Uma reportagem desleixada sobre publishers predatórios

A reportagem “Uma praga na ciência brasileira: os artigos de segunda”, publicada na revista Veja no domingo retrasado (6/12), causou espanto (para dizer o mínino) entre pesquisadores, alunos de pós-graduação e outros profissionais ligados ao mundo acadêmico brasileiro. Eu fiquei perplexa com tantas informações que não refletem a realidade. E pela repercussão no boca a boca e nas redes sociais, percebo que não fui a única. O texto traz um problema real, porém sob uma ótica distorcida e com tom incriminatório que desinforma leitores acadêmicos e não-acadêmicos. Para quem não leu, faço uma sinopse.

A matéria aborda a prática de pesquisadores brasileiros de publicar artigos científicos em periódicos de reputação duvidosa que, mediante a cobrança de uma taxa de publicação, aceitam quaisquer trabalhos sem que esses passem pela revisão por pares. Eles fariam isso porque, como a qualidade dos artigos é supostamente baixa, teriam poucas chances de serem aceitos por um periódico de maior impacto.

Por meio deste subterfúgio, os cientistas driblariam um mecanismo clássico, secular da ciência para avaliação crítica do resultados gerados por uma investigação científica. E ao mesmo tempo se beneficiariam ilegitimamente da pontuação que a publicação de tais  artigos lhe confere ao currículo, de acordo com os sistemas de avaliação da produção acadêmica de agências como Capes e CNPq. Avaliação essa que é importante tanto para a obtenção de recursos para novos projetos de pesquisa quanto para a progressão na carreira acadêmica.

Em síntese: como são cada vez mais pressionados para publicar, os pesquisadores estariam se valendo cada vez mais deste tipo de publicação – que a reportagem chama (sistematicamente ao longo do texto) de “periódicos desleixados” -, o que seria atentado contra às boas práticas de publicação e à própria ética do fazer científico.

Do ponto de vista jornalístico, este é um daqueles casos em que uma boa ideia de pauta terminou numa reportagem lastimável.

A pauta é oportuna porque, de fato, estas publicações existem e seu número cresce em ritmo assustador. É uma praga mesmo, no mundo inteiro. E é uma pena que a reportagem não tenha usado o termo apropriado para se referir a estes periódicos, bem como às editoras (algumas delas de fachada) que os publicam. Nos meios acadêmico e editorial, tais empresas são conhecidas como publishers predatórios.

Atentar aqui para o uso do termo técnico não é preciosismo, por duas razões. Primeiro, porque dá uma referência para quem quiser saber mais fazendo buscas no Google. Ainda que não haja muita coisa em português, a pesquisa com “predatory publisher” ou “predatory journal” vai trazer algumas dezenas de milhares de fontes para o leitor se informar melhor sobre este fenômeno (há verbete na Wikipedia). Segundo: ao saber como funciona esta prática predatória, compreende-se que o papel dedicado ao pesquisador é o de presa.

Como em todo ramo há picaretas, deve haver entre os pesquisadores quem se vale deste tipo de periódico como uma via fácil e rápida para publicação de artigos. Mas, sendo bastante pragmática, vejo pelo menos dois motivos que me levam a crer que a prática não seja disseminada nem esteja se disseminando no Brasil.

A principal razão é que a imensa maioria dos periódicos tidos como predatórios não tem fator de impacto ou não está indexada nas bases de dados mais respeitadas, como Web of Science, Scopus, PubMed e outras específicas de cada área. Esses são os principais requisitos, para a maioria das áreas, para que um título seja incluído no Qualis (o sistema indexador da Capes). Fora dele, o periódico é muito pouco atrativo para os autores.

Ainda que a reportagem tenha citado alguns periódicos que figuram no Qualis, e que são surpreendemente bem avaliados, acho mais provável que isto seja um acidente de percurso do que um ato de má fé. A classificação das revistas no Qualis não é feita na canetada por um burocrata da Capes, mas faz parte de um trabalho maior e complexo realizado por comitês de áreas que se reúnem a cada 3 anos e são formados por pesquisadores. Pesquisadores que, na minha visão, ainda não estão suficientemente informados sobre esta praga digital que afeta o mundo da comunicação científica.

Nem sempre é fácil reconhecer um periódico predatório. Muitas vezes as evidências só ficam claras depois de ele estar operando há alguns anos. Com alguma frequência pesquisadores me perguntam coisas do tipo: “recebi este email me convidando para publicar/fazer parte do conselho do editorial, você conhece esta revista ou publisher?” Geralmente eles não sabem da lista de Jeffrey Beall, um bibliotecário americano dedicado a desmascarar os impostores. Quase sempre o suspeito está lá.

Mas a lista de Beall não é consensual, ainda que seja umas das referências mais importantes nesta área – algumas vezes ele já se viu obrigado a remover periódicos e publishers dela. De qualquer forma, se a reportagem tem algum mérito, é o de chamar a atenção da Capes e dos pesquisadores para este problema, e incentivar a discussão pelos comitês de área sobre a necessidade de uma avaliação mais rigorosa das revistas incluídas no Qualis. Esta seria uma medida eficaz para desestimular autores que, por ignorância ou má fé, consideram a publicação de seus artigos em algum destes periódicos.

Em segundo lugar, há razões econômicas para que a prática não seja tão disseminada no Brasil como a reportagem faz parecer. Da forma como as linhas de financiamento à pesquisa estão estabelecidas aqui, não é nada simples para o pesquisador obter o recurso para pagar a taxa de publicação de artigo – mesmo quando ele quer publicar em periódicos de acesso aberto bem conceituados ou que simplesmente fazem seu trabalho corretamente (sim, eles existem e já vou falar deles).

