Melhores vídeos do cometa Lovejoy

Umas das coisas mais incríveis desse fim de ano está sendo a passagem do cometa Lovejoy. Se você ainda não viu, sugiro que assista em tela cheia o vídeo abaixo feito pelo astrofotógrafo Stéphane Guisard, no Chile:

O cometa foi descoberto no final de novembro, pelo o astrônomo amador australiano Terry Lovejoy. Desde o início ficou claro que era um cometa do tipo conhecido como rasantes Kreutz, cuja órbita extremamente excêntrica começa lá nos confins do sistema solar e termina quase em linha reta em direção ao Sol. Sendo assim, a maioria dos astrônomos acreditava que o Lovejoy não sobreviveria ao encontro com o Sol, acabando por ser totalmente fritado pelo astro rei.

Mas não é que o bendito sobreviveu aos milhões de graus Celsius da coroa solar, dando a volta de raspão pelo Sol entre os dias 15 e 16 de dezembro, chegando a uma distância da nossa estrela que é um pouco menos que a distância entre a Terra e a Lua, e seguiu de volta para longe dele?

Retornando triunfante de seu encontro mortal, o Lovejoy se tornou o cometa mais brilhante visto da Terra desde 2007. Já tênue, ele ainda poderá ser visto até os primeiros meses de 2012, por quem estiver no hemisfério sul, logo antes do amanhecer, rente ao horizonte leste, em locais com horizonte limpo e baixa poluição luminosa. Ou seja, sem chances de vê-lo aqui na cidade de São Paulo 🙁

Felizmente muitos astrofotógrafos profissionais e amadores postaram suas imagens na internet, incluindo no Brasil.

Uma das fotos e vídeos mais legais foram tirados pelo astronauta Dan Burbank, na Estação Espacial Internacional:

 

Na foto acima, se você reparar bem dá para ver que o Lovejoy tem na verdade duas caudas! Todos os cometas são assim na verdade, como explica o astrônomo e blogueiro Phil Plait do Bad Astronomy :

Cometas são compostos de rocha e gelo – o gelo sendo o que normalmente conhecemos como líquido ou gás, como amônia, dióxido de carbono e até a boa e velha água. O calor do Sol transforma esse gelo diretamente em gás (em um processo chamado sublimação), o qual se expande ao redor do núcleo sólido do cometa, formando o que se chama de coma. A pressão da luz do Sol bem como o vento solar assopram esse material para fora da cabeça do cometa, resultando e uma adorável cauda, que pode se estender por milhões de quilômetros.
Mas em muitos casos, os cometas tem duas caudas: uma feita de poeira, e outra feita de gás. A cauda de poeira é feita de pequenos grãos de rocha do cometa que se soltaram junto com o gelo que sublimou. Esse material segue praticamente a mesma órbita que a do próprio cometa, de modo que visto daqui da Terra tende a parecer curvado.
O gás, entretanto, tem seus elétrons arrancados pela luz ultravioleta do Sol, de modo que dizemos que ele está ionizado, o que é chamado de plasma. Esse material é fortemente afetado pelo campo magnético do Sol e pelo vento solar, que é soprado para fora do Sol mais rápido que a velocidade com que o próprio cometa está se movendo. Por causa disso, a cauda de íons tende a permanecer bem reta, a aponta diretamente para fora do Sol.

Uma série de vídeos espetaculares foi criada por Jason Davis, do blog Astrosaur, que compilou os dados de seis sondas espaciais dedicadas a observar o Sol, mas que acabam também registrando a passagem de cometas como o Lovejoy. Davis também escreveu uma linha do tempo descrevendo dia a dia a jornada do cometa.

No vídeo abaixo feito a partir de imagens capturadas por uma das duas sondas STEREO, da Nasa, dá para ver na segunda compilação as duas caudas do cometa. Repare também nas labaredas da coroa solar. As linhas de luz e os pontos brilhantes são planetas – Mercúrio, na primeira compilação, Mercúrio e Júpiter na segunda.

Neste vídeo com imagens da sonda SOHO, dá para ver o Lovejoy se aproximando do Sol (tapado no centro). Parece que o cometa colide com o Sol, mas o cometa logo reaparece, formando suas duas novas caudas em seguida:

No vídeo abaixo, com imagens das sondas SDO, Hinode e Proba-2, dá para ver a cauda do cometa serpenteando! Acredita-se que esse movimento seja causado pela interação do plasma da cauda com os campos magnéticos da coroa solar.

Por fim, tem esse vídeo incrível com imagens da sonda STEREO, que mostra o cometa quase mergulhando no Sol, com sua cauda sendo arrancada e impelida a frente pelo vento solar, enquanto o seu núcleo consegue dar a volta e escapar:

 

Neutrinos mais rápidos que a luz cada vez mais difíceis de explicar

 

Rastro deixado por múon de alta energia nos detectores do observatório IceCube. Crédito: icecube.wisc.edu

Mais uma vez os neutrinos mais rápidos que a luz esbarraram com a física conhecida. E dessa vez a trombada foi feia, muito pior que das outras vezes. Uma nova análise do polêmico resultado do experimento OPERA, cujo anúncio em setembro deste ano deixou tanto o público quanto a comunidade dos físicos em estado de choque, confrontou as conclusões do experimento com princípios básicos do movimento das partículas elementares, tais como a conservação da energia e do momento, assim como os dados de diversos experimentos espalhados pelo mundo, que detectam os neutrinos criados na colisão dos raios cósmicos com átomos da atmosfera da Terra. A conclusão da análise foi que, mesmo se a teoria da relatividade de Einstein, que proíbe a existência de partículas mais rápidas que a luz, não for totalmente verdadeira, mas apenas uma boa aproximação da realidade, mesmo assim os neutrinos mais rápidos que a luz supostamente detectados pelo OPERA não deveriam existir.

O físico Ramanath Cowsik, da Universidade Washington, em Saint Louis, no Missouri (EUA), junto com seus colegas Shmuel Nussinov e Utpal Sarkar, descobriram que o problema com os neutrinos mais rápidos que a luz começa exatamente quando eles são formados. No polêmico experimento, esses neutrinos nascem na Suíça a partir de um feixe de prótons em um laboratório do CERN. Quando os prótons colidem com um alvo de carbono, parte da sua energia se transforma em partículas chamadas mésons, principalmente os do tipo chamado píons, que viajam por um túnel a vácuo guiadas por um campo magnético, até que em um dado momento essas partículas se transformam em múons (uma espécie de elétron gordo e de vida curta) e neutrinos do múon. Esses neutrinos seguem debaixo da terra por 730 km, atravessando os Alpes, até colidirem com os detectores do OPERA, instalados a 1.400 metros de profundidade, no Laboratório Nacional de Gran Sasso, próximo a Roma, na Itália. A questão toda é o fato desses neutrinos terem chegado em média 60 nanossegundos antes que a luz demoraria para percorrer o mesmo caminho.

