>Paleovulcanologia

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Uma vertente da Vulcanologia, a Paleovulcanologia é a ciência que estuda vulcões extintos. Sua nomenclatura é considerada controversa por alguns vulcanólogos, que consideram inapropriado a utilização do prefixo ‘Paleo’. Independente da nomenclatura, no entanto, o estudo desses vulcões é muito importante para se elucidar como os gigantes de fogo influenciaram o ambiente no passado e até mesmo como dirigiram o curso da vida. 

 Por Juliana Freitas da Rosa

A vulcanologia é uma especialidade da Geologia altamente ligada a Geofísica. Foi criada na década 1980 para estudar os vulcões e os produtos vulcânicos. 


O nome Vulcão foi dado em homenagem ao deus do fogo da mitologia greco-romana, Vulcano. 


Até alguns anos atrás, a importância dessa ciência era voltada para reduzir os riscos das populações situadas em regiões adjacentes a estes gigantes (previsão de erupções, preparação de planos de emergência locais, etc). Hoje em dia, essa importância se estende a um nível o mundial, pois direta ou indiretamente, todos  sofremos os efeitos desastrosos desencadeados por esses “deuses de fogo”.


Apesar de erupções vulcânicas existirem desde os primórdios de nosso planeta, o primeiro registro histórico escrito que se tem notícia é de 79 d.C., quando duas cidades romanas – Pompéia e Herculano – foram devastadas por uma imensa erupção, varridas pelos produtos vulcânicos do monte Vesúvio. Essa erupção foi nomeada de Vesuviana ou Pliniana. ‘Pliniana’ em homenagem ao Plínio “o velho”. Plínio o velho foi ao encontro do Titã no meio do caos para entender melhor o que estava acontecendo. Seu sobrinho, Plínio “o jovem”, descreveu em duas cartas esse dia fatídico, sendo estas, as cartas mais importantes para a história da Vulcanologia.

Reconstituição do que teria sido a erupção vesuviana de Pompéia.
Vítimas do vulcão Vesúvio congeladas no tempo. Corpos petrificados pelas cinzas e lama mostram cenas da tragédia e a impotência da população diante da catástrofe.
 Também tem-se notícias de erupções na Grécia antiga, descritas em trechos dos contos de Homero, aonde o caos vulcânico era relacionado a brigas dos três deuses gregos irmãos: Zeus, Hades e Poseidon. Por não terem registros acurados, detalhes dessas erupções pereceram, porém, registros históricos não são o único modo de se rastrear a ocorrência de eventos vulcânicos…. Como, então, sabemos se houve uma erupção no passado? Como saber se foram suficientes para mudar o ambiente de sua época, ou até mesmo influenciar o planeta ainda hoje com seus produtos?

Ilustração por Guilherme M. Alayão – A briga dos deuses. A mitologia e os vulcões.


A Geologia, como uma ciência
que abriga a Vulcanologia, estuda – entre outras coisas – o interior do planeta (o interior da crosta, seus movimentos, etc.). Esse estudo nos ajuda a explicar a origem das atividades vulcânicas e até mesmo prever os locais preferenciais de ocorrência.
Já a Petrologia Ígnea – uma vertente específica da Geologia que estuda rochas que se originam de magma solidificado – auxilia a Vulcanologia por meio do estudo aplicado das rochas vulcânicas (Rocha extrusivas, ou seja, que se resfriaram na superfície terrestre).
Vulcões produzem dois principais tipos de produtos que originarão rochas: lavas e piroclastos (cinzas, bombas vulcânicas, etc.). A presença de rochas vulcânicas indica a existência pretérita de vulcões e derramamentos de lava fissurais (sem formação de cones vulcânicos). Mesmo sem registros da história escrita, portanto, podemos rastrear a ocorrência de atividades vulcânicas.

Lava sendo expelida e resfriando rapidamente para a formação de rocha.

Diferentes tipos de Piroclastos
O tipo de rocha produzida denuncia detalhes das erupções e acompanhando a sucessão estratigráfica podemos elucidar detalhes do ambiente antes e depois do evento vulcânico.

 Existem distintos tipos de lava, que formam diferentes tipos de rochas extrusivas, assim como existem diferentes tipos de rochas piroclásticas, que denunciam detalhes violentos de eventos vulcânicos.

