Mudanças climáticas: perigosas para o planeta… e para a saúde global. (Blog Action Day 2009)

Na minha contribuição ao Blog Action Day vou abordar um tema ao mesmo tempo preocupante e interessante: o monitoramento de mudanças climáticas para a prevenção de surtos de doenças infecciosas.
ResearchBlogging.orgOs autores do trabalho publicado no periódico Emerging Infectious Diseases (do famoso CDC – Centers for Diseases Control and Prevention, de Atlanta – EUA) comentam como eventos recentes demonstraram a vulnerabilidade de grandes populações a doenças infecciosas. Um único caso de multi resistência a tuberculose em 2007 nos EUA serviu de alerta para toda a infraestrutura de saúde pública global. Agentes de saúde e o público em geral perceberam que a facilidade de locomoção aérea atual pode, potencialmente, expor centenas de pessoas a doenças carentes de tratamento.
Apesar de fatores como: facilidade para viajar, aumento populacional, poluição, atividades agrárias (gripe suína, lembram dela?), entre outros, atualmente nada tem mais potencial para efeitos graves e de longo prazo do que a influência das mudanças climáticas em surtos infecciosos, epidemias, e, como estamos vivenciando com o vírus H1N1, pandemias.
88027207.jpgO desastre natural mais frequente são as enchentes, que, de acordo com dados de 2005, afetavam mais de 70 milhões de pessoas ao redor do mundo. As doenças mais comuns associadas às enchentes são diarréia, cólera, tifo, hepatite e leptospirose. Na literatura existem relatos de surtos graves de cólera diretamente relacionados a enchentes na África e na Índia.
Para piorar, o relatório de 2001 do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) estima que o número de pessoas ao nível do mar atingidas por inundações e enchentes seja de aproximadamente 250 milhões até 2080, considerando uma elevação do nível do mar em 40 centímetros (a altura do seu joelho, mais ou menos).
A cólera, que possivelmente é a doença transmitida por água contaminada mais bem estudada, teve modelagens feitas pela NASA para prever surtos em Bangladesh, sendo que nas áreas monitoradas o número de mortes causadas por essa doença foi reduzido em mais de 50%. A imagem abaixo (desculpem a baixa qualidade, está assim no artigo também) mostra essa modelagem, e a eficiência do modelo de previsão (em amarelo) em relação ao que realmente aconteceu com os casos de cólera no tempo analisado (em verde).
ModelagemColera.jpg

Modelagem da NASA para os casos de cólera em Bangladesh (dados não publicados de Colwell & Calkins)


A comunidade cientítica encontra-se num relativo consenso que os riscos de doenças epidêmicas e pandêmicas será bastante aumentado por mudanças climáticas que desestabilizam o comportamento regular do clima, alteram a distribuição de vetores dessas doenças (como mosquitos, roedores, e etc.), e aumentam o risco de transmissão por meios de transporte.
A elaboração de modelos preditivos pode levar a um maior entendimento da sequência de eventos em surtos infecciosos, e potencialmente prevenir futuras epidemias através da criação de ações de monitoramento, prevenção adequadas, junto a ações coordenadas de combate quando o processo de infecção encontra-se em seu início.
Com certeza o desenvolvimento de melhores técnicas de análise pode ter grande impacto em nos auxiliar a conter esses episódios num futuro próximo. Como já estamos vendo um grande exemplo dessas ações coordenadas no caso da gripe suína, vale à pena prestarmos atenção às novidades na área de modelagem climática associada a prevenção de doenças!
Quer ler mais textos relacionados ao Blog Action Day? Recomendo as contribuições dos blogs O Divã de Einstein, Ecodesenvolvimento (que fez um apanhado de textos muito bons de vários blogueiros), Rastro de Carbono (com a ótima ideia de um post multi direcionado), Gene Repórter, Uma Malla Pelo Mundo, Xis-xis e muitos outros na web, procurem e divulguem!
O Blog Action Day é um evento anual que reúne blogueiros de todo o mundo postando textos sobre o mesmo assunto, no mesmo dia. O objetivo é disseminar uma discussão mundial e simultânea sobre um tema de interesse coletivo, sendo o maior evento de mudança social na web. O tema desse ano, como vocês perceberam, é “Mudanças Climáticas”.
O lema da iniciativa é:
“Um dia. Um tema. Milhares de vozes.”