O principal desserviço prestado pela matéria foi ter jogado um caminhão de areia sobre a já confusa compreensão que a comunidade acadêmica brasileira tem sobre os periódicos de acesso aberto. Ela reforça a percepção equivocada de muitos pesquisadores de que todo acesso aberto é predatório. Ou a de que os únicos periódicos de acesso aberto confiáveis são aqueles que não cobram taxa de publicação de artigo. Ou ainda a de que apenas as revistas de assinatura são dignas de respeito.

A reportagem ignora a existência de periódicos de acesso aberto que cobram taxa de publicação e são altamente conceituados em suas áreas. Assim como os predatórios que não cobram taxa de publicação (no início, até ter um certo número de artigos publicados e com isso persuadir suas presas). E ao afirmar que “todo periódico desleixado é de acesso aberto”, omite a existência de títulos de assinatura com baixa reputação e impacto que igualmente aceitam qualquer artigo.

Mas a confusão não para aí. Trabalho para um publisher de acesso aberto há um ano e meio, tempo suficiente para colecionar alguns casos bem ilustrativos. Como o de um pesquisador para quem eu e um colega estávamos tentando explicar os benefícios do acesso aberto em relação aos periódicos de assinatura. Ele parecia intrigado e, a certa altura, nos questionou: “Mas hoje em dia tudo é acesso aberto, não? Do meu computador [na universidade] eu entro na Web of Science e baixo qualquer artigo!”. Faltava-lhe a informação que a Capes gasta quantias consideráveis para dar acesso aos cientistas brasileiros não só a milhares de periódicos de assinatura mas também à própria Web of Science. Isto não é acesso aberto.

A literatura em acesso aberto é aquela que é digital, online e que pode ser lida, reproduzida, distribuída e adaptada sem custo e livre da maioria das restrições impostas por direitos autorais e licenciamento. Esta é a definição de Peter Suber, diretor do Harvard Open Access Project, reconhecido como um líder mundial do movimento de acesso aberto. Para quem quiser saber mais recomendo fortemente seu livro Open Access (MIT Press, 2012; que obviamente está em acesso aberto e pode ser visto aqui – em inglês).

Na prática, publicar um artigo em uma revista de acesso aberto significa não apenas que os leitores em qualquer parte do mundo poderão lê-lo e baixar o arquivo sem custo, mas também que os direitos autorais são exclusivamente dos autores. Além disso, seu conteúdo deve ter uma licença Creative Commons do tipo CC-BY, o que permite a livre reprodução, tradução, distribuição e adaptação (para outros formatos e plataformas, por exemplo) por qualquer pessoa, sendo que a única exigência é citar a fonte.

Citando mais uma vez Suber (em tradução livre), “o acesso aberto beneficia literalmente a todos, pelas mesmas razões que a pesquisa científica beneficia literalmente a todos. O acesso aberto desempenha este serviço por facilitar a pesquisa e tornar seus resultados amplamente disponíveis e utilizáveis. Beneficia os pesquisadores enquanto leitores por ajudá-los a encontrar e reter a informação de que eles precisam, e também beneficia os pesquisadores enquanto autores ao ajudá-los a alcançar leitores que podem aplicar e citar seu trabalho e gerar novos conhecimentos com base nele. O acesso aberto beneficia quem não é pesquisador porque acelera a pesquisa científica e todas as coisas que dependem dela, como novos medicamentos e tecnologias, a resolução de problemas, a tomada de decisões, o aperfeiçoamento de políticas públicas e a apreciação da beleza da ciência”.

O acesso aberto só se tornou possível no início dos anos 2000, graças à revolução que a internet promoveu nos meios de comunicação em geral e na comunicação científica em particular. As facilidades tecnológicas para acessar, reproduzir e distribuir o conhecimento se chocaram com o modelo tradicional de periódicos, até então baseado em veículos impressos e em vigor há pelo menos 300 anos. Sob este modelo o acesso aos artigos tem custo, os autores têm de transferir os direitos autorais de seu trabalho para o publisher e muito pouco se pode fazer com este conhecimento, em termos de disseminação, sem autorização dele. Na mesma época, o valor das assinaturas dos periódicos cresceu muito acima da inflação e universidades mundo afora começaram a ter dificuldade em renová-las. Como consequência, o modelo passou a ser questionado pela comunidade acadêmica.

Três conferências internacionais realizadas neste período produziram documentos que assentaram as bases do movimento de acesso aberto: Budapest Open Access Initiative(2002), Bethesda Statement on Open Access Publishing  (2003) e Berlin Declaration on Open Access to Knowledge in the Sciences and Humanities (2003). A premissa comum entre os três é a seguinte: na era digital, não faz sentido que os resultados de pesquisa científica financiada com recursos públicos tenham barreiras de acesso e disseminação.

Por esta época surgiram os primeiros publishers de acesso aberto, tendo como pioneiros PLOS, em São Francisco (EUA), e BioMed Central, em Londres (Reino Unido). (Eu trabalho para o segundo.) Estabeleceu-se um novo modelo de negócio para a publicação de periódicos. Nele, os custos dos serviços editoriais, em vez de serem cobertos pela cobrança do acesso, como ocorre nas revistas de assinatura, agora são pagos por meio da taxa de publicação de artigo (APC, na sigla em inglês). É importante ressaltar que esta mudança não altera em nada o compromisso dos publishers e dos editores com as boas práticas de publicação científica, especialmente no que diz respeito à revisão por pares. E vale a pena esclarecer também que a cobrança da APC deve ser feita depois desta revisão e apenas se o artigo for aceito pelo editor-chefe, que toma sua decisão baseado na avaliação dos revisores.

