Nasce mais uma revista de divulgação científica! Unesp Ciência, seja bem-vinda!

Enquanto escrevo esse post, tenho ao meu lado o primeiro exemplar da mais nova revista de divulgação científica do Brasil: a revista Unesp Ciência, que começará a circular agora em Setembro (mas eu já tenho, urrú!) !
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Queria começar dando os parabéns pela iniciativa, e pelo resultado do trabalho: a revista está linda, e o conteúdo é excelente (já a li praticamente inteira, matérias muito boas)! Acesse a edição de lançamento AQUI, e confira o press release feito pela Assessoria de Imprensa da Unesp.
unesp-ciencia2.jpgO lançamento aconteceu nessa quarta-feira, no Instituto de Física Teórica (que TEORICAMENTE abriga vários Físicos – RÁ, piada infame!!!) da universidade, que fica na Barra Funda (colado na estação de metrô, mas um parto prá chegar de carro, no meio da hora do rush).
Melhor surpresa da noite: encontrar vários colegas do ScienceBlogs Brasil por lá. Estavam presentes o Igor (Universo Físico), a Luciana Christiane (Efeito Adverso) e o Reinaldo (Chapéu, Chicote e Carbono-14), que estão envolvidos diretamente com a revista (que só tem a ganhar com esse fato!). Como convidados foram o Rafael (RNAm), a Paula (Rastro de Carbono), o Carlos (Brontossauros em meu jardim), o Átila (Rainha Vermelha), e, claro, este que vos fala. Comparecimento muito bom prá um dia de semana, logo no começo da noite, em São Paulo. 19h30 ainda é cedo prá esperar que todos cheguem no horário, por causa da zona que é essa cidade.
Aliás, chegamos meio atrasados, e a cena em que eu, o Rafael, e o Reinaldo tentamos nos sentar educadamente no auditório, sem atrapalhar ninguém, foi RIDÍCULA. Espero de verdade que alguém tenha filmado e solte no Youtube, deu gosto. Difícil descrever tão bem um exemplo da falta de agilidade e destreza dos nerds (no caso, nós).
O evento em si foi bem legal, curto nas formalidades (o que foi ótimo, porque ninguém aguenta muito aquela chatice) e no começo contou com uma apresentação excelente do Grupo de Percussão do Instituto de Artes da Unesp, o Piap. Aliás, uma das meninas que fez a apresentação era um docinho de coco, como diria o Marcelo Tas. Não crianças, não tirei foto dela, tão achando o que? Deviam ter ido.
Após as apresentações, teve um coquetel de confraternização – que não tinha nada alcóolico prá soltar o pessoal? não gostei, que comemoração é essa?! – em que pudemos conversar bastante, e, claro, fazer uma boquinha (apesar de eu ter me queimado com um salgadinho assassino, como sempre).
Ah, sabem por que a revista será lançada em Setembro de 2009? A 400 anos, Galileu adaptou uma luneta, e, com o primeiro esboço de um telescópio, lançou as bases da Ciência Moderna.
Bela escolha de data de lançamento, não acham?

Como conseguir mais sexo e deixar as mulheres aos seus pés? Arrumando uma namorada!

flirting1.jpgVocê, garotão, quer ficar irresistível prá mulheres, e não tem lá muitos escrúpulos?
Que tal ficar mais atraente prá mulherada arrumando uma… namorada?!