Assim como a Paleontologia estuda os fósseis – Paleo=antigo; Onto=ser e Logia=estudo -, o estudo de vulcões extintos seria chamado de Paleovulcanologia. 

Vulcões extintos deixaram suas marcas em formas de rochas, camadas de cinzas, alterações no relevo e até mesmo sinais na atmosfera. Rochas vulcânicas são grandes indícios de que um ou mais vulcões estiveram ativos em uma determinada região, logo é esse o ponto de partida para obter registros de um paleovulcão.

Um paleovulcão é considerado como aquele que cessou completamente a sua atividade. Aqui portanto é necessário distinguir vulcões dormentes de extintos. O que em alguns casos nem sempre é fácil, até mesmo para especialistas. Vulcões podem permanecer inativos por longos períodos, o que nem sempre significa que ele cessou sua atividade. Alguns tem intervalos de dormência que podem durar centenas de milhares de anos… como aquele de Yellowstone por exemplo. 

E. F. Cook, em 1966, descreveu a importância da Paleovulcanologia como ciência. Ele relata o porquê de estudiosos serem tão conservadores ao adotarem o termo ‘Paleo’ para definí-la: O fazem, principalmente a fim de evitar conflitos com os estudos da própria Vulcanologia atual. 

A explicação é a seguinte: Existem vulcões extintos mais recentes do que aqueles que ainda estão ativos. Mas será que isto é motivo suficiente? Acho que independente do nome, é importante estudar vulcões que não estão mais em atividade… sejam de milhares, milhões ou centenas de milhões de anos.  

No Brasil, há evidências de muitos vulcões extintos, sendo um dos mais conhecidos, o de Poços de Caldas (MG-SP) com rochas vulcânicas que variam de 53 a 87 milhões de anos. Ele foi descrito em diversos trabalhos, estes reunidos durante um Congresso de Geologia em 1992 pelos professores Dr. Horstpeter H. Ulbrich e Dra. Mabel N. C. Ulbrich. Os estudos detalham todo o Maciço Alcalino de Poços de Caldas, desde o embasamento cristalino até os sedimentos piroclásticos. A base do vulcão adentra-se na Bacia do Paraná, o que o tornaria um dos maiores vulcões alcalinos do mundo, com pouco mais de 800km² de afloramentos. Ele possivelm
ente estava ativo quando houve a grande extinção em massa do Cretáceo-Paleógeno, há 65 milhões de anos. As manifestações mais recentes datam de 53 milhões de anos atrás. 

A paleovulcanologia estuda, neste caso, a influência deste vulcão no paleoambiente da região durante o período caótico de transição de eras. Como apararentemente há uma pausa na formação de rochas a partir de 72 Ma atrás, sendo retomada a atividade somente no limite que separa as duas eras Mesozóica e Cenozóica, talvez haja alguma pista importante para explicar a extinção local. Sinais de uma grande transformação no ambiente estão registrado em suas rochas. Se as idades calculadas com K/Ar forem reais, Poços de Caldas registraria um período de atividade vulcânica da ordem de 20 ou 30 Ma – muitas vezes superior ao que se conhece para outros vulcões em atividade e também extintos (Hosrtpeter e Mabel Ulbrich,1992).

Cratera do vulcão extinto de Poços de Caldas, MG, em imagem de satélite.

Outro paleovulcão brasileiro seria o do arquipélago de Fernando de Noronha. O arquipélago de Fernando de Noronha possui uma ilha principal de mesmo nome com 16,4 km² de área, e vinte ilhas menores. Registros revelam que o arquipélago eleva-se  sobre uma ampla plataforma de erosão, submersa atualmente. Esta plataforma está situada a 4km de profundidade em cima do assoalho oceânico. Localizado na Formação Remédios, suas rochas datam desde 8 a 12,3 milhões de anos — sendo essas as idades de resfriamento das mesmas. Considera-se esse vulcão relativamente recente e de vida curta. O seu estudo para a paleovulcanologia ajudaria a compreender a formação e declínio de um vulcão num curto período de tempo. 

Foto de Fernando de Noronha. Arquipélago formado por atividade vulcânica pretérita.

