Um rosto pelo outro: o espelho que falta em A mulher de pés descalços, de Scholastique Mukasonga

Em diferentes épocas, em diferentes espaços geográficos, o espelho apareceu representado na literatura, funcionando ora mais, ora menos como símbolo ou metáfora. Pensemos no mito grego de Narciso, que acha feio o que não é espelho, eternizado nas Metamorfoses do poeta Ovídio; ou na carta aos Coríntios de São Paulo, passagem bíblica em que o enigma antecede a possibilidade de nos vermos face a face; ou até mesmo na história da Branca de Neve, fábula dos Irmãos Grimm ou filme da Disney, em que a madrasta se pergunta sobre a existência de algo mais belo do que si mesma. Na literatura brasileira, igualmente disseminado, o espelho aparece, por exemplo, tanto em Machado de Assis, quanto em Guimarães Rosa, quando ambos escolhem chamar seus contos de, justamente, “O espelho”. Não faltam, portanto, referências e análises sobre esse tema, que se tornou um prato cheio para os estudos literários. No entanto, hoje, lendo o romance A mulher de pés descalços, pude refletir (com todas as ambiguidades que essa palavra poderá ressoar aqui) de uma maneira diferente sobre ele.

Escrito por Scholastique Mukasonga e publicado em 2008, na França, e em 2017, no Brasil, em tradução de Marília Garcia pela editora Nós, A mulher de pés descalços é o que poderíamos chamar de testemunho da história, com h minúsculo, e da História, com h maiúsculo. A escritora, que nasceu em Ruanda em 1956 e se refugiou na França na década de 1990, homenageia nesse romance sua mãe, Stefania. As experiências narradas vão sendo encadeadas de forma que a história particular de sua família se costure à terrível guerra civil que marcou a História de seu país de origem. Entre exílios e genocídios, Mukasonga vai nos colocando em contato com as múltiplas violências relacionadas aos conflitos étnicos ocorridos em Ruanda nas últimas décadas do século XX, enquanto nos imerge em memórias familiares que tematizam seus hábitos e costumes.

 

 

Foi então que ali pelo capítulo VII, “A beleza e os casamentos”, li a seguinte passagem:

          Mas como a gente faz para saber se é bonita sem um espelho? Em Gitagata não havia espelhos, nem mesmo nas lojas; no maior comerciante de Nyamata, eles ficavam no alto da estante, atrás do balcão – e era impossível dar uma olhada, mesmo quando o vendedor se distraía atendendo outro cliente. O único espelho eram os outros: o olhar satisfeito ou os suspiros de desânimo da nossa própria mãe, as observações e comentários da irmã mais velha ou dos colegas e, depois, o rumor que corria pelo vilarejo que acabava chegando até nós: quem é bonita? E quem não é?

          Mas, sem espelho, como ter certeza de que ao menos alguns traços do próprio rosto correspondem aos critérios de beleza valorizados pelas casamenteiras e celebrados pelas canções, provérbios e histórias? Uma cabeleira abundante, mas que deixe a testa à mostra, um nariz reto (esse pequeno nariz tutsi que acabou decidindo a morte de tantos ruandeses), gengivas pretas como as de Stefania, sinais de boa linhagem, dentes afastados… Quando o Sol brilhava, a gente ia até uma poça tentar ver o reflexo. Mas o retrato fluido dançava debaixo de nossos olhos impotentes. O rosto de água se enrugava, se encrespava e se fragmentava em películas de luz. Nosso rosto nunca era nosso como quando é visto no espelho, ele era sempre de outro.[1]

A pergunta que abre o excerto, como a gente faz para saber se é bonita sem um espelho?, me deixou desconcertada. A presença desse objeto sempre foi tão naturalizada e banal para mim – seja pela minha própria existência, seja pela literatura contemporânea que pude conhecer até aqui – que nunca tinha me passado pela cabeça a possibilidade de não ter acesso, em tempos tão recentes, à experiência de se encarar em um espelho. É curioso porque, acompanhando a leitura do livro até aquele momento, eu já havia passado com as personagens pela falta de leite (tão importante para a cultura dos tutsis, etnia da qual Mukasonga e sua família fazem parte), de pão, de água limpa, de segurança, de paz, mas foi com a falta de espelho que senti uma indignação não sentida até então com o livro – talvez por nunca ter pensado sobre isso, diferentemente das outras desigualdades, com as quais eu já havia me deparado simbolicamente em outros momentos.

“O único espelho eram os outros”. Sabemos o quanto a forma como as outras pessoas nos veem é constitutiva da forma como nós mesmas nos enxergamos, nos percebemos, nos projetamos. Porém, a situação em Gitagata, conforme descrita no romance, era a de que essa era a única forma de se ver fisicamente, o que levaria a personagem à pergunta sem resposta: será que sou bonita? Só seria possível satisfazer essa curiosidade pelas características apontadas pelos outros. Os olhares de fora seriam, então, a régua definidora de como ela mesma se perceberia de dentro.