Há muitos anos pesquisadores discutem quem é mais propenso a desobedecer o nono ou décimo mandamento (dependendo da religião que você considerar), que diz: “não cobiçarás a mulher do próximo”, também conhecido nos botecos do Brasil como “comportamento fura-zóio”.
Claro, nesse caso, pode ser “mulher” ou “homem”, como veremos a seguir.
ResearchBlogging.orgAlgumas pesquisas indicaram que os homens possuem uma tendência maior a perseguirem a parceira alheia, mas havia uma dúvida: essa tendência é realmente mais forte nos homens, ou eles simplesmente eram mais propensos a ADMITIR que iam mesmo atrás de gente comprometida? Agora há resultados experimentais de que mulheres solteiras têm uma atração particular pelos parceiros alheios, de acordo com esse estudo publicado no Journal of Experimental Social Psychology.
0_21_flirting_450.jpgBaseando-se na clássica queixa feminina “os melhores homens já têm dona”, as psicólogas Melissa Burkley e Jessica Parker, da Universidade do Estado do Oklahoma, questionaram se essa afirmação não seria resultante de os homens comprometidos serem percebidos como “melhores” pelas mulheres. Para investigar esse fato, as pesquisadoras questionaram 184 universitários (entre homens e mulheres), sendo que alguns eram solteiros, outros não, sobre seu par romântico ideal.
Em seguida, foi dito a cada um dos entrevistados que seu perfil havia encontrado um par de pensamento semelhante num programa de computador. Logo em seguida, os pesquisadores mostraram uma foto desse tal pretendente, um membro do sexo oposto bastante atraente. Todos os participantes homens viram a foto da mesma mulher, e o mesmo aconteceu com a foto dada para as mulheres.
Aí começa o experimento: metade do grupo de homens e do grupo de mulheres foi informada que a pessoa da foto era comprometida, sendo que os participantes restantes foram informados que as pessoas das fotos eram solteiras. As pesquisadoras então perguntaram qual era o grau de interesse dos entrevistados nas pessoas que o computador havia indicado, e estavam nas fotos.
Para os homens que participaram do experimento, e para as mulheres que já estavam comprometidas, não houve diferença significativa na atração pelo(a) pretendente sugerido pelo computador.
No caso dos homens, não houve distinção ALGUMA em relação à mulher da foto ser comprometida ou não, o interesse demonstrado foi o mesmo. Bom, isso não é novidade, nós homens temos poucos critérios, e todos sabem disso. Também acho que toda mulher já ouviu um “mas eu não sou ciumento” quando diz ser comprometida (convenhamos, um dos maiores xavecos-furados de todos os tempos né?), estou certo?
No entanto, as mulheres solteiras demonstraram uma preferência bem maior para ir atrás do companheiro alheio, em relação aos homens, e às mulheres comprometidas. Nas mulheres que foram informadas que o homem da foto era solteiro, ele despertou interesse de 59% das entrevistadas. Já, quando disseram que o homem já estava comprometido, pasmem: 90% (sim, NOVENTA) demonstraram interesse.
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“Aliança bonita… posso te pagar um drink?”


Segundo as autoras, esse maior interesse pode vir do fato de um homem comprometido ter demonstrado sua habilidade em assumir compromissos. Uma das explicações dadas por elas (e a que eu achei mais divertida, aliás) é que as qualidades desse homem comprometido já tenham passado por uma pré-seleção, que foi feita pela outra mulher (as garotas que participaram dessa pesquisa não são umas gracinhas?). Aliás, esse estudo foi bom para que as namoradas se cuidem (e, claro, cuidem dos seus respectivos), pois a concorrência pode vir sem dó nem piedade!
Depois desses resultados e das justificativas dadas pelas entrevistadas, lembrei na hora da minha mãe e de uma coisa que ela me ensinou, quando eu era adolescente: “água morro abaixo, fogo morro acima, e mulher quando quer dar, ninguém segura!” (já até imagino a cruz bonita que vão fazer prá mim, depois dessa)
Minha experiência de vida já me dizia que esse lance de mulher vir com tudo em cima de homem comprometido era verdade (por histórias minhas, e de vários amigos meus). Assim como as mulheres têm a máxima “todos os homens decentes já têm dona”, nós homens temos “o melhor jeito prá se fazer chover mulher, é arrumar uma namorada”.
E vocês, o que acham? Dêem suas opiniões, e que a guerra dos sexos comece!!!
Paraquedistas1.jpg* Este texto faz parte da Blogagem Coletiva Caça-paraquedista (conheça mais sobre essa iniciativa aqui). Se você entrou aqui pelo Google, seja bem-vindo e aproveite para conhecer um pouco mais sobre o blog e ciência!
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Parker, J., & Burkley, M. (2009). Who’s chasing whom? The impact of gender and relationship status on mate poaching Journal of Experimental Social Psychology, 45 (4), 1016-1019 DOI: 10.1016/j.jesp.2009.04.022
Imagens: Getty Images; Ellen Stagg Photography

RNAm Expresso vol. 5 – Leituras interessantes!

