Arquivo da categoria: Dinossauros

>Eodromaeus, um novo dino basal da Argentina e Eoraptor, um Sauropodomorpha

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Reconstituição de Eodromaeus por Todd Marshall.
A última década tem experimentado uma renascença no estudo dos dinossauros basais e, recentemente, vários deles têm sido descritos, tanto para América do Norte, como América do Sul (Veja síntese de Langer et al., 2010 e Brusatte et al., 2010): o brasileiro Saturnalia, o Saurischia sauropodomorfo Panphagia, ChromogosaurusSanjuansaurus e o recém-descoberto terópode basal, Tawa. A parte disso, uma série de redescrições, reanalíses e trabalhos de filogenia também têm sido feitos, como aqueles de Chindesaurus, Staurikosaurus e Pisanosaurus. Parece ser um momento promissor para os estudiosos da origem e evolução dos dinossauros…

Esta semana na Science, Martinez e colaboradores vieram descrever mais uma figurinha para este álbum: Eodromaeus murphi, da Formação Ischigualasto, Triássico da Argentina. 


Com boa parte de seu esqueleto preservado, sendo que pelo menos 6 espécimes foram encontrados – todos incompletos – , o animal era pequeno e não devia passar dos dois metros de comprimento. Seu crânio era leve e tinha o número de dentes reduzido em comparação com outros dinossauros primitivos, mas curvados e serrilhados, bem característicos daqueles dos dinos carnívoros.

As análises filogenéticas realizadas por Martinez e colaboradores colocaram este novo dinossauro num posicionamento basal dentro do agrupamento dos chamados dinossauros terópodes (que incluem todos os dinos carnívoros). Eodromaeus representaria um  grupo irmão de Neotheropoda e os primitivos herrerassaurídeos. Este status era ocupado antes por Tawa, que com a nova descoberta, foi realocado para dentro dos Neotheropoda.


O que mais chamou atenção nesse trabalho, no entanto, é a recuperação que os autores fizeram de Eoraptor lunensis Rogers & Monetta 1993 em suas análises filogenéticas. Este dinossauro posicionou-se como um Eusaurischia, stem-sauropodomorpha, em politomia com Panphagia e Saturnalia (Saturnaliine, de acordo com Ezcurra, 2010). Sim, o grupo que eventualmente daria origem aos imensos herbívoros saurópodes! Este posicionamento já fora apontado antes por Martinez e Alcobar (2009), mas é a primeira vez que ganha suporte de uma análise filogenética.

Crânio de Eoraptor sendo preparado, Foto de Louie Psihoyos.

Crânio de Eoraptor lunensis, por Digimorph.

Este novo trabalho sem dúvida irá causar um bom debate entre os estudiosos de dinos basais, especialmente considerando-se questões como amostragem de taxa e inclusão de caracteres. Martinez e colaboradores não consideraram vários taxa que entenderam como incompletos ou muito pouco conhecidos.  Esta se trata de uma matrix atualizada do trabalho de Sereno (1999) e não utiliza muitos caracteres observados em outros estudos como os de Langer e Benton (2006), Ezcurra (2006) e Nebsitt e colaboradores (2009). É difícil querer comparar trabalhos que apresentam tantas diferenças no conjunto de dados utilizados.

De qualquer forma, se Eoraptor for de fato um Sauropodomorpha basal, isto é de grande interesse, pois nos aproxima de vislumbrar como teria sido o ancestral comum entre terópodes (grupo que inclui todos os dinos carnívoros) e sauropodomorfos (grupo que daria origem aos gigantes herbívoros de pescoço longo). É importante lembrar, que esta nova interpretação de Eoraptor é somente uma hipótese. Há a demanda de novas investigações, análises e descobertas para determinar realmente qual era a natureza desse animal.

Comparativamente, os dentes de Eoraptor teriam um formato diferenciado e seriam mais bem adaptados
para uma dieta variada, provavelmente onívora e talvez com consumo regular de plantas. Diferente da dentição encontrada em Eodromaeus, apropriada para uma alimentação estritamente carnívora.