Fora a possibilidade de que haja um erro desconhecido nessa medida, um erro tão sutil que mesmo depois de meses de checagem e rechecagem nenhum dos 160 físicos que trabalham no experimento o tenha conseguido identificar, a explicação mais simples proposta até a agora é a de que a teoria da relatividade de Einstein não seja exatamente correta. Assim como hoje sabemos que, embora extremamente úteis, as leis do movimento da teoria da mecânica clássica de Isaac Newton são apenas aproximações válidas em certas circunstâncias, derivadas das leis da teoria da relatividade, a própria teoria da relatividade seria a aproximação de uma teoria desconhecida.

Mesmo sem saber os detalhes dessa teoria desconhecida, os físicos podem calcular as consequências de se considerar a relatividade uma aproximação. O coração da relatividade é uma estrutura matemática chamada de simetria ou invariância de Lorentz. Essa simetria implica que as leis da física são as mesmas para observadores em movimento uniforme e que a velocidade da luz é a mesma para qualquer observador. A ideia é que a teoria desconhecida resultaria em uma pequena quebra nessa simetria. Einstein estaria errado, mas só um pouquinho. A medida do movimento superluminal dos neutrinos do OPERA, por exemplo, sugere que a invariância de Lorentz seja violada em aproximadamente uma parte em cem mil.

O que Cowsik e seus colegas fizeram foi calcular qual seria o efeito de uma violação da invariância de Lorentz na transformação dos píons em múons e neutrinos do múon. O cálculo deles é simples de fato, assumindo apenas coisas bem básicas como a conservação da energia e do momento linear. A conclusão, publicada em 24 de dezembro na revista Physical Review Letters (preprint), é que quanto mais os neutrinos viajam mais rápidos que a luz, mais tempo os píons demoram para se transformarem, e uma fração cada vez menor da energia dos píons é transferida aos neutrinos.

Eles calcularam que, se o tamanho da violação da invariância de Lorentz for mesmo a sugerida pelo resultado do OPERA, o tempo de vida dos píons seria seis vezes maior que o observado, além do que não seriam observados neutrinos superluminais com energias maiores 5 GeVs. Os neutrinos detectados pelo OPERA, porém, tinham energias em torno de 20 GeVs, o que mostra que o resultado experimental não é consistente com premissas da física ainda mais fundamentais que as da teoria da relatividade.

Além disso, o trio de físicos resolveu comparar seus cálculos para os píons com os dados da detecção de múons e neutrinos do múons produzidos a partir de píons originados na colisão de raios cósmicos com átomos da atmosfera. Em particular, compararam seus cálculos com resultados recentes do maior telescópio de neutrinos em atividade, o gigantesco IceCube, localizado no Pólo Sul. E o resultado foi que, se existe mesmo uma violação da invariância de Lorentz, ela não deve ser maior que uma parte em mil bilhões, isto é, pelo menos cem milhões de vezes menor que a violação que resultado do OPERA sugere.

Os cálculos deles também mostraram que a situação só piora se essa violação da invariância de Lorentz depender da energia do neutrino, o que deveria acontecer para compatibilizar a medida do OPERA com outra medida da velocidade dos neutrinos, feita em 1987. Naquele ano, o experimento japonês Kamiokande detectou os neutrinos vindos da explosão de uma estrela na Grande Nuvem de Magalhães, a 168 mil anos-luz daqui, a supernova 1987A, e verificou que os neutrinos não viajam mais rápidos que a luz (se a velocidade dos neutrinos fosse a medida pelo OPERA, as partículas teriam chegado quatro anos antes na Terra). A energia dos neutrinos da 1987A, porém, era mil vezes menor que a dos neutrinos do OPERA, o que abre a possibilidade de que a violação dependa da energia. Mas essa mesma dependência não permitiria que os neutrinos superluminais de alta energia se formassem, de acordo com os cálculos de Cowsik e colegas, o que novamente torna o resultado do OPERA inconsistente com as leis da física.

Essa não é a primeira demonstração de que os neutrinos superluminais não podem ser explicados por uma violação da invariância de Lorentz. Em um trabalho semelhante publicado em outubro na Physical Review Letters (preprint), Andrew Cohen e Sheldon Glashow, ambos da Universidade de Boston, EUA, demonstraram que neutrinos superluminais tenderiam a perder energia ao longo do caminho, emitindo pares de elétrons e pósitrons (a antipartícula do elétron), de maneira semelhante a geração da onda de choque produzida por um avião quando quebra a barreira do som. Pelos cálculos de Cohen e Glashow, o OPERA não deveria detectar neutrinos com energias superiores a 12 GeVs, sendo que de fato alguns dos neutrinos chegavam a ter energias maiores que 40 GeVs. Outro experimento em Gran Sasso, o ICARUS, buscou por sinais da emissão de elétrons e pósitrons e nada encontrou.

Ao que parece, uma violação simples da invariância de Lorentz está descartada para explicar as medidas do OPERA. Como Cowsik e colegas comentam em seu artigo, pode ser que a violação tenha uma dependência da energia com termos matemáticos que precisamente cancelem o efeito que eles descobriram, mas isso soa bastante improvável. Se a medida do OPERA for confirmada, a física talvez passe por uma grande revolução, que no entanto manterá a relatividade de Einstein intacta.

***

P.S.: Pouco antes de publicar esse post encontrei este artigo interessante, em que os autores notam que todos os efeitos descritos acima que tornam o resultado do OPERA absurdo não existiriam se em vez da simetria de Lorentz ser quebrada, ela seja levemente deformada. Esse é um cenário teórico que alguns dos autores desse paper, os físicos Lee Smolin e Giovanni Amelino-Camelia vêm investigando há alguns anos, inclusive buscando por sinais de deformação na simetria de lorentz em observações de raios X, raios gama e raios cósmicos de altíssima energia vindos de explosões cósmicas extremas, até agora sem sucesso.