090821085252_axolote226.jpgCientistas estudam anfíbio ‘monstro’ para tratar regeneração de membros: a gracinha que pode ser vista na foto ao lado, chamada Axolote, é capaz de regenerar até pedaços do CÉREBRO! Isso explica ter tanto dinheiro indo prás pesquisas com esse anfíbio, só o Departamento de Defesa dos EUA já doou 6 milhões de dólares para esses estudos. BBC Brasil
Sintomas mostram a hora de ir ao médico; veja lista criada por especialistas: lista elaborada pela Clínica Mayo (EUA) com dez sinais que indicam necessidade de cuidados médicos, comentada por especialistas contatados pela Folha Online.
Butantan começa a fazer vacina antigripe em outubro; conheça a fábrica por dentro: vejam esse ótimo infográfico mostrando como é a fábrica que produzirá as vacinas contra a Gripe Suína (H1N1; Gripe A) no Instituto Butantan. G1 Ciência e Saúde
Cientistas transplantam genoma em novo ‘passo’ rumo à criação de vida sintética: a equipe de cientistas comandada por Craig Venter (alguém aí lembra da Celera Genomics quando estavam sequenciando o genoma humano?) diz estar mais próxima de criar uma célula sintética! Eles anunciaram a criação de um novo tipo de bactéria a partir de um genoma modificado. UOL Ciência e Saúde
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Por hoje é só pessoal, bom sábado a todos!
Imagem: Jesús Chimal, pesquisador da Universidad Nacional Autónoma de México, um dos autores dos estudos envolvendo o Axolote

Em um crime, o DNA também pode mentir!

O texto de hoje tem a contribuição do Biólogo Claudemir Rodrigues Dias Filho, Perito Criminal e Mestre em Genética e Biologia Molecular pela UNICAMP (e grande amigo desde o colégio). Ele também mantém um ótimo blog chamado Ciência Contra o Crime dedicado à criminalística, medicina legal e perícia criminal, leitura altamente recomendada!

Apresentações feitas, vamos ao que interessa: depois de termos visto que o genoma de um indivíduo pode não ser tão constante como se imaginava, agora, segundo cientistas israelenses, é possível fabricar provas periciais de modo a se falsificar até a “prova de ouro” na Criminalística, o DNA.

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“Não se pode confiar em mais nada… eu me demito.”

Os pesquisadores fabricaram amostras de sangue e saliva contendo DNA de uma pessoa diferente do doador original. Além disso, com acesso a um perfil de DNA armazenado numa base de dados qualquer, puderam construir uma amostra de DNA correspondente ao perfil desejado, sem necessidade de obter qualquer amostra da pessoa em questão!

ResearchBlogging.orgEm entrevista ao New York Times, o autor principal do estudo publicado no periódico Forensic Science International: Genetics, Dan Frumkin, disse: “Você pode simplesmente montar sua cena do crime. Qualquer estudante de Biologia poderia fazê-lo.” Lembrem-se dessa frase, pois falaremos dela adiante.

As amostras falsas foram feitas de duas maneiras: a primeira precisa necessariamente de uma amostra de DNA real, mesmo que pequena, que foi amplificada (criação de cópias) por uma técnica chamada amplificação de genoma total (whole genome amplification, ou WGA).

Para testar se a falsificação seria viável numa análise, os pesquisadores realizaram um teste. Uma amostra de sangue de uma mulher foi preparada por centrifugação, sobrando só as células vermelhas (chamadas eritrócitos) e o plasma na amostra (lembre-se que essas células não têm núcleo, portanto, não fornecem DNA para análise). Em seguida, adicionaram o DNA que havia sido amplificado do cabelo de um homem.

