Mudanças climáticas: perigosas para o planeta… e para a saúde global. (Blog Action Day 2009)

Na minha contribuição ao Blog Action Day vou abordar um tema ao mesmo tempo preocupante e interessante: o monitoramento de mudanças climáticas para a prevenção de surtos de doenças infecciosas.
ResearchBlogging.orgOs autores do trabalho publicado no periódico Emerging Infectious Diseases (do famoso CDC – Centers for Diseases Control and Prevention, de Atlanta – EUA) comentam como eventos recentes demonstraram a vulnerabilidade de grandes populações a doenças infecciosas. Um único caso de multi resistência a tuberculose em 2007 nos EUA serviu de alerta para toda a infraestrutura de saúde pública global. Agentes de saúde e o público em geral perceberam que a facilidade de locomoção aérea atual pode, potencialmente, expor centenas de pessoas a doenças carentes de tratamento.
Apesar de fatores como: facilidade para viajar, aumento populacional, poluição, atividades agrárias (gripe suína, lembram dela?), entre outros, atualmente nada tem mais potencial para efeitos graves e de longo prazo do que a influência das mudanças climáticas em surtos infecciosos, epidemias, e, como estamos vivenciando com o vírus H1N1, pandemias.
88027207.jpgO desastre natural mais frequente são as enchentes, que, de acordo com dados de 2005, afetavam mais de 70 milhões de pessoas ao redor do mundo. As doenças mais comuns associadas às enchentes são diarréia, cólera, tifo, hepatite e leptospirose. Na literatura existem relatos de surtos graves de cólera diretamente relacionados a enchentes na África e na Índia.
Para piorar, o relatório de 2001 do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) estima que o número de pessoas ao nível do mar atingidas por inundações e enchentes seja de aproximadamente 250 milhões até 2080, considerando uma elevação do nível do mar em 40 centímetros (a altura do seu joelho, mais ou menos).
A cólera, que possivelmente é a doença transmitida por água contaminada mais bem estudada, teve modelagens feitas pela NASA para prever surtos em Bangladesh, sendo que nas áreas monitoradas o número de mortes causadas por essa doença foi reduzido em mais de 50%. A imagem abaixo (desculpem a baixa qualidade, está assim no artigo também) mostra essa modelagem, e a eficiência do modelo de previsão (em amarelo) em relação ao que realmente aconteceu com os casos de cólera no tempo analisado (em verde).
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Modelagem da NASA para os casos de cólera em Bangladesh (dados não publicados de Colwell & Calkins)


A comunidade cientítica encontra-se num relativo consenso que os riscos de doenças epidêmicas e pandêmicas será bastante aumentado por mudanças climáticas que desestabilizam o comportamento regular do clima, alteram a distribuição de vetores dessas doenças (como mosquitos, roedores, e etc.), e aumentam o risco de transmissão por meios de transporte.
A elaboração de modelos preditivos pode levar a um maior entendimento da sequência de eventos em surtos infecciosos, e potencialmente prevenir futuras epidemias através da criação de ações de monitoramento, prevenção adequadas, junto a ações coordenadas de combate quando o processo de infecção encontra-se em seu início.
Com certeza o desenvolvimento de melhores técnicas de análise pode ter grande impacto em nos auxiliar a conter esses episódios num futuro próximo. Como já estamos vendo um grande exemplo dessas ações coordenadas no caso da gripe suína, vale à pena prestarmos atenção às novidades na área de modelagem climática associada a prevenção de doenças!
Quer ler mais textos relacionados ao Blog Action Day? Recomendo as contribuições dos blogs O Divã de Einstein, Ecodesenvolvimento (que fez um apanhado de textos muito bons de vários blogueiros), Rastro de Carbono (com a ótima ideia de um post multi direcionado), Gene Repórter, Uma Malla Pelo Mundo, Xis-xis e muitos outros na web, procurem e divulguem!
O Blog Action Day é um evento anual que reúne blogueiros de todo o mundo postando textos sobre o mesmo assunto, no mesmo dia. O objetivo é disseminar uma discussão mundial e simultânea sobre um tema de interesse coletivo, sendo o maior evento de mudança social na web. O tema desse ano, como vocês perceberam, é “Mudanças Climáticas”.
O lema da iniciativa é:
“Um dia. Um tema. Milhares de vozes.”


