Obesidade e Depressão podem ser causadas por bactérias que vivem no nosso intestino, dá pra acreditar?!

Você já deve ter se deparado com relatos de conhecidos, parentes e amigos, que seguiram as mais variadas receitas e dietas milagrosas para uma tentativa frustrante de emagrecimento sem sucesso.

Ou ainda, em encontros com a família, escutado a sua tia comentar à mesa durante o café da tarde, “que está no terceiro antidepressivo diferente”, na esperança de combater a depressão.

Ou a caminho do happy-hour após o trabalho, em que um colega cancela a presença em cima da hora, pois iniciou o tratamento com antidepressivos “e o remédio o está deixando muito sonolento nesta primeira semana”.

Situações como estas são tão frequentes no nosso dia-a-dia, que não nos damos conta de que as doenças crônicas têm ganhado cada vez mais espaço entre a população.

Mas será que quando pensamos em obesidade, apenas as cores e a composição do nosso prato é o que importa? E quanto aos efeitos colaterais ou a baixa eficácia das terapias medicamentosas no combate à depressão? Será que estas são as nossas únicas opções?

Cientistas também se debruçaram sobre estes questionamentos.

E embora obesidade e depressão sejam síndromes completamente distintas, pesquisadores descobriram que as duas podem ter suas raízes patológicas, no nosso gigantesco universo microscópico conhecido como microbiota intestinal, em especial a sua porção bacteriana.

É consenso entre cientistas da área, que todos nós possuímos uma microbiota intestinal bastante diversificada, marcada pela presença de diferentes espécies e grupos bacterianos, nas mais diversificadas proporções ao longo do nosso intestino.

Assim como no caso das populações humanas, no que tange a  microbiota intestinal, a diversidade é muito importante, e uma microbiota que apresenta alta diversidade bacteriana é considerada saudável, na maioria dos casos.

Nos últimos anos, constataram que as bactérias intestinais das pessoas acometidas pela depressão crônica ou pela obesidade são diferentes daquelas que habitam os indivíduos considerados saudáveis.

São tão diferentes que se referem à esta condição como uma microbiota em disbiose, ou em outras palavras, em um estado de “desequilíbrio microbiano”.

E isso não é tudo.

Através da prática conhecida como transplante de microbiota, em que é possível transferir as bactérias intestinais de um indivíduo para outro, é possível estudar a ação de determinados micro-organismos em relação aos seus hospedeiros.

Em meio a este contexto investigativo, as bactérias intestinais presentes nas fezes de pacientes diagnosticados com depressão crônica foram coletadas em um estudo científico, e transferidas para o intestino de camundongos de laboratório.

Após o transplante, cientistas constataram que estes mesmos camundongos, antes saudáveis, após a colonização pelas bactérias intestinais provenientes dos indivíduos com depressão, passaram também a apresentar sintomas depressivos.

Em outro ensaio experimental de transplante de microbiota, neste caso, de uma microbiota proveniente de indivíduos obesos para camundongos,  os cientistas tiveram uma surpresa ainda maior. Independe do tipo de alimento que dessem para estes camundongos que abrigavam uma “microbiota intestinal de indivíduos obesos”, os camundongos sempre desenvolviam sobrepeso.

Por demonstrarem a atuação direta da microbiota intestinal sobre o fenótipo e o comportamento dos camundongos transplantados com as microbiotas em disbiose provenientes de humanos, estes estudos inauguram uma nova vertente no entendimento da depressão e da obesidade na nossa sociedade.

De volta para os questionamentos do início deste post, um olhar a partir da perspectiva das nossas bactérias intestinais (da microbiota intestinal) e da sua relação conosco, talvez ajude a elucidar o porquê de inúmeras práticas e tratamentos milagrosos para a redução de peso ou controle dos sintomas depressivos não funcionarem com a praticidade e o rendimento que nós gostaríamos. Abrindo caminhos para o surgimento de novas propostas terapêuticas a partir da manipulação da composição da nossa microbiota intestinal.

