Instituto Biológico
Existe um cafezal na cidade de São Paulo (aparentemente o único), remanescente dos áureos tempos em que o café era a commodity mais importante deste país. Fica na Vila Mariana, bem perto do Parque Ibirapuera, e pertence ao Instituto Biológico, uma instituição de pesquisa ligada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do governo paulista.
No dia 24 de maio, uma quarta-feira, lá estávamos eu e minha amiga Thaisi, às 9h da manhã, para acompanhar a primeira colheita da safra de 2012. O evento acontece todo ano, mas desta vez foi maior por causa dos 85 anos do Instituto Biológico.
Era uma manhã quente de outono, de céu acinzentado. Bolos, biscoitinhos, canjica e outros quitutes compunham uma farta mesa de café-da-manhã. Além de sucos e, claro, cafezinho feito na hora. Os convivas eram praticamente todos de meia idade, muitos japoneses, outros com aquele ar aristocrático de morador antigo da Vila Mariana, além dos funcionários do Instituto. A casa estava cheia.
Como era evento importante, não podia faltar o secretário de agricultura e mais um bando de burocratas doidos para discursar e aplaudir. Enquanto todos se encaminhavam para debaixo de uma tenda para o momento solene, eu e Thaisi fomos dar umas bandas pela propriedade de 122 mil metros quadrados, tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo). Foi quando fiz estas fotos. É um lugar parado no tempo. O tombamento não justifica o ar de abandono.
O Instituto Biológico foi criado em 1927 por causa de uma praga que abatia os cafezais paulistas. No ano seguinte começou a construção do prédio na avenida Rodrigues Alves, em estilo art déco, que só foi concluída em 1945. Em 1932, o prédio serviu de hospedagem para tropas gaúchas que lutaram ao lado dos paulistas na Revolução Constitucionalista.
Em 1929, o Instituto Biológico admitiu o médico e microbiologista José Reis (1907-2002) que mais tarde abraçou o jornalismo e foi um grande incentivador da divulgação científica no país. Reis manteve durante mais de 50 anos uma coluna dominical na Folha de S. Paulo, tendo chegado a ser diretor de redação do jornal em 1962.
Para ver mais fotos e versões ampliadas destas, Flickr.
A Amazônia, por Adrian Cowell
Está em cartaz no Cinesesc, em São Paulo, até quinta-feira (12/7), uma mostra dos filmes de Adrian Cowell, um britânico formado em história pela Universidade de Cambridge que pisou pela primeira vez na Amazônia em 1957 e produziu, ao longo dos 50 anos seguintes, mais de 30 documentários, a maioria deles para a TV britânica e ainda inéditos no Brasil.
A mostra Amazônia 50: meio século de cinema documental de Adrian Cowell homenageia este documentarista que morreu em outubro do ano passado, aos 77 anos, de ataque cardíaco, às vésperas de mais uma viagem ao Brasil para finalizar seu derradeiro filme. Cowell nos deixou um registro farto e sem precedentes da história da floresta amazônica, contido em cerca de 3.500 latas de filme de valor incalculável.
Imagino que quem assistiu a Xingu (2012), de Cao Hamburguer, terá gosto de rever, como eu tive, muitas situações vividas pelos irmãos Claudio e Orlando Villas Bôas – em ótima interpretação de João Miguel e Felipe Camargo, respectivamente – na pele real dos próprios.
Vi no sábado A tribo que se escondia do homem, de 1970 (passará de novo na quarta às 21h), que é uma espécie de Xingu 2, só que de verdade. O filme começa exatamente no ponto onde termina o longa de Hamburger, ou seja (isso não é spoiling), quando Claudio e Orlando partem numa missão de resgate dos arredios índios Kreen-akore, antes que uma estrada passe por cima deles.
Embora pouco conhecidos por aqui, os filmes de Cowell foram muito vistos no Reino Unido e na Europa, onde receberam alguns prêmios. Seu registro do trabalho dos irmãos Villas Bôas de salvamento dos povos indígenas do Brasil central contou muito para as duas indicações ao Nobel da Paz que eles tiveram na década de 1970. Prêmio que teria sido muito merecido.
Cowell conviveu também com Chico Mendes e ao lado dele, nos anos 1980, documentou o estado de violência da floresta, tão tristemente atual.
Toda sua obra está sob a guarda do Instituto Goiano de Pré-história e Antropologia da PUC de Goiás, colaborador na produção de vários filmes, e que restaurou diversos títulos. No site deles é possível conferir todas as sinopses, mas não baixar os documentários, que, segundo anunciado, em breve serão vendidos em DVD. No Youtube se encontra vários trechos curtos e um ou outro filme na íntegra, raramente em português.
A mostra no CineSesc (rua Augusta, 2075) começou no dia 5 e, repetindo, vai até a próxima quinta (12). Entrada grátis. Por favor, ajudem a divulgar.