Muitos outros publishers de acesso aberto surgiram desde então. Paralelamente, diversos publishers tradicionais começaram a migrar, pelo menos parte de seu portfólio, para o novo modelo. Mas não demorou muito para que os impostores começassem a aparecer.

Quem está por trás dos periódicos predatórios conhece muito bem o mundo acadêmico e enxergou oportunidades. Percebeu que na última década a produção científica cresceu muito no mundo todo, mas especialmente nos países emergentes. Já os recursos para pesquisa não aumentaram na mesma proporção, o que tornou o ambiente mais competitivo. A produção de artigos passou a ser a principal métrica usada na avaliação do desempenho acadêmico, o que gerou uma pressão enorme, por parte das agências de fomento e dos programas de pós-graduação, por este tipo de publicação.

O resultado é que hoje quase qualquer periódico, de assinatura ou acesso aberto, bem ou mais ou menos conceituado, tem de lidar com uma longa fila submissões, principalmente dos países emergentes. Nos títulos mais estabelecidos, as taxas de rejeição subiram para conter a demanda. Em outros, os autores podem esperar mais de um ano para ter seu artigo publicado. Ou seja, é muito artigo para pouca revista.

Pressionados para publicar e/ou frustrados com a demora de muitos periódicos ou rejeições sucessivas, muitos pesquisadores se tornam presas fáceis dos publishers predatórios, que infestam a caixa postal de suas potenciais vítimas. Às vezes o título da revista e o website são muito parecidos com o de outra, tradicional, na qual aquele autor já publicou anteriormente.  O conselho editorial quase sempre é fabricado e as indexações, principalmente quando são muito vistosas, geralmente são falsas. Alguns usam fatores de impacto “alternativos” que levam os autores a crer que se trata do (venerado) indicador da Thomson Reuters.

Tem gente que se dá conta da farsa a tempo, como quando recebe o aviso de aceite e o boleto para pagar a APC poucos dias depois da submissão – uma revisão por pares decente raramente leva menos de dois meses. Outros, infelizmente, só percebem a armadilha depois que o artigo foi publicado, o que é uma pena, pois jamais conseguirão retirá-lo de lá.

Alguém poderia argumentar que bastaria apagar tais e-mails para não cair em cilada. Mas não é tão simples. Faz parte da rotina do pesquisador receber mensagens, nem sempre indesejadas, enviadas por publishers. Ele pode ter se registrado para receber alertas das novas edições dos periódicos que acompanha, ser convidado para revisar artigos de revistas de sua área ou para submeter artigos para uma edição temática de um título no qual já publicou. E pode também receber convites para publicar em novas revistas de acesso aberto não predatórias para as quais, sobretudo nos seus primeiros anos de existência, este tipo de promoção é importante (e há formas de se fazer isso sem recorrer ao spam). Afinal, publishers sérios também sabem que existe uma demanda reprimida e investem em novos títulos.

Além de atazanar a vida dos pesquisadores, os publishers predatórios ameaçam a expansão do modelo de acesso aberto, que apesar do belo caminho trilhado nesses últimos 15 anos ainda é minoritário em relação ao modelo de assinatura. Para mim, a conclusão que fica é que precisamos urgentemente falar mais sobre as virtudes do acesso aberto. E esquecer aquela matéria desleixada.

 

Instituto Biológico

Existe um cafezal na cidade de São Paulo (aparentemente o único), remanescente dos áureos tempos em que o café era a commodity mais importante deste país. Fica na Vila Mariana, bem perto do Parque Ibirapuera, e pertence ao Instituto Biológico, uma instituição de pesquisa ligada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do governo paulista.

No dia 24 de maio, uma quarta-feira, lá estávamos eu e minha amiga Thaisi, às 9h da manhã, para acompanhar a primeira colheita da safra de 2012. O evento acontece todo ano, mas desta vez foi maior por causa dos 85 anos do Instituto Biológico.

Era uma manhã quente de outono, de céu acinzentado. Bolos, biscoitinhos, canjica e outros quitutes compunham uma farta mesa de café-da-manhã. Além de sucos e, claro, cafezinho feito na hora. Os convivas eram praticamente todos de meia idade, muitos japoneses, outros com aquele ar aristocrático de morador antigo da Vila Mariana, além dos funcionários do Instituto. A casa estava cheia.

Como era evento importante, não podia faltar o secretário de agricultura e mais um bando de burocratas doidos para discursar e aplaudir. Enquanto todos se encaminhavam para debaixo de uma tenda para o momento solene, eu e Thaisi fomos dar umas bandas pela propriedade de 122 mil metros quadrados, tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo). Foi quando fiz estas fotos. É um lugar parado no tempo. O tombamento não justifica o ar de abandono.

O Instituto Biológico foi criado em 1927 por causa de uma praga que abatia os cafezais paulistas. No ano seguinte começou a construção do prédio na avenida Rodrigues Alves, em estilo art déco, que só foi concluída em 1945. Em 1932, o prédio serviu de hospedagem para tropas gaúchas que lutaram ao lado dos paulistas na Revolução Constitucionalista.

Em 1929, o Instituto Biológico admitiu o médico e microbiologista José Reis (1907-2002) que mais tarde abraçou o jornalismo e foi um grande incentivador da divulgação científica no país. Reis manteve durante mais de 50 anos uma coluna dominical na Folha de S. Paulo, tendo chegado a ser diretor de redação do jornal em 1962.