 

Referências:

Cowsik, R., Nussinov, S., & Sarkar, U. (2011). Superluminal Neutrinos at OPERA Confront Pion Decay Kinematics Physical Review Letters, 107 (25) DOI: 10.1103/PhysRevLett.107.251801

Descongelando o blog

meu episódio de Star Trek favorito

Como os leitores dos ScienceBlogs podem ter notado, o Universo Físico anda tão agitado quanto um condensado de Bose-Einstein a milikelvins do zero absoluto. Uma das minhas resoluções para o ano que vem é descongelá-lo aos poucos. Embora parte desse período hibernativo tenha sido desperdiçada em meio a atribulações prosaicas sobre as quais não vale à pena se alongar, passei outra parte do tempo refletindo sobre como um jornalista científico pode melhor utilizar o seu blog – reflexões que merecem um post a parte e que espero por em prática em 2012.

Talvez haja mais um post até o fim do ano, mas em todo caso, aproveito este para desejar a todos boas festas!

Nobel de Física em 1 minuto

Um disco de gás esconde uma anã branca que suga material da estrela maior

Há essa altura do campeonato todo mundo já sabe que o Prêmio Nobel de Física de 2011 foi concedido a um trio de astrônomos que lideraram nos anos 1980 e 1990 observações precisas de explosões estelares em galáxias distantes chamadas de supernovas tipo Ia. Elas acontecem quando uma estrela pequena mas muito massiva, conhecida como anã branca, engole demais o gás de uma estrela maior próxima a ela.

Como essas explosões brilham sempre do mesmo jeito, a intensidade desse brilho depende exclusivamente da distância. Isto é, quanto mais distante a supernova de nós, mais fraco o seu brilho, o que permitiu aos astrônomos determinar a distância das galáxias com precisão. Comparando essa distância com a velocidade com que essas galáxias estão se afastando de nós, medida pelo avermelhamento da luz delas, eles descobriram algo extraordinário: a expansão acelerada do Universo.

Aqui vai uma explicação dessa descoberta em um minuto, nesta animação da série Minute Physics, feita por Henry Reich. Este episódio tem a participação especial do cosmólogo Sean Carroll, como narrador. Ah, e as legendas toscas em português são minhas…

 

P.S.: Como é bom quebrar o jejum de blogar! Vou retornar aos poucos. Fiquem ligados!

Queijos e combustível de casca de banana melhores com ultrassom

Está online a reportagem que fiz para a revista Unesp Ciência sobre um  trabalho do engenheiro de alimentos Javier Telis Romero, da Unesp, em conjunto com pesquisadores do Grupo de Análises e Simulação de Processos Agroalimentares (Aspa), da Universidade Politécnica de Valência (Espanha). Eles conseguem analisar o interior queijos de diversos tipos, sem precisar abrí-los, medindo a velocidade de ondas de ultrassom – um feito que já rendeu um prêmio IgNobel aos espanhóis. Para saber mais, leia minha história aqui: LINK

Controlar a qualidade dos alimentos produzidos em série em uma fábrica, sem precisar nem tocá-los, é o sonho de qualquer engenheiro de alimentos. Pouco a pouco, pesquisadores vêm descobrindo meios de fazer isso, não só por ultrassom, mas por radiação eletromagnéticas como o infravermelho. São os chamados “testes não destrutivos“, em oposição aos testes “oficiais”, previstos por lei, que envolvem a demorada análise química de uma amostra da produção, que é obviamente perdida após o processo.

Os usos do ultrassom na indústria alimentar e na química em geral não param por ai, entretanto. Ao passar por uma amostra de um material qualquer, uma onda de ultrassom de baixa intensidade é modificada pelas propriedades do material. Mas aumentando a intensidade dessas ondas, o inverso começa acontecer: as propriedades do material começam a ser modificadas por elas. Isso acontece quando a passagem do ultrassom cria microbolhas de ar que implodem rapidamente. A energia liberada nessas implosões pode iniciar e acelerar processos físicos e reações químicas. “O ultrassom pode produzir temperaturas tão altas quanto as da superfície do Sol e pressões tão grandes quanto as do fundo do oceano”, escreve o químico Kenneth Suslick, da Universidade de Illinois, em um artigo em seu site sobre a sonoquímica. “Em alguns casos, pode também aumentar a reatividades químicas em quase um milhão de vezes.”

Essa energia às vezes é liberada na forma de luz, um fenômeno conhecido como sonoluminescência.

O pesquisadores do Aspa já demonstraram como o ultrassom de alta potência alecera a secagem de frutos e a  salga de carnes. Durante a reportagem, conversei por email com a engenheira de alimentos Regina Isabel Nogueira, que passou um tempo no Aspa dominando essas técnicas. Ela espera montar em breve um laboratório de ultrassom de alta potência para conversar alimentos no Centro Nacional de Pesquisa de Tecnologia Agroindustrial de Alimentos, da Embrapa, no Rio de Janeiro, conforme menciona neste artigo.

Enquanto isso, Javier Telis Romero está para começar o seu primeiro projeto de pesquisa próprio com ultrassom. O pesquisador, entretanto, resolveu deixar um pouco de lado a indústria alimentícia e se concentrar no aproveitamento dos resíduos dela. Apoiado pelo CNPq, ele pretende estudar a fabricação de biocombustível a partir do pedúnculo e da casca de banana, uma das principais fontes de biomassa do país, junto com a laranja e a cana-de-açúcar. A ideia do projeto é usar a energia transmitida pelas ondas ultrassônicas para acelerar as reações químicas que transformam a celulose dos restos de banana em etanol.

Imagem acima: Um autêntico queijo de Mahón-Menorca, pronto para análise com ultrassom em laboratório do Aspa.



 

Micróbios fazem chover granizo, mais água na Lua e o espelho que cria luz do vácuo – destaques da semana

Micróbios fazem chover granizo
Pesquisadores encontraram bactérias bem no centro de pedras de granizo, sugerindo que esses micróbios foram semente a partir da qual as pedras de gelo cresceram e caíram. É mais uma evidência de que microorganismos seriam tão importantes para a precipitação de granizo, neve ou chuva, quanto as partículas a poeira e a fumaça que os cientistas atmosféricos tradicionalmente levam em conta em seus modelos do clima. A Sociedade Americana de Microbiologia dedicou uma sessão inteira ao tema em seu encontro anual, onde o estudo das pedras de granizo foi apresentado. A repórter Veronique Greenwood lembra no site 80beats que a ideia não é nova. Outro estudo realizado em 2008, por exemplo, analisou a população de bactérias de 19 quedas de neve em todo o mundo, descobrindo que os micróbios faziam com que os cristais de gelo crescessem em uma temperatura muito maior. Uma das espécies de bactéria induzia os cristais de gelo a crescer a -2∘C, em vez dos esperados -40 ∘C. Aliás, bactérias já são ingredientes de misturas usadas por resorts de ski em máquinas de fazer neve. Fazer neve ou chuva seria evolutivamente favorável às espécies, pois assim se dispersariam para novas regiões. (Fontes: 80beats, Physics Today News Picks. )