Registros de um dos mais antigos vulcões em território brasileiro seria o da região de São Félix do Xingu (PA) da Era Paleoproterozóica. Os geólogos Dr. Caetano Juliani e Dr. Carlos Marcello Dias Fernandes descreveram sua geomorfologia, tomando como base as rochas de até 2 bilhões de anos abrangendo as Formações Sobreiro e Santa Rosa. Este vulcão estaria relacionado com um grande evento magmático denominado Uatumã (Pessoa et. al., 1977), num dos maiores terrenos pré-cambriano do mundo, o Cráton Amazônico (Almeida et. al., 1981). Devido a selva amazônica ser muito fechada, os estudo desse gigante baseou-se na interpretação de imagens digitais do Projeto SIPAM (Sistema de Proteção da Amazônia) e do SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission). O trabalho de campo foi realizado ao longo do rio Xingu por trilhas e estradas. Investigações petrológicas, texturais e mineralógicas foram analisadas por interpretação petrográfica da transmissão e reflexão de luz. Por muitas das rochas estarem em processo de metamorfismo, percebe-se que o vulcão dessa região era realmente muito antigo. A paleovulcanologia, neste caso, estuda a influência deste imenso evento vulcânico de Uatumã, que hoje abrange uma área de 1.500.000 km², no Cráton Amazônico. Na época em que este vulcão estava ativo, a atmosfera era rarefeita e o planeta muito mais quente, existiam apenas seres vivos unicelulares e raríssimos multicelulares. Esse vulcão pode ser um possível candidato que ajudou a liberar gases para a formação da atmosfera favorável para a evolução da vida terrestre além da formação de oceanos e diminuição da temperatura global. O seu volume vulcânico foi de longe o maior de todo o território brasileiro, até mesmo maior do que o derrame de lava da Formação Serra Geral da Bacia do Paraná, que cobriu os grandes paleodesertos Botucatu e Pirambóia.

A questão da paleovulcanologia como ciência pode ser desafiadora e o estudo desses vulcões, nada fácil, mas frente a influência que  tiveram no meio ambiente pretérito (com reverberações até a atualidade), considero a paleovulcanologia como uma ciência válida. Ao estudarmos as estruturas dos vulcões extintos, tentamos entender como era o ambiente durante a sua formação e as possíveis alterações no ecossistema que eles causaram – muitas vezes diferentes das que observamos hoje. Além disso, temos de nos preocupar com a previsão de novos eventos, só assim poderemos mitigar tragédias humanas e ambientais.

Não existem dois vulcões iguais, cada evento é único, mas podemos compará-los para esclarecer o passado e imaginar como poderá ser o futuro.

Juliana Freitas da Rosa é estudante de Geologia na Universidade de São Paulo (USP). Ela é apaixonada por Vulcanologia e pretende seguir seus estudos na área. Trabalha como monitora no Museu de Geociências e está disponível para discutir mais sobre o tema ou tirar dúvidas. Deixe seus comentários!


>A Arte Contemporânea na Paleontologia

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Um estilo requintado de arte que mistura conhecimento paleontológico, muita criatividade e talento!

Para quem gosta de arte, este é um prato cheio. Nada clássico, mas sim inovador!
Para ser criativo não há necessidade de usar tintas caras, argilas refinadas, mármore italiano ou madeiras tropicais de boa cepa. Com um material tão singelo, como o arame, podem ser criadas obras de arte finas e bastante elegantes.
A arte na paleontologia tem diversas facetas. Desde os desenhos tradicionais, que buscam a reconstrução exata de animais extintos, baseados em técnicas geralmente clássicas, até a arte para pura apreciação e entreterimento. Feitas com a atenção científica de um estudante de paleontologia, a moderna arte das esculturas de arame de Tito Aureliano vem diversificar o espectro de perfis de arte paleontológica. No Brasil, elas quebram o paradigma do classicismo e inovam de maneira bastante original o que se conhece de arte na paleontologia.
A fim de divulgar a arte de nosso colega, apresentamos hoje para vocês: A Paleoarte Contemporânea de Tito Aureliano!

Colecionadores: Tito, como você descreve a sua arte?

Tito: O que produzo são peças metálicas de diversos tamanhos, que representem animais extintos em suas atividades – corrida, caça, nado e voo -, priorizo o seu movimento e gosto de brincar com o equilíbrio. Tenho com o arame a liberdade artística, porém não desvirtuo-me das características reais dos animais que os Paleontólogos reconstroem.