Dionisio Pedro Amorim Neto. Biólogo Licenciado pela UNICAMP e Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação do Dpto. de Biologia Celular e Estrutural, com ênfase em Biologia Celular por esta mesma instituição. É vinculado ao LNBio/CNPEM, onde desenvolve projetos relacionados às temáticas de Biologia Celular, Neurobiologia e Microbioma, sendo estas as minhas áreas de atuação e interesse.

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Matheus de Castro Fonseca. Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Biologia Celular (UFMG). Doutor em Ciências Biológicas: Fisiologia e Farmacologia (UFMG). Atualmente, é membro da Sociedade Brasileira de Biologia Celular e pesquisador do Laboratório Nacional de Biociências, CNPEM, Campinas, onde desenvolve pesquisa com foco em neurobiologia celular e molecular, imageamento de neuroestruturas por raio-X e mecanismos celulares do Parkinson Idiopático.

É DEXA!!

Texto de autoria da Olguitcha na Pands publicado no Facebook no perfil pessoal dela.

Oi, pessoal. Olguitcha na pands aqui. Senta que lá vem história da DEXA.

Então, como vocês sabem, eu não tenho limites. Vou começar dizendo que a Oxford mais uma vez está sambando na cara das universidades de vocês sabem onde… [a piada é interna, mas eu to rindo]. Mas isso é para outro post. hihihi

Os dados obtidos para a dexametasona são bem-vindos sim, esse grande estudo demonstrou que a dexametasona melhora a sobrevida de pacientes mais graves da COVID-19 que necessitam de ventilação. No entanto, o estudo ainda não foi publicado ou submetido ao escrutínio científico.

Isso não impede a polvorosa do galerê, e os trocentos posts que já devem ter saído… Êêêê todos ama ciência agoraaaaaaa. SEUS CARA DE CONCHA.

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Desde fevereiro/março, uma iniciativa de ensaios clínicos denominada RECOVERY* está avaliando o potencial uso de um monte de medicamentos para COVID-19 (RECOVERY: Randomised Evaluation of COVid-19 thERapY; é cafona, sim, o que você espera de um monte de nerds recebendo atenção…rsrs). Eles estão revisitando drogas já conhecidas dada a emergência da pandemia, além de intervenções médicas outras. A rede RECOVERY conta com 175 hospitais da rede pública do Reino Unido (NHS-UK), logo tudo mais bem integrado do que a maioria dos trials que vemos.

Dizem os responsáveis pelo RECOVERY que mais de 10 mil pacientes já participaram de ensaios por lá.

Digamos com bondade no coração então que tudo isso sugere maior consistência entre os dados observados e, provavelmente, dados melhor/mais bem coletados para a análise. Digo isso porque quem manja de estatística na área clínica sabe, você faz o que quiser com um monte de números… mas se a fonte deles não é padronizada e confiável, esqueça, é xaxixo. Pode ser um xaxixo lindo, mas na beira do leito, não dá pra brincar e dizer que foi uma escolha difícil com ente amado alheio. 😉 Também não adianta ter um número infinito de amostras, para superar a variabilidade natural entre pacientes, se todas foram adquiridas de qualquer jeito e sem coerência.

No final das contas, as interpretações na ciência dependem e se baseiam em ética e confiabilidade metodológica (percebam que essa é uma crítica razoável que posso fazer a estudos multicêntricos independentes, como aquele que foi retratado na The Lancet, que ganham em randomicidade pelo grande número de amostras/pacientes, mas perdem em robustez e padronização.

É uma faca de dois legumes, dependendo da droga ou pergunta a ser testada, eu poderia dizer que chega a ser um universo amostral viciado o do RECOVERY, ou seja, um estudo bem britânico, imagine vários Príncipes Charles tomando chá com sorinho no braço… hahaha zoei. A tendência é o resultado ser ótimo para pessoas da família real. Sacaram? Mas não sejamos assim chatonildos e pessimistas, a população de UK que usa o NHS é mais variada, se formos pensar em diversidade, UK toda não é royal assim faz muito tempo.