Para ver mais fotos e versões ampliadas destas, Flickr.

A Amazônia, por Adrian Cowell

Está em cartaz no Cinesesc, em São Paulo, até quinta-feira (12/7), uma mostra dos filmes de Adrian Cowell, um britânico formado em história pela Universidade de Cambridge que pisou pela primeira vez na Amazônia em 1957 e produziu, ao longo dos 50 anos seguintes, mais de 30 documentários, a maioria deles para a TV britânica e ainda inéditos no Brasil.

A mostra Amazônia 50: meio século de cinema documental de Adrian Cowell homenageia este documentarista que morreu em outubro do ano passado, aos 77 anos, de ataque cardíaco, às vésperas de mais uma viagem ao Brasil para finalizar seu derradeiro filme. Cowell nos deixou um registro farto e sem precedentes da história da floresta amazônica, contido em cerca de 3.500 latas de filme de valor incalculável.

Imagino que quem assistiu a Xingu (2012), de Cao Hamburguer, terá gosto de rever, como eu tive, muitas situações vividas pelos irmãos Claudio e Orlando Villas Bôas – em ótima interpretação de João Miguel e Felipe Camargo, respectivamente – na pele real dos próprios.

Vi no sábado A tribo que se escondia do homem, de 1970 (passará de novo na quarta às 21h), que é uma espécie de Xingu 2, só que de verdade. O filme começa exatamente no ponto onde termina o longa de Hamburger, ou seja (isso não é spoiling), quando Claudio e Orlando partem numa missão de resgate dos arredios índios Kreen-akore, antes que uma estrada passe por cima deles.

Embora pouco conhecidos por aqui, os filmes de Cowell foram muito vistos no Reino Unido e na Europa, onde receberam alguns prêmios. Seu registro do trabalho dos irmãos Villas Bôas de salvamento dos povos indígenas do Brasil central contou muito para as duas indicações ao Nobel da Paz que eles tiveram na década de 1970. Prêmio que teria sido muito merecido.

Cowell conviveu também com Chico Mendes e ao lado dele, nos anos 1980, documentou o estado de violência da floresta, tão tristemente atual.

Toda sua obra está sob a guarda do Instituto Goiano de Pré-história e Antropologia da PUC de Goiás, colaborador na produção de vários filmes, e que restaurou diversos títulos. No site deles é possível conferir todas as sinopses, mas não baixar os documentários, que, segundo anunciado, em breve serão vendidos em DVD. No Youtube se encontra vários trechos curtos e um ou outro filme na íntegra, raramente em português.

A mostra no CineSesc (rua Augusta, 2075) começou no dia 5 e, repetindo, vai até a próxima quinta (12). Entrada grátis. Por favor, ajudem a divulgar.

Programação no CineSesc

Acervo na PUC de Goiás

Homenagem na Globo News

Matando por terras, no blog de Eliane Brum

Dois longos obituários (em inglês): Telegraph e Guardian

Memórias de um subversivo

Lenda viva no meio acadêmico e talentoso cronista, o médico Luiz Hildebrando narra os momentos mais críticos do século 20 por meio de histórias pessoais que ajudam a entender melhor o Brasil e sua ciência.

(Texto publicado na edição de junho/2012 da revista Unesp Ciência)

Aos 83 anos – dos quais 60 de carreira acadêmica –, o médico e parasitologista paulista Luiz Hildebrando Pereira da Silva é um dos mais importantes cientistas brasileiros vivos e em atividade, ainda que pouco conhecido fora desse meio. Mas, mais importante que conhecer suas credenciais científicas superlativas é saber que o narrador destas Crônicas subversivas de um cientista um dia foi um menino que cresceu na zona sul da cidade de São Paulo ouvindo pelo rádio as notícias da Segunda Guerra; foi um estudante que viveu de corpo e alma a efervescência política dos anos 1940 e 1950; e se fez homem num mundo coberto pelas nuvens da Guerra Fria.

Intelectual combativo, militante comunista e habilidoso articulador político, Hildebrando tornou-se uma das primeiras presas da ditadura militar. Expulso ainda em 1964 após uma investigação por “atividades subversivas” na Faculdade de Medicina da USP, da qual era professor, ele passou mais de 25 anos – somados os dois períodos de exílio – trabalhando no Instituto Pasteur em Paris, ao lado de figuras estelares da ciência. De volta ao país há 15 anos, como autoridade mundial em malária, assumiu a tarefa de criar um centro avançado de pesquisas na improvável Porto Velho (RO), onde também ajudou a criar e dirige uma unidade da Fundação Oswaldo Cruz.

Estas memórias que saem agora pela Vieira & Lent são uma recompilação de dois livros – O fio da meada (Brasiliense, 1990) e Crônicas de nossa época (Paz e Terra, 2001). Nelas Hildebrando mostra que, além de ótima memória e muita história para contar, tem ainda uma bem lapidada veia literária. Não se trata de um livro de ciência nem de divulgação científica, porque não pretende ensinar nada a ninguém. Ele não pretende se ocupar da História com H maiúsculo, mas das pequenas narrativas do cotidiano, que por sua vez atravessam os momentos mais conturbados da política nacional e da geopolítica mundial do século 20. E que o leitor revive na pele de um cientista engajado, com ideais e convicções de sua geração, mas que sabe passar ao largo da tentação da autocongratulação.

