Não só colecionadores de OSSOS! Parte II

Seguindo a postagem anterior e concretizando o prometido, venho falar dos primeiros organismos multicelulares, de corpo mole, que surgiram nos oceanos, e sua importância na construção da história e evolução.

Esses organismos fazem parte do que podemos chamar de biota de Ediacara. Ediacara foi uma região do sul da  Austrália e seu nome foi atribuído ao período em que esses fósseis ocorreram,  envolvendo cerca de 630 a 540 milhões de anos, no Éon Proterozóico.  Apesar de o período ser chamado de Ediacarano e eu estar falando de Ediacara, em outras regiões do mundo, tais quais Russia e China,  esses mesmos organismos foram encontrados na mesma  faixa de tempo.

O registro Ediacarano mostra evidência dos primeiros fósseis de organismos multicelulares com órgãos complexos já achados. Para a maioria dos pesquisadores da área, eles são considerados um grupo a parte, não tendo qualquer ligação com os organismos que viriam depois.

Reconstrução da biota de Ediacara

As formas registradas em rochas são vastas, incluindo anatomia discoidal, em forma de pena, outras semelhantes a medusas atuais, estruturas tubulares, e outras totalmente desconhecidas.

Registro de Dicknsonia, fóssil do Ediacariano

 
Cyclomedusa, Ediacara

Apesar de serem os primeiros metazoários (organismos com células diferenciadas), e terem dominado por um longo período de tempo, seu reinado teve fim no Proterozóico final e inicio do Camrbiano (primeiro período do Éon fanerozóico, datando cerca de 530 milhões de anos), com o surgimento de animais ainda mais complexos  – Como diria Darwin, numa competição, sobrevive aquele que é mais apto.

A vida então floresce

A explosão do Cambriano, é assim chamada, pelo surgimento abrupto de todos os filos animais que hoje existem. Nesse período, os animais já eram capazes de produzir conchas e eram mais parecidos com os animais de hoje.

Reconstrução do Cambriano

Os animais dessa época mostram formas, muitas vezes, bizarras. Entre os identificados, temos o anomalocaris, opabinia, allucigenia e wiwaxia. Esse grupo estranho não demonstra qualquer ligação com os outros filos que surgiram, levando-nos a crer que também foram extintos, como os organismos de Ediacara

O mais famoso registro fóssil desse perído foi encontrado numa região do Canadá conhecida como Burgess Shale, pelo paleontólogo Charles Walcott, em 1909. Além dos fósseis citados acima, outros invertebrados, trilobitas, esponjas, e a pikaia, o primeiro cordado que deu origem ao vertebrados, também foram encontrados na região.

Hallucigenia fóssil, Cambriano

 
Reconstrução artística do fóssil Hallucigenia

 
Opabinia, Cambriano

A explosão subta de organismos no Cambriano, sem evidências de ancestrais, foi a controvérsia que poderia ter sido a maior dor de cabeça de Darwin na teoria da Evolução. Apesar disso, há pesquisadores que defendem a idéia de um período anterior não preservado, no qual estaria a chave para este mistério.

O que sabemos sobre o começo da vida multicelular ainda pode ser meio obscuro. O que temos são evidencias químicas e traços biológicos preservados em rochas, ao contrários dos animais com esqueleto, que deixam vastos registros ósseos, e são melhor compreendidos. Sua origem e sua história ainda é motivo de discussões e controvérsias. Levantamos hipóteses, mas hipóteses não são sentenças. Cabe a nós, eternos estudantes, continuar descobrindo e constantemente acrescentar novos conhecimento à ciência.

Aguardem pelos próximos posts, e viajem pela paleontologia que não estuda somente ossos! 😀

Não só colecionadores de OSSOS! Parte I

O trabalho do paleontólogo é sem dúvidas excêntrico. Estamos sempre na ansiedade de encontrar algo novo, inédito. Quando esta façanha ocorre, nós cientistas somos capazes de mudar teorias, criar outras, e caminhar um passo a frente no conhecimento dos mistérios do Planeta.

Mas quando falo em paleontologia, “eu sou paleontólogo” sempre escuto de volta “ah você estuda dinossauros!!” Os dinossauros talvez tenham sido os animais mais incríveis que já habitaram o Planeta. Eles estão nos museus, nos desenhos, nos filmes, nos documentários e encantam tanto as crianças como os adultos. Sua imponência e o fato de não mais existirem no nosso presente, talvez sejam os atributos mais chamativos e mais fascinantes, levando algumas vezes as pessoas a descrerem de sua existência.

Mas não é pra falar de dinossauros que criei este post.

Eu sou paleontóloga, ou como meu orientador diz, estou no caminho de ser. Porém, eu não estudo plantas, não estudo dinossauros, não estudo mamíferos pré-históricos ou qualquer animal com ossos ou pele. Minha pesquisa está voltada ao estudo de construções sedimentares induzidas por cianobactérias. Isto não parece tão legal aos olhos da maioria, mas garanto que é uma vertente extremamente importante da paleontologia, como já apontado em posts anteriores. Através de outros exemplos, vou mostrar a você, caro leitor,  que não só de ossos se vive um paleontólogo!