Os pesquisadores por trás deste estudo fazem ainda outras observações interessantes em seu artigo, como sobre o padrão evolutivo dos dinossauros basais ao longo do Triássico. Para ler mais sobre isso visitem o site da Science… que infelizmente não disponibiliza seus artigos livremente… :

Martinez, R., Sereno, P., Alcober, O., Colombi, C., Renne, P., Montanez, I., & Currie, B. (2011). A Basal Dinosaur from the Dawn of the Dinosaur Era in Southwestern Pangaea Science, 331 (6014), 206-210 DOI: 10.1126/science.1198467


Outras referências fundamentais:


Brusatte et al., 2010. The origin and early radiation of dinosaurs. Earth-Science Reviews, 101 (1-2): 68-100.
Langer et al., 2010. The origin and early evolution of dinosaurs. Biological Reviews, 85: 55-110.

>Dinossauros Emplumados: A Origem das Aves II

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Este breve artigo procura dar continuidade à história que começamos a contar neste post aqui. A idéia era discorrer sobre a biografia de alguns importantes grupos de dinossauros terópodes, que ajudaram a lançar luz sobre o estudo da evolução das Aves. Para compreender a evolução desses animais, primeiro nós precisamos investigar e aprender mais sobre os principais grupos de dinossauros proximamente relacionados a elas. O foco da narrativa, então, serão os dinossauros coelurossauros.

Os Coelurosauria são um ramo basal dentro do agrupamento dos dinossauros terópodes (dinossauros bípedes que incluem todos aqueles predadores e algumas curiosas famílias de hábitos herbívoros ou onívoros). O nome refere-se à natureza ‘oca’ das vértebras desses animais, e significa, literalmente, “lagarto oco”. Foi dentro deste clado que ocorreu um dos mais fantásticos eventos evolucionários da história dos vertebrados terrestres: A evolução das aves. Ainda que haja alguma controvérsia sobre qual família dinossauriana teria dado origem às aves modernas, é bem consolidado que ela teria pertencido a esse grupo.

No primeiro post sobre “A Origem das Aves” discorremos brevemente sobre a linhagem dos poderosos tiranossauros (aqui), que formariam o grupo mais basal dentro de Coelurosauria. Já no post de hoje, abordaremos um pouco sobre a história dos Ornithomimosauria, os dinossauros que “imitavam aves”.


Figura 1. Cladograma evidenciando as relações evolutivas entre os vários grupos de Coelurosauria. Por Thomas Holz.

Em meados da década de 1980, Jacques Gauthier, então paleontólogo de vertebrados e sistemata na Universidade da Califórnia, Berkeley, identificou em um grupo de dinossauros predadores (terópodes) uma característica que até então era considerada como exclusiva das aves: Penas! Gauthier, entusiasmado, logo inseriu esse novo e importante dado em suas análises filogenéticas. Foi a partir de então, que seu trabalho começou a consolidar àquela que seria conhecida como a hipótese ave-dinossauro. Esta hipótese logo obscureceu as outras menos robustas sobre a origem das aves. Hoje, podemos dizer que a evolução das aves a partir dos dinossauros é uma das mais aceitas e incontestáveis hipóteses dentro do estudos sobre a evolução dos vertebrados. Há um forte apoio dado por um conjunto de caracteres anatômicos peculiares encontrados somente em aves e alguns dinossauros terópodes. Estas características definem não apenas o padrão de evolução do esqueleto entre as aves e dinossauros, mas também abrangem um conjunto de características fisiológicas semelhantes (isto é passível de teste em aves e répteis modernos), que revelam as etapas de transformação de um dinossauro corredor até um pássaro capaz de vôo ativo.

Ornithomimosauria: “Os lagartos que imitavam aves”


Figura 2. Ilustração de Peter Schouten – Grupo de Ornithomimosauria


“De fato, as comparações entre este dinossauro e um avestruz, em vários aspectos de sua anatomia, são tão impressionantes que ele é freqüentemente referido como “o dinossauro mímico de avestruz””. 

Edwin Colbert, 1969, em “Evolution of the Vertebrates“, página 201.

Os ornitomimossauros são melhor entendidos quando os imaginamos como uma “versão esportiva” dos dinossauros. Construídos para velocidade, eles eram um grupo de terópodes cuja vida deveria ser muito semelhante àquela das aves ratitas atuais (como os avestruzes, emas e casuares). Eles deveriam, em sua maioria, ser onívoros (apesar de um deles ter sido encontrado com seu conteúdo estomacal preservado indicando uma dieta herbívora – Sinornithomimus) e essencialmente sociais.

