O bom filho à casa torna… ou não?
Se você andou aqui pelo blog nos últimos tempos, sabe que eu estou me preparando pra um dois concursos no lugar onde fiz o mestrado e o doutorado. É o meu segundo concurso e o segundo no mesmo lugar, de onde facilmente depreende-se que eu quero voltar pro lugar onde me formei (sim, nesse caso doutorado, e NÃO graduação, é sinônimo de formação).
Verdade. Mas apenas em parte. Eu ando me perguntado, desde há algum tempo, o que é o certo a se fazer. Voltar pra “casa”? Ou fazer morada em outro lugar? É óbvio que há uma infinidade de fatores envolvidos nessa decisão, não apenas profissionais, mas pessoais também. É óbvio que nenhuma decisão nesse caso é pétrea: pode sempre mudar. Mas o certo é que não sei bem o que fazer e muito menos (e talvez o mais importante) o que é o melhor a se fazer.
Aqui na Alemanha, por exemplo, a dinâmica do sistema é extremamente diferente: você nunca (ou quase nunca) se tornará professor no lugar onde se formou. É preciso mudar para subir na carreira. Mesmo professores estabelecidos precisam receber propostas de emprego melhores e mudar de cidade (carregando o grupo todo junto) para subir na carreira. No Brasil, eu acho que não existe essa “regra não escrita”: as universidades contratarão quem melhor se sair no concurso aberto para a vaga, independente mente (quase sempre) de o candidato ter se formado ali ou não.
Você o que acha? Já passou por isso? Como se decidiu? Quais os fatores mais importantes a serem levados em conta? Abaixo, pra motivar a discussão e por que eu também acho que deve haver “uns par” de gente na mesma situação que eu, coloco os diversos prós e contras de voltar, do ponto de vista profissional.
Prós:
- o lugar onde me formei tem uma estrutura de apoio fantástica
- é disparado o melhor grupo do Brasil na minha área
- a verba é farta
- o instituto como um todo é grande, muitas possibilidades de colaboração
- eu conheço a maioria das pessoas do grupo
Contras:
- eu conheço a maioria das pessoas do grupo
- há o risco de ficar à sombra do pesquisador líder, um físico conhecido e consagrado
- a estrutura do lugar está montada, dificilmente eu conseguiria deixar uma marca num sentido mais amplo
- o instituto como um todo é grande, muitas possibilidades de “sumir na multidão”
- hábitos/culturas erradas são mais difíceis de serem mudadas num grupo grande e estabelecido
É só isso? Claro que não, mas estes são alguns dos fatores que me vieram à cabeça imediatamente ao escrever esse post. Deixe aí nos comentários o seu pensamento sobre isso.
Discussão - 12 comentários
Não volte pra casa porque a sua "casa" não é mais lá. É como voltar com uma ex-namorada após anos de separação. É como voltar a viver com os pais. Poucos entendem o que isso realmente representa. Você precisa seguir a sua vida. Montar a sua própria "casa", profissionalmente falando. O mundo é muito grande. As possibilidades estão na sua frente. Vá para Singapura, China, EUA, África, Oriente Médio, etc. Detaque-se em todos os lugares. Nunca volte para casa*.
* Volte só de visita 🙂
Ei Vitor, adorei o que você falou. Por mim, eles nem voltariam pro Brasil. Montavam casa até encima de uma árvore, mas também em outro local que não aqui... Razões óbvias...
Oi Vitor. Fato: nunca voltaria a morar com meus pais. E vejo possíveis conflitos em voltar a trabalhar onde já trabalhei. Por outro lado, faz mais de 10 anos que o Brasil me financia (desde 1999 com exceção dos últimos 2 anos). Acho justo "devolver", produzindo no Brasil ciência de qualidade. E a minha antiga casa é um bom lugar pra fazer isso. E de mais a mais, faz 3 anos que estou fora: não sei medir o quanto ainda sou "de casa" e o quanto consigo me impor como alguém novo. Obrigado pelo comentário e volte sempre.
Sabe, Peiel, no meu tempo não havia concurso para professor. Eles convidavam as pessoas melhores da área. E pagavam por isso dando auxilio moradia ou apartamento montado, bom salário. Para progredir você fazia livre-docência ou doutorado. As vezes era analisada a vida acadÊmica, pelos trabalhos publicados, pelo reconhecimento no meio universitário, na falta de um doutorado.