Dividirei a temática “Não só colecionadores de OSSOS” em vários posts tratando das diferentes vertentes da paleontologia que não são conhecidos pelo público em geral, salvando-se os próprios paleontógos ou simpatizantes pela área. No próximo post, entrarei no assunto dos primeiros organismos de corpo mole que “surgiram” em uma Terra pretérita. É sensacional, aguardem! 

 

VIII Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados

Entre 27 a 31 de agosto deste ano se realizará em Recife (PE) O VIII Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados. Confira a programação e inscreva-se pelo site http://www.sbpv.com.br/

O evento acontecerá nas dependências do Centro de Tecnologia e Geociências da Universidade Federal de Pernambuco, localizado na Cidade Universitária. Fica a apenas 15 minutos da bela praia de Boa Viagem…

Prestigie!

Estréia: PaleoCast !!

Expedição Araripe – Parte 1 / Araripe Expedition – Part 1

Idioma Português, legendas em Inglês.

Licença Creative Commons
PaleoCast de Colecionadores de Ossos & Titossauro.com é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported. Baseado no trabalho em titossauro.com.

 

Nós já vínhamos pensando em desenvolver um canal de VideoCasts há um bom tempo… mas é claro: havia uma série de empecilhos. Para começar, o tempo do qual dispunhamos para organizar isso, segundo, a vergonha, terceiro, o material (“mas que câmera horrível!”, “eu não sei mexer nesse programa!”, “putz, que amador!”) e quarto, o medo de não dar certo.

É claro que isso não ia levar a gente a lugar nenhum… Então, já que tudo tem que ter um ponta-pé inicial, arregaçamos as mangas, enchemos o peito de coragem e deixamos de nos preocupar com o amadorismo nesse primeiro momento.

O resultado??

Bom, aqui está – depois de algumas crises – o nosso primeiro videocast!!!!!!!!

Resolvemos batizar o canal de PaleoCast, para não perder o costume dos paleontólogos de utilizarem esse sufixo para tudo. Este será nosso canal de multimídia de agora em diante e procuraremos sempre  trazer novidades. A idéia é fazer documentários que mostrem a Paleontologia brasileira na prática e de forma descontraída.

Para estrear o PaleoCast, iremos apresentar o capítulo introdutório de um documentário que gravamos em nossa última saída de campo ao Cariri. Ele será dividido em vários capítulos de 5 minutos cada um.

A expedição foi realizada em busca de fósseis na Chapada Araripe, no interior do nordeste brasileiro.

Filmamos e editamos esse material com orçamento zero, pelo simples prazer de divulgar conhecimento. =)

Esperamos que gostem!! Os erros se consertam com o tempo!

Fósseis brasileiros à venda no e-bay

Leiam na Folha de São Paulo (AQUI) detalhes sobre a denúncia feita pelos Colecionadores de Ossos quanto a venda de fósseis brasileiros no e-bay.

Retirado de Folha.com - Ciência, reportagem de Giuliana Miranda

A estrela da vez é uma laje da Formação Irati com 4 Mesosaurus perfeitamente preservados. Os Mesosaurus são um tipo de pararéptil aquático de cerca de 1m, que viveu há quase 250 milhões de anos atrás. O que é interessante sobre esses animais, é que eles ajudaram a comprovar a teoria de Wegener sobre a deriva continental. Por serem encontrados em depósitos sedimentares tanto da América do Sul como da África, eles ajudaram a comprovar que ambos os continentes estiveram unidos em algum momento do passado geológico.

Fósseis de Mesosauros, encontrados na América do Sul e na África, ajudaram a comprovar a teoria da deriva continental.

No Brasil, fósseis desses animais são relativamente comuns, porém, não com a preservação observada no exemplar à venda no e-bay.

É com enorme pesar que os paleontólogos brasileiros observam a riqueza científica nacional ser saqueada para enfeitar, provavelmente, a mesa de algum um colecionador excêntrico europeu ou norte-americano.

Há menos de uma semana, nossos amigos uruguaios publicaram um excelente artigo sobre a evidência mais antiga de viviparidade da história dos vertebrados… e isso foi justamente observado em fósseis de Mesosaurus (Veja a publicação aqui)! — eles davam a luz muito antes dos mamíferos!

Essa laje do e-bay, hoje na Flórida (EUA), apresenta justamente um fabuloso caso desse comportamento: Um ‘ninho’ com mãe e filhotes recém-nascidos. O interessante, é que esse fóssil pode ajudar paleoecólogos a tentar entender aspectos mais profundos da ecologia desse animal. Como por exemplo: o tamanho médio da ninhada ou como se dava o ‘parto’ dos filhotes (a cabeça ou a cauda primeiro?), entre outros. Fósseis excepcionais como esse funcionam como uma verdadeira janela para o passado, pois guardam evidências não só da anatomia do animal, mas de seu comportamento.

Continuamos no aguardo das providências pelas autoridades responsáveis.

O que você pode fazer por enquanto, é ajudar a denunciar. Ao encontrar qualquer fóssil brasileiro a venda, denuncie. Estamos de olho!

Não deixe de ler a reportagem da folha: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1063822-fosseis-levados-ilegamente-do-brasil-estao-a-venda-em-site.shtml