Recentemente, a descoberta de membros bastante primitivos desse grupo ajudou a compreender melhor como se deu a evolução e radiação desses animais. Hoje eles são considerados basais dentro da linhagem dos terópodes, e estão colocados entre celurossauros primitivos e o grupo mais derivado destes,  que inclui os chamados  “maniraptores” (e.g. terezinossauros, alvarezssauros, ovirraptorossauros, tro
odontídeos, dromeossauros e aves) (Figura 1).

O primeiro fóssil de ornitomimossauro foi encontrado em 1889 por George Cannon, em rochas de idade cretácica no Estado do Colorado, Estados Unidos. Charles Othniel Marsh nomeou os fragmentos encontrados – pertencentes à membros posteriores de um animal adulto–  como Ornithomimus, significando “o mímico de ave”, já que os considerou muito semelhantes à ossos dos pés de aves atuais. 

Figura 3. Gallimimus – Ilustração de Peter Schouten.

Foi somente em 1917, no entanto, que um esqueleto relativamente completo desses animais foi encontrado e a sua anatomia pode ser melhor investigada. Lawrence Lambe foi quem encontrou os restos parciais expostos nos afloramentos de Alberta, mas foi Henry Fairfield Osborn que os nomeou como Struthiomimus, “o mímico de avestruz”. Osborn perceptivamente observou que este dinossauro possuía muitas similaridades à ave ratita atual.

A mais significante série de descobertas de ornitomimossauros, todavia, veio somente a partir da década de 1960, com as expedições poloneso-mongóis e na década de 1990 por meio de sítios recém descobertos na Espanha e na China.

Tudo indicava que estes animais eram construídos para correr rápido. Tratavam-se de velocistas. Possuíam uma cauda longa, horizontal e rígida, pernas alongadas e uma constituição leve, com cabeça pequena e pescoço grácil e alongado. Trilhas de pegadas fossilizadas atribuídas à ornitomimossauros sugerem que estes animais poderiam alcançar velocidades acima de 57km/h, tornando-os os mais rápidos de todos os dinossauros conhecidos, tão velozes quanto cavalos de corrida.

Figura 4. Esqueleto quase completo de ornitomimídeo.

O membro mais primitivo desse grupo é Pelecanimimus, encontrado no famoso depósito de Las Hoyas, Espanha, do início do Cretáceo. Pelecanimimus  (“mímico de pelicano”) é, por enquanto, o único membro deste grupo a apresentar numerosos e pequeninos dentes sem serrilha em suas mandíbulas (cerca de 220 no total). Apenas poucos outros ornitomimossauros também possuem dentes como característica, e estes em geral os possuem restritos à parte frontal do rostro somente (e.g. como Shenzhosaurus de Shenzhou, província de Lioning, na China, e Harpymimus de Dundgov, na Mongólia). O restante dos ornitomimossauros não possuem dentes, mas sim bicos bem desenvolvidos. Algumas formas (Shenzhosaurus e Sinornithomimus por exemplo) foram encontradas com pequenos pedregulhos, denominados gastrólitos, em seus estômagos. Estes pedregulhos eram provavelmente utilizados para ajudar a digerir o alimento. Atualmente somente animais herbívoros utilizam-se dessas pedras para auxiliar a moer o material vegetal resistente (sementes, por exemplo) em seus tratos digestivos.

Figura 5. Reconstituição de Pelicanimimus (nome do autor não informado).

Uma teoria postula que os ornitomimossauros deveriam alimentar-se como os flamingos, filtrando a água com os seus bicos curvos, porém outros especialistas discordam, afirmando que as estruturas especiais no palato desses animais eram somente para sustentar o bico e não uma especialização para alimentar-se por filtração. 

Não se sabe ainda ao certo como os ornitomimossauros protegiam os seus jovens e filhotes e como organizavam seus bandos. No entanto, recentemente, um conjunto de 14 Sinornithomimus foram encontrados fossilizados juntos na Mongólia. Onze dos animais demonstraram ser jovens ou sub-adultos e estes estavam acompanhados de animais maduros. Os últimos provavelmente estavam protegendo o grupo de mais novos.

Figura 6. Crânio de Sinornitomimus.


Os ornitomimossauros mais especializados  estão divididos em dois grupos. Um norte-americano, que compreende Struthiomimus, Dromiceiomimus e Ornithomimus, e um  asiático, composto por Gallimimus e Anserimimus. Ornithomimus demonstra o típico formato de um crânio avançado de Ornithomimosauria, possuindo olhos grandes e um focinho delgado e curvado, com a mandíbula inferior pouco mais alongada que a superior. 