Essa passagem está inserida em um capítulo em que o padrão de beleza (interna e externa) das mulheres tutsis é descrito de forma cuidadosa, afinal ele seria o critério segundo o qual as mulheres do vilarejo conseguiriam se casar ou não. Com certo incômodo, moldadas pela maneira como nossa própria cultura tem problematizado essa questão na contemporaneidade, acompanhamos a mãe de Mukasonga, “casamenteira de mão cheia”, tecendo considerações sobre as moças que ela analisava na tentativa de arranjar casamentos: questões de formação, como ser de família respeitável, ter boa educação, ser trabalhadora; mas também atributos físicos, como ter charme, graça e estrias (sim, era bom sinal ter cochas grossas e cobertas por uma rede de estrias). Por isso, poder dizer sobre si mesma se era uma mulher bonita ou não seria um critério tão importante para a cultura tutsi – afinal isso determinaria, em alguma medida, a oportunidade de se conseguir um casamento e, por consequência, um futuro.

A partir dessa passagem, carrego comigo a imagem do “rosto de água” que a personagem sugere. Para além de narrar as desigualdades e injustiças que acometeram seu povo, levando à dor de saber que a própria família, incluindo sua mãe, havia sido brutalmente assassinada em Ruanda, o romance de Mukasonga nos coloca diante desse não-espelho, ou desse espelho turvo, no qual ingenuamente acreditamos nos enxergar. Foi pela leitura de seu livro que pude sair de minha autoimagem confortável, acreditando que todos conhecem seu próprio rosto refletido em um espelho, e perceber que algo tão banal para mim não é exatamente vivido e percebido pelo outro dessa mesma maneira. Assim, no final das contas, é a imagem que tenho de mim que acabou ficando enrugada, encrespada, fragmentada, por poder pensar, através da literatura, sobre outra cultura, outra realidade, outra perspectiva de existência. Esse tema, ao lado das inúmeras simbologias que o elemento espelho suscita na tradição literária, pode certamente se desdobrar em associações, intertextualidades, bases teóricas diversas – e espero poder aprofundar tais análises posteriormente. Não deixa de ser fascinante, contudo, me dar conta de que nessa aproximação ao livro de Mukasonga mesmo a experiência de leitura mais dolorosa e mais desconcertante sobre mim mesma é ainda, e sempre será, uma experiência que vale a pena ser sentida.

[1] MUKASONGA, Scholastique. A mulher de pés descalços. Trad. Marília Garcia. São Paulo: Editora Nós, 2020 [2017], p. 90-91.

Literatura em Libras: conhecendo a produção literária em língua de sinais

Você já deve ter ouvido falar sobre Libras, a Língua Brasileira de Sinais, não é? Mas e obras literárias produzidas em línguas de sinais, você conhece? Veja a seguir o poema-história “Árvore”, de André Luiz Conceição, para conhecer um exemplo desse tipo de literatura:

Você deve ter notado o quanto a expressividade desse texto literário é constituída por uma soma de fatores corporais, visuais, imagéticos, que transmitem uma experiência única. O projeto “Literatura em Libras” se propõe a pensar justamente esse tipo de produção literária realizada em Libras, atentando para as suas particularidades estéticas e a sua relação com a sociedade brasileira. Idealizado pela pesquisadora e professora da Universidade Federal de Santa Catarina, Rachel Sutton-Spence, e traduzido para Libras em parceria com Gustavo Gusmão, o livro, publicado este ano pela Editora Arara Azul, está disponível pelo site http://www.literaturaemlibras.com, acompanhado de diversos outros materiais visuais complementares. E tudo isso pode ser acessado e baixado gratuitamente por quem se interessar!

Capa de “Literatura em Libras”, de Rachel Sutton-Spence

 

O material “Literatura em Libras” se dedica a aprofundar a compreensão da produção literária contemporânea em Libras, traçando um percurso de reflexão que passa por 4 pontos principais: elementos fundamentais da literatura em Libras; produção de narrativas e contos em Libras; elementos da linguagem estética de Libras; e relações entre a sociedade e a literatura em Libras.

Cada uma das partes está subdividida em capítulos, nos quais se discutem aspectos específicos relacionados a cada temática, como a literatura surda no contexto brasileiro, definições dos gêneros literários pela perspectiva da literatura em Libras, a tradução da literatura produzida em Libras, entre outros. Ao final de cada capítulo, há ainda um breve resumo dos principais pontos abordados e a proposição de diversas atividades, estabelecendo assim uma ponte entre a reflexão teórica e a prática.

Vale ressaltar que o interesse central da publicação está relacionado à literatura produzida em Libras, isto é, não aquelas obras literárias que foram traduzidas para Libras, mas sim aquelas que foram concebidas originalmente na língua de sinais. Essa diferença é fundamental para que possamos compreender que existe uma cultura literária sendo produzida pela comunidade surda brasileira. Isso implica, por sua vez, reconhecer uma série de potencialidades artísticas próprias dessa produção, que se diferencia das produções literárias escritas e visuais a que temos acesso na maior parte do tempo.

Além disso, a literatura produzida em Libras permite a expressão de experiências próprias da comunidade surda, elaborando literariamente um conjunto de vivências particulares que nem sempre são abordadas ou representadas de maneira adequada pelas produções em línguas orais.

