eu para a USP cuidar de meus ratinhos como faço duas vezes toda semana. Na verdade são camundongos pelados sem sistema imune, mas não entremos em detalhes agora.
Como eles não tem sistema imune, a água e a comida tem que ser esterilizadas, o que é feito numa mega panela de pressão chamada autoclave.
A autoclave do laboratório onde crio os bichinhos está quebrada a meses, já que o funcionário não tem tempo de consertar – erro 1. Então estou usando a autoclave geral, que só pode ser operada pelos funcionários do andar – erro 2.
Para minha agradável surpresa, tais funcionários estão em greve e não podem esterilizar a água dos meus ratos – erro fatal!
É aí que o pug torce o rabo: Eu vou passar o fim de semana do dia das mães inteiro sem saber como conseguir água para meus filhotes da próxima vez.
Calcule cada coisa com que os pesquisadores tem que se preocupar, além da pesquisa, é claro.
PS: Conte você também seu caso aqui nos comentários ou no twitter usando a tag #divãdapós

Pombas de mochila

pomba mochila gps.JPGVejam se não é a coisa mais fôfa! Ou pelo menos o mais próximo de fôfo que um bicho nojento como uma pomba pode ser.
Uma pomba de mochila e fazendo pose!

Mas pra que raios pesquisadores puseram mochilas em pombas? É que as mochilas levam um aparelinho de GPS, e assim eles podem rastrear a dinâmica das pombas enquanto elas voam em bandos.

Isso tudo pra responder perguntas intrigantes (mesmo que pra gente pareçam inúteis): porquê um bando de pombos muda de direção de repente? E porquê ele de repente pára e pousa ao mesmo tempo no mesmo lugar? Ou mesmo sem motivo aparente ele levanta vôo?

Esse estudo mostrou que existe uma hierarquia, e os integrantes do bando seguem o mestre. Mas essa dinâmica é complexa, com trocas de liderança durante o vôo e etc.

Mostrou também que os pombos que seguem não fazem isso por reflexo, mas ponderam e escollhem seguir o lider do momento. Isso porque a resposta na mudança de direção não é tão rápida como se fosse por reflexo, parece que rola uma pensadinha antes de mudar.

Outra coisa que essa sim me intrigou: Os animais menos graduados no grupo ficam sempre pra trás e a direita do líder, e parece que isto tem a ver com o cérebro dos pombos que, parecido com o nosso, tem o lado direito responsável pelas relações sociais. Como o lado direito do cérebro “vê” pelo olho esquerdo (também trocado como o nosso), os pombos menos ranqueados preferem ver os chefes como olho que está mais atento a sinais sociais. Que loucura!

Vi no Science Now

ResearchBlogging.org

Nagy M, Akos Z, Biro D, & Vicsek T (2010). Hierarchical group dynamics in pigeon flocks. Nature, 464 (7290), 890-3 PMID: 20376149

Donos de gatos são mais educados

Thumbnail image for gato inteligente.jpg
ResearchBlogging.orgA gente tem uma tendência bem comum de separar tudo em duas categorias pra classificar as pessoas, como se tudo pudesse ser dividido em duas posições ou gostos quase sempre antagônicos: desde os clássicos como bons ou maus, pecadores ou santos, vinho ou cerveja e homens ou ratos; até os mais contemporâneos, como corinthian ou os outros, Jonh Lennon ou Paul Mccartney, coca ou pepsi, etc.

Vou focar em uma dessas dualidades bem intuitívas: quem ama cães ou ama gatos.
Normalmente esse povo não se mistura mesmo. Não estou dizendo que não tenha quem goste dos dois, mas gostar não é amar. Quem AMA um geralemente não AMA o outro.
Talvez isto tenha a ver com a personalidade das espécies e dos donos.

Mas é agora que o pug torce o rabo: Em uma pesquisa no Reino Unido, donos de gatos são mais educados que donos de cães!

Calma, por que esta frase pode ter várias interpretações. Mas eu já explico.

