Utilidade Pública: Quer ver 5 prêmios Nobel em ação?
Serviço de utilidade pública: o Instituto de Física da USP em São Carlos promove nos dias 28 de fevereiro e primeiro de março um simpósio em homenagem ao pesquisador Daniel Kleppner.
O prof. Kleppner nunca foi agraciado com um Prêmio Nobel, mas formou vários deles e contribuiu de forma significativa para o entendimento da matéria em escala atômica. Seu status é tão grande que nesta semana se reúnem em São Carlos, interior de São Paulo, 5 ganhadores do prêmio Nobel além diversos picas grossas “eternos candidatos”, gente que fez muito pela ciência e sempre tem seus nomes cogitados aos mais prestigiados prêmios. A seleção de nomes é impressionante. O progrma completo você vê aqui: http://cepof.ifsc.usp.br/symposium_kleppner/program.php .
Caso você tenha chance, compareça. Vai ter física do mais alto nível.
Se interessou, mas não pode comparecer? Siga na TV-USP, ao vivo: para quinta (28/02), o link é este aqui. Na sexta, dia 01/03, o link é este.
O blog está de mudança
Antes que você pense algo errado: não! eu não estou de saída do Science Blogs! De doido, afinal, eu só tenho a cara! E a profissão. E alguns comportamentos. E… deixa pra lá. Mas eu não sou doido! “My mother had me tested!”
Na prática, quem se muda sou eu, o blog permanece onde está. Estou voltando pro Brasil nos próximos dias e, por isso, o blog vai ficar meio mambembe até eu me estabelecer minimamente.
A repatriação de cientistas ainda é, a meu ver, um dos maiores problemas que enfrentamos na ciência brasileira. Não que seja meu caso, mas é isso que vejo aqui e ali: cientistas jovens e com potencial trocando a chance de sair para uma experiência enriquecedora no exterior por um emprego seguro onde quer que ele exista, simplesmente pelo fato de não saberem se este existirá em alguns anos. Ou pesquisadores muito bons se estabelecendo permanentemente no exterior pela falta de oportunidades claras no nosso país. Adicione a tudo isso o fato de que, se você decidiu ir pro exterior, provavelmente está resolvido a seguir carreira acadêmica e o “plano B” de abandonar a Academia e seguir para fazer pesquisa na indústria é essencialmente inviável no nosso país.
Não sei qual a melhor forma de resolver esse problema, mas, definitivamente, um “censo” permanente de quem está no exterior, fazendo o quê e onde, de forma a mapear e manter contato com esses profissionais, apresentando-lhes oportunidades e/ou mesmo atraindo-os explicitamente de volta já seria um bom começo. De fato, se tivéssemos nas Universidades brasileiras algumas vagas, mesmo que apenas quase-permanentes, que pudessem ser preenchidas sem grandes burocracias por pesquisadores de ponta, a fim de repatriá-los, já seria um ótimo passo. Um sistema parecido existe aqui na Alemanha a fim de manter/trazer pessoas que sejam de interesse dos institutos de pesquisa. Hoje, se você não tiver bons contatos antes de sair, voltar pode ser (se tornar) bem complicado.
Daqui da Alemanha, levo uma experiência maravilhosa: cientifica e culturalmente, a estada aqui valeu cada segundo. Se você é jovem, pensa em seguir carreira científica e quer sair do Brasil para um tempo no exterior, eu só posso recomendar fortemente que você o faça. Mesmo que não valha a pena cientificamente, o crescimento cultural é incomparável.
A Alemanha, em especial, foi certamente uma boa escolha para mim: um país de economia e cultura fortes, muito diferente da nossa, centro (geográfico e político) da Europa e um lugar bacana pra se viver. Como físico, foi igualmente uma experiência especial: viver e trabalhar no país que nos deu tantos grandes cientistas é inspirador. Pois veja só, são alemães, de nascimento ou culturalmente: Planck, Einstein, Schrödinger, Heisenberg, Hertz, Hänsch, Hund (o das regras), Sommerfeld, Stern e Gerlach, Beth, Born, Drude, Fahrenheit, Gauss, Röntgen, Helmholtz, …. . E ainda temos, fora da física, Kant, Goethe, Humboldt, Bach, Beethoven, Haydn, Mozart, Wagner, Strauss, Händel, Marx, Nietzsche (aquele que chorou), Kafka, Benz e Daimler (os inventores do carro), … e (ufa!) muitos e muitos outros que contribuíram decisivamente de alguma forma para o mundo moderno. É pouco ou quer mais?
À Alemanha só posso dizer “até mais, e obrigado pelos peixes!” 😉
Vejo vocês no Brasil. Até logo.
Uma boa proposta! O que você escreveria?