Resultado: todo o DNA na amostra de sangue fabricada pertencia ao material do homem. Essa amostra foi até enviada para um laboratório americano de referência em medicina forense, que o identificou como uma amostra de sangue comum masculina, ou seja, a falsificação enganou a todos!

A outra técnica desenvolvida se baseia em perfis de DNA armazenados em bases de dados como números de série e letras que correspondem a variações de 13 locais no genoma de um indivíduo. A partir de uma combinação do DNA de várias pessoas diferentes, os cientistas clonaram pequenos trechos de DNA representando as variações mais comuns de cada um dos 13 locais, criando assim uma biblioteca desses trechos. Desse modo foi possível preparar amostras correspondentes a qualquer perfil desejado, somente misturando os trechos corretos como se fosse uma única amostra.

Crime Scene.jpgPara os pesquisadores, uma biblioteca com 425 dessas variações mais comuns no DNA seria suficiente para cobrir qualquer perfil imaginável! Imagine o tipo de precedente que um caso como esse pode abrir no sistema penal?

Se em UM caso for comprovado que a amostra de DNA que serviu como prova em um caso foi forjada, o que pode acontecer? Revisão de todos os casos em que esse tipo de evidência foi usado numa condenação ou absolvição? Difícil prever todas as conseqüências possíveis num caso assim…

Claro que as intenções do Dr. Frumkin estão longe de ser “em prol do bem-estar da Humanidade”. Além de pesquisador, ele é fundador de uma empresa de biotecnologia chamada Nucleix, que desenvolveu um teste para distinguir amostras de DNA reais das fabricadas, visando vender essa tecnologia aos milhares de laboratórios forenses. O teste se baseia no fato de o DNA amplificado artificialmente não possuir regiões metiladas, ao contrário do DNA “original”.

mad scienctist.jpgConsiderando todos os aspectos da pesquisa e as implicações consideradas, uma coisa parece certa: o Dr. Frumkin vai ficar rico, certo?

Não necessariamente, e explicaremos por que.

Nas palavras do Clau: “A técnica de amplificação de genoma total (WGA) realmente veio para a glória e para a desgraça das análises de DNA forense. Essa técnica permite a amplificação do DNA de uma única célula, e é aqui que reside sua força: amostras forenses sempre são exíguas e isso impossibilita análises que demandam maiores quantidades de DNA. Por outro lado, a técnica realmente permite a criação de amostras falsas que, misturadas a um sangue livre de material genético, podem ser plantadas num local de crime, incriminando um inocente.”

Certo, então a premissa dos pesquisadores é válida, e o perigo disso acontecer é real?

Mais ou menos…

“Realmente, a análise da metilação é o meio mais preciso para verificar se o DNA é válido. Problema: essa técnica não é nada simples, e demanda um conhecimento de biologia molecular que hoje não se encontra em qualquer esquina. Há outras formas de detectar a falsificação, e uma delas é muito simples. De acordo com a pesquisa, a amostra fake é criada com o sangue centrifugado de uma pessoa X, sobrando os componentes que não possuem DNA, adicionando-se em seguida o DNA amplificado da pessoa Y (que se quer incriminar), certo?


Assim, o perfil genético adquirido seria da pessoa Y. Repare: o DNA é de Y, mas os eritrócitos são da pessoa X, portanto, se analisarmos moléculas (antígenos) da membrana dos eritrócitos podemos determinar se o ‘sangue’ é mesmo da pessoa incriminada (Y). Os antígenos A e B do sistema ABO ficam nas membranas das hemácias, e essa tipagem sanguínea diminuiria a dúvida.”