Mais água na Lua (será mesmo?)
Sondas espaciais confirmaram faz menos de 2 anos que há água em forma de gelo na superfície da Lua. Acredita-se que essa água chegou lá pelo impacto de asteroides e cometas. Mas um novo estudo sugere que ela pode ter vindo também do interior da Lua. Geoquímicos analisaram fragmentos microscópicos de lava endurecida encontrados no interior de cristais de olivina em meio a uma amostra de solo lunar trazida pela missão Apollo 17. Os cristais impediram que a água evaporasse durante o resfriamento da lava, permitindo assim saber qual era o conteúdo aquoso original dela. Surpresa: a concentração de água é de 20 a 100 vezes maior que a encontrada em outros estudos de rochas lunares, uma quantidade comparável a da lava da Terra. A descoberta contraria a teoria mais aceita para a formação da Lua, segundo a qual ela teria se formado há uns 4 bilhões de anos, a partir dos destroços da colisão da Terra com outro planeta de tamanho parecido ao de Marte. Os destroços teriam perdido seu conteúdo de água antes de se fundir para formar a Lua. A descoberta também contraria outro estudo, que por um método distinto concluiu que o interior da Lua é seco. (Fontes: NYT, BBC e Nasa; Imagem: foto microscópica de vidro vulcânico incluso em olivina da Lua, Crédito: Nasa)

Espelho cria partículas de luz do vácuo 
Imaginem um espelho se movendo quase à velocidade da luz. Os físicos prevêem que esse espelho geraria partículas de luz, ou fótons, um fenômeno conhecido como efeito Casimir dinâmico. Isso porque o vácuo não é de fato vazio, mas sim cheio de “campos quânticos”, cujos valores flutuam constantemente. Essas flutuações podem ser interpretadas em certos casos como o nascimento de pares de partículas elementares que desaparecem tão rapidamente quanto surgiram – são as chamadas partículas virtuais. Um espelho quase na velocidade da luz dá uma raquetada em alguns dos fótons virtuais, fornecendo a energia que eles precisam para se tornarem reais. É quase impossível acelerar um espelho normal para observar o efeito Casimir dinâmico. Um grupo de físicos, entretanto, conseguiu observar pela primeira vez o fenômeno, construindo uma aparelhagem que cria na prática a mesma perturbação no vácuo que um espelho viajando a 5% da velocidade da luz criaria. (Fontes: The ArXiV Blog, Ars Physica)


Censo dos filamentos da teia cósmica
Quando li a manchete no site da revista Cosmos “Estudante encontra massa faltante do universo”, logo pensei na minha ingenuidade, “descobriram uma quantidade de matéria normal que dispensa a  existência de matéria escura?” Não, não foi dessa vez. Como explica Ethan Siegel em seu blog, a porcentagem de matéria normal e a de matéria escura são determinadas por diversas observações independentes (flutuações da radiação cósmica de fundo, abundâncias esperadas dos elementos químicos mais leves, etc.) que, se estiverem erradas, levam todo o modelo do Big Bang por água abaixo. A “massa faltante” que a manchete se refere é parte da matéria normal do Universo que, de acordo com o modelo cosmológico, estaria em sua maior parte (90%) contida nos filamentos de gás e poeira entre os aglomerados de galáxias (como pode ser visto na imagem acima, um mapa do universo local também divulgado esta semana, cuja versão em 3D pode ser vista nos vídeos neste site). Ninguém até agora, porém, havia verificado a previsão. Um grupo de astrônomos australianos, incluindo a aluna de graduação Amelia Fraser-McKelvie, fez justamente isso mapeando as emissões de raios-X de 41 desses filamentos para estimar sua densidade e temperatura. (Fontes: Cosmos, Starts with a Bang; Crédito da imagem: T.H. Jarrett (IPAC/SSC))

E MAIS NOTÍCIAS:

*Cristais de olivina espiralando ao redor de uma estrela jovem (Nasa)

*Cachorros têm mais em comum com gatos do que gostariam, inclusive a maneira como usam a língua para beber, revelaram vídeos em raios-X (New Scientist)

*A melhor medida da “forma” do elétron até agora sugere que ele é perfeitamente esférico (como assim?
o elétron não é pontual? Mais sobre isso em um próximo post…) (Nature News, Uncertain Principles)

*Colisões de ions de chumbo no LHC criaram plasma de quark-gluons duas vezes mais quente que o produzido no RHIC (National Geographic News)

*Como calcular a idade de uma estrela por seu giro (mais sobre isso em um próximo post!) (Physics World)

E IMAGENS E VÍDEOS:

*Mais uma vez, o telescópio espacial Swift quebra recorde de erupção de raios gama mais antigo já vista. O universo tinha “apenas” 520 milhões de anos quando essa luz foi emitida:

*Campos elétricos e magnéticos criam estranhos padrões em um gás ionizado (plasma ) como este que aprece uma flor (via Physical Review Focus):

*A Sonata das Supernovas Ia (via Observations da SciAm):

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*Fotografias de impactos de  Alan Sailer (via Boing Boing):

*Imagens de Titã e Encedalus, luas de Saturno, tiradas pela sonda Cassini (via Universe Today):

*”Parque fotovoltaico” inaugurado na França, em Le Mées, fornecerá energia elétrica para 8 mil famílias (Fonte: The Guardian, via @carloshotta ):

*A Orquestra Tesla (via Physics World blog):

*Uma bela imagem de parte da Nebulosa da Tarantula, uma região formadora de estrelas na Grande Nuvem de Magalhães, obtida pelo telescópio ESO:

MAIS LEITURAS INTERESSANTES:
*Universos paralelos: a interpretação dos muitos mundos da mecânica quântica e o multiverso da inflação cosmológica são a mesma coisa? (The ArXiV Blog, Cosmic Variance)
*Sonda Voyager 1  a um passo das estrelas (CH Online)
*A física e a imortalidade da alma (SciAm )
*Jornada ao Centro da Terra (SciAm)
*Cáusticas nos olhos (Gurney Journey)
*Kurt Vonnegut transforma Cinderela em uma equação (Krulwich Wonders)
*As paixões de Marie Curie: uma delas foi a radioatividade; as outras são contadas em um livro peculiarmente ilustrado de Lauren Redniss (via BrainPickings)
*Aaarrr! A física da vela, para piratas (io9)