Enfim, no RECOVERY não só a dexametasona tem sido avaliada, mas outras drogas como antivirais usados no HIV e anticorpos provenientes do plasma de pacientes convalescentes também, incluindo a aminoquinolona que mais desperta paixões no planeta -hidroxicloroquina – (a qual já foi descartada por esse grupo de Oxford por não ter mostrado benefício *oh shoot*).

Pois bem, vamos à dexametasona:

A dexametasona é um antiinflamatório esteroidal bem conhecido, com diversas aplicações, dosagens e formulações farmacêuticas (comprimido, injetável, pomada e o escambau), o que pode mudar completamente sua efetividade e propósito.

A DEXA (para os íntimos) é vastamente utilizada em inúmeras patologias e intervenções medicamentosas combinadas. A DEXA é mais comumente usada para tratar condições como inflamação, alergias graves, problemas adrenais, artrite, asma, problemas de sangue ou medula óssea, problemas renais, condições da pele e crises de esclerose múltipla.

Barata e de fácil produção. Espero que ainda a DEXA só possa ser aviada com receita médica e não por live presidencial. Portanto, tem efeitos colaterais que muitos de vocês já talvez até tenham experimentado… vou listar uns que eu lembro de cabeça: retenção de líquidos (danos na circulação e rins), disfunção dos níveis glicêmicos tendendo a hiperglicemia (diabetes), fraqueza muscular, fragilidade de vasos sanguíneos, hipersensibilidade, refluxo gástrico, dificuldade de cicatrização… e tem mais uma cacetada se for uso bem crônico, até distúrbios psicológicos e catarata, e outros que nem citei aqui porque eu tô com preguiça real e oficial.

E tem um que eu quero destacar: DEXA é imunossupressor, ou seja, deprime o sistema imunológico, reduz nossas defesas. Tem seus vieses se pensarmos em pessoas hospitalizadas utilizando, uma vez que diminuir a inflamação é o objetivo para evitar o progresso do quadro clínico da COVID-19, contudo a DEXA pode tornar o paciente mais suscetível a outras infecções secundárias. Todos sabem que um dos maiores problemas em hospitais são as mortes por infecções hospitalares secundárias à causa que levou o paciente à internação. E tascar um monte de antimicrobianos espartanos no paciente não ajuda muito não…

Ou seja, DEXA não é bala Xaxá. NADA DE SAIR COMPRANDO ANTIINFLAMATORIO ESTEROIDAL PARA POR NA RECEITA DE BROWNIE. Caray. Já tô braba aqui.

Pois bem, vamos aos resultados obtidos no ensaio com doses consideradas baixas de dexametasona no RECOVERY.

Dois grupos de pacientes foram randomizados, ou seja, aleatoriamente selecionados e comparados:

1 – 2104 pacientes com um tratamento convencional paliativo de COVID-19 com adição de dexametasona 6 mg uma vez por dia (por via oral ou por injeção intravenosa) por 10 dias.

2- 4321 pacientes apenas para os cuidados habituais.

Entre os pacientes que receberam os cuidados usuais isoladamente (grupo 2 sem droga), a mortalidade em 28 dias foi mais alta naqueles que necessitaram de ventilação (41%), intermediária nos pacientes que precisaram apenas de oxigênio (25%) e menor entre aqueles que não necessitaram de intervenção respiratória (13%).

A DEXA reduziu aproximadamente 33% das mortes nos pacientes ventilados (razão de taxa 0,65 [intervalo de confiança de 95% 0,48 a 0,88]; p = 0,0003) e reduziu um quinto em outros pacientes recebendo apenas oxigênio (0,80 [0,67 a 0,96]; p = 0,0021). Não houve benefício entre os pacientes que não necessitaram de suporte respiratório (1,22 [0,86 a 1,75]; p = 0,14).