Quer conhecer mais sobre esse evento? Acesse a página do Blog Action Day clicando na imagem acima. Para acompanhar o Blog Action Day no Twitter, busque a hashtag #BAD09
Ford, T. (2009). Using Satellite Images of Environmental Changes to Predict Infectious Disease Outbreaks Emerging Infectious Diseases, 1341-1346 DOI: 10.3201/eid1509.081334

Diamantes… Y TEQUILAAAAAAA!!!

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E no texto de hoje daremos continuidade à nossa série Prêmio IgNobel no RNAm!

Os “homenageados” da vez são os vencedores do IgNobel de Química, por sintetizarem filmes de diamante a partir de um precursor líquido.

Até aí não há novidade, então qual é a graça desse trabalho?

Explico: a base líquida utilizada é a desgraça que faz 9 entre 10 mocinhas ex virgens perderem a linha na balada… a famigerada TEQUILA!

Amada por uns e odiada por outros (estou no segundo grupo, mas não contarei o motivo… dói minha cabeça só de lembrar), são necessários 8 anos para se cultivar o agave, uma espécie de cacto que serve de matéria-prima para essa maravilha refrescante NOT.

O agave “maduro” é cozido em vapor e sob pressão, e o suco extraído é fermentado e destilado duas vezes, dando origem a uma solução com 55% do mais puro álcool (que você pode usar prá desinfetar alguma coisa… ou prá judiar do seu fígado mesmo). O produto final (ayayay muchacho!!!) é diluído droga! em água para se obter uma concentração de álcool entre 38 e 43%, sendo então armazenado de diferentes maneiras, como fazem com a cachaça aqui (essa conversa está me dando sede, ainda bem que hoje é sexta-feira).

Mas, voltando ao IgNobel de Química, os filmes de diamantes foram crescidos usando tequila como líquido precursor através de uma técnica chamada PLI-CVD (sigla em Inglês para  injeção pulsada de líquido para deposição quimica a vapor), junto a silício ou aço inoxidável, em temperaturas de 850°C!!!

Quando o resultado foi analisado, foram encontrados pequenos cristais esféricos com a mesma assinatura físico-química do diamante, confirmando o sucesso do experimento.

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Diamantes feitos com tequila e silício


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Diamantes feitos com tequila e aço inoxidável

Eu já havia discutido alguns pontos da fabricação de diamantes sintéticos quando escrevi sobre os diamantes memoriais (é o RNAm mais uma vez servindo de radar prá um IgNobel). Essa pesquisa mexicana (eu nem precisava ter dito que a pesquisa foi realizada no México, precisava?) demonstrou um precursor novo – e, por que não, original – para se criar diamantes sintéticos. Além disso, a tequila possui uma proporção atômica ótima entre seus átomos de carbono, oxigênio e hidrogênio, sendo assim uma ótima alternativa para se produzir diamantes sintéticos em escala industrial…

… Isso segundo os autores, claro, porque eu preferia usar essa tequila prá fazer uma Margarita mesmo.

Não… é melhor não, eu já fiquei tonto só de pensar nessa possibilidade.

ps: o artigo completo pode ser acessado pelo arXiv.org em Growth of Diamond Films from Tequila.

Ratos flutuantes: não é feitiçaria, é tecnologia

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Ratos flutuantes: Uhúúú! Crédito: Da-Ming Zhu et al.


!Esto no ecziste! Os camunduengos flutuam. É um milagre!!!

Mas não é feitiçaria, é tecnologia! E como aqueles travesseiros, é tecnologia da NASA, meus caros.

Microgravidade não é nada novo. Este detalhe chamado gravidade que mantém as maçãs caindo de suas árvores já foi vencido há muito tempo, sempre usando supercondutores. A supercondução é uma propriedade física de alguns materiais que, em condições específicas, tornam-se condutores tão bons que a eletricidade que transmitem gera um campo magnético muito forte (para mais, pergunte a um físico, este é o máximo que o biólogo aqui vai chegar).

Claro que uma coisa tão maravilhosa assim não podia ser fácil de fazer. A supercondução só é atingida em materiais que sejam resfriados a temperaturas muito, muito baixas… normalmente inferiores aos 120 graus negativos (falei que eram MUITO baixas, não falei?). O trunfo agora foi que fizeram um supercondutor com um espaço no meio a temperatura ambiente. Grande o suficiente para caber um ratinho.