As crônicas de Hildebrando estão cheias de pessoas e afetos. Assim, as lembranças da avó Chiquinha adquirem a mesma estatura das do amigo e físico Mário Schenberg, ou das do mestre François Jacob, Nobel de Medicina em 1965. Em muitas  flagramos  o autor rindo de si mesmo, como quando decidiu pegar em armas –  aparentemente pela primeira e última vez – para matar mosquitos.

Corria o ano de 1968, Hildebrando acabara de voltar do primeiro exílio e ainda não sabia que logo depois o AI-5 o expulsaria de novo. Entediados com a vida pacata como professores na USP em Ribeirão Preto, ele o amigo Erney Camargo – dois seres urbanos – usaram coquetéis molotov para exterminar os criadouros dos mosquitos que infestavam o câmpus da Faculdade de Medicina (leia trecho abaixo).

Outras histórias revelam os bastidores do jogo de forças que permeava a política universitária paulista e descrevem lances que tiveram profundo impacto no desenvolvimento científico e tecnológico do Estado e do país nas décadas seguintes. É o caso da criação da Fapesp.

A lei orgânica do governo Carvalho Pinto que instituía a agência de fomento à pesquisa de São Paulo é de 1960, mas houve dificuldades para regulamentá-la, em grande medida por resistência da USP.  A oportunidade de furar esse cerco veio quando o matemático italiano Jaurès Cecconi, que trabalhava no câmpus da universidade em São Carlos desde 1956, havia dado por concluída sua missão no Brasil e precisava retornar a Gênova, onde um  novo contrato o aguardava. Ocorreu, porém, que a reitoria não cumpriu o prometido e negou custeio da viagem de retorno para ele e a família, algo que na época era mais comum fazer de navio.

A notícia se espalhou e foi bater no telefone de Hildebrando, que pensou, pensou e arriscou ligar para Plínio de Arruda Sampaio, então chefe de gabinete do governo estadual, que não era exatamente um companheiro, mas a quem respeitava. O governador Carvalho Pinto não gostou nada do constrangimento sofrido pelo professor Cecconi e pagou-lhe passagens de avião. Como a eleição na USP estava próxima, o incidente foi a gota d´água para o início de uma articulação de pesquisadores, apoiada pelo Palácio dos Bandeirantes, para colocar alguém da oposição na reitoria. Dos intensos debates sobre o tema, que acirraram os ânimos de Mario Schenberg e do arquiteto Vilanova Artigas e tiveram grande participação do casal Ruth e Fernando Henrique Cardoso, saiu a indicação de Antonio Barros de Ulhôa Cintra, que se elegeu em 1961 e botou a Fapesp em funcionamento no ano seguinte.

Quando Hildebrando é exilado pela segunda vez e retorna a Paris, em 1968, enfia a cara na genética de parasitas e dá passos científicos importantes, pelos quais o Instituto Pasteur investe nele. Aqui, o leitor que não vem das ciências biológicas pode não entender muito bem a descrição dos experimentos no laboratório, as hipóteses de trabalho ou resultados obtidos, mas isso não prejudica o fluxo da narrativa, porque importam menos as tecnicalidades que acompanham as perguntas da ciência do que o percurso, as convicções e os percalços que levam o pesquisador até elas.

“Milhares – milhões mesmo – de outros jovens que viveram os mesmos acontecimentos permaneceram indiferentes ou tomaram posições opostas”, reflete o médico na página 47. “Então, se nos interessa saber como e por que um adolescente insignificante, perdido num ponto do mapa-múndi, virou isso ou aquilo, ou não virou nada, é preciso se interessar pelo molho servido com o prato principal.”

Seu livro é, portanto, puro molho, temperado e maturado ao longo de várias décadas, de sabor ao mesmo tempo suave e intenso. Pois o prato principal, a História maiúscula, ele deixa humildemente para os  historiadores.

Crônicas subversivas de um cientista
Luiz Hildebrando; Vieira & Lent; 480 págs.; R$ 68

Trecho
A ideia para sair do buraco veio num domingo, na hora do aperitivo, Erney e eu sentados na varanda, olhando as vacas ao longe. – A única solução que vejo é virar ecologista, disse. Erney engasgou com seu uísque e quase se afogou num acesso de tosse. Ele era alérgico à palavra. Tudo o que fazia lembrar a natureza o enchia de urticária.

(…) – Escuta, Astolfo você não pensa que a situação do Culex aqui  é inadmissível? Uma faculdade de Medicina que se orgulha, com razão, de ser uma das melhores do país. Com um ensino de parasitologia de primeira qualidade e infestada de Culex! É vergonhoso!

(…) Astolfo não sabia o que era [coquetel molotov]. Não estava escrito nos seus livros. Sem fornecer a origem de minhas competências, explico o princípio. No laboratório preparamos sete “molotovs” (…) Abro caminho entre a vegetação. Um fogaréu, vinte metros à direita, me anuncia que Erney lançou o ataque.

(…) O cheiro de carne queimada de mosquito invade o ar – se é que mosquito queimado cheira a alguma coisa. Lanço meu segundo coquetel e espero. Depois me aproximo com o latão de óleo diesel. Chego mais perto… E o que vejo? Uma cabeça de cobra jararacuçu, assustada pelo fogo, emerge da superfície da água.

Ruth Künzli e as origens do homem

 

Matéria publicada na Unesp Ciência de setembro de 2009.

