Mariangela Gualtieri e a tradução do poema “A esta hora da noite”

Geraldo de Oliveira Alló Netto

Luciano de Oliveira

Nirvana Dornelles

Simone Maria Losso

Cláudia Tavares Alves

Foto: Dino Ignani
Fonte: https://www.artribune.com/arti-performative/teatro-danza/2012/10/cio-che-ci-rende-umani-secondo-mariangela-gualtieri/

 

Mariangela Gualtieri nasceu em 1951, em Cesena, Itália. Importante poeta e escritora contemporânea, é também atriz, dramaturga, formada em Arquitetura pela IUAV de Veneza. Fundou, em 1983, o Teatro Valdoca, junto ao diretor Cesare Ronconi, onde atua como dramaturga e intérprete. Gualtieri já venceu vários prêmios literários e publicou diversas coletâneas de poemas, entre elas, Antenata (Crocetti Editore, 1992), Fuoco centrale e altre poesie per il teatro (Einaudi, 2003), Senza polvere senza peso (Einaudi, 2006), Bestia di gioia (Einaudi, 2010), Le giovane parole (Einaudi, 2015), e sua mais recente publicação, Quando non morivo (Einaudi, 2019). Em suas obras, tanto poéticas quanto teatrais, reforça repetidas vezes o aspecto de “inadequação da palavra” e assume suas influências, como Dante Alighieri, Amelia Rosselli, Dylan Thomas, entre outros poetas e escritores, os quais aparecem citados frequentemente em suas entrevistas e declarações.

Tais influências também ficam evidentes no poema “In quest’ora della sera”, apresentado aqui em tradução para português[1]. O texto está repleto de intertextualidades e representa, por meio de seus próprios versos, uma espécie de agradecimento e homenagem a todos os poetas, filósofos e mestres que antecederam sua escrita, firmando ainda o propósito de estar aberto a todos os que venham complementá-lo posteriormente, seguindo o que diz o verso: “pelo fato de que este poema é inexaurível e não chegará nunca ao último verso”. Por extensão, podemos dizer que nesse poema testemunhamos Gualtieri transformando a linguagem poética no próprio tecido de que é feita a existência humana e vice-versa.

O alicerce principal deste poema parece ser “Outro Poema dos Dons”, de Jorge Luís Borges[2], que segue, por sua vez, a estrutura do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis. Escrito provavelmente em torno do ano de 1224, tal cântico expressa a experiência espiritual pelo louvor a Deus através de suas criaturas. No poema de Gualtieri, esse louvor se transforma em agradecimento às coisas simples que nos são dadas, aos sentimentos que nos engrandecem e aos grandes mestres que nos permitem vislumbrar, pela poesia, esses momentos epifânicos.

Outras intertextualidades igualmente presentes são menos explícitas, como é o caso do verso “sono tornate le lucciole”, referindo-se provavelmente ao ensaio “L’articolo delle lucciole”[3], de Pier Paolo Pasolini. Há também uma referência ao poema “Se l’anima”, de Amelia Rosselli[4], retomado no verso “Se l’anima scende dal suo gradino, la terra muore”. Finalmente, é possível recuperar uma menção a um conto de Dino Buzzati, “Inviti Superflui[5], pelo verso “per il bene dell’amicizia, quando si dicono cose stupide e care”. O poema termina ainda com uma versão do verso que encerra o Paraíso, da Divina Comédia, de Dante Alighieri, visto aqui como “per l’amor che se move il sole e l’altre stelle. / E muove tutto in noi”.

Em relação à experiência de tradução coletiva do poema, os problemas apareceram das mais variadas formas, como em todo processo tradutório no qual se pretende promover a circulação de um texto fora de sua cultura de partida. Primeiramente, é importante destacar que, por se tratar de um trabalho feito a muitas mãos, foi necessário mediar as escolhas de cada tradutor sem deixar de considerar, como menciona Rosemary Arrojo[6], que “há (…) um outro autor a habitar o texto traduzido”.