Outro ponto que merece destaque é observar o quanto os estudos sobre literatura produzida em línguas de sinais se conjugam, em 2021, aos avanços tecnológicos das últimas décadas. Em seu prefácio à edição, Rachel Sutton-Spence conta que, na década de 1970, ela já havia se deparado com trabalhos dedicados a poemas em ASL, a Língua Americana de Sinais. As materialidades desses estudos, no entanto, lidavam com suportes distintos dos quais podemos usufruir hoje: “Klima e Bellugi (1979) usaram desenhos feitos com canetas-tinteiro; Sutton-Spence e Woll (1998) usaram imagens de captura de tela de vídeos em VHS; Bauman, Nelson e Rose (2006) incluíram um DVD de trechos de ASL literária em um pequeno envelope na capa do seu livro; Sutton-Spence e Kaneko (2016) usaram capturas de tela junto a uma lista de vídeos indicados, muitos deles do YouTube, esperando que os leitores os procurassem na internet” (2021, p. 18).

Já o trabalho de “Literatura em Libras” está praticamente todo traduzido para Libras e está registrado em vídeos que foram disponibilizados nas plataformas YouTube e Vimeo, facilitando ainda mais o acesso ao material. Há também muitos outros links e QR codes que redirecionam para outros materiais disponíveis em Libras na internet, o que demonstra uma vez mais a riqueza das conexões tecnológicas possíveis nos dias de hoje.

Alfabeto manual de Libras
               Alfabeto manual de Libras

 

Finalmente, vale destacar os avanços da comunidade surda no Brasil e do reconhecimento, a partir de 2002, da Libras como uma das línguas do nosso território. Rachel explica que: “Apesar de os surdos no mundo inteiro terem muitas características semelhantes, a comunidade surda brasileira é diferente das comunidades de outros países pela existência da Lei de Libras. As experiências políticas e educacionais – e até literárias – acontecem todas em respeito à Lei 10436/2002 e ao Decreto 5626/2005, que estabelece o direito dos surdos de ter acesso a informações em Libras. Com isso, estamos vivendo um momento importantíssimo do país, com professores surdos em muitas universidades – federais, estaduais e privadas– nos cursos de Letras Libras e/ou ensinando Libras, pesquisando sobre a língua e a comunidade surda e divulgando os conhecimentos através de publicações e ações de extensão. Hoje, em universidades de todo o Brasil, temos disciplinas que estudam a literatura surda” (2021, p. 28).

Nesse sentido, reconhece-se que ainda há muito trabalho de divulgação e reflexão a ser feito, mas passos importantes têm sido dados para tornar a Literatura em Libras mais conhecida e acessível a um grande público, sobretudo em ambientes escolares, onde o tema da acessibilidade é cada vez mais urgente. E a existência do livro “Literatura em Libras” é algo que, sem dúvidas, nos coloca em contato com essa produção e nos mostra a importância dessa literatura em nossa sociedade.

Descobrindo o encoberto: conversas sobre tradução com Flora Thomson-DeVeaux

Nas últimas semanas, a pesquisadora e tradutora Flora Thomson-DeVeaux tem estado presente em diversas páginas da imprensa nacional e internacional. A sua tradução do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, publicada recentemente pela editora Penguin, entrou na quarta tiragem logo no primeiro mês de publicação. Assim, desde seu lançamento, The Posthumous Memoirs of Brás Cubas (Penguin Classics, 2020) tem chamado a atenção do público e rendido boas reflexões sobre a recepção da obra de Machado de Assis no exterior.

Flora estudou Línguas e Culturas Espanholas e Portuguesas na Universidade de Princeton. Em 2019, concluiu o doutorado em Estudos Brasileiros e Portugueses na Universidade Brown. Atualmente, vive no Rio de Janeiro e, entre outras atividades, é diretora de pesquisa da Rádio Novelo, produtora de podcasts como Maria vai com as outras, Foro de Teresina e 451 MHz. O blog Marca Páginas convidou Flora para uma conversa sobre tradução, literatura, pesquisa acadêmica, projetos futuros, e o resultado da nossa entrevista vocês conferem aqui. Boa leitura!

Marca Páginas: Flora, você começou a traduzir o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas como parte de seu projeto de doutorado, defendido na Universidade Brown em 2019. Você poderia nos contar mais sobre a sua tese? De que maneira essa pesquisa acadêmica foi importante para a tradução de uma obra literária?

Flora Thomson-DeVeaux: A tradução de Memórias póstumas de Brás Cubas foi só um dos capítulos da minha tese, na verdade. Nos outros capítulos, tentei acompanhar a trajetória do romance em inglês – a primeira publicação foi no começo dos anos 1950 nos Estados Unidos e teve mais duas traduções posteriores. Fui atrás de descobrir quais circunstâncias levaram cada tradutor a embarcar no projeto, como foi o processo de edição e publicação, e como cada tradução foi lida no seu tempo. Também dediquei alguns capítulos a aspectos mais teóricos de crítica machadiana e tradutória, e falo sobre minha metodologia. Por fim, proponho que ler a obra machadiana através das suas traduções pode ser uma experiência reveladora.