Já haviam sido feitos experimentos desse tipo usando supercondutores e outros animais, como gafanhotos e sapos, como vocês podem ver clicando nesse vídeo hilário que vi no Brontossauros no meu Jardim, complementando o texto do MeioBit.

supermouse.jpgE o bichinho no começo não entendeu muito o que estava acontecendo. Quando começou a levitar se debateu, o que só piorou sua situação, pois sem fricção ele rodou cada vez mais rápido. Mas depois de 4 horas os ratinhos se acostumaram e se comportaram normalmente.

Mas tudo isso por quê? Sadismo dos cientistas? Claro que para testar os efeitos dos organismos sob microgravidade. Por enquanto os animais que já ficaram por 10 semanas não apresentaram nenhum efeito adverso. A não ser uma sensação indescritível de leveza e transcendência. (Ok, não tem como medir se isso é verdade, mas o dia em que isto for possível a ciência estará realmente avançada!)

Prá terminar, alguém aí consegue imaginar o que se passou pela cabeça desses camundongos? Vejam a imagem abaixo e pensem nas legendas, queremos ver as melhores idéias nos comentários!

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Faça as legendas!

Fonte LiveScience, via @carloshotta

O fim do mundo não será em 2012. Será em 2019

profecia maia fim do mundo.jpgNada de fim do mundo Maia em 2012, ou na virada do século novamente. Nada de Nostradamus ou São Malaquias. Nada de borra de café, tarot ou Oráculo de Delphi. Nada de pólos da Terra se invertendo ou meteoros e planetas assassinos como o Hercólobus. Isso é coisa do passado. O novo futuro é 2019. Aqui o mundo como conhecemos irá acabar.
Em uma revelação feita a mim cheguei a este ano cabalístico. Mas o profeta não sou eu, sou apenas um mensageiro. Os verdadeiros profetas são os gurus científicos de nosso tempo.
Eu apenas percebi os padrões e o significado de suas previsões. Tudo se encaixa perfeitamente. Todos eles prevêem que suas idéias terão aplicação prática para daqui o mesmo tempo: 10 anos!

  • O guru criador de vidas Craig Venter, o paladino solitário da biologia atual, do alto de suas empresas ele vislumbra o futuro da biologia sintética: criar vida e editá-la como bem entender. Com seu cajado, em dez anos fará brotar combustível refinado de algas em biorreatores e que capturam o carbono do ar. Pode ser o fim dos problemas energéticos. Um admirável mundo novo.
  • Levanta-te e andaMiguel Nicolelis, o Antônio Conselheiro de Natal, traz consigo o conhecimento de terras estrangeiras para desenvolver a interação mente-máquina, e assim, permitir que membros paralisados possuam próteses que entendam os comandos do cérebro para se movimentar. É um milagre.
  • De 2019 não passarásGordon Moore, o verdadeiro profeta. Previu, com boa precisão, toda revolução tecnológica gerada pela computação ao nos dar a Lei. A Lei de Moore diz “a cada ano, a capacidade de processamento do microprocessador – o chip – irá dobrar, e também os preços despencarão. Palavra de Moore”. Dito e feito. Mas o limite chegará em 2019. Moore fez nova previsão: que em dez anos atingir-se-á o limite atômico da miniaturização. Mas nem tudo está perdido, pois poderemos desenvolver maneiras mais otimizadas e criativas de usar os miniprocessadores do futuro.

Pode não ser o fim, e os maias têm que estar errados para passarmos de 2012 e chegarmos lá em 2019. Mas uma coisa é certa: cada vez que damos um passo o mundo sai do lugar, e um novo mundo é o fim do mundo velho.
Paraquedistas1.jpg* Este texto faz parte da Blogagem Coletiva Caça-paraquedista (conheça mais sobre essa iniciativa aqui). Se você entrou aqui pelo Google, seja bem-vindo e aproveite para conhecer um pouco mais sobre o blog e ciência!
Blogagem coletiva Fim do Mundo
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Em um crime, o DNA também pode mentir!