Nesse sentido, as dificuldades começaram logo nos primeiros versos, devido à expressão “ringraziare desidero”, refrão central que sintetiza todo o tema do poema. Embora “desidero ringraziare” e “desejo agradecer” sejam as formas mais usuais, tanto em italiano como em português, optamos por manter na tradução a ordem original das palavras, ou seja, “agradecer desejo”, procurando assim preservar a inversão – que entendemos refletir o estilo e a escolha da autora – e a intertextualidade com a ordem sintática presente no poema de Borges.

Outro dilema recorrente que exemplifica como o tradutor está sempre diante de uma escolha refere-se à tradução do verbo essere. As diferenças entre estado permanente (verbo ser) e estado não permanente (verbo estar), no português, são marcadas, diferentemente do italiano. Por isso, na tradução, as escolhas se tornaram mais sutis e quase subjetivas, considerando que, na plenitude de um momento, como seria possível definir se somos ou apenas estamos?

Vale destacar ainda que os diversos exemplos de intertextualidade, mencionados anteriormente, atuaram também como ponto de apoio para algumas das opções de tradução, visto que determinadas frases ou expressões já possuíam traduções para o português publicadas e, por isso, buscamos consultá-las e mantê-las quando possível.

Considerando, finalmente, que a tradução é uma entre todas as leituras possíveis de um texto, apresentamos, a seguir, o resultado da nossa leitura e do nosso processo tradutório:

 

“A esta hora da noite”

 

A esta hora da noite

deste ponto do mundo

 

Agradecer desejo o divino

labirinto das causas e dos efeitos

pela diversidade das criaturas

que compõem este universo singular

agradecer desejo

pelo amor, que nos faz ver os outros

como os vê a divindade

pelo pão e pelo sal

pelo mistério da rosa

que esbanja cor e não a vê

pela arte da amizade

pelo último dia de Sócrates

pela linguagem, que pode simular a sabedoria

eu agradecer desejo

pela coragem e pela felicidade dos outros

pela pátria sentida nos jasmins

 

e pelo esplendor do fogo

que nenhum ser humano pode olhar

sem um estupor antigo

 

e pelo mar

que é o mais próximo e o mais doce

entre todos os Deuses

agradecer desejo

porque voltaram os vaga-lumes

e por nós

por quando somos ardentes e leves

por quando somos alegres e gratos

pela beleza das palavras

natureza abstrata de Deus

pela escrita e pela leitura

que nos fazem explorar a nós mesmos e o mundo

 

pela quietude da casa

pelas crianças que são

nossas divindades domésticas

pela alma, porque se descer de seu degrau

a terra morre

pelo fato de ter uma irmã

agradecer desejo por todos aqueles

que são pequenos, límpidos e livres

pela antiga arte do teatro, quando

ainda reúne os vivos e os nutre

 

pela inteligência do amor

pelo vinho e sua cor

pelo ócio com sua espera por nada

pela beleza tão antiga e tão nova

 

eu agradecer desejo pelas faces do mundo

que são várias e muitas são adoráveis

por quando à noite

se dorme abraçado

por quando somos atenciosos e apaixonados

pela atenção

que é a oração espontânea da alma

por todas as bibliotecas do mundo

por sentir-se bem entre aqueles que leem

pelos nossos mestres grandiosos

por quem ao longo dos séculos tem raciocinado em nós

 

pelo bem da amizade

quando se dizem coisas estúpidas e ternas

por todos os beijos de amor

pelo amor que nos torna destemidos

pelo contentamento, o entusiasmo, a embriaguez

pelos mortos nossos

que fazem da morte um lugar habitado.

 

Agradecer desejo

porque sobre esta terra existe a música

pela mão direita e pela mão esquerda

e seu íntimo acordo

por quem é indiferente à notoriedade

pelos cães, pelos gatos

seres fraternos cheios de mistério

pelas flores

e a secreta vitória que celebram

pelo silêncio e seus muitos dons

pelo silêncio que talvez seja a maior lição

pelo sol, nosso antepassado.

 

Eu agradecer desejo

por Borges

por Whitman e Francisco de Assis

por Hopkins, por Herbert

porque já escreveram este poema,

pelo fato de que este poema é inexaurível

e não chegará nunca ao último verso

e muda conforme os homens.

Agradecer desejo

pelos minutos que precedem o sono,

pelos íntimos dons que não enumero

pelo sono e pela morte

estes dois tesouros ocultos.