As grandes órbitas dos ornitomimossauros são freqüentemente preservadas com os ossículos escleróticos, que ajudavam a sustentar o olho em vida. Tudo indica que esses animais teriam um senso de visão bastante desenvolvido. Eles possuíam um cérebro grande, comparável àquele de aves modernas e inclusive àquele bem desenvolvido dos troodontídeos. Embora o grupo seja caracterizado pela presença de pernas e braços longos, a mecânica dos membros anteriores de Struthiomimus sugere que eles não eram equipados para escavar, mas eram sim instrumentos gráceis mais adequados para agarrar galhos e folhas.

Figura 7. Crânio de Gallimimus.


A herbivoria parece ter evoluído bastante cedo na história evolutiva desse grupo. Shenzhousaurus foi encontrado com gastrólitos em sua região estomacal e esta espécie é considerada como uma forma relativamente primitiva dentro do grupo. Ela é considerada primitiva não somente pela presença de dentes, mas por outras características esqueletais como o comprimento do ‘polegar’, mais curto que os outros dígitos (nas formas derivadas ele tem o comprimento semelhante ao dos outros dedos).

Figura 8. Cladograma de Ornithomimosauria indicando a posição basal de Pelicanimimus e Shenzhousaurus (Makovicky, 2009).

Figura 9. Outro cladograma de Ornithomimosauria. Fonte: www.dinodata.org, baseado em Makovicky et al., 2004.


Uma das mais recentes descobertas do grupo foi Beishanlong, do Cretáceo chinês, animal muito parecido com Harpymimus, outro ornitomimossauro da China. Porém, a característica mais impressionante de Beishanlong é o seu tamanho. Definitivamente trata-se do maior ornitomimossauro já descrito e o mais interessante: análises histológicas demonstraram que o indivíduo analisado ainda encontrava-se em fase de crescimento. A partir do material encontrado foi estimado para o animal uma massa de 626kg. É interessante observar um paralelismo do gigantismo em diferentes linhagens de celurossauros herbívoros (ver Shuzhousaurus (Therezinosauria) e Gigantoraptor (Oviraptorosauria)).

Figura 10. Esquema indicando o tamanho de Beishanlong proporcionalmente a um ser humano.


Inicialmente acreditava-se que estes animais estariam presentes somente na América do Norte e na Ásia, mas depois da descoberta do primitivo Pellicanimimus na Europa, a história começou a ficar mais clara e as noções biogeográficas e de origem do grupo a solucionarem-se. Sem dúvida, o que pode-se dizer por enquanto, é que trata-se de um grupo restrito aos continentes do norte (laurasianos), com sua origem provavelmente européia.


Apesar das tantas semelhanças com as aves, que foram inclusive batizados em alusão a elas, não foi dentro deste grupo que as nossas colegas emplumadas tiveram sua origem. Os Ornithomimosauria são apenas parentes próximos. A história continua. Sem dúvida as aves tiveram origem dentro do grupo dos Maniraptora e é para aí que se aproxima ainda mais a próxima parte de nossa história.
No próximo capítulo:  À um passo dos maniraptora…

Referências Bibliográficas:

Makovicky, P. J., Kobayashi, Y. & Currie, P. J. 2004. Ornithomimosauria. In Weishampel, D. B., Dodson, P. & Osmólska, H. (eds) The Dinosauria, Second Edition. University of California Press (Berkeley), pp. 137-150.
Barrett, P. M. 2005. The diet of ostrich dinosaurs (Theropoda: Ornithomimosauria). Palaeontology48, 347-358.
Kobayashi, Y. & Lü, J.-C. 2003. A new ornithomimid dinosaur with gregarious habits from the Late Cretaceous of China. Acta Palaeontologica Polonica 48, 235-259.
Norell, M. A., Makovicky, P. & Currie, P. J. 2001. The beaks of ostrich dinosaurs. Nature 412, 873-874.
Russell, D. A. 1972. Ostrich dinosaurs from the Late Cretaceous of western Canada. Canadian Journal of Earth Sciences 9, 375-402.
Long, J. & Schouten, P., 2008. Feathered Dinosaurs: The Origin of Birds. Oxford university Press. Oxford, New York.
Naish, D. – The Tet Zoo field guide to ostrich dinosaurs (Part I) and (Part II). In: Tetrapod Zoology.