Para quem estava pensando em dizer ‘então, para o vestígio ser perfeito, não bastaria usar o DNA de Y no sangue de X, seria também necessário que X e Y fossem do mesmo grupo sanguíneo’, o Clau tem mais respostas: “Isso seria correto se os antígenos A e B fossem os únicos parâmetros para se analisar o sangue, havendo também o Rh, o MNS, Lewis, e 20 outros mais.”

Para terminar de detonar a fantástica idéia de lucro do Dr. Frumkin, aqui está a conclusão:

“Não é necessário contratar a Nucleix para saber se uma amostra de DNA forense é ou não verdadeira. Também não é ‘qualquer estudante de graduação’ que pode fabricar provas de DNA, como afirma o autor. Precisa ser um graduando que conheça muito bem as técnicas envolvidas, e tenha acesso a

(A) um bom laboratório de biologia molecular
(B) ao perfil genético de quem se quer incriminar
(C) a um local de crime
(D) técnicas para metilar o DNA fabricado
(E) um doador com sistemas sanguíneos idênticos ao de quem quer incriminar

Ainda parece fácil como disseram na entrevista ao New York Times?”

Por isso o conhecimento e a opinião de um especialista são importantes quando lidamos com reportagens técnicas: se o entrevistador do New York Times fosse o Clau, essa reportagem talvez nem saísse na imprensa.

Frumkin, D., Wasserstrom, A., Davidson, A., & Grafit, A. (2009). Authentication of forensic DNA samples Forensic Science International: Genetics DOI: 10.1016/j.fsigen.2009.06.009

Imagens: Linda Manley @ Greenville County Schools Online; Philosophy di Alison; Jodom Legal Video

Assombração, demônio ou Ciência? A Paralisia do Sono: quando seus pesadelos se tornam “realidade”.

Você está dormindo em sua cama… de repente, acorda, mas, para sua surpresa, não consegue se mexer… “o que está acontecendo?” você pensa, enquanto olha para seu corpo, imóvel na escuridão do seu quarto.

Enquanto isso acontece, você nota algo diferente. Então percebe: não está sozinho.

Pior, uma presença com forma humana esmaga seu peito. E ela é má.

Você acordou no mundo dos sonhos, e não há nada que possa fazer a respeito.

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The Nightmare, por John Henri Fuseli

A cena acima é assustadora e adaptei de um excelente artigo que acabei de ler na revista Wired. Não foi retirada de algum script de filme de terror, trata-se da descrição padrão de uma condição médica real: a Paralisia do Sono.

Vocês devem estar se perguntando porque eu, um biólogo molecular, resolvi escrever sobre um tema completamente fora de qualquer coisa que eu já tenha estudado, certo?

Simples, essa cena exata aconteceu comigo alguns anos atrás e esse fenômeno estranho acontece com uma porcentagem estimada de 50% da população pelo menos uma vez na vida. No meu caso acabei acordando uma das pessoas que dividia a casa comigo com meus gritos, depois que a paralisia passou (história real).

Não sabia o que tinha acontecido e não consegui dormir em seguida. Por MUITO tempo aquilo ficou na minha cabeça (o fato aconteceu na metade de 2004), mas resolvi deixar para lá até dar de cara com o artigo que mencionei e arrepiar ao ler a descrição que adaptei no começo desse post.

O que é?
A Paralisia do Sono é caracterizada por uma paralisia temporária do corpo imediatamente após o despertar ou, com menos freqüência, imediatamente antes de adormecer. Também é conhecida como Atonia REM por estar diretamente relacionada à paralisia que ocorre como uma parte natural do nosso sono REM, a fase do sono em que ocorrem nossos sonhos mais vívidos. Durante esta fase os olhos movem-se rapidamente (em Inglês, rapid eye movement) e a atividade cerebral é similar àquela que se passa nas horas em que se está acordado.

Como é sabido, nosso cérebro paralisa os músculos durante essa fase do sono para prevenir possíveis lesões pelo fato de algumas partes do corpo poderem se mover durante o sonho (principalmente ao sonharmos que estamos caindo ou quando damos uma porrada na parede). Quando acordamos subitamente o cérebro pode “não perceber” e o estado de paralisia não é desativado.