 

E enfim agradecer desejo

pela grande potência do antigo amor

pelo amor que move o sol e as outras estrelas.

E move tudo em nós.

 

 

“In quest’ora della sera”[7]

 

In quest’ora della sera

da questo punto del mondo

 

Ringraziare desidero il divino

labirinto delle cause e degli effetti

per la diversità delle creature

che compongono questo universo singolare

ringraziare desidero

per l’amore, che ci fa vedere gli altri

come li vede la divinità

per il pane e per il sale

per il mistero della rosa

che prodiga colore e non lo vede

per l’arte dell’amicizia

per l’ultima giornata di Socrate

per il linguaggio, che può simulare la sapienza

io ringraziare desidero

per il coraggio e la felicità degli altri

per la patria sentita nei gelsomini

 

e per lo splendore del fuoco

che nessun umano può guardare

senza uno stupore antico

 

e per il mare

che è il più vicino e il più dolce

fra tutti gli Dèi

ringraziare desidero

perché sono tornate le lucciole

e per noi

per quando siamo ardenti e leggeri

per quando siamo allegri e grati

per la bellezza delle parole

natura astratta di Dio

per la scrittura e la lettura

che ci fanno esplorare noi stessi e il mondo

 

per la quiete della casa

per i bambini che sono

nostre divinità domestiche

per l’anima, perché se scende dal suo gradino

la terra muore

per il fatto di avere una sorella

ringraziare desidero per tutti quelli

che sono piccoli, limpidi e liberi

per l’antica arte del teatro, quando

ancora raduna i vivi e li nutre

 

per l’intelligenza d’amore

per il vino e il suo colore

per l’ozio con la sua attesa di niente

per la bellezza tanto antica e tanto nuova

 

io ringraziare desidero per le facce del mondo

che sono varie e molte sono adorabili

per quando la notte

si dorme abbracciati

per quando siamo attenti e innamorati

per l’attenzione

che è la preghiera spontanea dell’anima

per tutte le biblioteche del mondo

per quello stare bene fra gli altri che leggono

per i nostri maestri immensi

per chi nei secoli ha ragionato in noi

 

per il bene dell’amicizia

quando si dicono cose stupide e care

per tutti i baci d’amore

per l’amore che rende impavidi

per la contentezza, l’entusiasmo, l’ebrezza

per i morti nostri

che fanno della morte un luogo abitato.

 

Ringraziare desidero

perché su questa terra esiste la musica

per la mano destra e la mano sinistra

e il loro intimo accordo

per chi è indifferente alla notorietà

per i cani, per i gatti

esseri fraterni carichi di mistero

per i fiori

e la segreta vittoria che celebrano

per il silenzio e i suoi molti doni

per il silenzio che forse è la lezione più grande

per il sole, nostro antenato.

 

Io ringraziare desidero

per Borges

per Whitman e Francesco d’Assisi

per Hopkins, per Herbert

perché scrissero già questa poesia,

per il fatto che questa poesia è inesauribile

e non arriverà mai all’ultimo verso

e cambia secondo gli uomini.

Ringraziare desidero

per i minuti che precedono il sonno,

per gli intimi doni che non enumero

per il sonno e la morte

quei due tesori occulti.

 

E infine ringraziare desidero

per la gran potenza d’antico amor

per l’amor che se move il sole e l’altre stelle.

E muove tutto in noi.

 

[1] Tradução realizada no âmbito das atividades da disciplina “Prática de Tradução”, ministrada entre fevereiro e maio de 2021, sob supervisão da Profa. Cláudia Tavares Alves, na Universidade Federal de Santa Catarina.

[2] Cf. El Oltro, El Mismo (1964). Disponível em: www.literatura.us/borges/elotro.html, consulta em: 11 jun. 2021.

[3] Cf. Scritti corsari (1975).  O ensaio também está disponível em: https://www.corriere.it/speciali/pasolini/potere.html, consulta em: 11 jun. 2021.

[4] Cf. Variazioni beliche (1964). O poema está disponível em https://ameliarosselli.blogspot.com/2008/12/archivio-rosselli.html, consulta em: 11 jun. 2021.

