>Professora, qual a resposta certa?

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Um causo que eu ouvi esses dias: uma professora, no desejo de envolver um dos seus alunos em uma pesquisa que está realizando, pediu que ele usasse seu novo, recém-nascido, ultra-rápido código computacional para simular algo que ela tinha feito com um código mais antigo, mais lento, mas que já tinha se mostrado bem sucedido em outras situações. Os resultados são virtualmente idênticos, a menos de um ponto no qual o código do aluno fornece um valor diferente e não esperado do ponto de vista físico. 
A conclusão da professora: o código do aluno ainda tem algum probleminha.

A resposta do aluno: “Como você sabe que o seu resultado é o correto?! Como você pode ter certeza que não é o seu código que está errado?”
Na resposta da professora reside uma das faces mais belas e fascinantes da pesquisa científica: 
“Não sei”
Em pesquisa científica não há uma resposta certa. Muitas vezes, de fato, a gente nem sabe se a pergunta que fez está correta. E isso é fascinante. Um salto dentro do desconhecido. Escuro e silencioso, mas definitivamente cheio de coisas novas para se tocar, cheirar, conhecer, descobrir. Literalmente, fazer pesquisa é levar ao fim e ao cabo o lema da série Jornada nas Estrelas: “audaciosamente ir onde nenhum homem jamais esteve”. 
Sob essa óptica, publicar um paper, dar uma palestra sobre novos resultados, enfim, divulgar o que se descobre, seja no laboratório, seja numa simulação computacional, é um ato de coragem e tanto, é dar a “cara a tapa”. Sempre. Simplesmente porque é impossível dizer que aquela resposta é a correta. No máximo, é a melhor resposta naquele momento, baseada nos conhecimentos existentes naquela época e tudo sob as condições específicas nas quais a pergunta foi feita. E salve-se quem puder!
Olhando assim, parece até que o edifício da ciência é de gelatina: construído sobre bases pouco sólidas e que vai tremer ao menor toque, afinal ninguém tem absoluta certeza de nada. 

Mas aí uma outra característica essencial à ciência salta aos olhos: ela é auto-consistente e auto-corretiva. Trocando em miúdos: cada novo tijolinho no edifício do conhecimento é colocado com argamassa ligando-o ao(s) anterior(es), seja para sedimentá-los, seja para “dar prumo” para algo que vinha torto. Mas o mais importante: sobe-se um degrau e só é possível subir esse degrau porque o anterior estava lá. E quanto mais degraus se sobe, mais se corrige o que estava errado e/ou mais se sedimenta (confirma/tem-se certeza/acredita-se) no que estava certo. O que vale é sempre continuar subindo.  Veio à mente de alguém aí: “Se enxerguei longe, foi porque me apoiei nos ombros de gigantes“? Pois é.

Para arrematar este post, que já está ficando muito longo, uma situação bem corriqueira, pelo menos em cursos de graduação de ciências: alunos “bons de prova”, aqueles com as melhores notas, que sabem fazer/reproduzir todos os exercícios do livro, nem sempre (quase nunca) se tornam os melhores pesquisadores. Normalmente são esses os alunos que sabem “a resposta certa” para as perguntas dos professores mas que ao se depararem com perguntas sem resposta, ou mesmo tendo que formular as próprias perguntas, não se saem tão bem. Coincidência?

Discussão - 3 comentários

  1. Lucinda disse:

    >Adorei seu post, as pessoas sempre esquecem que a ciência e o conhecimento também evoluem.

  2. Rita de Cássia disse:

    >Amei, sua mãe fez a propaganda, vim visitar e literalmente amei. Parabéns!!!

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