Ketchup venenosos e planetas solitários, em uma galáxia muito, muito simétrica – destaques da semana

Veneno de cobra flui feito ketchup
Sempre imaginei que as presas de cobra injetassem veneno na gente do mesmo jeito que uma agulha de seringa médica injeta uma vacina. Isso é verdade para algumas espécies. A maioria das cobras venenosas, porém, não injetam seu veneno. Em vez disso, o veneno escorre por um sulco em suas presas (foto acima). Em
um novo estudo, físicos desvendaram a dinâmica desse processo. Eles descobriram que, assim como a ketchup, o veneno é um fluido chamado não-newtoniano: sua viscosidade diminui quanto mais rápido se mexe. É por isso que temos de chacoalhar ou espremer a embalagem de ketchup para o condimento sair, e é também por isso que o veneno da cobra não pinga antes da hora da picada. Quando a cobre morde sua presa, o veneno escorre para o interior da vítima, sempre pelo sulco, devido à diferença de tensão superficial do líquido dentro e fora do sulco. (Fonte: 80 Beats, ISNS; Imagem: Leo van Hemmem e Bruce Young)

Mundos Vagamundos
Vasculhando o espaço entre 50 milhões de estrelas perto do centro de nossa galáxia, um grupo de astrônomos observou dez planetas vagando livres, leves e soltos pelo espaço interestelar. Eles não viram os planetas diretamente, mas os detectaram por uma técnica chamada de micro-lente gravitacional. A massa de uma planeta  funciona como uma lente, distorcendo a luz de uma estrela distante que por acaso passe justamente atrás dele. Das centenas de eventos de microlente observados, dez duraram menos de dois dias, o implica que foram gerados por corpos com uma massa parecida com a de Júpiter. Por uma análise estatística, os astrônomos estimaram que esses planetas solitários podem ser até duas vezes mais comuns que os planetas orbitando estrelas. Seriam 400 bilhões deles só na Via Láctea. Sua existência já havia sido prevista por simulações computacionais do nascimento de sistemas planetários, nos quais a interação gravitacional entre os planetas em formação lançariam alguns deles – tanto rochosos, quanto gigantes gasosos – para fora do sistema. Seria possível a vida em um planeta solitário? Estudos recentes sugerem que sim, graças ao calor produzido pelo decaimento de isótopos radioativos e mantido por atmosferas espessas de gás hidrogênio. Imaginem só, se um desses planetas visitasse o nosso sistema solar. O que aconteceria??? (Fontes: Nasa, Chi Vó Non Pó, Nature, Physics World Imagem: concepção artística, NASA/JPL-Caltech)



Simetria Galáctica

Uma pena não podermos ver de longe nossa própria galáxia, a Via Láctea, como vemos as outras. Seria uma bela imagem, perfeitamente simétrica, sugere um achado recente. Ao analisarem dados sobre as emissões de rádio de hidrogênio e de monóxido de carbono de nuvens de gás da Via Láctea, astrônomos descobriram que um dos maiores braços de sua forma espiral, o braço Scutum-Centaurus, se estende por muito mais do que se imaginava. Isso significa que ele é tão grande quanto o braço do outro lado da galáxia, o braço de Perseus. Assim, metade da galáxia seria uma imagem espelhada da outra metade, com ambos os braços se estendendo a partir de extremos opostos do aglomerado de estrelas em forma de barra no centro galáctico. Por que só agora os astrônomos notaram uma estrutura gigantesca dessas com mais de 18 kiloparsecs de comprimento? A maioria dos estudos observa o plano da galáxia, enquanto essa extensão do braço Scutum-Centaurus se curva para fora, feito a borda de uma tampinha de garrafa. Os pesquisadores ainda precisarão de anos para mapear as nuvens de gás para ter certeza absoluta de que a estrutura é mesmo uma extensão gigante de um dos braços galácticos. A forma exata da espiral de nossa galáxia é uma questão polêmica entre os astrônomos, que discordam quanto ao número de braços , seus formatos e tamanhos.  (Fontes: Science News e The ArXiV Blog; Imagem: T. Dame, Robert Hurt)

Extinção em massa recalculada
Algumas estimativas prevêem a extinção de 18 a 35% de todas as espécies de seres vivos até 2050. Mas esse processo de extinção em massa pode ser na verdade cerca de 2 a 2,5 vezes mais lento, de acordo com um novo estudo de como as espécies desaparecem pela perda de seu hábitat – a principal causa da extinção. Isso significa que talvez possamos salvar mais espécies do que imaginávamos. Mesmo assim, não dá para sentir muito alívio, já que as taxas de extinção atuais continuariam de 100 a 1000 vezes maiores que as naturais. É impossível medir diretamente a perda de espécies, primeiro porque não conhecemos todas elas, segundo porque é muito difícil registrar a extinção da maioria que conhecemos. Em um dos métodos usados para estimar as taxas de extinção, os ecólogos assumem que o tamanho da área de hábitat que precisa ser destruída para extinguir uma certa espécie é igual a área mínima que precisariam vasculhar para encontrar pelo menos um indivíduo dessa espécie. No novo estudo, entretanto, os pesquisadores notaram que a perda de área necessária para remover o último indivíduo de uma espécie precisa ser muito maior, implicando que o método tradicional sobrestima as taxas de extinção. Eles também compararam seus cálculos usando um novo modelo com a distribuição de espécies de aves e árvores na América do Norte, demonstrando que o novo modelo fornece uma estimativa melhor. (Fontes: New Scientist, Ars Technica; Imagem: Nasa, tirada daqui)

Energia escura confirmada (mais uma vez)
Observações de quase 240 mil galáxias realizadas durante cinco anos pela eq
uipe de astrônomos do WiggleZ Dark Energy Survey confirmou que 70 a 75% da energia do universo não está na forma de matéria normal, radiação ou matéria escura. Essa forma desconhecida de energia descoberta pela observação de supernovas distantes em 1998, a chamada energia escura, age como uma espécie de anti-gravidade, constantemente acelerando a expansão do universo. A equipe do WiggleZ estudou aglomerados de galáxias a uma distância na qual os vemos como eram quando o universo tinha cerca de 7 bilhões de anos, mais ou menos a metade de sua idade atual. É nessa época que a anti-gravidade da energia escura começaria a superar a atração gravitacional entre as galáxias. Os cientistas confirmaram a ação da energia escura por dois métodos diferentes. Em um deles, observaram como as galáxias estão distribuídas no espaço. Medindo a distância entre elas e comparando com o valor esperado se essas distâncias fossem determinadas apenas pelas variações de densidade no início do universo, impressas na radiação cósmica de fundo, eles  determinaram a contribuição da energia escura para o afastamento das galáxias. No outro método, verificaram o quão rápido os aglomerados de galáxias crescem ao longo do tempo, à medida que mais e mais galáxias se atraem mutuamente pela gravidade, ao mesmo tempo que são repelidas pela energia escura. Ambas técnicas confirmam que a aceleração do universo devida a energia escura permanece constante ao longo do tempo. Não é a primeira vez que a energia escura é confirmada, e pelo jeito não será  a última. (Fontes: Nasa, BBC e Starts With a Bang; Imagem: Nasa/JPL-Caltech)

