Todos os posts de Aline Ghilardi

Aline é bióloga, especialista em paleontologia de vertebrados e criadora da rede de divulgação científica "Colecionadores de Ossos". Atualmente é professora adjunta de Paleontologia do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em Natal, RN.

Mais um capítulo da novela "Fósseis brasileiros vendidos no exterior"…

Nos capítulos anteriores: Paleontólogos brasileiros urgem em defesa do Brasil e do patrimônio fossilífero da nação! ,  Fósseis brasileiros a venda no E-bay e Qual a forma legal de pesquisar fósseis no Brasil …

Agora é a vez de uma excêntrica alemã vender fósseis do Araripe, de qualidade extraordinária, pelo seu site pessoal. Ignorância quanto as leis brasileiras ou muita “cara-de-pau”?

Acredito que a mudança vem com a insistência (nunca com a desistência!). Apesar de não termos conseguido NENHUMA, repito N.E.N.H.U.M.A mudança com relação ao status DESTE FÓSSIL – que CONTINUA a venda no e-bay (obrigada autoridades!!! Sim, isso é sarcasmo) – é importante continuar lutando.

Como paleontóloga brasileira confesso que as vezes me canso. Parece uma luta invencível. Todavia, ainda acredito que ‘a semente da mudança é o conhecimento’. Disseminar o conhecimento é parte fundamental do processo de formação de uma sociedade saudável: autônoma e capaz de refletir sobre a sua condição e as formas de resolver os seus problemas.

Cada um que lê essa notícia, por exemplo, funciona como um vetor ou um pequeno inseto faminto devorando a estrutura doentia na qual se baseia a sociedade moderna: a ignorância em prol do controle.

Sob esta perspectiva, o papel da divulgação científica (séria) é fundamental. Trazer assuntos que ficariam confinados ao círculo de discussão de acadêmicos para trato do povo é um dever. O conhecimento dá ao povo armas para lutar: Saber sim é poder. Na verdade, é a principal chave da mudança.

E de qualquer forma, para que existiria a ciência se não estivesse a serviço do povo?

Neste post trago um assunto que não é novo no blog. Na verdade já foi tratado diversas vezes recentemente e abriu espaço para uma saudável discussão.

Meu intuito não é exaurir o tema ou impor um ponto de vista. É esclarecer, expor e colocar em debate.

Venho fazer mais uma denúncia e um apelo:

Como já esclareci em outras oportunidades (aqui e aqui), o comércio de fósseis brasileiros é crime e a exportação dos mesmos é igualmente ilegal de acordo com o DECRETO-LEI 4.146 de 1942. De acordo com este documento, fósseis são considerados bens da união ou partes do patrimônio cultural e natural do Brasil.

Recentemente, todavia, tivemos mais um exemplo de isso não é de fato cumprido.

Por apontamento do colega Renan Bantin, da UFPE, um site veio ao conhecimento da comunidade paleontológica brasileira, “annsus.com” (Acesse o site AQUI). Este sítio virtual, mantido por uma alemã, disponibiliza para o comércio de decoração, mais de uma centena de fósseis brasileiros de qualidade excepcional, incluso alguns espécimes de raridade considerável (e.g. o crânio de pterossauro abaixo, disponível para venda).

Isso por si só não é muita novidade, já que  pelo e-bay ou por outros sites de leilões virtuais é muito comum encontrar fósseis brasileiros a venda (infelizmente). PORÉM… não da mesma forma descarada.

Mesmo que todos saibam que estes fósseis comercializados pela internet tenham sido retirados ilegalmente do país, normalmente os vendedores utilizam-se alguns subterfúgios para escapar de sanções da lei. Como por exemplo, dizer que estes fósseis foram retirados do Brasil antes de 1942! Ora, perfeito, não temos como provar o contrário! Que esperteza a deles (!).

Veja exemplares de fósseis brasileiros ao fundo.

TODAVIA, esta senhora alemã (foto ao lado esquerdo) não se preocupou muito com isso… Já como nossas autoridades não se movimentam muito mesmo, ela não se incomodou em deixar claro o seu negócio:

“For more than 30 years fossils have been my life. It started out as a hobby towards the end of the 1970’s and finally developed into being my full-time job today. After finishing school I started an education as a tax inspector at the fiscal authorities in Frankfurt-Höchst. After my certification I worked in this field for another three years.