O texto de hoje tem a contribuição do Biólogo Claudemir Rodrigues Dias Filho, Perito Criminal e Mestre em Genética e Biologia Molecular pela UNICAMP (e grande amigo desde o colégio). Ele também mantém um ótimo blog chamado Ciência Contra o Crime dedicado à criminalística, medicina legal e perícia criminal, leitura altamente recomendada!

Apresentações feitas, vamos ao que interessa: depois de termos visto que o genoma de um indivíduo pode não ser tão constante como se imaginava, agora, segundo cientistas israelenses, é possível fabricar provas periciais de modo a se falsificar até a “prova de ouro” na Criminalística, o DNA.

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“Não se pode confiar em mais nada… eu me demito.”

Os pesquisadores fabricaram amostras de sangue e saliva contendo DNA de uma pessoa diferente do doador original. Além disso, com acesso a um perfil de DNA armazenado numa base de dados qualquer, puderam construir uma amostra de DNA correspondente ao perfil desejado, sem necessidade de obter qualquer amostra da pessoa em questão!

ResearchBlogging.orgEm entrevista ao New York Times, o autor principal do estudo publicado no periódico Forensic Science International: Genetics, Dan Frumkin, disse: “Você pode simplesmente montar sua cena do crime. Qualquer estudante de Biologia poderia fazê-lo.” Lembrem-se dessa frase, pois falaremos dela adiante.

As amostras falsas foram feitas de duas maneiras: a primeira precisa necessariamente de uma amostra de DNA real, mesmo que pequena, que foi amplificada (criação de cópias) por uma técnica chamada amplificação de genoma total (whole genome amplification, ou WGA).

Para testar se a falsificação seria viável numa análise, os pesquisadores realizaram um teste. Uma amostra de sangue de uma mulher foi preparada por centrifugação, sobrando só as células vermelhas (chamadas eritrócitos) e o plasma na amostra (lembre-se que essas células não têm núcleo, portanto, não fornecem DNA para análise). Em seguida, adicionaram o DNA que havia sido amplificado do cabelo de um homem.

Resultado: todo o DNA na amostra de sangue fabricada pertencia ao material do homem. Essa amostra foi até enviada para um laboratório americano de referência em medicina forense, que o identificou como uma amostra de sangue comum masculina, ou seja, a falsificação enganou a todos!

A outra técnica desenvolvida se baseia em perfis de DNA armazenados em bases de dados como números de série e letras que correspondem a variações de 13 locais no genoma de um indivíduo. A partir de uma combinação do DNA de várias pessoas diferentes, os cientistas clonaram pequenos trechos de DNA representando as variações mais comuns de cada um dos 13 locais, criando assim uma biblioteca desses trechos. Desse modo foi possível preparar amostras correspondentes a qualquer perfil desejado, somente misturando os trechos corretos como se fosse uma única amostra.

Crime Scene.jpgPara os pesquisadores, uma biblioteca com 425 dessas variações mais comuns no DNA seria suficiente para cobrir qualquer perfil imaginável! Imagine o tipo de precedente que um caso como esse pode abrir no sistema penal?

Se em UM caso for comprovado que a amostra de DNA que serviu como prova em um caso foi forjada, o que pode acontecer? Revisão de todos os casos em que esse tipo de evidência foi usado numa condenação ou absolvição? Difícil prever todas as conseqüências possíveis num caso assim…

Claro que as intenções do Dr. Frumkin estão longe de ser “em prol do bem-estar da Humanidade”. Além de pesquisador, ele é fundador de uma empresa de biotecnologia chamada Nucleix, que desenvolveu um teste para distinguir amostras de DNA reais das fabricadas, visando vender essa tecnologia aos milhares de laboratórios forenses. O teste se baseia no fato de o DNA amplificado artificialmente não possuir regiões metiladas, ao contrário do DNA “original”.

mad scienctist.jpgConsiderando todos os aspectos da pesquisa e as implicações consideradas, uma coisa parece certa: o Dr. Frumkin vai ficar rico, certo?

Não necessariamente, e explicaremos por que.

Nas palavras do Clau: “A técnica de amplificação de genoma total (WGA) realmente veio para a glória e para a desgraça das análises de DNA forense. Essa técnica permite a amplificação do DNA de uma única célula, e é aqui que reside sua força: amostras forenses sempre são exíguas e isso impossibilita análises que demandam maiores quantidades de DNA. Por outro lado, a técnica realmente permite a criação de amostras falsas que, misturadas a um sangue livre de material genético, podem ser plantadas num local de crime, incriminando um inocente.”