Aqui onde eu trabalho, recebemos uma proposta de escrever um capítulo de um novo livro sobre átomos frios, especificcamente sobre esses átomos muito magnéticos com os quais trabalhamos. Nem sempre esses livros são muito úteis porque os autores tendem a simplesmente escrever um artigo de revisão e colocá-lo lá: não há profundidade e nem ensina nada. No máximo, serve como uma coletânea de referências, usualmente daquele autor et caverva.
Mas o editor do livro tem uma proposta diferente para este. Numa tradução livre do “manual de instruções” que recebemos para o livro: “…o objetivo do livro é responder às seguintes questões: 1) se um novo estudante começar a trabalhar nesta área, o que ele deveria aprender sobre a física básica da área e sobre problemas avançados, possíveis erros de interpretação, etc… e 2) se um pesquisador que nunca trabalhou nessa área tentar entender os resultados teóricos e experimentais desta área, o que ele deve aprender para fazer as interpretações corretas e se fazer capaz de trabalhar na área sozinho?…”
Eu gostei e estamos quebrando a cabeça para filtrar o que é realmente essencial e importante para responder essas perguntas e comum a todo a sub-área que trabalhamos. Tem sido um exercício interessante e bem difícil. Veremos em breve o resultado.
Eu deixo aqui uma sugestão: coloque aí nos comentários a sua área de atuação (trabalho, pesquisa, etc, etc) e o que você ressaltaria para alguém que quer começar na sua área. O que é fundamental? Enfim, como você responderia a pergunta-objetivo do livro?
Em tempo: no nosso caso há vários pontos a ser ressaltados. O fundamental: cuidado ao generalizar os resultados dos gases não-magnéticos para os magnéticos. A direção Norte-Sul dos átomos se comporta completamente diferente das outras duas.
Menos é mais
Eu estava numa conferência esta semana (é, de novo). É uma conferência com um formato que me agrada: apenas algumas palestras plenárias, sem sessões paralelas e uma imensidão de posters. Assim você pode ver todas as palestras que mostram, em princípio, os tópicos mais importantes da área num passado recente e ainda têm muitas opções (e tempo) de posters, com chance de discutir “a fundo” os trabalhos, incluindo aí trabalhos de muita qualidade mas que ficaram fora das palestras plenárias.
Mas esse formato têm um efeito colateral muito ruim: os palestrantes tentam “valorizar” o tempo precioso que ganharam pra falar e espremem numa mesma palestra uma infinidade de temas e tópicos diferentes. Não é incomum palestrantes correndo, vomitando resultados, 10s por slide ou menos, 3, às vezes 4 tópicos diferentes numa mesma palestra. E isso é muito ruim. Ao contrário de se valorizar, no meu modo de entender, o palestrante se desvaloriza, porque passa uma mensagem errada ao público.
Não me entenda mal: ele passa a mensagem de que é alguém super produtivo, com 763.5 trabalhos publicados na Nature, Science, Cell e etc, no último mês e meio. Mas nenhum dos trabalhos fica retido na memória do público, simplesmente porque o palestrante não ocupa mais que alguns minutos com ele, por mais complexo que seja. A palestra que tinha tudo pra mostrar algo no topo do conhecimento não faz nenhum impacto porque ninguém (ou quase ninguém) é capaz de seguir os tópicos. E isso é muito ruim.
Ao contrário, quando o palestrante usa seu tempo para focar em um (único) assunto é como um oásis: mesmo os tópicos mais complicados são possíveis de entender, porque há tempo para uma introdução bem feita, uma conclusão decente e um tempo razoável em cada slide de resultados. Em resumo: a palestra tem um impacto, porque a audiência leva uma mensagem “pra casa”. Quem dera fosse sempre assim.
Se você se interessa pelo assunto, aqui tem uma discussão bacana na mesma linha.
Diários de Lindau, dia 5
Hoje, uma vez mais “old school” ou, pelo menos sem vídeo meu, porque hoje tem vídeo de música.
Dudley Herschbach, prêmio Nobel de Química, terminou sua apresentação com uma música de Cole Porter, composta em 1933, sobre experimentos e ciência. Eu fui atrás da letra completa e da música pra compartilhar com vocês! Vai aí embaixo:
————–
EXPERIMENT
From the London Stage Musical “Nymph Errant” (1933) (Cole Porter)
Before you leave these portals
To meet less fortunate mortals
There’s just one final message
I would give to you
You all have learned reliance
On the sacred teachings of science
So I hope, through life you never will decline In spite of philistine
Defiance
To do what all good scientists do
Experiment
Make it your motto day and night
Experiment
And it will lead you to the light
The apple on the top of the tree
Is never too high to achieve
So take an example from Eve
Experiment
Be curious
Though interfering friends may frown,
Get furious
At each attempt to hold you down
If this advice you’ll only employ
The future can offer you infinite joy
And merriment Experiment And you’ll see
Eu deixo vocês com uma foto do pôr-do-sol aqui em Lindau.