Then I decided to become self-employed and started to work with Michael Schwickert. He had started a fossil business three years earlier, excavating and preparing fossils in the German province of Rheinland-Pfalz. At the time, my responsibilities were mainly in the organizational and marketing aspect. Excavations in other parts of Germany as well as in several other countries followed, always searching for rare and unusual specimens. Preparation was done at our own facility, and the finished specimens were then made available to museums, institutes, collections and at international fossil shows. Fossils from our prep lab are now represented world-wide in well-known institutions.” (Fonte: http://www.annsus.com/index_en.html)

“Por mais de 30 anos os fósseis tem sido a minha vida. Isso começou como um hobby no final da década de 1970, mas finalmente tornou-se meu emprego de tempo integral na atualidade. Depois de terminar meus estudos, comecei um curso de inspetor fiscal em Frankfurt-Höchst. Depois de ganhar meu certificado eu trabalhei neste ramo por aproximadamente 3 anos. Então, decidi trabalhar por conta própria e comecei um negócio com Michael Schwickert. Ele entrou no ramo dos fósseis 3 anos antes que eu, escavando e preparando este material na província alemã de Rheinland-Pfalz. Naquela época, as minhas responsabilidades eram basicamente aspectos da organização e do marketing. Escavações em outras partes da Alemanha, assim como em outros vários países se seguiram, sempre procurando por espécimes raros e excepcionais. A preparação era feita no nosso próprio estabelecimento e depois de preparadas, as peças eram disponibilizadas para museus, institutos, coleções e mostras internacionais de fósseis. Fósseis do nosso laboratório de preparação estão representados em instituições renomadas do mundo inteiro.”

O interesse de contrabandistas – principalmente alemães – pela riqueza fossilífera do Brasil começou entre as décadas de 1980 e 1990. Naquela época, o comércio de fósseis abastecia museus renomados da europa, como o de Hamburgo, Frankfurt e Munique.

Nesse cenário, Michael Lothar Schwickert é um dos maiores contrabandistas de fósseis em atuação no mercado internacional. Sua atuação trouxe prejuízos incalculáveis para o patrimônio paleontológico brasileiro e transformou a região do Cariri, no nordeste do Brasil, num bem organizado núcleo de exportação.

Depois de estabelecer contatos na região, Schwickert implantou um sofisticado sistema de coleta de fósseis no interior do Ceará. Sua organização contava com estação de rádios comunicadores, equipamentos pesados como compressores e técnicas extremamente eficientes de extração nas minas. Ele montava as equipes e trabalhava à noite. As peças eram enviadas para a Europa em caixotes colocados em contêineres despachados sob o disfarce de outro material, como pedras e calcário, nos portos ou aeroportos de Recife, São Paulo e Rio.

Schwickert chegou a ser preso no aeroporto em Fortaleza em 2002, depois de uma longa investigação que começou em meados de 1996. Todavia foi solto porque não portava material fóssil. Foi extraditado e respondeu ao processo em liberdade.

Proprietário da empresa ms-fossil, seu esquema contava com dezenas de colaboradores locais, como Francisco Ronaldo Correia e Euclides Praxedes, que cobriam grande parte da Chapada do Araripe. Muitos  de seus antigos ‘ajudantes’ continuam em atividade ilegal até hoje.

Pelo que podemos observar, Scwickert continua colhendo frutos de seu ‘negócio lucrativo’ até hoje. É por isso que este site  não pode ser considerado simples fruto da ignorância por parte de estrangeiros quanto as leis brasileiras, mas sim, MUITA CARA DE PAU!! Ah, sim, Aproveite, visite o site e faça “um incrível tour 360 graus” em uma das mostras deles na Alemanha (!).

O prejuízo para o país com a exportação deste tipo de material é impossível de ser calculado. Encaixa-se no mesmo quadro da biopirataria. Trata-se da retirada ilegal e comercialização de um aspecto científico-cultural. Um fóssil não é um simples recurso mineral, não é como uma pedra preciosa. São itens únicos. Eles  não são enfeites, mas sim ajudam a elucidar questões ambientais e evolutivas do passado do nosso planeta! São parte de nossa história. Atividades como a do Sr. Schwickert fazem com que este potencial seja perdido para as mãos de colecionadores excêntricos ou museus descontextualizados para com os interesses científicos e avanços feitos por cientistas brasileiros. O fóssil passa a ter uma única função: expositiva. Sem dúvida também são itens para ser apreciados, mas essa não é sua única função!!!

A proteção aos depósitos de fósseis é uma preocupação cada vez maior em âmbito mundial. Em diversos países já existem leis que procuram controlar a extração de material fóssil (leia AQUI – Heritage Auctions: Stop the auction of illegally collected Mongolian dinosaur fossils.). O êxito varia em função do estado ou país onde as leis são aplicadas. Entre as soluções para amenizar o problema estão a ampla divulgação, desenvolvimento de ações educativas e a criação de parques para desenvolvimento da indústria turística paleontológica, que levariam um retorno econômico para a população, afim de coibir o seu envolvimento com o tráfico ilegal (veja o exemplo do GeoPark Araripe, que apesar de ter sido um grande passo nessa batalha, por si só não é suficiente). É sobretudo necessário mostrar a população a importância e os benefícios que o patrimônio paleontológico pode fornecer.

Qual o seu papel como cidadão frente a isso? Denunciar, promover, divulgar, discutir. Participe, isso é cidadania.

Denúncias de venda e extração ilegal de fósseis devem ser reportadas ao DNPM e a Polícia Federal.