Certo, então a premissa dos pesquisadores é válida, e o perigo disso acontecer é real?

Mais ou menos…

“Realmente, a análise da metilação é o meio mais preciso para verificar se o DNA é válido. Problema: essa técnica não é nada simples, e demanda um conhecimento de biologia molecular que hoje não se encontra em qualquer esquina. Há outras formas de detectar a falsificação, e uma delas é muito simples. De acordo com a pesquisa, a amostra fake é criada com o sangue centrifugado de uma pessoa X, sobrando os componentes que não possuem DNA, adicionando-se em seguida o DNA amplificado da pessoa Y (que se quer incriminar), certo?


Assim, o perfil genético adquirido seria da pessoa Y. Repare: o DNA é de Y, mas os eritrócitos são da pessoa X, portanto, se analisarmos moléculas (antígenos) da membrana dos eritrócitos podemos determinar se o ‘sangue’ é mesmo da pessoa incriminada (Y). Os antígenos A e B do sistema ABO ficam nas membranas das hemácias, e essa tipagem sanguínea diminuiria a dúvida.”

Para quem estava pensando em dizer ‘então, para o vestígio ser perfeito, não bastaria usar o DNA de Y no sangue de X, seria também necessário que X e Y fossem do mesmo grupo sanguíneo’, o Clau tem mais respostas: “Isso seria correto se os antígenos A e B fossem os únicos parâmetros para se analisar o sangue, havendo também o Rh, o MNS, Lewis, e 20 outros mais.”

Para terminar de detonar a fantástica idéia de lucro do Dr. Frumkin, aqui está a conclusão:

“Não é necessário contratar a Nucleix para saber se uma amostra de DNA forense é ou não verdadeira. Também não é ‘qualquer estudante de graduação’ que pode fabricar provas de DNA, como afirma o autor. Precisa ser um graduando que conheça muito bem as técnicas envolvidas, e tenha acesso a

(A) um bom laboratório de biologia molecular
(B) ao perfil genético de quem se quer incriminar
(C) a um local de crime
(D) técnicas para metilar o DNA fabricado
(E) um doador com sistemas sanguíneos idênticos ao de quem quer incriminar

Ainda parece fácil como disseram na entrevista ao New York Times?”

Por isso o conhecimento e a opinião de um especialista são importantes quando lidamos com reportagens técnicas: se o entrevistador do New York Times fosse o Clau, essa reportagem talvez nem saísse na imprensa.

Frumkin, D., Wasserstrom, A., Davidson, A., & Grafit, A. (2009). Authentication of forensic DNA samples Forensic Science International: Genetics DOI: 10.1016/j.fsigen.2009.06.009

Imagens: Linda Manley @ Greenville County Schools Online; Philosophy di Alison; Jodom Legal Video

G. I. Joe: O que esses caras têm contra a ciência?!

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Rachel Nichols, a Scarlet de G.I. JOE

Se você caiu aqui buscando imagens das protagonistas do filme, Rachel Nichols e Sienna Miller, saiba que infelizmente nem elas salvam o filme G. I. Joe. Cheio de clichês, aliás TODOS os clichês: monólogo do vilão; o clichê mexicano “eres mi hermano!?!?”; a caminhada em slow-motion no final; o bobão querendo ficar com a gata que se faz de difícil; e por aí vai.

g i joe erro snakeeyes.jpgComo o filme é ruim pra diabo, não vou ter medo de ficar avisando de spoilers. Como não tem história mesmo, você não estará perdendo nada.
Por isso digo que o filme é ruim, e não pelo que virá a seguir.
Afinal não sou BIOCHATO a ponto de censurar científicamente a obra de artistas (se é que estes enlatados americanos podem ser chamados de arte). E não sou eu que sou chato não.

Mas o filme que provocou primeiro. Só vou analisar a situação.
Bom, fica claro que o vilão de tudo é a ciência. E ela é a origem de todo o mal do filme. Por isso exijo direito de resposta

O que esses caras têm contra a ciência?!