Colecionadores: Quando você teve essa idéia?
Tito: Comecei a confeccionar esculturas metálicas quando tinha 8 anos de idade. Tinha costume de fazer meus próprios brinquedos utilizando sucata e material reutilizável no lixo da vizinhança. Um daqueles dias eu encontrei um bolo de arame enferrujado e criei meu primeiro dinossauro metálico. Desde então nunca parei de desenvolver peças cada vez mais complexas. Atualmente, há esculturas minhas com paleontólogos, colecionadores e apreciadores de vários países – entre eles Brasil, México, Estados Unidos e Alemanha.

Colecionadores: Você tem um objetivo e/ou público alvo?
Tito: O objetivo é inspirar, divulgar e entreter aqueles que apreciam arte e gostam de paleontologia. Não interessa a idade ou formação. Tanto profissionais da área se interessam, como crianças e o público geral. O paleontólogo quer ter seu mascote de estudo e a criança vê na criatividade, a diversão. As peças são flexíveis, mas muito resistentes, então não precisam ser uma arte de estante, são também manipuláveis.

Colecionadores: Qual o preço médio de uma escultura?
Tito: Varia muito. Depende do tamanho e da complexidade. Esculturas menores geralmente custam entre R$15 e 25, médias entre R$30 e 40 e as maiores desde R$ 50-60 até R$120. Utilizo o dinheiro que consigo com as vendas para financiar meus estudos e realizar expedições com colegas do corpo acadêmico em busca de novos fósseis. A arte vem da alma, assim como a paixão por paleontologia. Procuro unir as duas. Podem ser caminhos difíceis, mas a recompensa pessoal, essa, não tem preço.

Que paleontólogo não gostaria de ter o seu objeto de estudo estilizado para enfeitar o laboratório? É um bom presente para os colegas! E que tal presentear o sobrinho com um de seus dinossauros favoritos? Tito faz esculturas por encomenda e envia para todo o Brasil. Basta entrar em contato pelo e-mail titossauro@gmail.com.
Clique AQUI ou visite a galeria de Tito AQUI para ver mais algumas de suas esculturas. Ou você pode ainda visitar o site pessoal dele (http://titossauro.com).

Tito confecciona toda uma miríade de animais extintos, não somente dinossauros. Os últimos sem dúvidas fazem muito sucesso, mas ele já modelou também répteis marinhos, pterossauros, mamíferos e invertebrados.

>O Museu de Marília e o nosso querido amigo William na PreHistoric Times!

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A edição #97 da revista PreHistoric Times veio com uma ótima surpresa! O colega Agustín publicou um artigo sobre o Museu de Paleontologia de Marília e a sua fascinante coleção de fósseis cretácicos.
A revista PreHistoric Times é uma publicação editada na Californa, EUA, que aborda temas de arte e modelagem dentro da paleontologia, além de variados tópicos de pesquisa na área.
William Nava tem trabalhado por anos pela divulgação e manutenção do Museu de Marília, sempre demonstrando muita paixão e dedicação. Tudo o que foi encontrado na região depende dos esforços desse nosso amigo, que, palentólogo de coração, já tem influenciado muitas gerações.
Tudo isso é fruto do seu esforço!

O artigo é um bom resumo da história paleontológica de Marília, e, apesar de em inglês, tem uma linguagem bastante acessível e enxuta. Vale a pena conferir! Tenha acesso ao pdf clicando AQUI.

Parabéns William! Parabéns Agustín!

Homepage da PreHistoric Times: http://www.prehistorictimes.com/
Visite o Blog “Dinossauros em Marília”: http://dinosemmarilia.blogspot.com/ O artigo de Augustín está disponível em português AQUI.

>Nossa Júlia da vida real!

>Nossa querida e prestigiada paleontóloga Aline Ghilardi está conquistando a mídia brasileira! Saiu hoje na revista “tititi” uma reportagem comparando a Júlia da novela “Morde e assopra” à nossa criadora do Colecionadores, a verdadeira paleontóloga de dinossauros. Para quem quiser acessar a reportagem virtual, é só clicar no link abaixo. Ou então, ler diretamente na revista da edição número 664. É um orgulho saber que a paleontologia está em ascensão e que fazemos parte disso tudo. Parabéns Aline!


Saudações Colecionadores!