Quem quiser se engajar, deixe um recado de repudio aos nossos colegas de “annsus.com” pelo seu próprio site ou pelo e-mail: office@annsus.com. Endereço e telefones também encontram-se disponíveis aqui.

– Qual o seu posicionamento quanto a comercialização de fósseis?

Para se informar mais: 
Além dos outros posts aqui do blog sobre essa temática, fortemente aconselho a leitura desta reportagem: Tráfico no parque dos Dinossauros, Mixaria no sertão e ouro no exterior: fósseis brasileiros fazem a fortuna de contrabandistas

Isso não são ovos de dinossauros

Extra, extra! Cientistas descobrem ovos de dinossauro na Rússia!

ERRADO!!

Isso não são ovos de dinossauros!!!!!!!

Essa notícia (“Cientistas encontram ovos de dinossauros na Rússia“) se dissipou não só na internet, mas foi veiculada também noutros principais meios de comunicação do país. Os jornais da globo se deliciaram com o ‘furo jornalistico’, assim como os criacionistas, quando viram mais uma oportunidade para vangloriar sua teoria sobre “fósseis poliestrata” (WTF!).

Nós, paleontólogos, sentimos vergonha alheia pelo colega geólogo da foto quando isso se dissipou por aí. O que a foto mostra, na realidade, são concreções esferoidais. São lindas realmente. Belas amostras geológicas, mas não ovos de dinossauros!

Concreções são formadas em rochas sedimentares pela cimentação diferencial de grãos do arcabouço e matriz, que estejam agregados ao redor de um ‘núcleo precursor’, de origem orgânica ou não. Como assim?!

Bem, o núcleo precursor é que desencadeia o processo de formação  da concreção. Ele geralmente possui afinidade química que favorece a deposição de determinados tipos de cimento no seu entorno… Se o núcleo for de origem orgânica (uma folha, um peixe, um pterossauro, etc.), esse processo de acresção de minerais pode ser favorecido pela ação de bactérias, por exemplo. Sob essa perspectiva, muitas concreções podem conter fósseis… mas essas geralmente não têm formas tão regulares.

O formato das concreções depende principalmente do ambiente e das condições presentes durante a formação dessa estrutura sedimentar, assim como da natureza do núcleo que iniciou o processo.

As concreções concêntricas se formam pela deposição dos minerais de cimentação em camadas sucessivas. Os minerais são acrescidos a superfície das camadas anteriores e a concreção cresce.

Concreções variam em tamanho e forma: Podem ter tamanhos microscópicos ou chegar a escala de metros de diâmetro, pesando dezenas de quilos. Podem ser amorfas ou ter formatos discóides, tubulares, esféricos, piramidais, ou até agregados como bolhas de sabão.

Frequentemente elas têm da mesma coloração da rocha matriz, o que pode ajudar a diferenciá-las de estruturas fossilizadas – em alguns casos

São compostas por uma variedade de minerais e podem ocorrer em uma variedade de rochas sedimentares. Sendo mais comuns, no entanto, em folhelhos, siltitos e arenitos.

A história de confundir essas estruturas com ovos de dinossauros não é nova…. na verdade, esse engano já foi cometido várias vezes….

Quanto a ovos de dinossauros:

SE os elementos esferoidais encontrados na Rússia fossem ovos de dinossauros, logo de cara poderíamos dizer que se tratam de ovos de saurópodes. Não pelo seu tamanho, mas pelo formato.

Os ovos de saurópode têm essa característica esférica (Veja fotografia e imagens a seguir)… PORÉM:

Ovos de saurópode da Índia
Ovo de saurópode da Índia. O ovo está dentro da rocha e em corte lateral. Observe a casca formando um círculo entorno do embrião preservado.
Reconstituição de um saurópode e seu ninho.

Eles dificilmente têm 1 metro (!) de diâmetro, como algumas das concreções descritas.  Os maiores ovos de dinossauros saurópodes já encontrados não chegam nem perto desse tamanho, têm apenas algumas poucas dezenas de centímetros… e olha que entre os saurópodes estão os maiores dinossauros que já pisaram no Planeta Terra!!!

Uma outro aspecto que devemos atentar é para a forma como as estruturas esferoidais da Rússia foram encontradas: juntas, todas agregadas. Isso logo nos levaria a interpretá-las como produzidas “pelo mesmo animal ou pelo mesmo tipo de animal”, organizadas como em um ninho ou ninhal. TODAVIA, temos que ressaltar uma observação básica: que em uma mesma espécie, os ovos não variam muito de tamanho.. Os descritos na Rússia tinham o mesmo formato, eram encontrados agregados, porém variavam de 25 cm a 1 metro de diâmetro!

Além disso, SE fossem ovos, eles teriam sido provavelmente encontrados depositados juntos em um mesmo estrato, não espalhados pela matriz rochosa…: – Da forma como essas estruturas foram encontradas na Rússia, SE fossem ovos, a preservação só poderia ter acontecido por um retrabalhamento do material pré-depositado ou por uma deposição rápida de sedimentosum fluxo gravitacional, uma corrida de lama, etc -, que carregou os materiais rapidamente em um agregado massivo desordenado e se acomodou numa área rebaixada. Nessas duas opções, todavia, teríamos problemas: Ovos são estruturas delicadas demais para serem preservadas assim. Mesmo assim, a hipótese não pode ser descartada….