Quer conhecer mais sobre esse evento? Acesse a página do Blog Action Day clicando na imagem acima. Para acompanhar o Blog Action Day no Twitter, busque a hashtag #BAD09
Ford, T. (2009). Using Satellite Images of Environmental Changes to Predict Infectious Disease Outbreaks Emerging Infectious Diseases, 1341-1346 DOI: 10.3201/eid1509.081334

Genes sintéticos e Bioterrorismo: a certificação de segurança pode prevenir um novo 11 de Setembro?

J0287641.JPGEm 1970, o biólogo molecular Har Gobind Khorana, atualmente professor do MIT, fez a primeira demonstração da síntese de um gene de modo artificial.
Apesar de estarmos em tempos de Caminho das Índias e do hype indiano por causa dos BRIC (ou pelo menos da versão Global da Índia, que é photoshopada até a alma), o nome desse pesquisador pode não dizer nada mesmo para os biólogos. Para dar uma idéia de quem é esse senhor, vou deixar esse link com uma curta biografia (em Inglês), e me limitar a dizer que ele foi um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1968.
O que deu um Nobel à ele? Ah, nada muito importante… Ele SÓ interpretou a função do Código Genético na síntese de proteínas, o que faz dele, no mínimo, um dos “padrinhos” da Biologia Molecular como a conhecemos. Mas você está aqui prá aprender, então não se sinta culpado por não saber de antemão. E, claro, acredite que eu já sabia 😉
Bom, voltando à síntese de genes, atualmente existem inúmeras empresas de biotecnologia que oferecem esse serviço, muitas vezes com um custo inferior a 1 dólar por par de base solicitado na síntese (sem esforço encontrei “promoções” com preços menores ainda). Barato, e, sem dúvida, uma ferramenta de extrema importância para inúmeros estudos.
Apesar disso, há muito se debate o perigo por trás de um acesso tão fácil à fabricação artificial de genes. Existe um temor de que essa tecnologia seja utilizada para a criação de novas linhagens de organismos patogênicos (como vírus e/ou bactérias), ou então para que se possa “ressuscitar” organismos perigosos já extintos.
biohazard.jpgComo países como EUA e Inglaterra vivem em constante alerta sobre uma eventual ação terrorista de grandes proporções como visto em 11 de Setembro de 2001, os pedidos feitos às empresas que oferecem o serviço de síntese de genes artificiais possuem mecanismos de verificação sobre as encomendas, de modo a se evitar o problema descrito acima. No entanto, como uma das principais ações de toda e qualquer empresa para maximizar seus lucros é diminuir os gastos, existe hoje uma grande discussão em torno do procedimento de verificação utilizado, que foi aumentado pela atitude de duas empresas, a DNA2.0 (EUA) e a Geneart (Alemanha).
Há mais de um ano existe na Europa a International Association of Syntetic Biology (IASB – Associação Internacional de Biologia Sintética), que vem desenvolvendo um código de conduta que, claro, inclui procedimentos-padrão para a análise desses pedidos de genes sintéticos. O problema? As duas empresas citadas acima anunciaram a criação de um código próprio de análise que, segundo a matéria da Nature News que adaptei para escrever esse texto, se escolhido pode ser crucial para a biossegurança global.
Mas qual é a grande diferença proposta, e por que ela pode significar o aumento do perigo?
Atualmente, o processo de verificação dos genes sintéticos envolve, num primeiro momento, um passo automatizado, em que os genes de um determinado pedido são comparados com os dados de organismos presentes em listas contra bioterrorismo, como essa aqui mantida pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC – Centro para Controle e Prevenção de Doenças). Esse passo do processo de verificação é feito pelo uso de programas de computador como o BLAST (Basic Local Alignment Search Tool), velho conhecido d e qualquer um que tenha trabalhado ou trabalhe com Biologia Molecular. Esse programa busca similaridades entre sequências gênicas escolhidas pelo usuário, ou seja, ele fornece a porcentagem de “igualdade” entre as sequências que você queira comparar.