Uma obra como Memórias póstumas de Brás Cubas é em grande parte uma colaboração entre o texto e o leitor. Em Dom Casmurro, o narrador nos diz que este é um livro “falho”, com lacunas, que cabe ao leitor preencher. Essa é uma operação silenciosa que acontece na cabeça de quem lê Machado de Assis; mas o tradutor acaba imortalizando um pouco do processo na página. Por isso, ler várias traduções da mesma obra machadiana pode jogar uma luz sobre as complexidades do texto original.

Antes de começar a traduzir o livro, mergulhei nos estudos machadianos e da tradução para me situar melhor nos campos respectivos. Queria estar a par não só da grande gama de interpretações que se tem feito do romance, mas também dos debates e estratégias propostos por tradutores nos projetos mais diversos. Na verdade, alguns dos textos que mais me ajudaram tinham pouco ou nada a ver com Machado e Brás Cubas – entre eles, um estudo sobre as traduções de poesias de John Donne para o francês e espanhol e outro que examina vários escritores de língua inglesa em tradução para o italiano. Acredito que essa contextualização tenha sido importante para minha abordagem ao texto – me deixou antenada para perceber alusões e dinâmicas comentadas por outros leitores, e também entrei no processo com algumas ideias de estratégias possíveis debaixo do braço.

Capa da edição The Posthumous Memoirs of Brás Cubas (Penguin Classics, 2020)

Marca Páginas: Apesar de Machado de Assis ser bastante conhecido no Brasil, sabemos que sua circulação é ainda restrita em outros países. Você já tinha ouvido falar sobre Machado de Assis antes de decidir estudar literatura brasileira? Como você conheceu a obra de Machado e o que te motivou a traduzi-la?

Flora Thomson-DeVeaux: Não tinha ouvido falar em Machado de Assis antes de entrar na faculdade. Conheci justamente como aluna de literatura brasileira – na verdade, como aluna de língua portuguesa. Foi naquela época que me apaixonei pela prática da tradução, mas não pensei imediatamente em trabalhar com Machado – até porque quase todos os romances dele já tinham sido traduzidos para o inglês (o último foi Ressurreição, que foi traduzido em 2013). Só comecei a pensar nessa possibilidade quando fui traduzir um livro de João Cezar de Castro Rocha, chamado Machado de Assis: por uma poética da emulação. Sempre que João Cezar citava obras de Machado que já tinham sido traduzidas, procurei citar as traduções existentes – mas em muitos casos, as traduções não encaixavam com a análise minuciosa que estava sendo feita no livro de crítica. Com isso, me vi obrigada a retraduzir alguns trechos daqueles romances. Foi uma experiência instigante, bem na véspera de eu entrar no programa de doutorado, e que me ajudou a definir meu projeto em torno de uma nova tradução de Memórias póstumas de Brás Cubas.

Marca Páginas: Em ocasiões anteriores, quando foram publicadas outras traduções de Machado no exterior, havia uma grande expectativa de que o escritor seria reconhecido fora do Brasil. Sua tradução parece finalmente estar despertando essa atenção. A quais fatores você atribui esse reconhecimento? Por que agora e não antes?

Flora Thomson-DeVeaux: Infelizmente, suas perguntas provavelmente poderiam ter sido feitas no centenário da morte de Machado em 2008, ou na época das primeiras retraduções nos anos 1990, e elas ecoam questionamentos e esperanças da década de 1950. Quando estudei a recepção das traduções anteriores, vi sempre muita esperança em torno de cada lançamento, mas a repercussão acabava esvaindo sem que Machado de Assis se estabelecesse definitivamente nas prateleiras anglófonas. Torço muito para que desta vez seja diferente. Mas o primeiro tradutor de Memórias póstumas, William Grossman, chegou a dizer que Machado, com sua ironia delicada e fina, jamais seria um autor para as massas, e só seria descoberto e desfrutado por um público seleto.

Marca Páginas: Memórias Póstumas foi publicado no século XIX, em 1881, o que implica desafios tradutórios diferentes se compararmos a experiência à tradução de um texto contemporâneo. Quais foram os seus maiores desafios diante desse trabalho? E quais foram as estratégias e os instrumentos que você utilizou para lidar com esses desafios?

Flora Thomson-DeVeaux: A maior dificuldade não era só de tentar habitar o inglês do final do século XIX, mas sobretudo de medir o quanto que as escolhas linguísticas do autor se diferenciavam daquelas dos seus pares. Ou seja: quando Machado escrevia algo de um jeito que me parecia esquisito, tinha que descobrir se a esquisitice era temporal, cultural, ou machadiana mesmo – se era uma expressão muito usada naquela época que caiu em desuso, se era uma expressão brasileira de difícil interpretação no contexto anglófono, ou se era uma invenção dele, ou uma opção dele por uma palavra deliberadamente obscura. Nesses últimos casos, tentava chegar em alguma solução que fosse ao mesmo tempo compreensível e que também ficasse suficientemente esquisito aos olhos do leitor anglófono. Para identificar se Machado estava se diferenciando muito de seus pares, eu usei tanto bases de dados chamados corpus linguísticos, que medem a frequência de uso das palavras ao longo dos anos, quanto a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, onde usuários podem acessar milhares de publicações digitalizadas do século XIX e XX. Ah, e acabei acumulando uma coleção respeitável de dicionários antigos português-inglês (melhor: portuguez-inglez), que às vezes preservam definições e explicações de frases e termos que teriam sido correntes no século XIX, mas já não são tão compreensíveis.