O resultado vocês já devem prever: a pessoa fica consciente mas incapaz de se mover. Para piorar o cenário de desespero esse estado pode ser acompanhado pelas chamadas alucinações hipnagógicas, que envolvem imagens e sons, características dessa condição.

Alguns cientistas acreditam que este fenômeno está por trás de muitos relatos de abduções alienígenas e encontros com fantasmas (tenho certeza que vai ter muita gente reclamando nos comentários).

Os sintomas (adaptado da Wikipedia)
Paralisia: ocorre pouco antes da pessoa adormecer ou imediatamente após despertar. A pessoa não consegue mover nenhuma parte do corpo, nem falar (no meu caso eu gritava, gritava e não saía som algum da minha boca), e tem apenas um controle mínimo sobre os olhos e a respiração.

Alucinações: Imagens e sons que aparecem durante a paralisia. A pessoa pode pensar que existe uma presença atrás dela ou ouvir sons estranhos. As alucinações parecem-se muito com sonhos, possivelmente fazendo a pessoa pensar que ainda está sonhando. Algumas pessoas relatam também sentirem um peso no peito, como se alguém ou algum objeto pesado estivesse pressionando-o.

Estes sintomas podem durar de alguns poucos segundos até vários minutos (comigo foram uns 2 minutos, mas pareceu uma eternidade) e podem ser considerados assustadores para algumas pessoas (não tenham dúvida disso, eu fiquei aterrorizado de verdade).

Pouco se sabe sobre a fisiologia da paralisia do sono. Já foi sugerido que ela esteja relacionada à inibição pós-sináptica de neurônios motores na ponte do tronco cerebral. Particularmente, níveis baixos de melatonina podem interromper a despolarização em atividade nos nervos, a qual previne o estímulo dos músculos.

Alguns estudos sugerem que existem vários fatores que aumentam a probabilidade da ocorrência de paralisia do sono e de alucinação. Eles incluem:

  • Dormir de barriga para cima;
  • Agenda de sono irregular; cochilos; privação de sono;
  • Stress elevado;
  • Mudanças súbitas no ambiente ou na vida de alguém;
  • Um sonho lúcido que imediatamente precede o episódio; a indução consciente da paralisia do sono também é uma técnica comum para entrar em um estado de sonho lúcido;
  • Sono induzido através de medicamentos, como anti-histamínicos
  • Uso recente de drogas alucinógenas (essa era fácil de imaginar que estaria na lista)

PS: se eu respondesse essa lista na época, só não me encaixaria nos dois últimos itens. E eu ainda ficava imaginando os motivos de eu ter passado por essa péssima experiência…

Referências Culturais

pisadeira.jpgExistem diversas manifestações culturais em muitos países diferentes que tratam do fenômeno da paralisia do sono, havendo até uma representação em nosso folclore, uma criatura chamada Pisadeira.
Na cultura Hmong, é descrita uma experiência chamada dab tsogou ou “demônio apertador”. Frequentemente, a vítima afirma enxergar uma figura pequena, não maior que uma criança, sentando em sua cabeça ou peito.
No Vietnã, chama-se ma de, que significa “segurado por um fantasma”, sendo que muitas pessoas acreditam que fantasmas entram no corpo das pessoas, causando a paralisia.
Na China, são as guǐ yā shēn ou guǐ yā chuáng (por favor, não me perguntem como pronuncia), o que pode ser traduzido literalmente como “corpo pressionado por um fantasma” ou “cama pressionada por um fantasma”.
Na cultura japonesa, a paralisia do sono é conhecida como kanashibari, que significa literalmente “atado ao metal”.
Na cultura popular húngara é chamada lidércnyomás (“lidérc pressionante”) e pode ser atribuída a um número de entidades sobrenaturais como aparições, bruxas ou fadas.

Quem tiver maior interesse nesse fenômeno, sugiro a leitura de um excelente artigo de revisão que saiu no periódico The Psychologist agora em Agosto.