A primeira bordoada foi quando uma das gostosas personagens que é um gênio intelectualóide está sendo xavecada pelo bobão que é guiado só por instintos (clichê).
Daí ela me lança a pérola, “emoções não são baseadas em ciência. Se puder provar ou quantificar alguma coisa que exista? Mas pra mim elas não existem.”(video com esta parte aqui)

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COMO ASSIM?!?!?! Alguém fala pra ela estudar neurociência e psicologia, por favor!!! Ou ela acha que as emoções vêm de onde? Tem muita pesquisa científica seríssima em cima deste tema, descobrindo que sentimentos como amor, fome, decepção, sede e outras têm padrões bem definidos no cérebro. Podemos estudar as emoções sim.

Outra coisa – adivinhe quem é o vilão? O cientista, claro! Um maldito e deformado cientista. Um cara estranho que faz umas coisas que ninguém entende. E daí vem o poder dele. E ainda tem uma parte do filme em que ele lança outra pérola – “a ciência exige sacrifício”. Mas não sacrifício humano!!! Fora que o cara está fazendo tudo para os seus fins próprios pessoais.

Dizem que as pessoas temem o que não conhecem. Será que os cientistas ainda estão tão longe da realidade das pessoas assim? Ou será que o cinema só cansou de usar políticos, terroristas e extraterrestres como vilões?

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Sienna Miller, a Baronesa de G.I. Joe

Nanotecnologia – o açoite do mal

No filme
Tudo gira em torno de uma arma que nada mais é que um bando de nanorobôs comedores de metal controlados remotamente. Esta mesma tecnologia serve para controlar a mente de pessoas, torná-las mais fortes, mais ágeis, sem dor, e imunes a venenos.

Idéia nada original no cinema. Que me lembre isto existe desde Viagem Insólita, quando reduzem um piloto e sua nave a ponto de injetá-la em uma pessoa, permitindo tratamento direto de doenças (Coincidência – é com o mesmo Denis Quaid que é o general do filme GIJoe).

As nanomáquinas também aparecem no Exterminador do Futuro 2. Sim, aquilo não é metal líquido, mas sim nanorobôs que se comportam como flúido. (É isso mesmo ou estou misturando referências?)

Na realidade
As máquinas, por menores que estejam ficando, não chegaram e nem sei se chegarão ao tamanho sonhado do filme, o tamanho de uma célula, por exemplo. O problema é o circuito eletrônico, que entenderia o comando de um controle-remoto. Estes são difíceis de serem tão miniaturisados.

Mas nanomáquinas já vem sendo utilizadas, não feitas de engrenagens de metal, mas sim de proteínas ou DNA. Hoje em dia é possível esculpir moléculas, e moldá-las para fazer um trabalho específico, e algo que faz um trabalho é a definição de máquina. Veja origamis e baús de DNA aqui.

Agora, nanorobôs controlarem a mente das pessoas eu achei meio pesado demais. O pessoal que está mais a frente deste movimento de interação cérebro-máquina, como o brazuca Miguel Nicolelis, têm uma expectativa de fazer próteses mecânicas funcionarem sob comando do cérebro em 10 anos. E são os otimistas. Ou seja, anos de esforço só para entender como o cérebro faz um braço se mover. Agora imaginem o tempo que levaria para entender o comportamento humano! E depois ainda aprender a controlá-lo!
É, isto não vai rolar tão cedo.

Uma coisa que aparece e é bacana é a roupa aceleradora, que é a mesma idéia do que uns japoneses estão fazendo. Desenvolvendo um traje, ou exoesqueleto, para ampliar as capacidade de nossos frágeis corpos, como aumentando a força ou mesmo ajudando paraplégicos a andar

Enfim, paro por aqui, porque o resto é o de sempre – Tiros, explosões e lock´n load

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Criando diamantes à partir do DNA do seu bichinho de estimação… OU NÃO.

diamond.jpgUm post do Discoblog no site da Discover Magazine me chamou bastante atenção. O título pode ser traduzido em “Pensando em imortalizar seu animal de estimação? Agora você pode transformar o DNA dele em um diamante”. Li o post e, claro, entrei no site da tal empresa em seguida.