Flora Thomson-DeVeaux (acervo pessoal)

Marca Páginas: Estudos sobre tradução já foram tema aqui no blog Marca Páginas[1], inclusive para falar sobre traduções de Machado de Assis para o espanhol[2]. Considerando as nuances que perpassam a experiência de tradução, seja como traição, seja como coautoria, de que maneira você definiria seu trabalho como tradutora?

Flora Thomson-DeVeaux: Jamais me definiria como traidora, mas também não me vejo muito como co-autora. Me identifico muito com uma descrição da última crônica do Machado: “eu gosto de catar o mínimo e o escondido. Onde ninguém mete o nariz, aí entra o meu, com a curiosidade estreita e aguda que descobre o encoberto.” Vejo o trabalho de tradução como essa missão de uma leitura minuciosa, obsessiva, que pode muitas vezes “descobrir o encoberto”.

Marca Páginas: Para terminar, você poderia nos contar quais são seus próximos projetos? Você pretende continuar traduzindo a obra de Machado de Assis?

Flora Thomson-DeVeaux: Não descarto voltar a Machado, mas não penso em emendar em outra obra dele. Ainda estou pesando algumas opções de projeto – gostaria de fazer uma tradução de uma obra que ainda não tenha versão em inglês. Meu próximo projeto não tem nada a ver com tradução: é um podcast narrativo sobre o caso da Ângela Diniz, que deve ser lançado nos próximos meses pela Rádio Novelo.

Sugestões de leitura:


[1] Para acessar os posts anteriores: <https://www.blogs.unicamp.br/marcapaginas/2017/04/20/traducao-de-textos-literarios-parte-1/>, <https://www.blogs.unicamp.br/marcapaginas/2018/10/01/a-traducao-de-textos-literarios-parte-2/> e <https://www.blogs.unicamp.br/marcapaginas/2018/09/18/o-camelo-pelo-buraco-da-agulha-e-outras-historias-estranhas-de-traducao-por-stant-litore-traducao-jacqueline-placa/>.

[2] Para conferir o texto “Machado de Assis em espanhol”, por Juliana Gimenes:  <https://www.blogs.unicamp.br/marcapaginas/2017/06/24/machado-de-assis-em-espanhol-por-juliana-gimenes/>.

O compromisso político de fazer ciência no Brasil hoje

Hoje o dia amanheceu chuvoso em muitas cidades, e aqui em Roma também. Andando pelas ruas, reparei em quantas pessoas carregavam seus guarda-chuvas. Não pude evitar o pensamento: nenhuma delas estava com medo de levar um tiro e morrer por causa do que carregavam. Esse post é em memória de Rodrigo Serrano, brutalmente assassinado no dia 17 de setembro de 2018 pela polícia militar do Rio de Janeiro.

O compromisso político de fazer ciência no Brasil hoje

Quem escolhe ser pesquisador em nosso país (e no mundo todo) acaba se acostumando com o questionamento recorrente sobre a utilidade prática do que faz, do seu trabalho. Nas ciências humanas, esse questionamento é talvez ainda mais frequente porque nossas pesquisas não produzem, na maioria das vezes, resultados imediatos, pragmáticos, mensuráveis pelos parâmetros da sociedade de consumo. Estudar as diversas perspectivas da representação literária ao longo dos anos na literatura brasileira não parece ter o mesmo prestígio que compreender a reprodução de uma bactéria a fim de criar um novo remédio, por exemplo. E por que será que isso acontece? Arrisco um palpite: porque, nessa sociedade, pesquisas que não geram patentes, sobretudo porque não geram lucros, não despertam muito interesse.

Sempre que posso, faço questão de começar meus textos por aí, porque acredito que precisamos lembrar – e relembrar quantas vezes pudermos – que estamos vivendo em uma época em que a formação e a reflexão de tipo humanística correm o risco de cair em desuso. Atualmente, a ideia de trabalho e produção de conhecimento está ligada a valores capitalizados, tecnocráticos, pouco ideológicos ou apolíticos, e, nesse espaço, a maturação de reflexões humanas não tem tempo suficiente para acontecer. Tudo precisa ser rápido e funcional. Já deu para perceber que a conversa é tensa, né? Mas todo esse preâmbulo é para pensarmos juntos como a ideia de produção científica se encaixa nesse contexto – e como fazer ciência, em todas as áreas, principalmente dentro de uma universidade pública, só pode ser entendido como um gesto político.

Nos estudos literários (e talvez posso afirmar que no âmbito das pesquisas sobre linguagem em geral), existe um esforço em se pensar os poderes que estão em disputa. Nosso trabalho muitas vezes se volta à desnaturalização de ideias consolidadas e de pensamentos enraizados em nossa cultura. Nesse sentido, fica difícil imaginar como uma pesquisa desse tipo pode ser considerada apolítica: estamos constantemente exercitando nossa reflexão crítica ao olhar para o mundo e estudar suas diversas manifestações ao longo do tempo.