Alguns de vocês podem estar se perguntando algo como “O que fazer se acontecer comigo?”, visto que quem escreve esse artigo já passou pela situação descrita, e talvez possa falar algo para ajudar.

Minha resposta? Tentem ficar calmos, e torçam para acabar logo. De verdade.


Alguém mais passou por essa experiência? Compartilhe nos comentários!

RNAm Expresso vol.4 – Os links pertinentes

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IMAGEM DO DIA: Corante deixa rato azul e com melhor recuperação – Corante azul comum melhorou a recuperação de lesões na coluna dos ratos. Além de os deixarem com este bronzeado super alienígena! – Wired

Os sites preferidos pelos professores de biologia Portal Aprendiz 

Os cadernos de lab de Linus Pauling On Line – um dos maiores e mais importantes cientistas de nosso tempo, Linus Pauling teve seus cadernos escaneados e podem ser vistos por qualquer um. Melhor que isto só seria conversar com ele em pessoa – Via @alexismadrigal

Chineses confiam mais em prostitutas que em políticos ou cientístas – Perigoso isto. Se bem que com os cientístas de lá eu tenho certo pé atrás também. Muita pressão do governo e pouca abertura externa podem ser perigosas para a ciência em qualquer país. – BBC News, via @Cardoso

PROGRAME-SE: O Neurocientísta Miguel Nicolelis no programa Provocações, da TV Cultura, sexta 22h10.

VÍDEO DO DIA: E quem disse que pinguim não voa? Veja os pinguins-robôs voadores da empresa alemã Festo. Graciosidade baseada na natureza. – Via @alexismadrigal

Termodinamicorreto

Nem tudo dá certo;
Nem toda a ciência é boa;
Nem todo dado é inédito;
Nem toda pesquisa conta.
Publicar não torna artigo relevante
Nem jaleco torna burro inteligente.
Chega de conversinha. A isto há relatórios.
Chega de propagandas. A isto deixo a tese.
Chega de implorar migalhas. Deixo isto para os projetos
O real é o de punho próprio,
O que se anota e o que se escreve
Meu caderno de laboratório,
Que é risco e que é rasura,
Nada nele se apaga.
Bom seria se o fizesse.
Na verdade não. Melhor assim mesmo sem volta.
Termodinamicorreto, sempre rumo à entropia.
Termodinamicorreto, sem retorno ao pré-estado.
Sempre suando e dissipando
Todo tipo de energia.
Ah, e isto lembra mais falsidade:
Pôr ordem neste trabalho é sempre uma tendência
Quando na verdade o que havia era o caos,
Quase nunca uma providência.
Mas afinal, quem precisa estudar esta micro-história,
Pormenores de uma proveta?
Buscamos saber de heróis,
Vilões, amores, intriga.
Mas a micro-história de um protocolo não tem porque.
Ainda mais se é descoberta desvalida.
Aliás, existe descoberta sem valor?
Seria o mesmo caso da árvore caída,
Que cai sem ninguém ouvir?
Cai infinito distante.
Mas, se não lhe ouvem o barulho,
Pode mesmo o som existir?
Com esta falsa impressão, como ir adiante?
Nem tudo tem valor,
Nem tudo se justifica,
Só o que brilha é diamante.
Mas é a embromação que se multiplica
Me dê um artigo bom. Que mude esta ventura.
Que, elegante, mostre a coisa definitiva.
Ao lê-lo, que seja brilhante, como boa literatura.

Um argumento a menos para os “defensores dos animais”: Brasil regulamenta o uso de cobaias.

Demorou 13 (sim, TREZE) anos para sair (ou entrar, depende do referencial) do papel, mas o Ministério de Ciência e Tecnologia finalmente regulamentou a Lei Arouca, que trata do uso de animais para Ensino e Pesquisa no Brasil.