MAIS NOTÍCIAS:
*O “Dogma Central” da biologia parece que não é tão dogmático assim. Trechos idênticos de DNA, trancritos em cadeias de RNA editadas por alguma coisa que ninguém sabe, podem produzir proteinas bem diferentes.

*Em Saturno, uma tempestade do tamanho da Terra.

*Na Terra, relâmpagos gigantes disparados para cima.

*O planeta Gliese 581d, vizinho do famoso 581g (que talvez não exista), também pode ter água líquida, sugerem simulações.

*Os elétrons captados pelo observatório espacial de raios cósmicos PAMELA continuam apresentando sinais inconclusivos, mas tantalizantes, de matéria escura…

*Sentimos aqui em cima na crosta terrestre os efeitos da dinâmica do manto e do núcleo do planeta. Mas parece que o contrário também é verdadeiro! Parte do núcleo da Terra derrete embaixo de regiões sem muita atividade tectônica, como o Brasil, sugere estudo que saiu na Nature.  

VÍDEOS E IMAGENS SENSACIONAIS:

*Imagens de alta resolução dos jatos emitidos (muito provavelmente) por um buraco negro supermassivo no centro de uma galáxia:
 

*Para quem acha que pêndulos são chatos (mais informações aqui):

*Fotos da trilha de fumaça do ônibus espacial Endavour vista de balão lançado por estudantes (via G1):

*Um laço de tartan escocês foi o objeto da primeira foto colorida da História, tirada dia 17 de maio de 1861, pelo fotógrafo Thomas Sutton e por ninguém mais nem menos que o físico James Clark Maxwell  (via thedailywhat, betapixel e BBC):

E MAIS LEITURAS INTERESSANTES…

*Robert Krulwich não consegue parar de pensar na boca irreverente dos Platybelodons.

*Margareth da Silva Copertino alerta para as emissões do “carbono azul”, vindos da destruição de manguezais, restingas e outras vegetações da costa brasleira.

*Ray Villard reporta sobre físicos especulando sobre como uma civilização alienígena avançada seria capaz de criar pequenos buracos negros e usá-los para propelir espaçonaves (é sério)

*Daniel Ferrari conta como as formigas o ensinaram a fazer programas de computador. 

* Philip Ball explica como a complexidade de seres multicelulares como nós pode ser uma desvantagem e nos trazer sérios problemas a longo prazo.

* Phil McAndrew revela “segredos super óbvios” para os aspirantes a cartunistas, que servem para escritores e outros artistas em geral.

Mais sobre fragmentação e Mata Atlântica

Só agregando mais informações interessantes à matéria que escrevi para a revista Pesquisa Fapesp sobre a diversidade de animais em habitats fragmentados.
O modelo que Renata Pardini e seus colegas da USP criaram para explicar a diversidade de pequenos mamíferos nas paisagen fragmentada de Mata Atlântica tem sérias implicações para o Pacto Pela Restauração da Mata Atlântica, um grande esforço do governo e ONGs que pretende dobrar a cobertura da Mata Atlântica até 2050. Para saber mais sobre o Pacto e a situação atual das florestas brasileiras, recomendo vocês lerem a reportagem de Isis Diniz na edição de maio da Scientific American Brasil. 
Um dos ingredientes-chave do modelo é levar em consideração a capacidade de locomoção dos animais, que nem sempre é a que imaginamos. A maioria das pessoas acha que as aves, por serem capazes de voar, não tem limites para se locomover. Mas nem sempre é o caso. Às vezes uma simples estrada é um obstáculo intransponível, como um grupo de pesquisadores da Unesp verificou, reporta Luiz Cristino na edição de maio da Unesp Ciência.

Como prever (e evitar) o colapso de ecossistemas?

A revista Pesquisa Fapesp deste mês traz uma reportagem minha sobre biólogos que querem entender porque alguns trechos do que restou da Mata Atlântica preservam uma grande diversidade de animais e outros não. Em um artigo científico publicado ano passado na PLoS ONE, os pesquisadores Renata Pardini, Adriana Bueno, Toby Gardner, Paulo Prado e Jean Paul Metzger, explicaram porque isso acontece com um modelo que comprovaram analisando os dados de um levantamento das populações de pequenos mamíferos (roedores e marsupiais) no planalto paulista.  “Um trabalho insano”, foi como Pardini descreveu para mim o esforço de coleta dos pequenos mamíferos que realizou com Adriana. Em cada um dos 68 pontos de coleta, seja dentro de fragmentos ou da mata contínua, as zoólogas passavam 32 dias registrando os animais que caiam nas armadilhas, uma série de 11 baldes de 60 litros enterrados no chão da floresta, distantes 10 metros um dos outros. Identificar as espécies também foi um desafio, pois havia relativamente pouca informação sobre os animais, por serem pequenos, noturnos e furtivos. Trabalhando junto com taxonomistas, chegaram a encontrar uma espécie de um gênero novo, o roedor Drymoreomys albimaculatus.

O modelo, porém, não vale só para a Mata Atlântica, nem só para pequenos mamíferos, mas em princípio para qualquer espécie animal vivendo em um habitat fragmentado:

Segundo o modelo, o colapso das populações seria causado pela combinação de processos que ocorrem em duas escalas: local e regional. Os processos com efeito regional estão ligados à dificuldade de migrar de um fragmento de floresta para outro. Condicionada à área total de matas remanescentes na região, essa dificuldade aumenta com o avanço do desmatamento, pois crescem exponencialmente as distâncias separando os trechos de florestas – e muitas espécies, até pássaros como o trepador-coleira (Anabazenops fuscus), não se deslocam de um fragmento a outro quando há pastagens ou estradas no caminho. Presos a áreas restritas, essas espécies se tornam mais suscetíveis a processos que influenciam as extinções em escala local, como a redução na área dos fragmentos, que diminui o tamanho das populações.