É por esse caminho que muitos estudiosos pensam na capacidade transformadora que a própria literatura exerce. Escrever seria um gesto de colocar no papel aquilo que precisa ser revisto em nosso mundo e, a partir daí, gerar no leitor um pensamento com potencial para se tornar atitude. Estamos então em um terreno em que a literatura pode ser vista como um espaço público de politização e também de disputa de histórias. Por meio dos livros, seria possível contar uma história que sistematicamente determinadas esferas de poder quiseram (e querem) calar, assim como poderia despertar nos leitores uma reflexão. Ou seja: quanto mais a gente lê, mais a gente se depara com versões diferentes para uma mesma história e dificilmente sairemos dessas leituras da mesma forma que entramos.

Jean Paul Sartre, importante filósofo e escritor francês do século XX, publicou em 1948 o livro Que é a literatura? (Editora Ática, 2004, tradução Carlos Felipe Moisés), no qual discute, após o final da Segunda Guerra Mundial, o que, por que e para quem escrever literatura. Depois das atrocidades cometidas pelos governos fascistas e nazistas nos anos anteriores, Sartre e tantos outros intelectuais voltaram seus pensamentos em direção às ainda possíveis perspectivas de existência humana – e como o ato de pensar e escrever sobre essa existência ainda poderia ter alguma função.

Foto por Daniel Frank.

Sartre defende a ideia de que “através da literatura (…) a coletividade passa à reflexão e à mediação, adquire uma consciência infeliz, uma imagem não equilibrada de si mesma, que ela busca incessantemente modificar e aperfeiçoar” (2004, p. 217). Sua posição parece estar entre dois caminhos já bastante trilhados quando se pensa no fazer literário: a ideia de que a literatura vai salvar a humanidade, despertando-lhe a consciência necessária para isso, mas também a ideia de que essa consciência é infeliz, desequilibrada, mediada, o que significa que não necessariamente ela atingirá seu potencial de conscientização nos indivíduos.

Muito complicado? É mais ou menos pensar que ler não é sinônimo de caráter – há muitos exemplos por aí de gente que já leu muito, mas continua tendo comportamentos questionáveis. E também que nem toda literatura é questionadora e progressista, afinal é também no âmbito literário que versões opressoras da história se consolidam. O ponto principal é que, repito, parece que estamos diante do potencial de reflexão e de crítica que pode emanar da literatura. A ideia de que, com esse esforço de leitura, a coletividade pode tomar conhecimento de si mesma, reconhecer onde estão suas falhas e, a partir daí, buscar modificá-las e aperfeiçoá-las. Em outras palavras, escrever e pensar a literatura como pequenos movimentos de transformação.

O lugar que ocupamos como pesquisadoras e pesquisadores, me parece, passa também por essas mesmas questões. A ideia de produzir ciência, ou seja, de produzir conhecimento, em um país com tantas desigualdades (sociais, econômicas, culturais) como o nosso não deve estar isenta de sua potencialidade de reflexão e de transformação social. Porque são ausências políticas em momentos conturbados como os que estamos vivendo ultimamente que podem criar monstruosidades históricas com as quais certamente não queremos conviver.

E assim chegamos ao Brasil do ano de 2018, onde ainda é preciso debater machismo, racismo, homofobia e tantos outros preconceitos enraizados na nossa história. Esse debate, que perpassa todas as esferas públicas de produção de conhecimento (e por isso também todas as universidades, programas de pós-graduação e institutos de pesquisa), não pode ser diminuído ou silenciado, pois estamos disputando a história que se fará daqui por diante. A reflexão humanística, que deveria ser uma guia aos estudos literários e também às demais ciências, reafirma sua importância nesse processo como aquela que não nos deixa esquecer os momentos em que a humanidade se viu ameaçada por seu próprio desenvolvimento e capacidades destrutivas. Posicionar-se politicamente em todas as esferas que nos cabem é então reconhecer a função pública que cada indivíduo carrega em si e estimular a reflexão crítica em todas as frentes imagináveis. Resistir em todos os espaços que ocupamos: esse é o compromisso científico e político do qual não podemos nos isentar.

 

Estudos Literários: existirmos, a que será que se destina?

Sempre imagino começar uma aula de Literatura perguntando aos alunos o que se estuda nas outras aulas. Matemática? Números, equações, formas geométricas. Biologia? Reino animal, reino vegetal, corpo humano. História? Grécia, Império Romano, Independência do Brasil, Segunda Guerra Mundial. E então perguntar para a classe: e Literatura? Esperaria respostas como livros, escritores, histórias. Mas acho que poderíamos complementar e dizer ainda tudo o mais que se aprende nas outras aulas, afinal números, corpos e guerras, por exemplo, são temas bastante recorrentes também na Literatura.

Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (acervo pessoal)

Esse exercício de imaginação sempre me fez acreditar que ali naquele contexto escolar seria possível mostrar aos alunos que, em uma aula de Literatura, podemos passar, em maior ou menor medida, pelos conteúdos de todas as outras disciplinas. Nesse grande guarda-chuva, não haveria limites para imaginar quais temas existem e podem ser trabalhados na escola. Tudo que é humano é passível de ser literário.