Em geral, no grupo 1 com droga, os pacientes que receberam a DEXA, houve redução de 17% a taxa de mortalidade em 28 dias (0,83 [0,74 a 0,92]; P = 0,0007), com uma tendência significativamente alta mostrando maior benefício entre os pacientes que necessitam de ventilação (teste para tendência p <0,001).

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📍📍📍 Os autores do ensaio dizem que é importante reconhecer que não encontraram evidências de benefício para pacientes que não precisavam de oxigênio e que não estudaram pacientes fora do ambiente hospitalar. O acompanhamento está completo para mais de 94% dos participantes.

PAUSA PIADISTICA 1: não fiquem brabos comigo, estou me estendendo e colocando até os dados estatísticos de valor de p e tudo, porque estão muito lindos demais… se não foram manipulados. hahaha Mas é o que está lá no RECOVERY e os caras colocaram disponíveis só isso aí. 🤘

PAUSA PIADISTICA 2: pessoal por aí deu uma confundida na tradução. Tá escrito lá: “Dexamethasone reduced deaths by one-third in ventilated patients”, o que em português significa dizer que antes morriam 10 e agora morreriam 6 ou 7 usando DEXA. Redução de um terço. Não a um terço. Teve gente que achou que era milagre. “Reduced by” é pegadinha.

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Com base nesses resultados, dizem eles, que 1 morte seria evitada pelo tratamento com DEXA a cada 8 pacientes ventilados ou a cada 25 pacientes que necessitavam apenas de oxigênio. Dada a importância desses resultados para a saúde pública, dizem eles “agora estamos trabalhando para publicar todos os detalhes o mais rápido possível.”

POIS. Não é o feijão mágico ainda, mas bem animador mesmo. YAY 🤘🤘🤘

Queremos o artigo publicado sim. Mais detalhes. Já tenho uma lista de comentários e perguntas:

Os pacientes que necessitam de oxigênio ou ventilação geralmente apresentam pneumonia e desenvolvem falta de ar, insuficiência respiratória e síndrome da angústia respiratória aguda (SDRA, do inglês, ou SRAG, sindrome respiratoria aguda grave no português) – quando os pacientes não conseguem respirar porque há inflamação e fluido preenchendo alvéolos de ar nos pulmões. Uma vez que a SRGA se desenvolve, a taxa de mortalidade aumenta significativamente e a necessidade de cuidados intensivos e suporte à vida aumenta.

Recomenda-se sempre cautela e mais dados antes de introduzir a dexametasona na prática atual.

Mas, de fato, uso de esteroidais é realmente algo esperado já vendo outros trabalhos: Em março, pessoal de Wuhan na China liberou um estudo no JAMA** – “O tratamento com metilprednisolona pode ser benéfico para pacientes que desenvolvem SRAG.”

Precisamos dos dados para descobrir o que havia de diferente nos pacientes estudados na China e no tratamento habitual combinado em UK (ou seja, uso de antibióticos empíricos?) O que determinou diferenças de outros grupos? Os dados de UK também nos ajudarão a selecionar melhor os pacientes que mais se beneficiariam.

O estudo não mostrou nenhum benefício em pacientes que não precisavam de ajuda para respirar. Apenas uma minoria de pacientes com COVID-19 precisa de oxigênio ou ventilação mecânica – este é o único grupo que pode se beneficiar da dexametasona? Não sei.

Diversidade na população, comentei isso um pouquito, a baixa dose de DEXA pode ser nada eficaz pra alguns grupos étnicos… é algo a se analisar.

Agora fica a minha crítica PESSOAL. Depois de todas as retrações e PALHAÇADAS nessa pandemia, é inaceitável divulgar os resultados de estudo por meio do comunicado à imprensa sem liberar todos os dados em revistas científicas minimamente sérias antes. Qual o motivo pra isso? Vocês listem aí.