O mais importante é que esse modelo pode orientar decisões sobre o melhor modo de aplicar recursos para conservar e recuperar a mata atlântica. Segundo os pesquisadores, ele prevê, por exemplo, que os eventos que precedem a extinção dariam pistas de sua chegada com antecedência. A maneira como as espécies se distribuem nos fragmentos de uma região sinaliza quando a biodiversidade está no limite de cair abruptamente, mas ainda tem boa chance de ser recuperada. “Nessas condições, pequenos investimentos de restauração que facilitem o fluxo de animais entre os fragmentos produziriam um retorno grande”, diz Metzger. “Se quisermos aumentar a cobertura florestal da mata atlântica com ganhos rápidos de diversidade biológica, é nessa faixa [regiões com 20% a 40% de remanescentes] que temos de atacar.”LINK

Essa é mais uma pesquisa que vai na tendência atual de buscar sinais nos ecossistemas que indiquem que esses estejam perto do colapso, influenciadas pelas ideias de ecólogos como Marten Scheffer (veja uma palestra dele aqui). Mês passado um experimento em um lago nos EUA conseguiu observar justamente isso. Os trabalhos nessa área parecem bem adiantados em ecossistemas aquáticos e estão apenas começando em outros ecossistemas (ecólogos, me corrigam!).
 
Na verdade, me interessei em fazer a reportagem inicialmente porque o modelo dos pesquisadores é inspirado em parte em resultados de simulações de computador do desmatamento, cujos resultados podem ser entendidos por uma teoria que vem da física-matemática, a teoria da percolação, que estuda o grau de conexão entre pontos em uma rede bidimensional. Os resultados das simulações sugerem que, à medida que a cobertura de vegetação nativa diminui, seus fragmentos sofrem transformações abruptas durante o processo, parecidas com as transições de fase que a água passa durante sua fervura ou congelamento. Uma dessas transformações é o distanciamento exponencial dos fragmentos. De início, o desmate afasta lentamente os fragmentos, até que de repente, a distância entre eles começa a aumentar exponencialmente. Essas transformações foram confirmadas também por estudos de paisagens reais, feitos por Metzger e outros pesquisadores. Em um artigo publicado em 2006 na revista Landscape Ecology, por exemplo, Metzger e seu então aluno de mestrado Francisco de Oliveira Filho analisaram por fotos de satélite a evolução do desmatamento de três áreas diferentes na Amazônia ao longo de 14 anos. Embora cada uma das áreas tenha sido desmatada de maneiras diferentes (uma por pequenas propriedades ao longo de um estrada, outra por propriedades distribuídas irregularmente e a última por grandes fazendas), eles observaram nos três casos mudanças bruscas ao longo do tempo nos tamanhos dos fragmentos e nas distâncias entre eles.

crédito da imagem: © 2010 Pardini et al. T, doi:10.1371/journal.pone.0013666.g002

As origens do carbono, o laser que entorta água e uma nova luz sob o câncer – destaques da semana

Os TOP 5 da semana passada:

Os blocos dos blocos da vida
Se a água é o “solvente universal”, o carbono é a “fita crepe” da vida, disse uma vez a jornalista científica Natalie Angier. Agora, mais de 60 anos depois que Fred Hoyle propôs a reação pela qual nasceriam os núcleos atômicos de carbono, pesquisadores conseguiram desenvolver o poder computacional e os truques matemáticos necessários para calcular como prótons e nêutrons grudam uns nos outros durante essa reação. O que se sabe sobre a formação dos elementos químicos é que logo após o Big Bang, o universo era cheio de hidrogênio, hélio e um pouquinho de lítio. Os elementos mais pesados restantes, incluindo o carbono, foram forjados no interior de estrelas massivas e na explosão que marca o fim delas. Em 1954, Hoyle imaginou como três núcleos de hélio-4 poderiam se fundir no interior dessas estrelas formando um núcleo de carbono-12. Primeiro, dois núcleos de hélio se juntariam em um núcleo de berílio-8. Em seguida, o berílio precisaria colidir com outro hélio para formar um núcleo de carbono-12. Esse carbono nasceria com energia em excesso, ou no jargão dos físicos, em um “estado excitado”, que era desconhecido na época, sendo observado em laboratório apenas três anos depois. Os cálculos agora publicados na Physics Review Letters revelam como a dinâmica dos prótons e nêutrons do berílio e do hélio criam esse estado excitado. (Fontes: The Photonist, Physics, Dot Physics, A Física Se Move. Crédito da imagem: Carin Cain)

Laser entorta água
Uma gota d’água normal funciona como uma lente biconvexa, explica muito bem o Prof. Dulcidio. Mas um aparato usando feixes de raios laser de potência tão fraca quanto o de um aparelho de DVD pode ser capaz de transformá-las em qualquer tipo de lente (em bicôncava, por exemplo), afirma o casal de físicos franceses Janine e Olivier Emile, em artigo na Physical Review Letters. Eles incidiram um feixe laser em um recipiente cheio d’água com um espelho no fundo e descobriram que, inclinando o feixe no ângulo certo, a combinação da pressão da luz dos raios incidente, transmitido e refletido era capaz de superar a tensão superficial da água, forçando o líquido a se curvar para dentro, criando um vale na superfície (Até onde entendi, não dá para fazer a experiência em casa, pois a curvatura na superfície é pequena demais, sendo verificável apenas com um aparelho especial). A descoberta foi uma surpresa, pois apesar de experimentos anteriores demonstrarem desde os anos 1970 a capacidade da luz deformar a superfície de líquidos, esses foram realizados com laseres de alta potência, e o resultado era um calombo na superfície, não um vale. O por quê da diferença ainda não está claro. Seja como for, a descoberta abre a possibilidade de usar laseres para criar lentes que mudam de forma, para telescópios ou celulares, por exemplo. (Fonte: Physical Review Focus. Crédito da imagem: telegraph.com.uk)

Uma nova luz sobre o câncer
Sabe aquela luminescência azul das piscinas dos reatores nucleares, a chamada radiação Cherenkov? Ela está começando a ser usada agora  em uma nova técnica para identificar células cancerígenas. Nicole Ackerman e seus colegas da Universidade Stanford, EUA, apresentaram na última reunião da American Physical Society, o seu Imageamento por Luz Cherenkov de tecidos vivos. Na técnica, o paciente ingere glicose contendo o elemento radiativo actínio-225. Como as células cancerígenas consomem mais glicose que as normais, o actínio-225 se concentra dentro delas. O elemento radioativo dispara elétrons que viajam mais rápido que a velocidade da luz na água. Em um processo que lembra o estrondo gerado pelos aviões quando eles quebram a barreira do som, esses elétrons velozes criam uma onda de choque eletromagnética, emitindo luz (a tal radiação Cehrenkov) que pode ser detectada pelos mesmos sensores que os biomédicos já utilizam em outras técnicas de imagem, como a bioluminescência. A técnica já está em fase de testes clínicos nos EUA. (Fonte: Dyscovery News)