Com um grande fragmento de cerâmica nas mãos, o fazendeiro Luiz Alvim procurava por um geólogo na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp em Presidente Prudente. Sua propriedade em Itororó do Paranapanema, distante 26 km da cidade, fora duramente afetada pelas chuvas que castigaram o Sudeste e o Sul do Brasil em meados de 1983 – sob influência do fenômeno El Niño. No oeste paulista, a grande cheia do rio Paraná, ainda hoje lembrada, inundou também cidades às margens de seus afluentes, entre eles o Paranapanema. Além de invadir casas e terras agrícolas, as águas revolveram sedimentos do passado, trazendo à tona relíquias que abriram um novo capítulo na arqueologia brasileira.

Era fim de tarde e o geólogo não estava. “Se é por conta desse material aí, pode falar comigo”, disse a antropóloga Ruth Künzli ao fazendeiro, com o peculiar tom decidido pelo qual ela se destacou na universidade, na região e entre os colegas de profissão.

No dia seguinte, ela e alguns colegas da faculdade foram até a propriedade dele. Lá se depararam com uma enorme quantidade de cerâmicas indígenas à flor do solo, antes cobertas pela camada de terra que a inundação recente havia levado – vestígios de um grande grupo de índios tupi-guarani que habitara a região havia aproximadamente mil anos. O sítio arqueológico Alvim foi o primeiro de muitos outros identificados por Ruth e colegas na região de Presidente Prudente,  local que, por sua riqueza hidrográfica, foi um grande polo de atração humana desde tempos imemoriais.

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Lançamento da revista Unesp Ciência

 

A Unesp está lançando sua revista mensal de divulgação científica, a Unesp Ciência (ainda sem site, aguardem), na noite da próxima quarta-feira, na Barra Funda, em Sampa – clique no convite acima para ampliar.

Por uma dessas felizes coincidências, dois sciencebloggers estão na equipe da revista: eu e o Igor Zolnerkevic, junto com a Giovana Girardi, o Pablo Nogueira, o Ricardo Miura – todos capitaneados pelo Maurício Tuffani. No número de estreia, temos também as colaborações de Reinaldo José Lopes e Ricardo Bonalume.

Na cerimônia haverá ainda a apresentação do Piap, o grupo de percussão do Instituto de Artes da Unesp, que, como conta um dos artigos desta edição, é super bacana e forma os talentos da principais orquestras brasileiras.

Ou seja, imperdível. Só não vai rolar prosecco, porque leis estaduais não permitem bebidas alcoólicas na universidade, lamento 🙂

Quem puder, compareça. E ajudem a divulgar.

Incrível zoom dental

A patela, o pilar e o karatê acidental

Tudo durou menos de um minuto. Nós na padaria Santa Ifigênia, que fica debaixo do edifício Copan, centro de São Paulo, tomando um lanche com café, protegidos pelo toldo por cuja fresta entrava de vez em quando o vento gelado de uma tarde dominical de inverno – um pouco mais frio do que os dos últimos anos.

Animada por um bonito pedaço de bolo no prato de T., avancei rumo à sobremesa. Para alcançar o setor de guloseimas do estabelecimento, em vez de fazer o caminho usual e mais longo, preferi um espaço estreito, mas suficiente para minha silhueta, entre um pilar e um suporte que prendia aquele tipo de fita que costuma demarcar filas de bancos e aeroportos. Havia bem aí um degrau, a ser subido. Ao dobrar a perna esquerda para superá-lo, num erro estúpido de cálculo enfiei o meio do joelho bem na quina do pilar. Pegou em cheio a patela. Nunca senti uma dor tão lancinante.

Impossível gritar uma vez que havia perdido o fôlego. O passo seguinte foi reflexo e num instante o degrau ficou para trás. Curvei-me, apoiada na vítima e tentando ser discreta, enquanto à minha volta as pessoas hesitavam entre bolos, bombas de chocolate e rabanadas. Latejava. Muito mais a alma do que o joelho. Se durasse mais, nem sei o que podia acontecer, talvez desmaiasse. Não saí mancando, porém. Em compensação, o apetite evaporou. A visão escureceu, como sempre quando a pressão cai subitamente.

Aposto que estava pálida. Sobrou, entretanto, um mínimo de lucidez para não voltar à mesa de prato vazio, e nele depositei com pressa a menor coisa que encontrei, uma espécie de empada doce, com um morango envernizado em cima.

O mal-estar ia cedendo e rapidamente, para meu espanto. Na breve fila para registrar a iguaria na minha conta, apalpei mais uma vez o pobre coitado temendo por avaria mais séria, afinal com joelho não se brinca. Com um prato cheio de coxinhas e quibes nas mãos, o senhor depois de mim, que eu desconfiava mesmo ter acompanhado meu agudo sofrimento, perguntou-me se estava doendo, com aquela cara de quem já sabe a resposta. “De um jeito que nunca vi”, confessei, ainda meio zonza. “Isso aí é um golpe de karatê. Isso acaba com uma pessoa.” Agora me arrependo de não ter perguntado o nome do golpe.

A., C. e T. só perceberam que algo não ia bem quando se depararam com a empada de morango solitária no prato branco, o que não correspondia à disposição com que eu os deixara momentos antes.

Estranhamente, ao lhes explicar o acidente, a patela já havia retornado ao seu silêncio habitual e obediente. A caminhada até o metrô, e deste até a casa, se deu na ausência total de sinal qualquer de dor, tampouco me obrigou a alterar os passos. Que sorte. Um joelho danificado é quase sempre um pesadelo, ainda mais nessa época fria do ano, não muito amiga das articulações em geral. A gente anda décadas e décadas com a mesma carcaça e não conhece as sensações que ela é capaz de deflagrar.