Era isso, pessoal, se ficar alguma dúvida de entendimento ou técnica, faz um mimimi carinhoso que eu respondo.✌️

Edit.: esqueci de dizer sobre a quantidade de verba PÚBLICA que financiou esse estudo em hospitais PÚBLICOS. Muitas libras esterlinas. Muitas. 🤑

Aqui fica o link do press release do Recovery: https://www.recoverytrial.net/news/low-cost-dexamethasone-reduces-death-by-up-to-one-third-in-hospitalised-patients-with-severe-respiratory-complications-of-covid-19

O paper de Wuhan em março: https://jamanetwork.com/journals/jamainternalmedicine/fullarticle/2763184

Olguitcha na Pands é project scientist na Farmacologia da School of Medicine na Universidade da Califórnia (EUA). Professora Associada da UFPR (tá de licença sem salário, antes que perguntem). “Vim pra cá convidada pra trabalhar num projeto de glioblastoma. Tenho anos de experiência em Toxinologia (venenos de animais peçonhentos), sou Doutora em Ciências com ênfase em Biomol pela UNIFESP e Mestre em BioCel pela UFPR. Farmacêutica Bioquímica.”

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do ScienceBlogs Brasil.

Choro e ranger de dentes: a formação do pesquisador brasileiro precisa mesmo disso?

Esse post é parte da Blogagem Coletiva de comemoração aos 10 anos do ScienceBlogs Brasil. Essa semana é Tema Livre. Hoje quem escreve é Mariella De Oliveira-Costa é doutora em saúde coletiva.

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Ansiedade, angústia, desânimo, depressão e dificuldades de concentração são alguns dos problemas de saúde física e mental que acometem parte dos estudantes de pós-graduação, assim como quem está na época de realizar sua monografia.

Todos vibram muito com a conquista daquela sonhada vaga  na universidade mas nem sempre (ou quase nunca) a vida acadêmica se mostra tranquila e interessante. A família que apoiou a escolha daquele aluno, o encontra por vezes isolado de tudo e de todos, sem tempo para atividades coletivas e até mal humorado.

Boa parte dos estudantes se frustra com as dificuldades inerentes dessa etapa da vida acadêmica, com o orientador, com o programa de pós, com os colegas, com os conteúdos de pesquisa, enfim, com o ambiente dentro de uma universidade ou instituição de pesquisa.

Mas esta etapa da vida não precisa ser assim.

Existem inúmeras dificuldades, mas também muitas estratégias para que esta fase de formação de um pesquisador, da iniciação científica, passando pelo TCC, mestrado e doutorado sejam momento de crescimento e aprendizado.

Nas redes sociais, tem sido comum observar um discurso de tristeza, abatimento e desilusão para com a pós-graduação e seus desafios e dificuldades.

Me incomoda bastante o discurso de que uma pós-graduação é apenas para alguns poucos iluminados e que a maioria deve sim viver num mar de choro e ranger de dentes. A vida acadêmica, bem administrada, pode ser leve e um momento bem feliz (e é importante compartilhar essa ideia)!

Sou recém-doutora e ao longo de minha formação sempre busquei espaços na agenda para atividades completamente fora do meu tema de pesquisa, e me cerquei de pessoas que tinham outras carreiras, falassem de outras coisas e ventilassem minha conversas e minha mente.

Pensando nisso, comecei um canal no youtube para falar sobre a vida acadêmica de uma forma mais realista e bem humorada.

Meu intuito é apresentar que existe vida além da pós-graduação, com temas do cotidiano acadêmico de maneira leve e breve, para  auxiliar os pós-graduandos (e os candidatos a uma pós) a encararem esta etapa da vida tal como ela realmente é: apenas uma parte, uma etapa, um degrau na sua caminhada (e não a caminhada toda).

Existe vida além da pós-graduação  e nenhuma vida precisa ser resumida a uma rotina casa-universidade. Um problema no laboratório, um resultado inesperado, uma pesquisa com uma série de limitações não pode definir a personalidade de ninguém, pois não somos máquinas e é preciso saber lidar com as dificuldades sem se tornar refém delas.