Por fim, SE fossem ovos de dinossauro, provavelmente eles teriam uma textura diferente da rocha matriz e isso não é observado no material da Rússia.

Diferentes texturas

Diferentes texturas

Geralmente a casca dos ovos fica preservada e esta possui caracteres bem diferenciados, facilmente observados a olho nu, como poros, perfuraçãoes, rugosidades e ornamentações. Todas essas características são inclusive utilizadas na classificação dos ovos.

Estruturas da casca: a morfologia externa

Quando sobra uma dúvida, todavia (uma má preservação geralmente leva a isso), um corte petrográfico pode rapidamente resolver a questão. A casca do ovo apresenta um padrão característico quando observada ao microscópio (Veja imagem abaixo).

Um corte de uma casca e um casca de ovo de dinossauro observadas no microscópio eletrônico.
Esquema da estrutura interna da casca

O estudo de ovos fósseis é conhecido como Paleo-oologia e sua importância gira em torno de entender processos paleobiológicos, paleoecológicos, paleogeográficos, estratigráficos, paleoambientais e paleoclimáticos. Os ovos guardam mais segredos do que você pode imaginar…

Isso são ovos:


Isso NÃO:

Isso são concreções esferoidais….

Quando o seu entorno é erodido, restam cenários quase extra-terrestres… Essa foto é do Vale da Lua na Argentina.

Paleontólogos brasileiros saem em defesa do Brasil e do patrimônio fossilífero da nação

No início desta semana, uma carta redigida por paleontólogos representantes da Sociedade Brasileira de Paleontologia foi publicada no site da Geological Society em resposta a uma manifestação que causou a indignação e repúdio de todos os profissionais brasileiros da área.

O polêmico paleontólogo inglês David Martill pronunciou-se uma vez mais contra as leis de proteção do patrimônio fossilífero brasileiro. Desta vez, ofendendo não apenas a competência de nossos profissionais, como a soberania da Naçãoveja AQUI.

No final do século XIX e início do século XX era muito comum a exploração de fósseis brasileiros e o seu envio para coleções museológicas e particulares no exterior. Porém, a partir de 1942, o Decreto-lei 4.146 proibiu o comércio e a retirada irregular do país de qualquer material dessa natureza. A partir deste marco, os fósseis passaram a ser entendidos como bens da união e a sua exploração passou a ser regulada por um órgão governamental, o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral)Nas décadas que seguiram, outros instrumentos legais passaram a reforçar e complementar tal decreto e, na atualidade, os fósseis são vistos  como partes do patrimônio cultural e natural da Nação (clique AQUI para ler mais sobre os aspectos legais de proteção ao patrimônio fossilífero brasileiro).

É inegável que os fósseis são itens de valor inestimável cultural e intelectual. Baseado nisso é que as leis de proteção aos mesmos foram criadas no Brasil. Estrangeiros não são proibidos de pesquisar fósseis brasileiros. O que nossas leis garantem, apenas, é que esses fósseis permaneçam no Brasil e sejam estudados em parceria com instituições brasileiras. Porém isso parece irritar David Martill. Ele acredita que essa condição atrapalha o avanço da ciência como um todo e se recusa a aceitar que conhecer e preservar a própria história é direito de um país.

David Martill é conhecido por ter descrito uma série de fósseis brasileiros suspeitos de tráfico (i.e. suspeitos de terem sido retirados irregularmente do Brasil depois de 1942). A última polêmica gira em torno de Tetrapodophis, uma suposta serpente fóssil com patas proveniente dos depósitos da Formação Santana, Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. A fúria de Martill expressa na carta mencionada acima é referente aos questionamentos que surgiram sobre a legalidade do fóssil de Tetrapodophis, espécime que pertence hoje à um museu particular alemão.

Leia a carta-resposta dos paleontólogos brasileiros à declaração de David Martill:  A reply to Martill – The Bearable Heaviness of Liability

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Leia aqui notícias relacionadas ao tema tráfico de fósseis.

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Fósseis brasileiros sendo vendidos no e-bay – DENUNCIE (Basta clicar em REPORT ITEM, então selecionar: Prohibited and restricted items, Illegal items, Other illegal Activity). Se tiver um tempo, escreva ainda para o DNPM (órgão responsável por averiguar essa questão), ouvidoria@dnpm.gov.br.

http://www.ebay.com/itm/Dinosaur-Fossil-Mesosaurus-Brasiliensis-Group-of-3-RARE-Museum-Quality-/280749447445?pt=LH_DefaultDomain_0&hash=item415df89915#ht_500wt_953 – A ilegalidade está implícita na descrição deste material (“This rare fossil was discovered and acquired in the south of Brazil in the late 1990’s”).