biohazard1.jpgNo entanto, apesar de o código elaborado pelo IASB especificar que um especialista analise os resultados obtidos pelo computador caso haja uma identificação positiva (entre um gene conhecido de um agente patogênico, por exemplo, e um pedido feito à empresa), o código elaborado pela DNA2.0 e pela Geneart determina que o processo de verificação de segurança dos pedidos termine na parte automatizada, sem verificação posterior. Isso fará com que a empresa ganhe agilidade na entrega dos pedidos, e, CLARO, fará com que as mesmas economizem uma boa grana em gastos com funcionários, visto que o especialista responsável pela verificação não será mais necessário.
Apesar disso, nenhum especialista acredita que uma lista contendo TODOS os genes “perigosos” possa ser criada. Por exemplo, sem a revisão de um especialista, pode acontecer de as listas utilizadas no processo automatizado não identifiquem organismos não-patogênicos que tenham sido modificados geneticamente para formarem algo novo, e potencialmente perigoso.
A defesa de um dos vice-presidentes da DNA2.0, Claes Gustafsson, é de que a revisão de especialistas também não é perfeita, podendo acontecer o mesmo fato, de modo que ele defende que não há uma padronização que possa ser feita para garantir 100% de segurança dos produtos sintetizados. Além disso, ele alega que as autoridades governamentais debatem isso há muito tempo sem chegar à um consenso, razão pela qual eles decidiram adotar esse novo código. Algumas empresas anunciaram a possibilidade de fazer o mesmo que a DNA2.0 e a Geneart, e uma reunião organizada pela IASB ocorrerá agora em Novembro nos EUA, para que as empresas adotem o código que a mesma desenvolveu.
A esperança de especialistas em “boas práticas de trabalho”, preocupados com a adoção do padrão exclusivamente automatizado pelas empresas que sintetizam esses genes artificiais, é de que o governo dos EUA, o país mais preocupado com biossegurança, manifeste sua preferência pelo código desenvolvido pela IASB, “forçando” a oficialização desse padrão.
Apesar de eu não ter certeza de que esses códigos de verificação possam realmente ter efeito na proteção contra a fabricação de armas biológicas, creio que há casos em que é melhor não se testar a sorte. Junto à isso, nunca vou preferir os resultados de um computador, se me derem a opção de ter os resultados de um computador revisados por um especialista.
É torcer para a reunião de Novembro ter sucesso em convencer que, em alguns casos, não se pode simplesmente usar o “mínimo denominador comum” na indústria, só porque o concorrente decidiu forçar a briga por maior faturamento por diminuição da qualidade de seus produtos.
* Esse texto foi adaptado de “Keeping genes out of terrorists’ hands”, escrito por Erika Check Hayden e publicado na Nature News em 31 de Agosto de 2009.

Sobre a Monsanto, o problema com a cartilha “O Olho do Consumidor”, e as mentiras que circulam na internet…

Ontem recebi isto por e-mail um aviso de que a empresa Monsanto haveria entrado com uma liminar para retirar de circulação uma cartilha sobre alimentos orgânicos feita pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Segue o conteúdo do e-mail com a “notícia”:
“A multinacional de sementes transgênicas Monsanto obteve uma liminar de mandado de segurança para impedir a distribuição da cartilha “O Olho do Consumidor” produzida pelo Ministério da Agricultura, com arte do Ziraldo, para divulgar a criação do Selo do SISORG (Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica) que pretendia padronizar, identificar e valorizar produtos orgânicos, orientando o consumidor na sua escolha de alimentos realmente orgânicos.