De alguma maneira, quando explico o que são os Estudos Literários, tento percorrer esse mesmo trajeto. Se a Literatura nos permite criar em cima de tudo o que é humano, os Estudos Literários se abrem como uma área capaz de propor os mais variados tipos de exercícios de reflexão a partir da Literatura e de seus desdobramentos.

Existimos como uma área científica, então, nessa perspectiva: produzindo os mais diferentes conhecimentos possíveis de serem pensados a partir de obras literárias e de tudo o que pode existir ao seu redor. Na prática, isso significa pensar e questionar desde o contexto histórico em que um livro foi escrito até a biografia de quem o escreveu, passando pelas mais diversas características de forma e estilo do próprio texto, ou ainda pelas teorias literárias que se constituem a partir de um conjunto de textos.

Pensemos em um grande clássico da literatura brasileira como Dom Casmurro, por exemplo, escrito no século XIX por Machado de Assis. Esse livro é certamente uma das obras mais analisadas até hoje pelos Estudos Literários no Brasil e também no exterior. E como pode tanta gente ainda ter tanta coisa a dizer sobre um texto de 200 e poucas páginas? A começar por sua construção literária, Dom Casmurro é um dos enredos mais instigantes da história da Literatura. Em seu universo, é possível estudar desde as escolhas linguísticas operadas por Machado até as maneiras como os sentimentos humanos e as subjetividades das personagens são construídas literariamente. Por outro lado, é também uma representação muito interessante de um certo Rio de Janeiro dos anos de 1800 e em certa medida do próprio contexto brasileiro da época. Além disso, há a oportunidade de investigar a biografia de Machado de Assis e suas trajetórias de leitura e reflexão, que ganharam novos contornos em suas próprias criações. Finalmente, as infinitas possibilidades que surgem das relações com outros livros, outros escritores, outros tempos e também com outras línguas, graças à área de traduções literárias. Sem esquecer, é claro, dos diálogos com outras Artes, como Cinema e Teatro, algo que também tem ganhado espaço nos Estudos Literários.

Com tais ideias em mente, muito se pode discutir ainda sobre os Estudos Literários em si serem ou não considerados um ramo das Ciências Humanas e, consequentemente, fazerem parte dos interesses da Divulgação Científica. Ora, mais do que responder a essa pergunta de forma pragmática, parece ser mais interessante instigar a reflexão crítica: por que Estudos Literários seriam ou não uma Ciência? Que tipo de produção de conhecimento está atrelada a essa questão ou por que essa dúvida é feita de maneira mais atenuada, com menos desconfiança, quando se trata de pesquisas das áreas de exatas e biológicas? Ou ainda, a quem interessa um certo tipo de sociedade em que fazer Ciência e produzir conhecimento é algo diretamente relacionado à utilidade prática que tais pesquisas terão, o que excluiria a princípio o tipo de pesquisa feita nos Estudos Literários?

Deixo essas dúvidas sem respostas porque nem eu mesma as tenho, mas fato é que nós, pesquisadoras e pesquisadores de Estudos Literários, existimos. Somos uma área de pesquisa presente nas universidades, nas bibliotecas, nos institutos de pesquisa, ou seja, em instâncias institucionais de renome, onde são produzidos conhecimentos. Estamos compartilhando esses espaços com muita resistência, já que socialmente os conhecimentos produzidos pelas Ciências Humanas ainda são muito desvalorizados; principalmente quando se espera das Ciências uma aplicabilidade instantânea, o que não condiz com o que é feito nos Estudos Literários. Nossa tentativa, portanto, é não sermos sufocados pela grande pergunta “mas pra que serve o que você está fazendo?”.

Porém, quando confrontada com ela, gosto de responder e, mais do que isso, de acreditar que estamos pensando e repensando as formas que o ser humano encontrou para estar no mundo, sobretudo por meio de suas mais diversas manifestações literárias e linguísticas – e isso não é pouca coisa. Para mim, parece que é um bom destino para uma área de conhecimento e, em certa medida, para todas as ciências existentes. E você, concorda?

* Publicação original em http://scienceblogs.com.br/ensaios/2018/08/estudos-literarios-existirmos-a-que-sera-que-se-destina/

Conhecendo uma pesquisa acadêmica em estudos literários, por Nina Borges Amaral

Que tal conhecer alguns dos passos possíveis para a realização de uma pesquisa acadêmica na área dos estudos literários? Nina Borges Amaral, bacharel e mestranda pela Unicamp, nos conta um pouco de sua trajetória: como iniciou sua pesquisa durante a graduação, como chegou ao seu tema de mestrado e os recortes escolhidos para realizar essa pesquisa sobre o escritor  brasileiro Bernardo Élis.

Conhecendo uma pesquisa acadêmica em estudos literários: o exemplo de Bernardo Élis

Nina Borges Amaral

Minha pesquisa acadêmica sobre o escritor goiano Bernardo Élis começou em 2013, no meu último ano de graduação em Estudos Literários[1] pela Unicamp. No curso, dentre as variadas disciplinas que cada estudante tem que fazer para se formar, estão duas obrigatórias finais: as disciplinas chamadas Monografia I e II. Nelas, desenvolve-se uma pesquisa de final de curso, cujos resultados são apresentados para uma banca de professores avaliadores na forma de um trabalho de conclusão de curso.