Outros: http://www.ebay.com/sch/i.html?_sacat=0&_nkw=brazil+fossil&rt=nc

Ajude a coibir este tipo de atividade, Denuncie!!

Como os cientistas conseguem reconstituir o passado?

Mesmo com evidências escassas e pistas fragmentadas, paleontólogos conseguem recriar histórias complexas de interação entre seres extintos e povoar mundos perdidos com criaturas de toda sorte e natureza. Como isso é possível?

Afloramentos cretácicos em Sousa, Paraíba, Brasil – Foto por Aline Ghilardi, todos os direitos reservados

Nas mãos de paleontólogos, ossos, mesmo poucos e fragmentados, se tornam poderosas ferramentas e parecem suficientes para esclarecer relações biológicas intrincadas e até mesmo recriar o retrato esquecido de criaturas há muito desaparecidas.

Ao passar os olhos por um afloramento fossilífero, um paleontólogo pode saber exatamente em que período de tempo geológico ele se encontra e – para o espanto de muitos – em que exato tipo de ambiente aquele registro se formou.

Como o passado pode ser tão claro para estes cientistas?

Em tempos modernos, os paleontólogos trouxeram não só o passado, mas muitas de suas criaturas de volta a vida e não foi por meio de uma máquina do tempo sensu strictu, mas através do bom e velho método científico alimentado por uma boa dose de questionamento intelectual.

Para falar a verdade, é como se essas simples ferramentas da ciência fossem verdadeiras máquinas do temposensu lato, desta vez -, permitindo-nos espiar mundos antigos e examinar criaturas cuja existência foi negada. Temos que concordar que são maquinas do tempo muito pouco usuais....

Para viajar ao passado utilizamos teorias, computadores, complexos equipamentos de laboratório e até mesmo experimentos. Porém, mais comumente são utilizadas somente as rochas. As rochas que procuramos são bem específicas. Elas são estratificadas e conhecidas como ‘rochas sedimentares’. Este é o tipo de rocha que contém fósseis e são elas e os fósseis que nos ajudam a explorar o tempo profundo.

As rochas sedimentares contém a melhor informação que temos para estudar o passado. Mas como podemos acessar essa informação?

Qualquer afloramento de rochas sedimentares contendo fósseis apresenta pistas sobre a sua idade e o local de origem do material, que pode ser bem diferente do local aonde as rochas hoje se encontram. – Temos que lembrar, que a superfície do planeta não é estática, mas incansável.

Serra da Capivara – Rochas sedimentares, estratos através dos tempos – Foto por Aline Ghilardi, todo os direitos reservados

Rochas contém pistas sobre a natureza do ambiente aonde elas foram formadas. Algumas das características úteis nesta investigação são o tamanho ou a organização de seus grãos e ainda a qualidade dos mesmos. 

Após serem torturadas, as rochas contam quase tudo! 

É possível descobrir se os materias de que são compostas litificaram (se tornaram rocha) no continente ou em mares rasos, em um clima quente ou frio, seco ou úmido, pobre em oxigênio ou não, entre outras tantas outras variáveis ambientais.

É um ótimo começo, porém nenhuma intervenção científica por si só extrai toda a informação. Muitas ferramentas e técnicas devem ser combinadas. Por isso, “ler” os fósseis também é importante. Eles oferecem informações complementares. O passado é uma rede complexa de interações e temos que estudá-lo em todas as suas dimensões.

Fóssil de peixe, Bacia do Araripe, Fm. Santana, Nova Olinda, Ceará, Brasil – Foto por Aline Ghilardi, todos os direitoss reservados

As rochas informam sobre o ambiente, assim como também os fósseis. O elenco biológico está intimamente ligado ao seu entorno, não é mesmo? Fósseis de peixes, por exemplo, só podem indicar um ambiente aquático.

Os fósseis também ajudam a dar uma resolução temporal, ou seja, eles calibram a máquina do tempo. Determinados organismos funcionam como fósseis guia e indicam períodos específicos do tempo geológico.

Os amonites (cefalópodes com concha, cujo primo ainda vivente é o Nautilus), por exemplo, são indicadores da Era Mesozóica (250 a 65 milhões de anos atrás), período bastante extenso de tempo. Já alguns microfósseis (fósseis de microorganismos), costumam ser indicadores muito mais acurados: Pelo fato de sua taxa evolutiva ser alta, diferentes espécies ou associações de espécies estão representadas em períodos mais restritos de tempo.

Avaliar o passado sob diferentes perspectivas – utilizando diferentes ferramentas -, pode gerar, no entanto, ambiguidades. Isso é comum quando se adicionam muitas variáveis a uma equação…

Veja bem, o passado não existe mais, é apenas uma memória, certo?

Duas pessoas que tenham presenciado o mesmo evento podem guardar lembraças diferentes do que ocorreu. A interpretação do registro fóssil pode ser exatamente assim. Diferentes testemunhas ou diferentes “máquinas do tempo” frequentemente fornecem diferentes perspectivas do acontecido.