Não é que os donos dos totós comem de boca aberta ou enfiam o dedo no nariz em público. Nem é o fato de largarem montículos de esterco por onde passam com suas crias (se bem que isto é um fato, mas não quer dizer que se gatos gostassem de coleiras seus donos não fariam o mesmo).

É simplesmente que os donos de gatos têm maior grau de escolaridade que os donos de cães. E isso também não quer dizer que eles seja mais inteligentes! Q.I. não é diretamente ligado a escolaridade, lembre-se sempre disso.

gata-comendo-cacto.jpgUma das explicações é que quem faz faculdade ou pós-graudação tem menos tempo de cuidar de coisas que demandam comida, carinho e cuidado, tais como cães, samambaias e namoradas.
Já gatos vivem por si só, e na falta de comida comem cactos. Hábito este que já demonstra o quanto que esses bichanos durões comedores de espinhos exigem de carinho: ZERO!
Não que não gostem, mas não PRECISAM dele como os totós (e as namoradas).

Só uma coisinha, pra não deixar os donos de bichanos tão excitados consigo mesmos: Gatos são menos inteligentes que cães segundo um estudo que mostrou que mesmo depois de ver a comida ligada a uma cordinha eles não conseguiam entender qual cordinha puxar para ganhar a comida. Os cães fazem isso. Se bem que eles se saem melhor que chimpanzés em alguns casos, então tudo isso de inteligência é muito relativo.

Bom, voltando às dualidades, fico na categoria dos que gostam de uma ‘impossível’ terceira opção: kuat, vodka, George e tenho um gerbil.

Fonte: Telegraph

Murray JK, Browne WJ, Roberts MA, Whitmarsh A, & Gruffydd-Jones TJ (2010). Number and ownership profiles of cats and dogs in the UK. The Veterinary record, 166 (6), 163-8 PMID: 20139379

Para saber sobre a domesticação (ou não) dos gatos veja no ótimo blog Sinantrópica

PS 1: Quando eu escrevo “a gente” ou “nós” estou usando do estilo para me posicionar mais próximo do leitor. Além disso estou considerando que estou sendo lido por outro ser humano, o que, é claro, pode não ser totalmente verdade (sim, eu sou um ser humano para quem tinha dúvidas). Mas se for humano o suficiente para entender o bom e velho português, tão maltratado por mim, já me vale.

PS 2: Eu não copiei o começo do texto de onde tirei a imagem do topo do post. Isso foi só uma prova de que Campos Mórficos existem ou da minha total falta de criatividade.

Pai come filho para engravidar de outra. Chama o Datena!

[Datena mode on] Isso é um absurdo! Cadê as autoridades? O cara engravida e mata as crias pra engravidar da outra?! E ainda por cima COMEU os filhotes pra sustentar a nova ninhada! Isso não é um ser humano! PÕE NA TELA! [Datena mode off]
datena.jpg
ResearchBlogging.orgFamílias ‘normais’ já são problemáticas e difíceis de entender. Acontece de tudo (para ter uma leve noção é só assistir os noticiários policiais-sanguinolentos do Datena onde a mãe corta o pênis do pai por ter espancado o filho, estuprado a filha, chutado o cachorro e fugido com a irmã do cunhado do primo-irmão).
Agora imaginem a confusão quando o pai é a mãe, e a mãe é o pai, e quem engravida é o pai e a mãe é que tem que escolher o pai… Nossa, complexo.
Ainda bem que isso de papai grávido só acontece muito raramente e não em gente, mas em peixes (esqueçam aquele filme Júnior do Arnold Schwarzenegger em que ele fica grávido. Até hoje sou traumatizado com a cena que aparece o bebê com a cara do ‘Governator’, blargh).
Nesses peixinhos descobriram que as relações familiares são problemáticas. PÕE NA TELA!
Qual seria a vantagem do pai de incubar os filhotes? Sim, porque geralmente (muitos exemplos em todo mundo animal) o homem não quer muito compromisso, afinal ele pode engravidar várias mulheres gastando muitas vezes só um xaveco barato, e é a mulher que tem que arcar com todo o gasto do óvulo, enjôos da gravidez, etc. Por isso elas costumam ser mais seletivas, e acabam sendo elas que realmente escolhem o parceiro mais interessante (ícone disso é a Luciana Gimenez).
Mas o que acontece quando o macho é quem tem um gasto maior ficando grávido? Primeiro que é ele quem escolhe a fêmea, e pros peixes do estudo tamanho é documento, e eles preferem as fêmeas maiores. Outra coisa é que isso divide a responsabilidade.
Que fofo, então a mamãe entra com um óvulo cheio de nutrientes e os machos cuidam deles até a eclosão, dividindo assim as despesas.
Seria fofo se não fosse a dura realidade: os pais acabam tomando o poder da relação e eles passam a controlar quais crias vão ou não vão vingar. Se cruzar com uma fêmea grande, ele investe na cria e ela vai bem. Se a fêmea não é assim uma Angelina Jolie, ele investe menos ou até mesmo come (ou melhor, absorve) os óvulos pra gastar essa energia com uma fêmea melhor. Chama o Datena!!!!
Assim, o que parece um ato de caridade e igualdade entre machos e fêmeas é na verdade um conflito sexual viceral.
Mas no fim isso é bom para a espécie, que acaba selecionando e investindo numa característica que é importante para ela.
Paczolt, K., & Jones, A. (2010). Post-copulatory sexual selection and sexual conflict in the evolution of male pregnancy Nature, 464 (7287), 401-404 DOI: 10.1038/nature08861