Uma empresa americana chamada DNA2Diamonds (algo como “Do DNA para Diamantes”) vende diamantes criados até à partir de um punhado de pêlos do seu animal de estimação. Você envia o material para a empresa, e em até 70 dias por valores entre 2000 e 18000 dólares eles te entregam um diamante que contém a “assinatura única do DNA do seu animalzinho” (palavras deles). Você pode inclusive escolher a cor do diamante, entre algumas opções. Continuei lendo e vi que a empresa diz também fabricar diamantes exclusivos à partir do DNA proveniente de restos de cremação… opa, peraí, DNA de restos de cremação?!

Logo me dei conta que estava diante de mais um capítulo da série “Como ganhar muito dinheiro pervertendo conceitos científicos”. Vamos a mais um tema que poderia muito bem estar no Mythbusters pela quantidade de informações erradas que são dadas para o público!

Continue lendo “Criando diamantes à partir do DNA do seu bichinho de estimação… OU NÃO.”

Especial da revista Nature sobre Microscopia

microscopes.jpgA edição de 4 de Junho de 2009 da revista NATURE trata em seu editorial do impacto que o desenvolvimento de novas técnicas de Microscopia (e também do melhoramento das já existentes) vem causando na compreensão que cientistas podem ter de alguns fenômenos biológicos (o editorial completo em Inglês pode ser acessado AQUI).
Além disso, no portal da revista foi organizado um suplemento especial sobre Microspia, com diversos artigos (conteúdo gratuito) e imagens. Essas novas tecnologias dão aos pesquisadores imagens de eventos biológicos e bioquímicos com resoluções absurdas, o que vem causando furor no meio científico.
É muito difícil imaginar um cientista e não vir à mente um microscópio, ou seja, a pesquisa em Biologia sempre teve uma veia altamente visual, de pouco a pouco vai sendo implementado nas vertentes mais modernas, como a Biologia Molecular, por exemplo. Por isso a grande festa em cima de novos equipamentos que possibilitem a retomada do “processo de observação científica” em níveis cada vez mais detalhados, e a vontade crescente de que essas tecnologias melhorem cada vez mais.
Hooke.jpgQue a Biologia sempre teve sua “veia artística” é amplamente sabido e discutido, e isso pode ser visto nas primeiras ilustrações científicas (como o exemplo de Robert Hooke visto ao lado), e também em outros blogs de divulgação científica, como no Blog Citrus (AQUI e AQUI), ou nesse post do Rafael aqui no RNAm mesmo.
Esse flerte que vemos entre “arte e ciência” é uma associação natural, afinal, a observação é uma constante para qualquer pesquisador, e o simples fato de se poder observar eventos bioquímicos no momento em que estes acontecem (seja em células, ou em modelos animais) provém uma experiência única quando comparado às horas que muitas vezes dispensamos na frente do computador do laboratório, “admirando” dezenas de tabelas, relatórios, e correlações estatísticas provenientes de nossos experimentos.
Realmente, em muitos casos, algumas imagens valem mais do que centenas de planilhas, gráficos e análises estatísticas geradas no Excel, Origin, ou Prism, com os quais nós pesquisadores mantemos sempre uma relação que varia entre o amor e o ódio.*
Eu sou (de modo descarado, assumo) fã de experimentos com imagem, sejam elas fotos, projeções, ou esquemas. É realmente muito bom quando você consegue agregar uma grande concentração de informações que podem ser absorvidas com um olhar.
Afinal, isso faz parte do consciente coletivo, quer ver (olha eu puxando a sardinha prás imagens de novo)? Mesmo que você não tenha qualquer bagagem em Ciência, qual dessas imagens você prefere analisar como resultado?!
Figura312.jpgEscolheu a da direita, certo? Como tenho certeza que qualquer pesquisador que trabalhe com Biologia e possa escolher entre um experimento que resulte em tabelas e outro que resulte em imagens…

Pequena grande construção: Origami de DNA

dna smile1.JPGResearchBlogging.org

Construções de grande magnitude feitas pelo homem são coisas do passado. Um passado bege egípcio com suas pirâmides e templos monumentais.

Na era da informação em que vivemos, menos é mais. As menores construções são as mais empolgantes. Menores computadores, celulares, caixas e “smile”.