Usualmente existem multiplas versões de uma mesma história. Decidir qual representa a verdade pode ser difícil. Mesmo assim, a ambiguidade acaba sendo um aspecto positivo. As pessoas discutem, os argumentos são resolvidos e normalmente o resultado é o progresso científico. A ambiguidade pode ser aceitável quando se investiga o tempo profundo. Afinal, o único material que temos para trabalhar é uma pequena amostragem do todo. Vamos concordar que isso  aumenta a diversão de se empenhar neste tipo de ciência: sempre haverá uma descoberta nova e maravilhosa que vai mudar o rumo do que se conhecia até então.

Nenhuma ‘máquina do tempo’ consegue recriar inteiramente o passado. Cada uma é como uma pincelada ou uma única cor de um quadro complexo. Por si só, carregam muito pouco significado, mas quando combinadas, montam um quadro compreensível daquilo que passou.

O paleobotânico, o paleozoólogo, o palemicrobiologista, o geoquímico, o tafonomista etc., combinam as suas artes para ajudar a espiar um singelo quadro do que teriam sido complexos e maravilhosos ecossistemas enterrados no passado distante. Cada um utiliza a sua ‘máquina do tempo’ – sejam equipamentos complexos ou o humilde e poderoso  ‘poder preditivo da rocha’ – e oferecem assim as suas interpretações mais precisas. O final pode ser sim uma obra de arte…

Painel de Raul Martin ilustrando o Eoceno de Messel, na Alemanha.

Como isso tudo é traduzido para o público? Aí precisamos de outros profissionais, os paleoartistas, mas isso é outra história. Se tiver interesse, continue lendo AQUI.

Terra Febril

O Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno (MTPE) e as suas lições para a atualidade – Conhecer o passado é a chave para revelar o futuro:

Há 56 milhões de anos, no final do período conhecido como Paleoceno, um grande aumento no nível de carbono atmosférico mudaria o rumo da vida no planeta para sempre. A Terra tornou-se tão quente, que não havia sequer sinal de gelo nos pólos. Florestas tropicais e pântanos se estendiam até as latitudes mais elevadas e o nível do mar era 70 metros mais alto do que é hoje, cobrindo extensas áreas continentais. As zonas climáticas modificaram-se de tal forma, que obrigaram animais e plantas a se deslocarem ou adaptarem-se as novas condições. Os grupos que não o fizeram, extinguiram-se ainda no início do período Eoceno.
Os cientistas conhecem esse evento como o Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno (MTPE): Num espaço de alguns milhares de anos – um instante no tempo geológico – as temperaturas globais subiram cerca de 5 graus Celsius. A causa? Uma massiva liberação de gases estufa na atmosfera terrestre. Semelhante às mudanças climáticas provocadas pelo homem na atualidade, o MTPE serve como modelo para compreender o que ocorrerá com a biosfera em um futuro próximo.  O conhecimento exato do que se passou poderia nos ajudar a planejar ações preventivas contra os efeitos catastróficos de erros seculares de emissões de dióxido de carbono pela queima dos combustíveis fósseis. O problema, contudo, é pior do que poderíamos imaginar: a intensa liberação de gases estufa do Paleoceno-Eoceno corresponderia a apenas 10% da proporção em que os gases estufa se acumulam hoje… as conseqüências podem ser terríveis.

Localizando-se temporalmente: Dentro da Era Cenozóica (na qual se deu o reinado dos mamíferos, após a extinção dos dinossauros não-avianos), do Período Paleógeno, a primeira época é o Paleocenoque se inicia a 65 milhões de anos atrás, seguida pelo Eoceno, há aproximadamente 56 milhões de anos.  O MTPE teria se dado na transição Paleoceno-Eoceno – verifique o lado inferior direito da tabela. **O termo “Terciário”, de acordo com a mais recente tabela oficial da GSA, é considerado somente informalmente** 

O MTPE durou mais de 150 mil anos, até que todo carbono “extra” fosse reabsorvido da atmosfera. Durante este tempo, grandes secas assolaram o planeta, enquanto vastas áreas foram castigadas por chuvas e inundações massivas. Apesar de um grande número de extinções, várias espécies prosperaram e mudaram o cenário global para sempre. As conseqüências evolucionárias desse evento podem ser vistas hoje e incluem o sucesso primata, que culminou posteriormente na evolução humana.
 
Atualmente os cientistas acreditam que o gatilho deste grande evento tenha sido a ruptura final das massas de terra que antes formavam o supercontinente Pangea – especificamente a separação da Europa e a Groenlândia para a formação do Atlântico Norte. Enormes volumes de rocha derretida foram cuspidos para a superfície terrestre e queimaram sedimentos ricos em carbono  –  talvez até carvão e petróleo – próximos a superfície. Os sedimentos queimados teriam emitido colossais quantidades de dióxido de carbono e metano. A julgar pelo volume das erupções, elas teriam sido responsáveis pelo acúmulo inicial de gases estufa, algo na ordem de centenas de pentagramas (105 gramas) de carbono, o suficiente para aumentar a temperatura global em alguns graus. Todavia, algo mais seria necessário para impulsionar o MTPE à sua temperatura máxima.
 