>Paleocurtas Argentinos

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Novo Ornitópode da Patagônia argentina



Foram encontrados restos do esqueleto pós-cranial de um dinossauro ornitópode em sedimentos da Formação Bajo Barreal (Cretáceo Superior) em um ilha no sul do lago Colhé Huapi, província de Chubut, Patagônia argentina.
O material não pôde ser identificado com muita precisão, entretanto é sabido tratar-se de um Ornitópode não-hadrossaurídeo de médio porte. Este é o terceiro ornitópode descrito para a Fm. Bajo Barreal da Patagônia Central argentina.
Fósseis de dinossauros Ornitísquios são raros na Patagônia e somente representados pelos Ornithopoda (dinossauros herbívoros como por exemplo o Iguanodon ou a Maiasaura). 
Ornitópodes não-hadrossaurídeos (Os Hadrosauridae compõe o grupo mais derivado dentro de Ornitopoda, os não-hadrossaurídios correspondem à todos os outros dinossauros dentro desse clado, menos os hadrossauros)  encontrados previamente em rochas do Cretáceo Superior ‘patagonense’ – como um todo -, incluem: Anabisetia, Gasparinisaura, Macrogryphosaurus e Notohypsilophodon

Alguns dos elementos ósseos encontrados – vértebras parciais e fragmentos de vértebras

Cientistas levantam a hipótese de que alguns –ou talvez todos– estes Ornitópodes argentinos poderiam pertencer a um grupo endêmico da América do Sul, ou pelo menos, do Hemisfério Sul; isto é, unicamente existentes nessa região. Apesar de ser uma hipótese baseada em escassos dados paleobiogeográficos, há algumas poucas características anatômicas, sutis, que diferenciam estes gêneros dos demais ornitópodes. 
Ainda há muito o que se conhecer sobre os Ornitísquios, não só da Patagônia, mas da América do Sul como um todo.



Quem sabe o que estará por vir? Quando se trata da Patagônia, sempre há surpresas…

Bibliografia:

Ibiricu, L. M., Martínez, R. D., Lamanna, M. C., Casal, G. A., Luna, M., Harris, J. D., and Lacovara, K. J., 2010. A medium-sized ornithopod (Dinosauria: Ornithischia) from the Upper Cretaceous Bajo Barreal formation of Lago Colhué Huapi, southern Chubut province, Argentina. Annals of CarnegieMuseum 79 (1):39–50.


Sanjuansaurus gordilloi: um novo Herrerassaurídeo


Uma nova espécie de um grupo bastante antigo de dinossauros, os Herrassaurídeos, foi descoberta em sedimentos da Formação Ichigualasto, no noroeste da Argentina.
Nomeado como Sanjuansaurus gordilloi, este animal estava entre os primeiros dinossauros à caminharem na face planeta Terra ainda no final do Período Triássico.
A nova espécie, junto a outros dinossauros como o Herrerasaurus, Eoraptor e o Staurikosaurus gêneros equivalentes geocronologicamente – isto é, referentes a um mesmo momento do Tempo passado –podem indicar uma rápida explosão e diversificação dos Saurísquios (ordem que inclui os dinos saurópodes e terópodes, ou seja, com ‘pelve de lagarto’) para os finais do Triássico.

Bibliografia:

Alcober, O.A., Martinez, R.N
., 2010.
A new herrerasaurid (Dinosauria, Saurischia) from the Upper Triassic Ischigualasto Formation of northwestern Argentina. Zookeys, 63:55-81


Panamericansaurus schroederi: um novo Titanossaurídeo da Patagônia

Nova espécie de saurópode titanossaurídeo foi descoberta pela equipe do Proyecto Dino, em Neuquén, Patagônia argentina. Panamericansaurus schroederi pertencia ao grupo dos Aeolosaurini, e constitui o primeiro registro de dinossauro para a Formação Allen, de Neuquén, Argentina.

Vértebras caudais de Panamericansaurus. Escala=5cm

Bibliografia:

Calvo, J.O., Porfiri, J.D., 2010. Panamericansaurus schroederi gen. nov. sp. nov. Un nuevo Sauropoda (Titanosauridae-Aeolosaurini) de la Provincia del Neuquén, Cretácico Superior de Patagonia, Argentina. Brazilian Geographical Journal: Geosciences and Humanities research medium 1: 100-115.

>Tempestade de Paleocurtas – PARTE 1

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Depois da longa ausência estamos finalmente de volta! Setembro foi o mês do VII Congresso Argentino de Paleontologia e Bioestratigrafia e do X Congresso Latinoamericano de Paleontologia, realizados em um único evento na cidade de La Plata, Argentina. Os Colecionadores compareceram em peso e por isso o blog ficou meio às traças.