E lembrando: amanhã é o último dia, mas vai ser bem complicado postar à noite, pós-conferência. Então a última edição dos Diários de Lindau vai chegar, mas provavelmente com alguns dias de atraso! Espero vocês lá!
Diários de Lindau, dia 4
Um dia de Luz, de espera por Higgs e de dicas valiosas para a sua pesquisa de todo dia.
Um dia que começou cedo demais. Com café-da-manhã num barco.
Isso e algo mais, no quarto dia dos Diários de Lindau.
[youtube_sc url=http://www.youtube.com/watch?v=ZkFiY9M7c28]
Diários de Lindau, dia 2 #lnlm12
Cosmologia,
Aquecimento global: realidade ou mentira?,
A relação entre política e ciência
E todos os canais por onde você pode acompanhar a conferência aí da sua casa,
Tudo isso e algo mais no vídeo de hoje! 🙂
[youtube_sc url=http://www.youtube.com/watch?v=nR0DxVUu7ug]
P.S.: o dia foi cheio e o vídeo ficou longo, quase 10 minutos, mas deu pra resumir bem o que aconteceu. Se você tiver paciência, assista e me conte o que pensa aí nos comentários.
Ossos do ofício
Um mês exatamente sem postar. {modo carente ON} Mas aposto que ninguém aqui sentiu falta, né? {modo carente OFF}.
Mas eu explico: estava afundado dentro de um projeto de pesquisa, escrevendo, pegando preço de equipamento, escrevendo, arrumando justificativa praqueles equipamentos caros, escrevendo, arrumando sub-projeto para futuros alunos usarem os equipamentos caros, escrevendo… É impressionante como à medida que a gente vai mais e mais a fundo na vida dentro da academia o foco do nosso trabalho muda do “dia-a-dia do laboratório” para a “procura por financiamento para manter alguém cuidando do dia-a-dia do laboratório”. E é exatamente esse último que eu andei fazendo nesse último mês.
Você vai me dizer: “Tá reclamando de quê? Você sabia que ia ser assim!” E eu vou te dizer: não estou reclamando não. Só constatando. Eu sabia que o foco ia mudando com o tempo, que a gente deixa de colocar a mão na massa e fazer ciência todo dia e passa a formar pessoas, negociar financiamentos, fazer política no departamento, essas coisas pra poder… fazer ciência. Mas saber não significa que é preciso gostar, certo? Aqui vale um parênteses: meu ex-chefe e meu chefe atual são pesquisadores impressionantes e ainda assim capazes de fazer política e ganhar financiamentos como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Quando eu crescer quero ser assim.
Gostando ou não, fazendo bem ou não, essa é o tipo da transição que tem que ser feita, sem choro nem vela. Sabe as “dores do crescimento”? Pois é. Hoje eu ainda me vejo mais como alguém que põe um laboratório pra funcionar, faz medidas, analisa dados, escreve paper, briga com referee de paper, por fim publica o paper e aí começa tudo de novo. Mas uma hora a gente passa pro lado do escrever projeto, orientar tese, administrar o orçamento, escrever relatório, divulgar os resultados e começar tudo de novo. Espero poder manter o primeiro o máximo possível, mesmo assumindo o segundo lado de braços abertos.
Mas nem tudo é ruim nessa transição. Na verdade, esta foi está sendo uma experiência bem interessante: projetar o futuro, pedir auxílio pra fazer coisas relevantes sem tirar os pés do chão e sem reinventar a roda. O mais difícil é a parte do orçamento. É muito? É pouco? Eu vou pedir um experimento inteiro. A FAPESP vai me dar? Eu não faço a menor ideia. Depende só da física que eu quero fazer ou depende da física que o assessor acha interessante? Ou ele vai pesar se eu tenho alguma capacidade de fazer? São todas perguntas que eu não faço a menor ideia de como responder. {modo irônico ON} Dúvidas da juventude, sabe como é? Afinal, o projeto não se chama Jovem Pesquisador à toa, né? {modo irônico OFF}
E aí com todas essas dúvidas, você monta o projeto pra ser algo flexível, que você precisa de equipamento, mas escolhe uma rota em que eles são mais baratos, mas ao mesmo tempo tenta justificar um laser mais caro que é essencial pro que você quer fazer e assim vai… Ciência, embebida em orçamento, misturada com prazos apertados mas factíveis. E esse coquetel vira um projeto de pesquisa.