Erupções vulcânicas deram início ao primeiro pulso de aquecimento
Uma segunda fase de aquecimento intenso foi desencadeada pelo primeiro pulso de emissões. A agitação natural dos oceanos conduziu o calor da superfície para o fundo do mar, liberando uma enorme quantidade de hidratos de metano antes congelados e aprisionados no sedimento marinho (Leia mais sobre Clatratos de Metano AQUI). Conforme os hidratos descongelaram, o gás borbulhou até a superfície. Mais potente que o dióxido de carbono na retenção de calor, o metano induziu o pico mais extremo de aquecimento.
 
Liberação de hidratos de metano do fundo marinho
 
O primeiro pulso de aquecimento, portanto, disparou um sistema de retroalimentação positiva. A partir daí, o mundo já quente, só esquentaria ainda mais. Uma montanha-russa. O carbono aprisionado em outros reservatórios começou a ser liberado com o aquecimento progressivo do planeta e a crise se agravou.
 
A secagem, o cozimento e a queima de material vivo liberam gases estufa. Em alguns lugares, grandes secas teriam ocorrido, além de incêndios generalizados, o que liberou toneladas de CO2. Isso manteve a descarga intensa por um longo período. Além disso, o derretimento do permafrost contribuiu com a situação. Esse tipo de solo congelado aprisiona uma enorme quantidade de material em decomposição, que chega a ter milhares de anos. Ao descongelar, libera metano em profusão. O resultado é dramático.
 
Atualidade: Incêndios florestais na Europa e Estados Unidos
 
Atualidade: Enchentes na América do Sul
 
Atualidade: o derretimento do Permafrost no Alaska, EUA.
 
No início da crise, o oceano serve como um tampão. Ele absorve parte do carbono liberado. É um processo natural de regulação, porém, depois de um tempo, o acúmulo excessivo deste gás pode escoar para o oceano profundo e gerar um processo de acidificação bastante nocivo. O acúmulo de ácido carbônico é desastroso para a vida oceânica. Ao mesmo tempo em que o fundo oceânico esquenta e se acidifica, o teor de oxigênio dissolvido diminui bruscamente com o aumento da temperatura da água. Foraminíferos e outros organismos microscópicos do leito oceânico são exterminados. A cadeia da vida começa a se romper pela base. O registro fóssil do Paleoceno-Eoceno demonstra que entre 30-50% desses organismos (em número de espécies) se extinguiram nesse período. A acidificação dos oceanos dissolve também o carbonato de cálcio das conchas de invertebrados marinhos. Uma miríade de formas de vida foi levada a extinção.
Temperatura do oceano circum-polar ao longo do tempo. Atenção para o pico durante o MTPE ou PETM (sigla em inglês).
 
Uma espécie de Foraminifera que sofreu baixas durante o MTPE
 
Registro de isótopos de oxigênio e carbono de foraminíferos bentônicos de sítios no Atlântico Sul e Oeste do Pacífico para o MTPE – Zachos et al. (2010) modificado por Archer(2007).
O surto de carbono também afetou a vida na terra. Análises de isotopia em paleosolos e esmalte dentário de mamíferos indicam uma assinatura isotópica peculiar. O MTPE pode, então, ser rastreado em rochas e fósseis do mundo todo, tanto marinhas, quanto continentais.
 
Em 1990 uma dupla de cientistas norte-americanos identificou o registro progressivo de liberação de gases estufa do MTPE em um núcleo de sedimento extraído do fundo do mar perto da Antártida. Nos anos seguintes a essa descoberta, detalhes como ‘a quantidade exata de gás liberado’, ‘qual gás predominava na atmosfera em determinado período’ e ‘quanto tempo a liberação durou’ começaram a ser buscados. Os sedimentos oceânicos passaram a ser analisados camada por camada. Pelo fato de serem depositados lentamente, eles retêm minerais e fósseis que guardam a assinatura química exata da composição dos oceanos e da atmosfera circundante ao longo do tempo geológico. Isótopos de oxigênio em restos de esqueletos revelam a temperatura da água, por exemplo. Porém, muitos dos núcleos de sedimento marinho estavam temporalmente incompletos – algumas partes foram degradadas ao longo do tempo. O sedimento marinho geralmente é rico em carbonato de cálcio, porém durante o MTPE, a acidificação dos oceanos dissolveu a maioria do carbonato nos sedimentos exatamente nas camadas em que as condições mais evidentes dessa era deveriam estar representadas.
 