[5] Cf. La Boutique del mistero (1968). Um trecho do conto está disponível em: http://tomascipriani.it/inviti-superflui-dino-buzzati/, consulta em: 11 jun. 2021.

[6] ARROJO, Rosemary. Tradução, desconstrução e psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1993, p. 80.

[7] In: Le giovani parole. Turim: Einaudi, 2015, pp. 115-117.

A universidade para além de seus muros: estudos de poesia italiana fora da Academia, por Helena Bressan

O blog Marca Páginas recebe hoje a contribuição de Helena Bressan Carminati (helenabcarminati@gmail.com), estudante de Letras-Italiano da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Por conta da minha própria pesquisa de doutorado, entrei em contato com um grupo de estudos chamado NECLIT (Núcleo de Estudos Contemporâneos de Literatura Italiana), da UFSC. Sempre admirei o trabalho deles e fiquei ainda mais feliz quando soube que lá também tem gente pensando em formas de transpor as barreiras acadêmicas que, muitas vezes, nos seguram dentro das universidades. Então, quando conversei com a Helena, foi natural convidá-la para dividir aqui no blog seu depoimento sobre o projeto de extensão Geografia e Cultura Italiana por meio da Poesia, que busca discutir poesia com quem não está necessariamente ligado à universidade (um assunto sempre considerado muito difícil por quase todo mundo, mas que é ao mesmo tempo uma das formas mais maravilhosas que o ser humano encontrou para se expressar). Os resultados são incríveis e agradeço muito a oportunidade de compartilhá-los aqui. Esse projeto merece ser conhecido e nos inspira a continuarmos nossos trabalhos de divulgação dos estudos literários. Agradeço a Helena e a equipe NECLIT. E que nunca nos falte poesia!

A universidade para além de seus muros: estudos de poesia italiana fora da academia, por Helena Bressan Carminati

Quando conheci a Cláudia, pelas redes sociais, começamos a conversar e ela me convidou, muito gentilmente, para escrever a respeito do projeto Geografia e Cultura Italiana por meio da Poesia. De imediato, fiquei empolgadíssima e comecei a pensar sobre isso. O que teve início como um projeto de extensão, em 2016, deu origem a um minicurso na XII Semana Acadêmica de Letras da UFSC, em 2018, e gostaria então de compartilhar com vocês um pouco dessa minha experiência.

Em 2016, com o apoio do Edital PROBOLSA/UFSC e a coordenação da Professora Patricia Peterle, do departamento de Língua e Literatura Estrangeiras da UFSC, o objetivo principal do projeto era oferecer um panorama da geografia e da cultura italiana para a comunidade não acadêmica, buscando ampliar o conhecimento de aspectos relativos à cultura e à língua italiana e disseminar a poesia italiana contemporânea. Tivemos a ideia então de trabalhar esses conteúdos a partir de poemas selecionados para que pudéssemos apresentar, ao mesmo tempo, alguns poetas, as características de suas poesias e também algumas cidades italianas que os inspiraram a escrever. Assim, o público alvo era composto principalmente por pessoas que tinham interesse pela literatura, língua ou cultura italianas, mas que não necessariamente estavam vinculadas a universidades ou ao meio universitário. Naquele momento, tínhamos justamente a intenção de divulgar a poesia italiana para pessoas de fora desses contextos, por isso propusemos um projeto de extensão que, por definição, tenta transpor os muros da universidade e compartilhar os conhecimentos que são produzidos dentro da academia.

Os módulos do projeto aconteceram a cada 15 dias, nos meses de junho, agosto, setembro e outubro daquele ano, e foram organizados e ministrados por duas ou três pessoas, no Círculo Ítalo Brasileiro (CIB), no centro de Florianópolis. Cada módulo teve duração de 4 horas e foi estruturado da seguinte forma: introdução sobre um autor e sua poesia, suas principais características, a cidade escolhida como tema dos poemas, de forma a situarmos o público em relação ao que estávamos tratando, além da leitura da versão italiana e da tradução dos poemas selecionados (geralmente, dois poemas por módulo) para, em seguida, propor uma discussão em conjunto (ministrantes e participantes), acompanhada finalmente da análise dos poemas. A análise era enfim um dos momentos mais interessantes e importantes do módulo, pois quem o estava ministrando procurava deixar a participação do público bastante livre, enfatizando sempre que a análise e a interpretação de poesia estão sujeitas a novos olhares e a diferentes possibilidades de leitura, principalmente se mantivermos em mente que não há apenas uma resposta correta para as perguntas que surgem durante esse processo.

