Neurocientistas colocam mente de pessoa no corpo de outra

Cientista louco faz troca de cérebros em episódio da série Chapolin Colorado
Ainda não é uma troca de cérebros ao estilo Chapolin, mas já é um avanço. Neurocientistas do Instituto Karolinska, Suécia, conseguiram iludir os sentidos de dezenas de voluntários, fazendo com que tivessem a sensação de trocar de corpo com um manequim ou uma outra pessoa. A pesquisa foi apresentada em um congresso cientifico mês passado e será publicada amanhã no periódico PLoS ONE (artigo disponível aqui, a partir de amanhã).

Os pesquisadores concluem no artigo que é possível criar na mente de uma pessoa a sensação de possuir um corpo que não é o dela, por meio de uma combinação de estímulos visuais e táteis que simulam uma perspectiva em primeira pessoa. Essa conclusão desafia o senso comum de que percebemos o corpo inteiro somente pelos sinais nervosos que o cérebro recebe diretamente de nossos músculos, juntas e pele.

Parece óbvio sentir nosso próprio corpo como sendo nosso, mas pessoas com danos em certas regiões do cérebro, por exemplo, não percebem seus braços ou mãos como parte de seu corpo, ou têm a sensação de estarem fora do corpo.

Em 1998, pesquisadores norte-americanos fizeram uma experiência semelhante, com uma mão de borracha (veja o artigo publicado na Nature, aqui). Um voluntário observava a mão de borracha sendo tocada, enquanto sua própria mão, escondida de seu campo de visão, era tocada do mesmo jeito. Durante a experiência, o voluntário às vezes tinha a sensação de que podia sentir a mão de borracha. Essa e outras experiências sugeriram que a sensação de que partes do nosso corpo são mesmo parte dele é construída pela interação entre os sinais que chegam ao cérebro vindos dos olhos e daquela parte do corpo.

Agora, o trabalho sueco é o primeiro desse tipo a testar a sensação não de partes, mas de um corpo inteiro.

Em uma das experiências, sentida na pele por um repórter da Associated Press (vejam aqui, traduzido e com fotos), duas câmeras de vídeo são conectadas nos olhos de um manequim, apontadas para baixo. A imagem dessas câmeras é vista pelo cobaia voluntário em telas em seus óculos, fazendo com que enxerge pelos olhos do manequim, de modo que, quando ele olha para baixo, em vez de ver seu corpo, vê o do manequim . A ilusão de troca de corpos acontece quando quando o cientista toca a barriga de ambos ao mesmo tempo.

Cédito: doi:10.1371/journal.pone.0003832.g006Cédito: Petkova VI, Ehrsson HH (2008) If I Were You: Perceptual Illusion of Body Swapping. PLoS ONE 3(12): e3832. doi:10.1371/journal.pone.0003832

Em outra experiência (foto acima), a câmera foi montada na cabeça de outra pessoa. Quando essa pessoa e o voluntário se voltavam um para o outro para apertar as mãos, o voluntário se sentia no corpo do portador da câmera. Durante o apérto de mão, o voluntário sentia a mão da outra pessoa em ve z de sua própria!

Para ter uma noção da intensidade da ilusão, os voluntários sentiam medo quando uma faca era enconstada no braço do portador da câmera , mas não quando era encostada em seu prórpio corpo!

A ilusão funcionou mesmo quando as duas pessoas tinham aparência ou sexo difrente, ou quando eram manequins, mas nunca com objetos sem forma humana, como uma cadeira ou uma caixa.

Os pesquisadores sugerem no artigo que suas conclusões podem ajudar a aperfeiçoar o controle de robôs por realidade virtual. Já a reportagem sobre o assunto no New York Times de hoje enfatiza a aplicação em psicoterapia. Membros de um casal em crise, por exemplo, poderiam trocar de corpo para se entender melhor…

(P.S. : Obrigado, Jennifer!)

Discussão - 7 comentários

  1. Sensacional! Vou ler a reportagem sobre terapia!

  2. João Carlos disse:

    “Se eu fosse você”, versão "acadêmica"... 😉 Sem piadas, vejam como é fácil enganar a mente consciente.

  3. Leo-Kun disse:

    Queria saber o ponto de vista espírita ou metafísico disso. Essa experiência me parece puramente sensorial. Não acho que a ciência seria capaz de trabalhar com a parte espiritual ou algo assim.
    P.S.: Perdão pelo ponto de vista espírita, mas eu acredito em algumas das teorias espíritas que conheço, então seria acho que seria bom analisar esta experiência deste modo.

  4. Rafael [RNAm] disse:

    Pois é. Essa experiência mostra que no mínimo devemos considerar com muita cautela este tipo de experiência "espiritual". Afinal como saber se não são apenas nossas sensações nos pregando uma peça?

  5. Rafael [RNAm] disse:

    Psicoterapia de casais, hein... E esse troço vai me fazer sentir em TPM também? Não!? Então eu acho que não vai funcionar pra esse caso.

  6. Yoshiaki Hotta disse:

    Creio que nao existe nada espiritual, metafisico ou transcendental no experimento. Como foi dito, parece-me uma experiencia puramente sensorial.
    Talvez o principal ponto seja a capacidade de empatia do ser humano com um outro humano (ou humanoide).

  7. Laryssa disse:

    Onde eu acho pessoas qe podem me ajudar com um problema tipo uma "troca de corpo", mais com quem eu devia eu falar? :S:S' me ajudem ! Ja fui em um centro espirita nao adiantou muita coisa, procuro alguem que me explique bem isso e uma resposta concreta ! Obrigada (:

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