Testemunho oceânico demonstrando o limite Paleoceno-Eoceno e os sedimentos depositados durante o MTPE ou PETM (sigla em inglês).
Os cientistas não se deram por vencido. Um grupo multidisciplinar se uniu para estudar sedimentos argilosos de uma bacia marinha soerguida em uma região do ártico europeu. Depois de anos de trabalho, obtiveram resultados muito especiais. Com auxílio de modelagens computacionais somadas aos dados obtidos dos testemunhos, revelaram que a liberação de gases estufa do MTPE deve ter durado por volta de 20 mil anos, um período muito mais lento do que se imaginava. Comparando-se com a taxa atual de aumento desses gases na atmosfera, as concentrações vêm aumentando cerca de dez vezes mais rápido que durante o MTPE. As implicações dessa descoberta são dramáticas para a vida no planeta. A mudança climática provoca maior ou menor impacto nas formas de vida e ecossistemas dependendo da sua velocidade. A vida responde de maneira menos dramática a mudanças lentas, pois tem mais tempo para se adaptar.
 
Durante o Cretáceo, por exemplo, houve um efeito estufa semelhante ao MTPE, porém muito mais lento. O episódio durou milhões de anos e não ocorreram extinções tão notáveis. Já o MTPE é um exemplo de uma mudança moderada. Muitos organismos se extinguiram e outros ‘encolheram’ de tamanho, em especial os mamíferos. Os mamíferos do limite Paleoceno-Eoceno são menores que seus antecessores e descendentes. O mesmo é observado em insetos e vermes. Acredita-se que seja devido ao fato de que corpos menores dissipam o calor melhor do que os maiores. Outros animais sobreviveram porque migraram para os pólos. Todavia, alguns grupos foram muito favorecidos. Ungulados, tartarugas e algumas espécies de microorganismos aquáticos, por exemplo, expandiram seus territórios. Para os mamíferos, essa expansão abriu novas oportunidades de evolução e preenchimento de nicho:  A diversificação do período inclui a origem dos primatas.
 
Reconstituição da fauna e flora do Eoceno da Alemanha
 
Dispersão primata durante o Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno. O aproveitamento dos corredores florestais.
 
Reconstituição do cenário do Paleoceno Final colombiano. Enquanto muitos mamíferos encolheram, alguns répteis “aproveitaram as temperaturas mais altas” e foram selecionados para o aumento de tamanho (i.e. Titanoboa, a maior cobra constritora que já teria existido).
 
Quando se realiza a comparação com a mudança climática em curso, o resultado é assustador.  Estamos bombeando pentagramas de carbono na atmosfera todos os anos. A velocidade de acúmulo de gases estufa é exorbitante.
 
Liberação de gases estufa na atualidade
 
As projeções indicam que o crescimento populacional e econômico dos países em desenvolvimento levará a liberação de 25 pentagramas anuais de carbono para a atmosfera antes que as reservas de combustíveis fósseis comecem a ficar escassas. O que fazer?
A extração de combustíveis fósseis
 
O estudo do MTPE é um modelo. Quanto tempo os habitantes da Terra precisarão para se adaptar? Será possível se adaptar? É difícil prever o futuro, mas já temos algumas respostas. Há evidências de acidificação nas águas marinhas e a taxa de extinção de espécies está aumentando. O início do deslocamento das zonas climáticas já colocou plantas e animais em risco, com vetores de doenças e espécies invasoras conquistando novos territórios. Cidades, estradas, ferrovias e plantações isolam plantas e animais, bloqueando caminhos migratórios. Animais de grande porte estão condenados pela perda de habitat e sua perspectiva de sobrevivência diminui. Geleiras estão derretendo e elevando o nível do mar. Recifes estão sob estresse e sujeitos ao desaparecimento. Os padrões de precipitação estão alterados e a ocorrência de secas e inundações é muito mais comum. As linhas costeiras se alteram e as migrações humanas já começaram.
 
No fim, o sistema acabará por reabsorver o dióxido de carbono para rochas. Isso pode levar centenas de milhares de anos, mas é certo. Sob esta perspectiva, o planeta não está em risco. Nós e o mundo como conhecemos estamos. Se continuarmos no caminho atual, sem dúvida vamos acabar experimentando algo que já aconteceu antes, no Eoceno. Já sabemos como vai ser. Será numa escala maior. O MTPE fornece um contexto para nossas escolhas. Seja qual for o destino da humanidade, o padrão da vida na Terra será radicalmente diferente do que poderia ter sido. Tudo depende de que atitudes vamos tomar. Qual é a sua?
 
Francesca A. McInerney & Scott L. Wing, 2011. The Paleocene-Eocene thermal maximum: a perturbation of the carbon cycle, climate, and biosphere with implications for the future. Annual Review of Earth and Planetary Sciences, 39: 489-516.
 
Ying Cui et al., in press. Slow release of fossil carbon during the Paleocene-Eocene thermal maximum. Nature Geoscience.
 
Lee R. Kump, 2011. O Último grande aquecimento global. Scientific American Brasil, agosto.
 
Robert Kunzig, 2011. Ponto de Ebulição. National Geographic Brasil, edição especial, outubro.
 
Archer, D., 2007. Methane hydrate stability and anthropogenic climate change. biogeosciences, 4, 521-544.