Acredito que esse foi um dos fatores essenciais que contribuíram para que tivéssemos um feedback positivo por parte dos participantes, pois eles percebiam que, mesmo não estando na universidade e/ou não estudando aquele determinado assunto, tinham capacidade de fazer suposições, dar suas opiniões, analisar os poemas e se expressar para um grupo maior sobre um tema geralmente temido pela maioria das pessoas, como é a poesia. Era um momento de troca, em que falávamos e escutávamos o que todos tinham para compartilhar.

Estabelecer relações entre a geografia e a cultura italiana, partindo da leitura de textos poéticos, foi e continua sendo desafiador por alguns motivos. Um deles talvez seja o de tirar o texto literário da sala de aula e ver como ele pode falar e ser recebido por leitores menos especialistas, mas com sensibilidades diferentes, visto que pensar a geografia e a poesia de uma cidade implica também pensar a sua própria cultura, os habitantes que nela vivem e seus comportamentos. Também por isso os participantes se mostravam tão interessados, pois, ao mesmo tempo em que mostrávamos a eles realidades diferentes, a todo momento relacionávamos aquilo ao nosso contexto aqui no Brasil. Por exemplo, no primeiro minicurso sobre a Roma da poeta Patrizia Cavalli, discutimos sobre as diferentes concepções de praça para um italiano e para um brasileiro, o que gerou pensamentos e argumentos bastante interessantes e diversificados. Um deles foi que aqui no Brasil temos a praça como um espaço público utilizado para lazer, geralmente bastante arborizado, com bancos, parques para crianças, enquanto que na Itália a praça constitui-se historicamente como um lugar de fala, um espaço de lutas em que são feitas as manifestações políticas, e, em sua maioria, possuem fontes ou monumentos em seu centro, também como uma forma de criar aquele ambiente que faz parte da vida social dos cidadãos. Assim, pudemos dialogar a respeito dessas diferenças que fazem de cada país um lugar particular.

Para que esse tipo de diálogo com o público fosse possível, escolhemos algumas cidades já conhecidas, e também outras um pouco menos, como foi o caso da Milão periférica do escritor Milo de Angelis, que escreveu poemas a partir de sua experiência como professor no Presídio de Segurança Máxima de Milão, chamado Opera. Para escolher tais autores, fizemos um mapeamento de poetas que no século XX e XXI trataram e tratam em seus textos da cultura local, do espaço urbano, das periferias, e acabamos escolhendo Patrizia Cavalli, Giorgio Caproni, Franco Fortini, Milo de Angelis e Umberto Saba e as respectivas cidades de Roma, Gênova, Florença, Milão e Trieste.

As ministrantes dos módulos eram alunas de graduação e pós-graduação da UFSC que aceitaram fazer parte desse projeto, o qual tinha ainda uma bolsista principal responsável pela organização geral dos módulos. Além disso, destaco a importância de um projeto de extensão como esse e tantos outros que acontecem nas universidades e que permitem para a comunidade fora das universidades o acesso a diferentes conteúdos ditos “acadêmicos”, a divulgação das pesquisas científicas feitas pelos alunos e o contato com pessoas diferentes, possibilitando criar diálogos fora da Academia, o que é tão relevante no momento que vivemos hoje.

Fazer parte desse projeto me fez enxergar possibilidades de uma vida acadêmica fora da “Academia” e, mais, me fez perceber que todo o conhecimento produzido por nós estudantes se torna muito mais interessante quando compartilhado. Apresentar a poesia italiana para um público não universitário foi desafiador e gratificante, pois ao mesmo tempo em que eu estava ali para transmitir conhecimento, nossos encontros eram uma grande troca. O público percebeu que poderia estudar poesia e compreendê-la, pois a palavra poética toca a alma humana, e foi exatamente isso que tentamos fazer ao propor esse projeto. Nesse sentido, acredito que o movimento de ir além dos muros da universidade é essencial para ultrapassarmos limites e partilharmos os conhecimentos.