Mas o próximo passo é saber o que os futuros colaboradores pensam… Pelo menos eles têm mais experiência. 🙂
P.S.: Semana que vem, como você sabe, estarei em Lindau. Tentarei, veja bem, TENTAREI, fazer uma cobertura bacana do evento com os ganhadores do Nobel. Fique ligado.
O bom filho à casa torna… ou não?
Se você andou aqui pelo blog nos últimos tempos, sabe que eu estou me preparando pra um dois concursos no lugar onde fiz o mestrado e o doutorado. É o meu segundo concurso e o segundo no mesmo lugar, de onde facilmente depreende-se que eu quero voltar pro lugar onde me formei (sim, nesse caso doutorado, e NÃO graduação, é sinônimo de formação).
Verdade. Mas apenas em parte. Eu ando me perguntado, desde há algum tempo, o que é o certo a se fazer. Voltar pra “casa”? Ou fazer morada em outro lugar? É óbvio que há uma infinidade de fatores envolvidos nessa decisão, não apenas profissionais, mas pessoais também. É óbvio que nenhuma decisão nesse caso é pétrea: pode sempre mudar. Mas o certo é que não sei bem o que fazer e muito menos (e talvez o mais importante) o que é o melhor a se fazer.
Aqui na Alemanha, por exemplo, a dinâmica do sistema é extremamente diferente: você nunca (ou quase nunca) se tornará professor no lugar onde se formou. É preciso mudar para subir na carreira. Mesmo professores estabelecidos precisam receber propostas de emprego melhores e mudar de cidade (carregando o grupo todo junto) para subir na carreira. No Brasil, eu acho que não existe essa “regra não escrita”: as universidades contratarão quem melhor se sair no concurso aberto para a vaga, independente mente (quase sempre) de o candidato ter se formado ali ou não.
Você o que acha? Já passou por isso? Como se decidiu? Quais os fatores mais importantes a serem levados em conta? Abaixo, pra motivar a discussão e por que eu também acho que deve haver “uns par” de gente na mesma situação que eu, coloco os diversos prós e contras de voltar, do ponto de vista profissional.
Prós:
- o lugar onde me formei tem uma estrutura de apoio fantástica
- é disparado o melhor grupo do Brasil na minha área
- a verba é farta
- o instituto como um todo é grande, muitas possibilidades de colaboração
- eu conheço a maioria das pessoas do grupo
Contras:
- eu conheço a maioria das pessoas do grupo
- há o risco de ficar à sombra do pesquisador líder, um físico conhecido e consagrado
- a estrutura do lugar está montada, dificilmente eu conseguiria deixar uma marca num sentido mais amplo
- o instituto como um todo é grande, muitas possibilidades de “sumir na multidão”
- hábitos/culturas erradas são mais difíceis de serem mudadas num grupo grande e estabelecido
É só isso? Claro que não, mas estes são alguns dos fatores que me vieram à cabeça imediatamente ao escrever esse post. Deixe aí nos comentários o seu pensamento sobre isso.
O café nosso de cada dia
Cena comum nos institutos de pesquisa (e, suponho eu, firmas, redações, etc, etc…): chega o estudante e vai direto, como um zumbi, para a máquina de café e com este em sua xícara para sua mesa de trabalho.
Cena igualmente comum e concomitante: o café espirra da xícara para o chão, tampo da mesa, teclado, roupa…
Isso é uma verdade absoluta, a menos que o nosso personagem esteja minimamente acordado (ou escolado) e ande da máquina de café à sua mesa equilibrando a xícara para o café não espirrar.
Apesar de estas serem verdades do nosso dia-a-dia, nunca antes tinham sido estudadas sistematicamente. Até agora.
Hans Mayer e Rouslan Krechetnikov, escrevendo para o Physical Review E desta semana estudaram o café nosso de cada dia e os motivos pelos quais ele espirra para fora da xícara. Eles mostraram que o modo fundamental como o café oscila na xícara é facilmente atingido pelo caminhar normal de um ser humano. E que “equilibrar a xícara” significa andar de um forma a não excitar esse modo de oscilação ou pelo menos contra-balançar o tal modo à medida que se anda. No trabalho, eles desenvolvem um modelo matemático simples e eficiente para modelar os dados experimentais, medidos com pessoas de verdade e câmeras que observavam o café à medida que estas andam, tomando cuidado, ou não. Ah! Eles inclusive mostram que se você tropeçar, corre o risco de derrubar todo o café… e ter que voltar pra máquina pra começar tudo de novo… 😛
O trabalho pode ser lido em Phys. Rev. E 85, 046117 (2012). Infelizmente, eu não achei uma versão de acesso gratuito… 🙁