Nesse meio tempo, diversas novidades fabulosas da paleontologia se acumularam – vários bichos foram descritos (sim, dentre eles, tudo o que o mundo precisava… mais ceratopsídeos…); bizarrices anatômicas foram revisitadas; uma curiosa revelação fez-se quanto a coloração de pingüins fósseis gigantes; nova literatura fundamental foi publicada; deu-se o pré-lançamento do escândalo dos “saurópodes que eram um só” (?); surgiram mais novidades sobre o sexo pré-histórico; dentre outros. – .Mas além disso, trouxemos para completar boas novas da Paleontologia Latinoamericana, entre elas o recém-anunciado – e surpreendente – dinossauro brasileiro: Tapuiasaurus! (Que muitos de vocês devem ter visto pela televisão ou no caderno especial do “Estadão”, algumas semanas atrás).

Vamos sacudir a poeira dos fósseis e partir para uma campanha relâmpago. Com vocês, uma tempestade de paleocurtas – PARTE 1:

Um Raptor como você nunca viu: Balaur bondoc, o estranho dragão romeno

Reconstituição artística de Balaur bondoc


Estranho é apelido. Balaur bondoc veio responder uma questão antiga: “Com o que se pareciam os dinossauros predadores na Europa durante o fim do Cretáceo?”
Descrito na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) por Zoltán Csikia e colaboradores, entre eles Mark Norell, o novo dino predador surpreendeu paleontólogos do mundo todo. Parente dos velociraptores – o que quer dizer que tratava-se de um dromeossaurídeo – ele possuía uma construção corporal parecida… até certo ponto. Com ossos fundidos, constituição mais pesada e duplas garras retratoras nos pés (!), B. bondoc deveria ser o terror na Europa do fim do Cretáceo.
A Europa era bem diferente nesse período. Com o nível do mar mais alto, toda essa região era um arquipélago habitado por animais de pequeno porte e relativamente mais ‘primitivos’ que os seus parentes continentais. Inclusive formas anãs, como saurópodes do tamanho de vacas e dinos ornitópodes também de tamanho bastante reduzido em comparação com seus parentes do continente. B. bondoc, tão diferente de qualquer coisa conhecida, soma-se às esquisitices dinossaurianas e vem ensinar mais um pouco sobre a fauna pouco-usual da região européia durante o auge do reinado dos grandes répteis-ave.

Membro posterior de Balaur bondoc evidenciando a dupla de garras retráteis

Leia mais sobre isso Aqui.

Csiki, Z., Vremir, M., Brusatte, S., & Norell, M. (2010). From the Cover: An aberrant island-dwelling theropod dinosaur from the Late Cretaceous of Romania Proceedings of the National Academy of Sciences, 107 (35), 15357-15361 DOI: 10.1073/pnas.1006970107

O dino-quasímodo e.. com penas?? Concavenator corcovatus

Reconstituição artística de Concavenator (acima) e suas relações filogenéticas dentro dos Allosauroidea (abaixo)

Anunciado pela Nature, por Ortega e colaboradores, esse novo Carcharodontossaurídeo espanhol foi descrito com base em um esqueleto articulado quase completo. O animal deveria medir cerca de 6m de comprimento. Entretanto, o que mais chamou a atenção foram outras características….:
1) As cristas neurais de suas vértebras dorsais – que formavam uma corcova no bicho (característica que já havia sido observada no enigmático Becklespinax);
e o mais surpreendente:
2) Cicatrizes de inserção de penas nos ossos do braço do animal;
Dinos alossauróides com penas???? Pois é….

Leia mais sobre isso Aqui.

Ortega, F., Escaso, F. & Sanz, J. L. 2010. A bizarre, humped Carcharodontosauria (Theropoda) from the Lower Cretaceous of Spain. Nature 467, 203-206.

Os novos ceratopsianos: Utahceratops e Kosmoceratops – e o ano desses bichos continua

Reconstituições artísticas de Utahceratops (acima) e Kosmoceratops (abaixo)

Os dois novos ‘chifrudos’ da lista são da região sul do Estado de Utah, EUA. A descoberta dos novos ceratopsídeos foi detalhada na revista on-line de acesso livre PLoS One.
O maior dos dois, Utahceratops gettyi, tem um crânio de 2,3 m de com
primento, já o menor deles,
Kosmoceratops richardisoni, tem um total de 15 chifres na cabeça – o dino com a cabeça mais ornamentada conhecido.