Espero que tenha sido a primeira e última vez que certas terminações nervosas que fielmente recobrem minha patela esquerda tenham cumprido sua função. Tudo por causa de um instante de distração, no qual me autoinfligi um duro golpe de karatê, com a colaboração de uma quina de uma padaria debaixo do edifício Copan numa tarde de domingo de inverno paulistano. Ainda não consigo acreditar que saí ilesa.

Miroslav Holub (1923-1998), imunologista e poeta tcheco

Experiências com animais

É mais fácil com coelhos do que com cães ou gatos. O
animal da experiência não deve ser demasiado inteligente. É
desconfortável quando as suas ações lembram as dos humanos,
é desconfortável quando conseguimos compreender o seu terror
e a sua tristeza.

Mas a coisa mais triste é trabalhar com porcos recém-nascidos.

São feios.

Não possuem nem desejam mais nada senão a sua fonte de leite.

As suas pernas ásperas e desastradas resvalam debaixo deles,
os seus focinhos e cascos minúsculos são extraordinariamente
inúteis.

São feios e estúpidos.

Quando tenho de matar um leitão paro sempre por um instante.

Mais ou menos cinco ou seis segundos.

Mais ou menos cinco ou seis segundos em nome de toda a beleza
e tristeza do mundo.

– Acaba lá com isso – alguém diz então.

Ou então sou eu que o digo a mim próprio.

(Encontrado no Trapézio Sem Rede, a partir da tradução de Daniel Simko do tcheco para o inglês, em Contemporary east european poetry, organização de Emery George, Oxford University Press, Oxford, 1993, 2ª edição, pp. 219-220)

***

A brief reflection on the Theory of Relativity

Albert Einstein, in conversation –
(Knowledge is discovering
what to say) – in conversation one day
with Paul Valéry
was asked:
Mr. Einstein, how do you work
with your ideas? Do you note them down
the moment they strike you? Or only
at night? Or the morning?
Albert Einstein replied:
Monsieur Valéry, in our business
ideas are so rare that
if a man hits upon one
he certainly won’t forget it
not in a year.

(Tradução de David Young, do livro Intensive Care: Selected & New Poems, Oberlin College Press, 1996. Por mais que pareça fácil, acredito que a tradução de poesia cabe apenas aos poetas, por isso não me atrevo)

***

Wings

We have
a map of the universe
for microbes
we have
a map of a microbe
for the universe
We have
a Grand Master of chess
made of eletronic circuits
But above all
we have
the ability
to sort peas
to cup water in our hands
to seek
the right screw
under the sofa
for hours
This
gives us
wings
Idem ao anterior.

Miroslav Holub na Wikipedia

“Debo confesar que fue un fin de semana tenso”

 

mexico2.jpg

Foto: El_Enigma, Cidade do México, 29/04/2009

Adriana Gonzalez Hirales eu temos um amigo em comum.Por meio dele cheguei ao texto dela publicado no jornal El Vigía, de Ensenada, uma estância turística na costa do Pacífico, no estado de Baja California, México, muito perto da fronteira com os Estados Unidos e bem longe da Cidade do México (DF). Mesmo ela não estando no olho do furacão, pedi que relatasse o que viu, sentiu e pensa sobre a convulsão que tomou conta do país e deixou o mundo em alerta. Seu texto me chegou na madrugada do dia 6 de maio. Adriana, muito obrigada. Boa sorte para os mexicanos e para todos nós.

***

Yo encantada de poder relatarte la experiencia que he tenido esta última semana en relación a este brote de influenza, y como tu bien anotas, yo no he estado en el lugar donde surgió el brote con más fuerza que fue en el Distrito Federal. De hecho, hasta la fecha en Baja California, estado en donde radico, solamente se han registrado un par de casos pero según datos de los secretarios de salud las personas ya se han recuperado y están en sus casas.

Bueno, creo que todo comenzó obviamente el día en que el Secretario de Salud dio una conferencia de prensa en donde anunciaba que habia un brote de influenza entre personas jóvenes, cosa inusual para ese tipo de virus, por lo que llamó a tomar medidas ya que se habían registrado supuestamente 26 muertes asociadas y mas de 150 personas contagiadas.

Esto fue el jueves 23 de abril y honestamente mucha gente no le tomó mucha atención, porque yo el sábado siguiente, el 25, fui a la Universidad y nadie comentó nada, no había nadie con tapabocas y la escuela y las clases seguían su ritmo normal. Pero en el DF ya habían comenzado a tomar medidas de contención como la prohibición de eventos masivos como los partidos de futbol que fueron jugados a puerta cerrada durante el fin de semana del 25 y 26 de abril.

Fue hasta principios de la semana, alrededor del 28 de abril que el tema de la influenza ya acaparaba todos los medios, periódicos, noticieros, estaciones de radio, televisión, etc, no se hablaba más que de eso. En el Distrito Federal el Secretario de Salud ofrecía diariamente una conferencia de prensa en donde daba las últimas estadísticas y seguía subiendo las cifras de muertos y de casos sospechosos. Ya para este momento, la gente comenzó a asustarse. Fue una combinación del bombardeo incesante de los medios de comunicación y de las cifras alarmistas que exponía el Gobierno.

Fue en ese momento que la OMS entró a escena e impuso la alerta 4 y en tan sólo en un par de días la subió al nivel 5. En mi ciudad comenzaron a verse más y más personas con tapabocas caminando por las calles y yo también comencé a caer en la paranoia, porque incluso el día 29 de abril cada vez que entraba a algún lugar público como dependencias de gobierno o bancos me ponía el tapabocas y veía a mucha gente usandolo pero la gran mayoría no lo llevaba puesto.