O link do Ministério está “vazio” tendo sido retirado o arquivo do site. Em autêntica desobediência civil e resistência pacífica à medida de força legal, estamos distribuindo eletronicamente a cartilha.

Se você concorda com a distribuição envie para os amigos e conhecidos.Se você não concorda, simplesmente delete este e-mail.”

Essa cartilha sobre orgânicos é bastante conhecida, e o Ministério da Agricultura foi bastante inteligente ao convidar o ótimo Ziraldo para ilustrá-la. No material, é possível encontrar a definição de alimento orgânico, bem como orientações para que o consumidor possa identificar esses produtos no mercado.

A partir de 2010, todo produto orgânico brasileiro, exceto aqueles vendidos diretamente pelos agricultores familiares, levará o selo do Sisorg (Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica). Esse selo, que teve a marca escolhida pelo público, vai atestar que o produto está dentro de normas e foi avaliado por entidade credenciada do Ministério da Agricultura. O selo de referência já é utilizado nos Estados Unidos, no Japão e na Europa.

Quando vi a mensagem de que a Monsanto haveria entrado na Justiça contra o Ministério, fui buscar maiores informações, e as únicas fontes que tratavam do assunto eram blogs criticando a empresa, e disponibilizando a cartilha para download, seguindo as “diretrizes” do e-mail que citei acima. Prá piorar, o link que disponibilizaria a cartilha no site do MAPA realmente não continha mais o documento para download. Aparentemente, havia mesmo algo errado.

Como achei tudo isso muito estranho (um caso desses certamente teria algum tipo de repercussão nos grandes veículos de notícias), fui atrás da melhor fonte possível, na minha opinião: a própria Monsanto.

Segue a posição oficial da empresa sobre o episódio descrito no e-mail, que me foi dada por sua assessoria de imprensa ontem, logo que entrei em contato com eles:

“A Monsanto esclarece que não procedem os boatos de que a empresa teria entrado como uma ação judicial contra uma campanha educativa coordenada pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) sobre os benefícios de alimentos livres de agrotóxicos.

A empresa desconhece a origem dessa informação e reafirma o respeito pela liberdade de opinião, expressão e escolha do mercado, instituições e empresas pela utilização de culturas convencionais, geneticamente modificadas ou orgânicas.

A Monsanto se orgulha de ser líder em biotecnologia agrícola e acredita profundamente nos benefícios das culturas geneticamente modificadas, que têm potencial para ajudar a aumentar a produção de alimentos, com menos recursos naturais e, ainda, melhorar a vida de agricultores em todo o mundo.

Abraços,

Cláudia Santos
CDI Comunicação Corporativa
(11) 3817-7925 / (11) 8192-4134
E-mail: claudia@cdicom.com.br”

Mas peraí… a Monsanto é aquela empresa diabólica, que quer escravizar todos os agricultores, então é de se esperar que a Assessoria da empresa esteja mentindo prá mim, não é? É, acho que só se eu tivesse uma posição do próprio Ministério é que eu poderia acreditar nessa empresa do mal!

Opa, peraí… eu tenho.

Lição de casa feita, tirem suas próprias conclusões lendo a transcrição de meu contato com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, feito hoje de manhã:

Descrição da Solicitação:
OLÁ, GOSTARIA DE SABER COMO FAÇO PARA ADQUIRIR A CARTILHA “OLHO DO CONSUMIDOR”, LANÇADA PARA DIVULGAR O SELO DO SISORG. MUITO OBRIGADO, GABRIEL L.A. CUNHA

Resposta/ Parecer da BINAGRI:
PARA ESCLARECER A POPULAÇÃO SOBRE O ALIMENTO ORGÂNICO, O MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO/MAPA DISTRIBUIU UMA CARTILHA DO DESENHISTA ZIRALDO CHAMADA ‘O OLHO DO CONSUMIDOR’. NO MATERIAL HÁ O CONCEITO DE ALIMENTO ORGÂNICO E ORIENTAÇÕES PARA QUE O CONSUMIDOR POSSA IDENTIFICAR ESSES PRODUTOS NO MERCADO.