Afinal, se formarmos pesquisadores desanimados, frustrados na sua formação básica e com a saúde mental comprometida, qual será o futuro da ciência brasileira?

mariellaMariella De Oliveira-Costa é doutora em saúde coletiva, jornalista, escritora e tem como um de seus hobbies seu canal no Youtube. Atualmente trabalha na Fiocruz Brasília.

Do Papai Noel à Metástase

Esse post é parte da Blogagem Coletiva de comemoração aos 10 anos do ScienceBlogs Brasil. Essa semana é Tema Livre. Hoje quem escreve é Bruno Ricardo Barreto Pires, Biólogo e Pós-doutorando do Instituto Nacional de Câncer.

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Eu nasci e fui criado no interior de Goiás, em uma cidade de 25.000 habitantes chamada Posse. Tive uma infância sem shoppings ou cinemas, mas com muito contato com a natureza e com os meus 20 primos. No natal de 1994, nos reunimos na casa dos meus avós maternos para a ceia. Na época, eu tinha 5 anos e carregava uma enorme vontade de falar tudo o que pensava. O clímax daquela noite foi a aparição do Papai Noel durante o jantar. Eu estava empolgadíssimo com aquela presença, assim como os meus primos que tinham mais ou menos a mesma idade, até que percebi que a minha avó não estava mais no recinto. Comecei a observar bem aquele Papai Noel, sua barba branca, seu cabelo branco, gorro e roupas vermelhas… então, gritei “O Papai Noel é a vovó!”

Todos os adultos se espantaram. Meus pais desconversaram e depois de alguns minutos, o bom velhinho partiu. Eu insistia que era, mas parecia que eu havia falado um palavrão, pois todos me olhavam com um certo desprezo. No dia seguinte, a primeira coisa que fiz foi questionar a minha mãe. Ela confirmou, “ele não é real”. Apesar de ela ter me explicado todo o motivo pelo qual ele foi criado, eu senti aquilo como uma facada nas minhas vísceras. Embora aquela verdade tenha sido difícil de administrar no auge dos meus 5 anos, eu quis mais: “então, o coelhinho da Páscoa também não existe?” Também não, respondeu a minha mãe com um olhar de velório. Naquele dia, eu dormi muito mal, mas decidi contar a verdade para as outras pessoas (que tinham a mesma idade). No final de semana subsequente, estávamos todos os primos reunidos na casa dos meus avós e aproveitei a ocasião para libertá-los daquela mentira. No entanto, para a minha maior decepção, eles disseram que era eu quem estava mentido e um deles completou: “meus pais falaram que existe e eles não mentem”. Eu fiquei arrasado. Percebi que meus pares preferiam viver em uma ilusão do que aceitar a “verdade nua e crua”.

Aquela história envolvendo o papai noel me deu uma enorme coragem para questionar qualquer coisa. Além disso, ela quebrou o paradigma de que eu deveria acreditar em tudo que “os mais experientes” afirmam. Só que eu me empolguei. Aos 6 anos, eu estava desenvolvendo uma noção sobre parentesco/hereditariedade, e cheguei a conclusão de que os meus pais não pareciam fisionomicamente comigo. Sem saber o que a genética mendeliana conta sobre os alelos raros, acusei os meus pais de terem me adotado. No começo, os meus pais riram, mas eu insisti tanto com o assunto que no mesmo dia, a minha mãe me levou ao hospital em que nasci para que todos dessem o depoimento que testemunhava a favor dela. “Eles estão todos comprados”, repeti a frase que ouvia ocasionalmente no Programa Livre – um clássico da década de 90.