Melhor que ficar brilhando é ficar da cor que precisar, quando precisar, viu, Avatar?!

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Aproveitando que minha veia artística está acelerada, compartilho com vocês um vídeo de um dos animais que mais me impressionam, os camaleões.

Existem cerca de 160 espécies em todo o mundo, mas poucas pessoas sabem que nem todas são capazes de mudar de cor. O registro fóssil mostra estes lagartos adaptados para escalada e caça visual habitam a Terra há pelo menos 26 milhões de anos (com desconfiança que possam ser tão antigos quanto 100 milhões de anos).

Mas, voltando ao assunto, a primeira pergunta quando o assunto é “camaleões” é: como eles conseguem essas mudanças de cor?

Vocês sabiam que a pele dos camaleões é transparente? Pois é, as células responsáveis por sua coloração, chamadas cromatóforos, ficam abaixo dessa primeira camada de pele, e são altamente especializadas.

As células da camada superior são chamadas xantóforos (pigmento amarelo) e eritróforos (pigmento vermelho). Logo abaixo estão os iridóforos (ou guanóforos), que contém guanina, uma substância de aparência cristalina que reflete a parte azul da luz incidente. Se a camada superior de células aparecer principalmente amarela, a luz refletida se torna verde (azul + amarelo, lembram das aulinhas de Educação Artística?). Ainda há uma camada de melanina (pigmentação escura que dá nosso tom de pele e nos protege contra o ultravioleta – UV – da radiação solar) numa camada ainda mais profunda nas células refletoras, influenciando na intensidade da luz refletida.

Explicações dadas, vamos ao resultado de toda essa coordenação celular, que, afinal, é o motivo de eu ter escrito esse pequeno texto:

Querem uma curiosidade antes de terminar? Ao contrário do que se pensa, os camaleões
normalmente alteram sua cor em função do estado comportamental em que
se encontram. As mudanças são
também um tipo de indicador social para seus semelhantes, e há pesquisas que sugerem que a pressão inicial para evolução do sistema
cores tenha sido a sinalização social, e que os métodos de camuflagem
tenham sido um efeito secundário.

Vi (e PIREI) na Chamaleonshops
Imagem do início do texto à venda na iStockphoto (que tem uma quantidade impressionante de fotos lindas desses animais malucos)

Pro final, deixo uma pergunta: e aí, @kenmori e @Efarsas, esse vídeo é real?!

***UPDATE: o Gilmar do www.e-farsas.com é um cara muito rápido e já me avisou que o vídeo é falso. Aproveitem e vejam mais “causos” como esse no site!