Raios cósmicos influenciam o clima da Terra?
Tudo indica que a resposta é não, pelo menos não a ponto de causar mudanças grandes no clima como o aquecimento global. Todos pesquisadores respeitados acreditam nisso, com exceção de Henrik Svensmark. Segundo o físico dinamarquês, a passagem dos raios cósmicos pela atmosfera ionizaria as partículas de poeira e fumaça em torno das quais o vapor d’água se condensa para formar nuvens. Essa ionização aumentaria a formação de nuvens, o que por sua vez afetaria o clima, aumentando ou diminuindo a temperatura global. A quantidade de raios cósmicos galácticos que atingem a Terra depende da atividade do Sol,  já que o campo magnético solar age como escudo protetor desviando parte deles. Assim, Svensmark defende que há uma conexão intensa entre a atividade solar e o clima terrestre, embora não haja evidências disso. Em um artigo recentemente publicado na Geophysical Research Letters, Svensmark e colegas reportam como um feixe de elétrons, simulando os raios cósmicos, aumentou a formação de aglomerados de moléculas d’água em uma câmara de 0,05 m³cheia de gases, simulando a atmosfera terrestre. Mas um dos membros da equipe contou ao Physics World que para provar mesmo a conexão entre os raios cósmicos e a formação de nuvens, terão de repetir a experiência com uma câmara de nuvens maior, o que esperam realizar no experimento CLOUD, do CERN. Ainda assim, mesmo se o CLOUD for bem sucedido, ainda restará responder se o efeito dos raios cósmicos nas nuvens seria desprezível ou não para afetar o clima. (Imagem: Experimento CLOUD)



Computador dito quântico tem algo de quântico afinal

Em 2007, a maioria dos especialistas classificou de golpe de marketing o anúncio da empresa canadense D-Wave, afirmando ter criado o primeiro computador quântico comercial, com um processador de 16 “qubits” – que, ao contrário de uma sequência de bits convencional, poderia assumir todas as possíveis combinações de 0s e 1s simultaneamente, permitindo em tese à máquina resolver problemas impossíveis para um computador normal. Na época, a comunidade científica se queixou porque a empresa não apresentou nenhuma evidência de que sua invenção funcionava quânticamente. Agora, finalmente, cientistas filiados a D-Wave publicaram na Nature um artigo com os resultados de um experimento que mostra que o mecanismo pelo qual seu aparelho funciona envolve um processo quântico chamado de tunelamento. A demonstração, entretanto, ainda é pouco. Uma prova crucial que falta é mostrar se os qubits do mecanismo permanecem “emaranhados” – o estado que permite rodar programas explorando aspectos quânticos dos qubits (Fontes: ScienceNOW, blog da D-Wave, blog do Scott Aaronson. Imagem: processador da D-Wave)

Mais notícias que me chamaram atenção:

*Atmosferas espessas de hidrogênio podem tornar planetas distantes de suas estrela habitáveis.

*Telescópios captaram as erupções de raios gama mais brilhantes que já vieram do centro da Nebulosa do Carangueijo, onde acredita-se há uma estrela de neutrons e turbulentos campos magnéticos. A intensidade e o período de poucos dias dessas erupções desafiam explicações. :

*Vem ai um novo tipo de fone de ouvido que promete eliminar o desconforto causado pelos fones atuais devido às pressões que exercem no sistema auditivo (via iG e io9)

* Fazer um buraco negro em casa é complicado, mas uma analogia matematicamente precisa de um buraco branco é fácil de criar bem na pia da cozinha.

*Astrofísicos ponderam a possibilidade de hidrogênio sólido existir no espaço ser a fonte de um misterioso brilho difuso do meio interestelar.

*Missão de barco robótico para explorar mares de Titã, lua de Saturno, mencionada ao Estadão por brasileiro que trabalha na Nasa, está na lista das finalistas da agência para receber financiamento.

Imagens e vídeos incríveis da semana:
 
*A lua Iapetus, de Saturno, tem uma estranha cadeia montanhosa em seu equador (via ArXiV blog):

* A sonda SOHO flagra cometa caindo no Sol (via Universe Today):

*Para quem lembra das aulas de química do colégio, a equação de Henry para dissolução de gases em líquidos, escrita em forma de gases dissolvidos em líquidos, na revista Wired:

*No mar da Islândia, entre duas placas tectônicas (via Folha):


*A macieira de Newton (via Daily Mail):

*Tudo sobre o Fonotropo:

*As Caverna de Carlsbad iluminada com LEDs, e sem LEDs (via EPOD):

*A natureza por números (via Ciência na Mídia):

*Como funciona o detector de fumaça (via The Best Physics Videos):

*Conan O’Brein pede ajuda a um físico do MIT para quebrar seu recorde de girar uma aliança (via Dot Physics, com boas observações sobre como conduzir um experimento):

*Amebas sociais reproduzem mapa rodoviário da Espanha (via Wired Science):

*E para terminar, um vídeo inspirador mostrando a Via Láctea vista da montanha de El Teide, na Espanha, por Terje Sorgjerd:

E mais uma miscelânia de textos que ainda quero dar uma lida:

*Entrevistas com Stephen Hawking no NYT e no the Guardian, sobre vida, morte, vida após a morte, teorias de tudo,
essas coisas.

*Um discurso inspirador de Robert Krulwich para os novos jornalistas.

*Buracos negros eclipsando raios-X no núcleo de galáxias ativas.

*Planos para observar raios cósmicos ultra-energéticos em satélites.

*Todos sabem como os dinossauros se extinguiram, mas como eles surgiram?

* Celebrando os 100 anos da descoberta da supercondutividade

* A física do voo 447

*O problema da replicação nos experimentos científicos

*Novo livro sobre a emergência das baterias de lítio, cada vez mais importantes

*Entrevista com João Steiner sobre astrofísica de buracos negros

*Quem é mais eficiente: fotossíntese das plantas ou as células fotovoltaicas dos painéis solares?

*O tic-tac da vida: biologia sistêmica

*A planta mais solitária do mundo.

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