Nesse dia, eu tinha passado da conta. Mesmo para uma criança de 6 anos, era perceptível a tristeza de uma mãe que se sentia rejeitada pelo próprio filho. “Você é sangue do meu sangue, meu filho. Por que está fazendo isso comigo?” Esse diálogo nunca mas saiu da minha cabeça…

Alguns anos depois, a minha avó materna falece com câncer de mama. Lembro de uma conversa entre os meus pais que contava, segundo o oncologista do Hospital de Base, que o câncer havia se espalhado e que não havia tratamento para isso. No dia após o velório, eu contei no ouvido da minha mãe, que eu iria estudar porque “aquilo” matou a minha avó. Naquele momento, eu descobri como utilizar a minha vontade de investigar/pesquisar sem machucar as pessoas. Muito pelo contrário, ajudando-as. Então, naquele dia eu aceitei a missão de ser um cientista.

Desde então, eu persigo a metástase do câncer de mama como aquele que busca vingança, mas ao mesmo tempo, como aquele que quer dar esperança a todas as famílias que sofrem com esta doença.

bruno

 

Bruno Ricardo Barreto Pires, Biólogo e Pós-doutorando do Instituto Nacional de Câncer. Escreve no blog “Novais da Silveira” e é entusiasta da divulgação científica nas redes sociais.

Conferência EURAXESS Links: “Conectando Pesquisadores Internacionais”

*Este é um post patrocinado

Discussão aberta no Rio sobre oportunidades de cooperação em pesquisa e mobilidade entre europeus e brasileiros.

A 3a Conferência EURAXESS links – “Conectando Pesquisadores Internacionais” foi realizada no Rio de Janeiro em 11 de maio de 2016, celebrando as firmes relações científicas e ampla mobilidade dos pesquisadores entre países europeus e latino-americanos. Esta foi a primeira edição desta conferência bienal no continente americano. Organizada pela Comissão Europeia e pela EURAXESS Brasil, a conferência reuniu mais de 180 participantes, dentre eles pesquisadores, acadêmicos, representantes da indústria e órgãos públicos da Europa e do Brasil. O programa contou com palestrantes de alto nível, tais como o sr. João Cravinho, embaixador da União Europeia no Brasil, o professor Jorge Guimarães, presidente da EMBRAPII, o professor Pedricto Rocha Filho, presidente em exercício da FINEP, bem como representantes das principais agências de fomento da Comissão Europeia, Marie Sklodowska Curie Actions (MSCA) e o Conselho Europeu de Pesquisa (ERC).

A iniciativa da EURAXESS tem o objetivo de facilitar a mobilidade, aprimorar as carreiras de pesquisadores e aumentar a atratividade de oportunidades de pesquisa na Europa.

Por meio da conferência no Rio de Janeiro, os pesquisadores brasileiros aprenderam sobre as oportunidades existentes na Europa. Durante o workshop que ocorreu na parte da tarde, os pesquisadores foram treinados e receberam dicas e orientações para terem sucesso ao se candidatarem para bolsas de pesquisa na Europa, bem como outros veículos de fomento.

Com base em discussões abertas, ao invés de apresentações individuais, as sessões da conferência abordaram maneiras de aumentar o escopo da mobilidade de pesquisadores e atores da inovação entre ambas as regiões, de como promover a união os setores da pesquisa e da indústria para formar parcerias e de aprimorar métodos de networking a fim de abordar as novas oportunidades.

“A conferência atraiu um público entusiasmado e engajado, o que é muito promissor e auspicioso para que sejam alcançados resultados práticos no relacionamento entre pesquisadores brasileiros e europeus. Como resultado deste evento, queremos ver mais oportunidades, mais projetos de pesquisa e mais cooperações ocorrendo entre as duas comunidades de pesquisa”, disse Charlotte Grawitz, representante nacional da EURAXESS Links Brasil.

Pesquisadores interessados e demais participantes do universo da pesquisa no Brasil que perderam a chance de comparecer ao evento podem assinar a newsletter da EURAXESS Links Brazil escrevendo para brazil@euraxess.net.

As apresentações feitas durante o evento, incluindo a sessão de treinamento sobre como enviar uma proposta bem-sucedida para a obtenção de fomento da EU estão disponíveis aqui.