Esto contrastaba con las imagenes que nos llegaban desde el DF, en donde se veia a casi toda la gente con tapabocas, ya para este entonces el Gobierno había impuesto que se cerraran las escuelas del DF, y del Estado de Mexico, asi como establecimientos comerciales como restaurantes, discotecas, cines y eventos masivos.

El punto cumbre fue cuando el miércoles [quarta-feira] 29 en la tarde se anuncia el cierre de todas las escuelas a nivel nacional, la suspensión de eventos masivos, el cierre de las cadenas de cine, etc, y que se regresaría a clases hasta el 6 de mayo, el Presidente en un mensaje que dio a la nación declaró que debido a que el dia primero [dia internacional do trabalho] y cinco de mayo [Batalla de Puebla, feriado oficial no México] eran festivos la medida de aislar a la gente e invitarla a mantenerse en sus hogares no significaria un cambio tan brusco en las actividades pues de todas maneras la mayoria de la gente se hubiera tomado todos esos dias de descanso.

Asi que todo el fin de semana del 2 y 3 de mayo las calles del DF lucieron prácticamente vacías y aunque aqui tambien el trafico de personas y autos disminuyo por el cierre de escuelas, cines y algunos lugares de trabajo, la gente no dejó de salir de sus casas. Ya para este entonces, el Secretario de Salud habia dicho que despues de analizar mas de mil muestras se llegó a la conclusión de que solo habian muerto por el virus de la influenza tipo A siete personas.

Los reporteros comenzaron a confundirse porque primero se habian declarado mas de veinte personas muertas, y ahora solo eran 7, las cifras comenzaron a confundirse y el Secretario de Salud comenzó a dudar en sus respuestas, fue alli que mucha gente comenzó a pensar que todo esto había sido muy exagerado, que resultaba inusual que por 7 muertes se hubiera paralizado todo un pais y mas cuando en Estados Unidos tambien habian casos y el país seguia funcionando como si nada.

En ese momento mucha gente comenzó a hablar sobre teorias de conspiracion, cortinas de humo, comenzó a ver esto como un fraude del gobierno, pero como expongo en mi articulo esto surge por la confusión en las cifras y porque la gente ya no tiene confianza en lo que les dicen sus gobernantes.
La mayoría de la gente que conozco pensaba que esto era una desviación, que el Gobierno ocultaba algo, porque en los medios de comunicación no se hablaba de otra cosa y todos los problemas que nos aquejan diariamente como delincuencia, crisis economica, narcotrafico,etc, desaparecieron de los titulares.

Debo confesar que fue un fin de semana tenso, yo no estaba acongojada por la enfermedad en si, sino porque veia como muchos mexicanos estaban siendo tratados en el extranjero, o por lo menos los medios asi lo publicitaban, veia cómo los cruceros turisticos que llegan cada semana a Ensenada, mi ciudad, no anclaban aqui y se iban a San Diego, California, lo que significaba perdidas economicas tremendas para muchos comerciantes, y todo porque hasta ese momento se habian registrado 11 muertos en el pais, y en Ensenada solo un caso de un niño que ya se encuentra bien.

Fue alli cuando despues de leer una columna en el periodico local en donde el consejo editorial decia que los ensenadenses no habiamos hecho caso de las recomendaciones del Gobierno, que nos estabamos exponiendo, que nos creiamos inmunes, que decidi escribir el artículo que leiste y que sorpresivamente publicaron, nunca lo esperé. Pero creo que era necesario que alguien pusiera las cosas en perspectiva y que nos dieramos cuenta que esta influenza no era mas letal que una gripe común y que el uso del tapabocas resultaba mas una medida para llamar la atencion de los fotografos internacionales que para realmente protegerse de algo.

Uno no subestima la muerte de nadie, pero si tan solo en Mexico mueren casi 8,000 personas al año por complicaciones de la influenza, es evidente que todo esto resulta exagerado, y las muertes fueron por la mala cultura de salud que tenemos los mexicanos al automedicarnos y no querer ir a las instituciones publicas porque sabemos que nos tendran esperando todo el dia y exponiendonos a contagiarnos de algo mas grave entre los demas enfermos.

Los muertos han sido por los altos costos en las consultas privadas, y porque desgraciadamente en Mexico se invierte poco en ciencia y en tecnologia, tanto asi que cuatro dias despues el Secretario de Salud se tuvo que retractar de las cifras que habia anunciado previamente por no contar con laboratorios especializados y tener que mandar las muestras a Estados Unidos y Canadá. Es por eso que segun mi opinión, sólo hubo muertos en México [até 05/05, segundo boletim da OMS, a única morte registrada nos EUA era de uma criança mexicana que contraiu a infecção no seu país; só no dia seguinte foi contabilizada a morte de uma cidadã do Texas].

Espero que con toda esta campaña la gente adopte habitos basicos de limpieza, y que esto nos ayude a enfrentar alguna otra epidemia que pudiera surgir, ya que dicen que es probable que en invierno regrese esto con mas fuerza, mas sin embargo, espero que a la proxima exista mas informacion objetiva, menos amarillismo, y sobre todo mucha mucha informacion, y mas que nada que nuestro sistema de salud se renueve y mejore para que la gente no piense dos veces en asistir a un centro de salud a la presencia de los primeros sintomas de una dolencia.

Adriana Gonzalez Hilares
, 34, é formada em comunicação e publicidade e trabalha como tradutora em Ensenada, México. Escreve nos blogs Mezcla Cultural e Audio en Armonía.

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