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Os verdadeiros Heróis da Ciência


Quem tiver interesse em conhecer tudo à respeito dessa nova Lei, pode acessar o Portal do Ministério da Ciência e Tecnologia, que contém toda a informação necessária.
Agora os defensores de animais precisarão rever parte de seu discurso, já que a idéia de “uso indiscriminado e assassino”, em teoria, não se aplicará mais. Como o Lula adora dizer, “nunca antes na história desse país” houve qualquer tipo de controle oficial sobre a utilização de animais, mas agora isso faz parte do passado.
Formação do Concea
A lei nº 11.794 de 8 de outubro de 2008 havia sido sancionada em Outubro de 2008, e foi publicada no Diário Oficial da União do último dia 15 de julho (Decreto nº 6.899). Também ficou estabelecida a criação do Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), que será presidido pelo ministro da Ciência e Tecnologia.
O Concea será formado por 14 integrantes, e incluindo dois membros de sociedades protetoras de animais legalmente criadas no país. No conselho também estarão representados órgãos públicos e associações científicas, como a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a ABC (Academia Brasileira de Ciências).
Todas as instituições que criam ou utilizam animais para fins científicos ou didáticos também deverão se adequar. Será considerado ilegal quem não criar ou se associar a uma comissão de ética em até 90 dias. Vale lembrar, no entanto, que todas as instituições de pesquisa e ensino sérias do Brasil já possuem seus comitês de ética há vários anos, de modo que o controle sempre foi exercido internamente (todos os projetos que envolviam experimentação animal de que eu participei até hoje foram avaliados e aprovados pelo comitê de ética da universidade em que trabalho.
Hoje, no Cobea (Comitê Brasileiro de Experimentação Animal), já existem 150 comissões de ética cadastradas. “A maioria das universidades federais e estaduais, assim como as particulares e as diversas instituições [públicas] de pesquisa e laboratórios particulares já tem sua comissão ou está criando”, afirmou Marcel Frajblat, pesquisador da Universidade do Vale do Itajaí (SC) e presidente do Cobea (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal), em entrevista à Folha de São Paulo.
O Estado chega atrasado mais uma vez
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Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório


Apesar de a Lei Arouca ser de extrema importância, vale ressaltar que já havia uma noção consciente sobre o manejo dos animais usados em experimentação animal, sendo necessário dar destaque à atuação da Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório, a SBCAL, e dos Comitês de Ética em Pesquisa que já haviam sido formados muito antes de qualquer ação governamental, dada a importância desse controle.
* Em breve, teremos aqui no |RNAm| um parecer jurídico sobre o conteúdo da Lei Arouca, fiquem atentos!

RNAm Expresso vol.3 – Os links pertinentes

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Imagem do dia: A vida sempre acha um caminho. No “canteiro/cinzeiro” em frente ao Hospital das Clínicas de São Paulo, cogumelos nascem em meio às bitucas. (Foto por Rafael Soares)


  • “Darwin e a Biologia” – excelente artigo especial que saiu na revista O Biólogo, do Conselho Regional de Biologia (1a Região)

  • The bio-comediant – O que há de engraçado na ciência? Muita coisa! – via The Scientist

  • Celular vira microscópio – um kit para celular permite ver parasitas e bactérias. Ajuda onde há pouca infraestrutura. – Agência Fapesp

Desafiando dogmas da Biologia!

ResearchBlogging.org

Vocês estão prestes a ler em primeira mão (no Brasil) uma notícia que acabou de ser divulgada.

Um grupo de pesquisadores canadenses que desenvolve pesquisas em Biologia Vascular encontrou indícios de que uma das concepções mais tradicionais em Biologia Molecular pode não estar de acordo com a realidade, como publicado na edição de Julho do periódico Human Mutation.

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Uma pegadinha comum para estudantes iniciantes em Biologia é perguntar: “uma célula muscular e um neurônio de um mesmo indivíduo são geneticamente iguais?”

Normalmente, metade responde “SIM”, e a outra metade “NÃO”.

Quer saber a resposta correta e ver qual dogma foi desafiado? Clique no link abaixo e leia o restante do post!

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