Leia mais sobre isso Aqui.
Veja os antigos (julho) tópicos deste blog sobre “O ano dos Ceratopsia” Aqui (parte 1) e Aqui (parte 2).

Sampson, S., Loewen, M., Farke, A., Roberts, E., Forster, C., Smith, J., & Titus, A. (2010). New horned dinosaurs from Utah provide evidence for intracontinental dinosaur endemism PLoS ONE, 5 (9) DOI:10.1371/journal.pone.0012292

Xixiasaurus, o novo troodontídeo da China (Mas que nome!)

O crânio parcial de Xixiasaurus

Proveniente da Formação Majiacun, da Bacia Xixia, na Província de Henan da China, Xixiasaurus henanensis foi descrito com base em um crânio parcialmente completo. Proximamente relacionado com Byronosaurus e Urbacodon, esses três animais provavelmente formam um clado à parte, sugerindo uma radiação endêmica de troodontídeos pela Ásia.

Lü, J.-C., Xu, L., Liu, Y.-Q., Zhang, X.-L., Jia, S. and Ji, Q. 2010. A new troodontid (Theropoda: Troodontidae) from the Late Cretaceous of central China, and the radiation of Asian troodontids. Acta Palaeontologica Polonica 5X: xxx-xxx. doi:10.4202/app.2009.0047

Sarahsaurus e o sucesso dos dinossauros

Crânio de Sarahsaurus em parte desarticulado

Sarahsaurus aurifontanalis é o mais novo sauropodomorfo que vem juntar-se à família. Encontrado no Arizona, EUA, tratava-se de um dino herbívoro relativamente pequeno em comparação com os seus primos gigantescos que viveram pouco depois. Com 190 milhões de anos (início do Jurássico) ele ajuda a contar algumas partes da história sobre a evolução e radiação dos dinossauros: o que aconteceu depois da extinção Triássico-Jurássica, como foi a invasão do Hemisfério Norte – a partir do Hemisfério Sul – por esse grupo de animais?
Sarahsaurus foi uma das formas que se originou alguns milhões de anos depois do pulso de extinção do fim do Triássico e o seu estudo, somado ao que já era conhecido sobre outros sauropodomorfos encontrados na América do Norte, ajudou a entender melhor a história sobre a dispersão dos dinossauros para essa região.
O estudo foi publicado na Proceedings of the Royal Society por Timothy e colaboradores.

Leia mais sobre isso Aqui.

Timothy B. Rowe, Hans-Dieter Sues, and Robert R. Reisz (2010). Dispersal and diversity in the earliest North American sauropodomorph dinosaurs, with a description of a new taxon. Proceedings of the Royal Society B : 10.1098/rspb.2010.1867

Mais curtas em breve…

>O Ano dos Ceratopsia !! – Parte 2

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Continuando…

No post passado ficou faltando falar de mais algumas figurinhas ceratopsianas de 2010, como lembrei nos comentários. Sendo assim, retorno agora para lhes apresentar: Rubeosaurus ovatus, o Styracosaurus que não era; Tatankaceratops sacrisonorum, um novo pequeno e controverso Charmosaurinae e Archaeoceratops yujingziensis, uma nova espécie de um gênero já conhecido.

Rubeosaurus ovatus McDonald & Horner, 2010 – originalmente decrito por Gilmore (1930) como “Styracosaurus” ovatus


Styracosaurus ovatus foi descrito por Gilmore em 1930 a partir de fragmentos de um escudo cefálico (partes de um osso parietal) destacado por ser bastante oval em seu aspecto e por possuir dois pares de chifres epocipitais e não três como Styracosaurus albertensis. Novos materiais, de um crânio parcial, permitiram, todavia identificar esse táxon como não relacionado ao gênero Styracosaurus, mas mais proximamente relacionado à Einiosaurus procuryicornis. Dessa forma, o antigo S. ovatus ganhou um novo nome: Rubeosaurus ovatus.


Rubeosaurus aumenta para 3 o número de centrosaurinae válidos da Formação Two Medicine, Montana, Canadá, e torna Stauricosaurus um táxon monotípico confinado à Formação Dinosaur Park de Alberta, Canadá.