Smile? Sim, este aí em cima é o menor smile do mundo! Feito de DNA e publicado na revista Nature! E como este dá para fazer virtualmente qualquer formato 2D, como podemos ver nestas outras imagens.

desenhos dna.JPG

O DNA, por ser uma molécula extremamente simples, pode ter seus dobramentos previstos, além de controlados com outros pequenos trechos de DNA desenhados para se alinharem em locais específicos.

Assim, de posse de uma fita simples de DNA de um vírus bem conhecido, o M13 (que é o famoso vírus com formato de nave espacial), pode-se fazê-lo torcer e alinhar com a ajuda de outros pedaços pequeno, desenhados em computador para manter a forma desejada.

Veja aqui o vídeo da palestra no TED de um dos autores do trabalho. E aqui ele explica mais detalhadamente a técnica

Bacana mas nada que tenha um aplicação direta.

Até agora! Porque outro grupo de pesquisadores conseguiu, usando basicamente a mesma técnica, fazer um objeto 3D de DNA. Uma caixa nanométrica, capaz de abrir e fechar somente com a adição de um pequeno pedaço DNA.

cubo de dna.JPG

Agora sim podemos pensar em usar este origami para transportar drogas ou até mesmo avançar nas pesquisas para montar um computador de DNA, que usaria esse sistema de abre e fecha das caixinhas, o que reduziria em muito o tamanho dos computadores.

BÔNUS:
Na página da ONG “O DNA vai à Escola” você pode baixar o arquivo para fazer seu origami, não COM DNA mas DO DNA.

UPDATE: Saiu na Nature dia 15 de maio: DNA Nanotech Gains a Third Dimension
Dica do Atila

Smith, L. (2006). Nanostructures: The manifold faces of DNA Nature, 440 (7082), 283-284 DOI: 10.1038/440283a

Andersen, E., Dong, M., Nielsen, M., Jahn, K., Subramani, R., Mamdouh, W., Golas, M., Sander, B., Stark, H., Oliveira, C., Pedersen, J., Birkedal, V., Besenbacher, F., Gothelf, K., & Kjems, J. (2009). Self-assembly of a nanoscale DNA box with a controllable lid Nature, 459 (7243), 73-76 DOI: 10.1038/nature07971

MTV debate: Transgênicos

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Pois é, eu não sei quem ganhou o BBB9, estava vendo o Lobão tocar o programa de debate mais caótico da televisão brasileira.
VEJA AQUI
Lobão começa soltando uma pérola característica de sua sinceridade exacerbada: “O tema é complexo, como eu pude averiguar estudando… hoje a tarde pela internet.” Aprofundou, hein…
Claro que muita besteira foi falada. Greenpeace criticando cegamente sem dar uma alternativa prática de um lado, e o pesquisador sendo um tanto arrogante e intransigente do outro.
O que espantou foi o fato de quem se mostrou mais preparado para um debate foi o deputado federal Paulo Pimenta (PT/RS). Não que ele soubesse mais sobre o assunto específico, mas mostrou que sabe conduzir o debate em si, conhece os argumentos a favor, contra, dos produtores e dos consumidores.
O problema não é o transgênico
Foi ele quem colocou que a questão de que não é a técnica de transgenia que está em questão, afinal a insulina é um dos exemplos de tecnologia transgênica, que hoje em dia é produzida por bactérias com gene da insulina humana, e ninguém questiona sua utilidade ou uso.
O problema é especificamente com o transgênico na agricultura e questões ambientais.
Outra bola dentro do deputado foi a constatação, mediante as críticas de que o transgênico por aguentar mais agrotóxico vai exigir mais aplicação do veneno, que o produtor sem transgênico não vai tratar a produção com água benta. Agrotóxico é um fato na agricultura em geral, e continuará sendo usado.
Bom, o papo não acabou e eu ainda não sei se o MTV Debate é o melhor formato de programa para este tipo de discussão. Nem pelo formato, mas pela figura do Lobão, que é divertido, mas muito caótico pra dar um mínimo de organização às idéias.
Minha opinião no caso? Transgênicos vieram pra ficar. Os de primeira geração, as famosas da Monsanto, não serão o padrão para sempre. Institutos públicos devem investir em parcerias privadas ou pesquisar firmemente na tecnologia, para a agricultura mundial não depender de patentes restritivas.
E pessoal da MTV, qualquer coisa o pessoal do ScienceBlogs está aqui às ordens, hein.