Diferentemente de alguns dos meus colegas, que encontraram um assunto particular que lhes interessasse e começaram suas respectivas pesquisas durante a graduação[2], passei pelo curso gostando muito de diferentes assuntos (como tradução e poesia francesa, para citar apenas dois exemplos), mas acabei não me aprofundando em nenhum. Entretanto, já quase no fim do curso, tomei conhecimento da existência do acervo Bernardo Élis no Centro de Documentação Alexandre Eulálio (o CEDAE), e foi esse material que despertou meu interesse e que proporcionou meu primeiro contato mais próximo tanto com essa literatura, quanto com a pesquisa na academia.

Naquele momento inicial, parte considerável do meu trabalho foi fazer um levantamento da fortuna crítica[3] sobre o escritor e, ao perceber que muitos críticos literários o classificavam como regionalista (como é também o caso de Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, por exemplo), tentar entender quais seriam as implicações de tal afirmação. Na minha monografia, portanto, apresentei uma compilação e análise de textos de crítica sobre a literatura bernardiana, assim como um breve estudo sobre o conceito de regionalismo literário.

Depois de defendida a monografia e concluída a graduação, entrei no mestrado com um projeto de pesquisa ainda sobre Bernardo Élis, já que, muitas vezes, a pesquisa que desenvolvemos na graduação (seja em uma iniciação científica ou mesmo nas disciplinas de monografia ou TCC) acaba levantando novos questionamentos para além de nossos objetivos iniciais.

No mestrado, passei a estudar, de um lado, o papel da identidade regional goiana na literatura bernardiana e, de outro, a relação entre regionalismo e modernismo em sua obra, pois, para muitos críticos, Bernardo Élis é o principal expoente do modernismo em Goiás. Atualmente, estou na reta final da pesquisa de mestrado: a escrita da dissertação – que é o principal requisito para a obtenção do título de mestre. A dissertação nada mais é que um texto final, mais longo e aprofundado, que cada aluno de mestrado deve apresentar para uma banca avaliadora explicando seus procedimentos de pesquisa, discutindo questões importantes relacionadas a seu objeto de estudo e apontando conclusões para os problemas e questionamentos levantados.

E essa reta final é muito importante, pois, tanto na graduação quanto na pós-graduação, só então podemos verificar os resultados materializados de uma ocupação solitária como é a pesquisa acadêmica.

Sugestões de leitura:

Bernardo Élis. Ermos e Gerais. São Paulo: Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, 1944; 2. ed. Goiânia: Ed. Oió, 1959; reedição (org. Luiz Gonzaga Marchezan). São Paulo: Martins Fontes, 2005 (Coleção Contistas e Cronistas do Brasil).

Dossiê Bernardo Élis – Remate de Males: revista do Departamento de Teoria Literária. Disponível em: http://revistas.iel.unicamp.br/index.php/remate/issue/view/220

[1] Para conhecer mais sobre a graduação em Estudos Literários e sobre as disciplinas que formam seu currículo acadêmico, visite http://www.iel.unicamp.br/br/content/estudos-liter%C3%A1rios.

[2] Quando isso acontece, os alunos podem ser orientados de maneira mais ou menos formal, seja por meio da participação em grupos de estudo, de disciplinas voltadas para a pesquisa acadêmica ou do desenvolvimento da chamada Iniciação Científica (http://cnpq.br/iniciacao-cientifica).

[3] Fortuna crítica é o termo usado para se referir a um conjunto de textos feitos por críticos literários para analisar uma produção literária específica. Aqui, os textos que fazem parte da fortuna crítica bernardiana são, portanto, textos de diferentes autores que analisam sua obra.

 

Afinal, por que pensar sobre literatura?

É muito comum se questionar sobre qual é a utilidade prática de algum conhecimento. A literatura, enquanto campo de estudos, também passa por esse questionamento.  Afinal, por que pensar sobre literatura? Para que serve uma análise literária? Por que existe um campo de pesquisas voltado aos estudos literários?

Falar sobre literatura é abrir-se a reflexões que envolvem todos os campos de conhecimento. Pensar literariamente é, sobretudo, pensar sobre o lugar do ser humano no mundo e suas manifestações. Nesse sentido (e sendo bastante simplista), os estudos literários se voltam a investigar mecanismos de construção mediados sobretudo pela linguagem e suas relações com o tempo e o espaço que ocupam (e ocuparam, e ocuparão).

Partindo desses questionamentos, o objetivo desse blog é divulgar, de maneira simples e acessível, trabalhos sobre literatura, tanto em andamento quanto finalizados, com o intuito de mostrar que o universo dos estudos literários pode transcender a ideia de que uma pesquisa acadêmica precisa necessariamente ter uma finalidade prática.

Resultado de imagem para literatura para que

Sugestão de leitura: Antoine Compagnon, Literatura para quê? Tradução de Laura Taddei Brandini. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.