McDonald, A. T. & Horner, J. R., 2010. New material of “Styracosaurus” ovatus from the Two Medicine Formation of Montana. In: Michael J. Ryan, Brenda J. Chinnery-Allgeier, and David A. Eberth (eds), New Perspectives on Horned Dinosaurs: The Royal Tyrrell Museum Ceratopsian Symposium, Indiana University Press, 656 pp.

Tatankaceratops sacrisonorum Ott & Larson 2010


Tatankaceratops foi preliminarmente descrito com base em um crânio parcial e fragmentos de um esqueleto provindos da Formação Hell Creek, South Dakota, EUA. Tatankaceratops representaria um novo táxon de um pequeno ceratopsiano chasmosaurinae, cujo comprimento do crânio teria aproximadamente 1 m e o tamanho total do animal não passaria de 3m. Os autores discutem que todos os elementos esqueletais, apesar do tamanho, pertenceriam a um animal adulto, e isso, somado a diferenças morfológicas significativas entre o material desse espécime e o de outros ceratopsídeos contemporâneos suportaria a designação de um novo táxon.

Os autores examinaram hipóteses alternativas, como considerando esse animal como proximamente relacionado ou possivelmente descendente de Triceratops. Se esse fosse o caso, os autores sugeriram que isso poderia representar um caso de pedomorfose (retenção de caracteres juvenis na forma adulta). Porém, a análise cladística realizada não suportou essa alternativa. Assim como também descartou a hipótese de se tratar de alguma forma de nanismo em Triceratops dada por algum grau de isolamento populacional (como no caso dos saurópodes anões alemães – em breve uma revisão sobre “Dinos anões” aqui no Colecionadores).

Tudo aponta para afinidades com os ceratopsídeos chasmosaurinae, no entanto os autores destacam que uma melhor preparação do material é necessária e que a descoberta de outros espécimes com caracteres preservados que sejam mais filogenéticamente informativos tornariam mais claras as relações desse táxon com outras formas neoceratopsianas.

Houve certo questionamento sobre a qualificação de “adulto” desse espécime. Talvez análises histológicas em comparação com o que se é conhecido para a ontogenia (desenvolvimento) de Triceratops deveriam ser feitas para confirmar esse status. A validez de “Tatankaceratops” se mostra controversa.

Estudos posteriores devem ser realizados para confirmar toda história.

O nome “Tatanka” é um desígnio indígena (Lakota) para o Bisão das planícies. (Alguém aí assistiu “Dança com lobos”??)

Christopher J. Ott & Peter L. Larson, 2010. A New, Small Ceratopsian Dinosaur from the Latest Cretaceous Hell Creek Formation, Northwest South Dakota, United States: A Preliminary Description.
In
: Ryan, M.J., Chinnery-Allgeier, B.J., and Eberth, D.A. (eds.)
 New Perspectives on Horned Dinosaurs: The Royal Tyrrell Museum Ceratopsian Symposium, Bloomington, Indiana University Press, 656 pp.

Archaeoceratops yujingziensis You & Dodson 2010

Archaeoceratops trata-se de um gênero já conhecido de Ceratopsia basal do início do Cretáceo (Aptiano) da China. Eram animais pequenos (cerca de 1m de comprimento), com uma cabeça comparativamente grande em relação ao corpo e provavelmente bípedes. Não possuíam chifres e tinham apenas um tímido escudo cefálico projetando-se da cabeça.

O gênero foi proposto em 1997 por Dong & Azuma e a espécie tipo foi designada A. oshimai.

Archaeoceratops yunjingziensis foi descrito com base em um espécime coletado no Grupo Xingminpu da Bacia de Yujingzi, região de Mazongshan, noroeste da China. É representado por um crânio parcial e fragmentos do esqueleto. Os autores diferem A. yunjingziensis da espécie tipo por uma série de caracteres específicos do crânio e da dentição. Esse novo táxon amplia a distribuição geográfica do gênero em cerca de 100 km para sudoeste, ainda na mesma bacia.

Reconstituição artística de Archaeoceratops oshimai


You H.-l., Tanoue K. & Dodson, P. 2010. A new species of Archaeoceratops (Dinosauria: Neoceratopsia) from the Early Cretaceous of the Mazongshan area, northwestern China. I:n Ryan, M.J.; Chinnery-Allgeier, B.J. & Eberth D.A. (eds.) New Perspectives on Horned Dinosaurs: the Royal Tyrrell Museum Ceratopsian Symposium, Bloomington, Indiana university Press. p59-67.

O que mais virá?