INFORMAMOS QUE O MAPA DISTRIBUIRÁ APENAS UM EXEMPLAR POR SOLICITAÇÃO E TERÁ DISPONIBILIDADE DE ENVIO A PARTIR DO DIA 03/08/2009.

CASO QUEIRA, PEDIMOS QUE PROCURE A SUPERINTENDÊNCIA FEDERAL DE AGRICULTURA DO SEU ESTADO PARA VERIFICAR A POSSIBILIDADE DE ATENDIMENTO.

INFORMAMOS QUE AINDA QUE, A PARTIR DO DIA 03/08/2009, A CARTILHA ESTARÁ DISPONÍVEL EM NOSSO SITE PARA DOWNLOAD.

Colocamo-nos à disposição para eventuais esclarecimentos através dos canais de contato de nossa Central de Relacionamento, conforme a seguir:

Telefone: 0800 704 1995
E-mail: binagri@agricultura.gov.br
Biblioteca Nacional de AgriculturaEndereço: Esplanada dos Ministérios, Bloco D, Anexo B, Térreo.
CEP 70043-900, Brasília DF
Caixa Postal 02432 – CEP: 70849-970 Brasília – DF

Atenciosamente,
Central de Relacionamento do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

Dúvidas esclarecidas, só nos resta imaginar de onde saiu essa idéia da
liminar… Será que foi uma ação coletiva de ONGs e ambientalistas que
queriam promover mais a cartilha sobre orgânicos, e, como bônus, atacar
um de seus alvos preferidos?

Acho que essa eu não consigo esclarecer nem tentando…

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ps1: agradecimentos ao advogado Paulo Arthur Noronha Roesler, que me enviou o caso por e-mail, a Claudia Santos e Eleni Gritzapis, da assessoria de imprensa da Monsanto, e à Central de Relacionamento do MAPA.

ps2: quem não quiser esperar Agosto para ter acesso à cartilha, pode acessar o Blog VivoVerde

*UPDATE!

Tem mais sobre esse assunto no blog Maria Rê e o Fogão Azul, dica do @crisdias via Twitter em 03/08/2009.

Um argumento a menos para os “defensores dos animais”: Brasil regulamenta o uso de cobaias.

Demorou 13 (sim, TREZE) anos para sair (ou entrar, depende do referencial) do papel, mas o Ministério de Ciência e Tecnologia finalmente regulamentou a Lei Arouca, que trata do uso de animais para Ensino e Pesquisa no Brasil.

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Os verdadeiros Heróis da Ciência


Quem tiver interesse em conhecer tudo à respeito dessa nova Lei, pode acessar o Portal do Ministério da Ciência e Tecnologia, que contém toda a informação necessária.
Agora os defensores de animais precisarão rever parte de seu discurso, já que a idéia de “uso indiscriminado e assassino”, em teoria, não se aplicará mais. Como o Lula adora dizer, “nunca antes na história desse país” houve qualquer tipo de controle oficial sobre a utilização de animais, mas agora isso faz parte do passado.
Formação do Concea
A lei nº 11.794 de 8 de outubro de 2008 havia sido sancionada em Outubro de 2008, e foi publicada no Diário Oficial da União do último dia 15 de julho (Decreto nº 6.899). Também ficou estabelecida a criação do Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), que será presidido pelo ministro da Ciência e Tecnologia.
O Concea será formado por 14 integrantes, e incluindo dois membros de sociedades protetoras de animais legalmente criadas no país. No conselho também estarão representados órgãos públicos e associações científicas, como a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a ABC (Academia Brasileira de Ciências).
Todas as instituições que criam ou utilizam animais para fins científicos ou didáticos também deverão se adequar. Será considerado ilegal quem não criar ou se associar a uma comissão de ética em até 90 dias. Vale lembrar, no entanto, que todas as instituições de pesquisa e ensino sérias do Brasil já possuem seus comitês de ética há vários anos, de modo que o controle sempre foi exercido internamente (todos os projetos que envolviam experimentação animal de que eu participei até hoje foram avaliados e aprovados pelo comitê de ética da universidade em que trabalho.
Hoje, no Cobea (Comitê Brasileiro de Experimentação Animal), já existem 150 comissões de ética cadastradas. “A maioria das universidades federais e estaduais, assim como as particulares e as diversas instituições [públicas] de pesquisa e laboratórios particulares já tem sua comissão ou está criando”, afirmou Marcel Frajblat, pesquisador da Universidade do Vale do Itajaí (SC) e presidente do Cobea (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal), em entrevista à Folha de São Paulo.
O Estado chega atrasado mais uma vez
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Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório


Apesar de a Lei Arouca ser de extrema importância, vale ressaltar que já havia uma noção consciente sobre o manejo dos animais usados em experimentação animal, sendo necessário dar destaque à atuação da Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório, a SBCAL, e dos Comitês de Ética em Pesquisa que já haviam sido formados muito antes de qualquer ação governamental, dada a importância desse controle.
* Em breve, teremos aqui no |RNAm| um parecer jurídico sobre o conteúdo da Lei Arouca, fiquem atentos!

Finalmente, os primeiros passos do meio acadêmico em direção à Era da Informação*

science_image.jpgUma das coisas que eu sempre tive muito claramente na minha cabeça é que a produção acadêmica deveria estar disponível para qualquer pessoa que se interessasse por ciência. Por “produção acadêmica”, entenda “pesquisas publicadas em revistas especializadas” que, em sua grande maioria, têm seu conteúdo restrito a assinantes.
No Brasil, quem trabalha com pesquisa (e precisa MUITO dessas revistas) via de regra encontra-se em Universidades (salvo raras exceções), geralmente públicas, e essas instituições se encarregam de assinar “pacotes” de periódicos científicos. Para encontrar conteúdo dessas revistas liberado para “civis”, deve-se acessar o Portal Periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), e a opção é basicamente essa.
Além disso, restam as páginas de ciência de portais de notícias, que muitas vezes transmitem informações com qualidade bastante duvidosa. É normal eu arrepiar meus cabelos lendo algumas coisas que saem em Terra, UOL, G1, e derivados (olha o tamanho do tiro no pé que eu dei… é a sinceridade me tirando uma chance de trabalho)…
Divulgação científica brasileira REAL, ou seja, levada adiante por pessoas com conhecimento e experiência científicos, só muito recentemente vem crescendo de modo interessante, justamente por meio de blogs que começaram de maneira independente, e aos poucos vão sendo agregados em portais específicos, criando finalmente um canal de comunicação mais direto entre os cientistas e o grande público.
Claro que eu entendo (e apoio) o direito das editoras de revistas científicas existirem como empresas (sem as mesmas, como divulgaríamos os resultados de pesquisas de modo sério?), mas a “abertura” do conteúdo científico sempre me pareceu uma evolução óbvia, principalmente quando informação passou a ser altamente valorizada, como é o caso da nossa sociedade atual (em nível mundial).
Tão óbvia, que é um dos motivos pelos quais eu e tantos outros escrevemos sobre Ciência: é fundamental que TODOS tenham um mínimo de contato e atualização em relação aos rumos que o desenvolvimento da humanidade vem tomando.
InfoSociety.jpgCom a importância cada vez maior da Internet, universidades ao redor do mundo começam a se organizar de modo a disponibilizar o conteúdo produzido por seus pesquisadores. Claro, desde que essa ação não fira nenhuma das leis de direito autoral das editoras, afinal, ninguém quer destruir as revistas, ao contrário.
A idéia principal, CLARO, não está relacionada à importância de se ter conhecimento disponível para todos. Segundo Alma Swan, consultora da empresa Key Perspectives (análise de comunicações acadêmica/escolares), as diretorias dessas universidades se deram conta da importância em se aumentar a visibilidade das mesmas na web, e de se criar registros completos sobre sua produção, para fins comparativos e competitivos (no caso de distribuição e arrecadação de fundos, por exemplo).
Trata-se de uma atitude perfeitamente compreensível, afinal, quer marketing melhor que “veja como somos bons” através de um banco de dados gigante mostrando toda sua produção, prá quem quiser ver? Reino Unido e Austrália, nos quais a distribuição de fundos para pesquisa é baseada na qualidade das pesquisas desenvolvidas por cada instituição, são os líderes em quantidade de “diretórios de conteúdo aberto”.
internet1.jpgNa Europa essa “abertura de conteúdo” já vem sendo exigida quando determinada pesquisa recebe financiamento governamental. Trinta e seis desses órgãos financiadores – incluindo o famoso NIH (National Institute of Health) americano e o ECR (European Research Council) – determinaram que trabalhos que receberam seu apoio devem ser tornados públicos seis meses após a publicação, sendo geralmente disponibilizados no portal de acesso aberto PubMed Central, mantido pelo próprio NIH.
Swan ainda anota que “várias universidades do Reino Unido estão reconsiderando suas políticas” em direção à abertura de conteúdo, e comenta que em breve ocorrerá uma espécie de “efeito dominó”, visto que as instituições que ainda não aderiram a esta proposta encontrar-se-ão completamente deslocadas.
Resta saber quanto tempo isso demorará para acontecer em grande escala, e torcer para que isso seja realmente levado adiante de modo sério. Nada melhor para a divulgação científica do que a possibilidade de qualquer leitor checar os conteúdos discutidos em notícias veiculadas pelas grandes mídias.
*O termo “Era da Informação” entra aqui como uma licensa poética. Quem se interessar, acesse um wiki com uma explicação detalhada AQUI
**Esse post tem como fonte principal um artigo da Nature News.