Digo a você que fico com os prós. Preferiria estar num meio bom, onde pudesse progredir junto com o grupo a ficar num meio medíocre onde eu aparecesse muito mediocremente...
O que vale mais para mim é o dia a dia. A gostosura de saber que estou fazendo um bom trabalho, progredindo nesse trabalho, que sou respeitado dentro do grupo como pessoa e como pesquisadora.
Voilà. Por mim, você ficaria no melhor lugar. Em São Carlos. E não viria para Fortaleza, nem amarrada...
Amo vocês, Tia.
Oi Tia Lise! Obrigado por passar por aqui. Fortaleza só de férias! Não há nem cogitação de ser diferente. São Carlos é a dúvida deste post. Precisamos voltar pro Brasil, nos estabelecer. E São Carlos tem prós fortes profissionalmente, mas também familiares. 🙂
O desafio, caso volte pra lá, será me impor como pesquisador independente. Veremos. Um beijo!
Primo, concordo com você! Casa nova, novos desafios!!! Acredito que daria a você uma nova perspectiva de crescimento pessoal e profissional!!
Um grande abraço!
Emannuel,
li hoje cedo uma reportagem aonde cientistas conseguiram desviar um feixe de raios gama por meio de dois cristais de silicio! Segundo a reportagem, foi em conjunto com cientistas de Laue-Lavegin (França) e Luwdigs-Maximilians (Monique) Você participou deste trabalho? Achei o máximo!
Oi André. Não. Eu não faço nada que saia na mídia... Não que não quisesse... 😉
Oie!
Acho que a dúvida não é voltar pra casa ou nao, isso é o de menos, acho q vc tem q se preocupar com o q te fará feliz, é isso q importa!
Tem gente q não precisa se destacar na multidão pra ser feliz, tem gente q só pelo fato de estar fora do Brasil já é o suficiente e tem gente q tem a necessidade de ser melhor sempre, nao importa onde, então a pergunta é onde vc vai ser feliz e nao se deve ou nao voltar pra casa...
hehehe, q esotérico, né? Mas eu acho q a gente tem q ir onde achamos q está a nossa felicidade, simples assim!
Oi Claudia! De fato, no fundo no fundo o que vale é estar satisfeito, feliz onde estiver. Talvez eu devesse mudar a pergunta pra o que me fará feliz profissionalmente, não? Obrigado por passar por aqui! Um abraço.
Oi Emanuel,
Adorei o blog!
Fiquei com suas inquietações na cabeça, e agora consegui formalizar mais ou menos meu pensamento:
Memorial: quando meu orientador escreveu o memorial dele, para fins de titulação, ele me pediu para eu ler, porque ele me citava em uma passagem e também porque ele queria mais uma revisão antes da entrega. pois bem, lá ele contava exatamente o mesmo receio que você tem. Ele era professor na Unesp e tinha a chance de vir para USP. Um professor dele deu o exemplo de um jogador do interior,que era titular e bem sucedido no time pequeno e que foi pra capital, jogar num time grande e acabou sendo apagado diante dos outros bem sucedidos jogadores.
Meu orientador não deu bola para a parábola, e hoje eh um professor renomado, campeão de publicações - Júlio Groppa Aquino.
No universo cada estrela brilha, sem uma encobrir a outra. O que muda êh para quem elas brilham. E o ponto de vista de quem as enxerga eh que define a intensidade do brilho.
Na sua balança de pros e contras eu vi uma lista de pros e só um contra, já que você lista vários elementos de um mesmo aspecto: o receio de perder o brilho frente a estrela maior.
Talvez esse ponto deva ser relativizado. Tenho lido muito sobre desenvolvimento profissional no século XXI e a tônica êh o trabalho em grupo. Hoje êh quase impossível brilhar sozinho. Se você pode contar com um bom grupo e com uma boa infra-estrutura, acredito que esse êh o universo de que você precisa para continuar brilhando.
E o mundo já êh a sua casa. Singapura, Nova York ou Nairobi ficam logo ali, alias estão aqui sob nossos dedos. Vá para onde você se sinta bem, e retribuir para o pais que te financiou parece ser um bom jeito de dormir em paz!
Brilhar para sempre
Brilhar como um farol
Brilhar com brilho eterno.
Gente eh pra brilhar
Esse e meu lema e do sol
Paulo Leminsky
Bjs,
Ps ainda não sei escrever o acento do e no meu teclado....
Oi Lu! Obrigado pela visita, pelo comentário e conselhos! Vou guardá-los com carinho! Um beijo grande!