MTV debate: Transgênicos

debate.jpg
Pois é, eu não sei quem ganhou o BBB9, estava vendo o Lobão tocar o programa de debate mais caótico da televisão brasileira.
VEJA AQUI
Lobão começa soltando uma pérola característica de sua sinceridade exacerbada: “O tema é complexo, como eu pude averiguar estudando… hoje a tarde pela internet.” Aprofundou, hein…
Claro que muita besteira foi falada. Greenpeace criticando cegamente sem dar uma alternativa prática de um lado, e o pesquisador sendo um tanto arrogante e intransigente do outro.
O que espantou foi o fato de quem se mostrou mais preparado para um debate foi o deputado federal Paulo Pimenta (PT/RS). Não que ele soubesse mais sobre o assunto específico, mas mostrou que sabe conduzir o debate em si, conhece os argumentos a favor, contra, dos produtores e dos consumidores.
O problema não é o transgênico
Foi ele quem colocou que a questão de que não é a técnica de transgenia que está em questão, afinal a insulina é um dos exemplos de tecnologia transgênica, que hoje em dia é produzida por bactérias com gene da insulina humana, e ninguém questiona sua utilidade ou uso.
O problema é especificamente com o transgênico na agricultura e questões ambientais.
Outra bola dentro do deputado foi a constatação, mediante as críticas de que o transgênico por aguentar mais agrotóxico vai exigir mais aplicação do veneno, que o produtor sem transgênico não vai tratar a produção com água benta. Agrotóxico é um fato na agricultura em geral, e continuará sendo usado.
Bom, o papo não acabou e eu ainda não sei se o MTV Debate é o melhor formato de programa para este tipo de discussão. Nem pelo formato, mas pela figura do Lobão, que é divertido, mas muito caótico pra dar um mínimo de organização às idéias.
Minha opinião no caso? Transgênicos vieram pra ficar. Os de primeira geração, as famosas da Monsanto, não serão o padrão para sempre. Institutos públicos devem investir em parcerias privadas ou pesquisar firmemente na tecnologia, para a agricultura mundial não depender de patentes restritivas.
E pessoal da MTV, qualquer coisa o pessoal do ScienceBlogs está aqui às ordens, hein.