Arquivo da categoria: Vertebrados

>Paleocurtas Argentinos

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Novo Ornitópode da Patagônia argentina



Foram encontrados restos do esqueleto pós-cranial de um dinossauro ornitópode em sedimentos da Formação Bajo Barreal (Cretáceo Superior) em um ilha no sul do lago Colhé Huapi, província de Chubut, Patagônia argentina.
O material não pôde ser identificado com muita precisão, entretanto é sabido tratar-se de um Ornitópode não-hadrossaurídeo de médio porte. Este é o terceiro ornitópode descrito para a Fm. Bajo Barreal da Patagônia Central argentina.
Fósseis de dinossauros Ornitísquios são raros na Patagônia e somente representados pelos Ornithopoda (dinossauros herbívoros como por exemplo o Iguanodon ou a Maiasaura). 
Ornitópodes não-hadrossaurídeos (Os Hadrosauridae compõe o grupo mais derivado dentro de Ornitopoda, os não-hadrossaurídios correspondem à todos os outros dinossauros dentro desse clado, menos os hadrossauros)  encontrados previamente em rochas do Cretáceo Superior ‘patagonense’ – como um todo -, incluem: Anabisetia, Gasparinisaura, Macrogryphosaurus e Notohypsilophodon

Alguns dos elementos ósseos encontrados – vértebras parciais e fragmentos de vértebras

Cientistas levantam a hipótese de que alguns –ou talvez todos– estes Ornitópodes argentinos poderiam pertencer a um grupo endêmico da América do Sul, ou pelo menos, do Hemisfério Sul; isto é, unicamente existentes nessa região. Apesar de ser uma hipótese baseada em escassos dados paleobiogeográficos, há algumas poucas características anatômicas, sutis, que diferenciam estes gêneros dos demais ornitópodes. 
Ainda há muito o que se conhecer sobre os Ornitísquios, não só da Patagônia, mas da América do Sul como um todo.



Quem sabe o que estará por vir? Quando se trata da Patagônia, sempre há surpresas…

Bibliografia:

Ibiricu, L. M., Martínez, R. D., Lamanna, M. C., Casal, G. A., Luna, M., Harris, J. D., and Lacovara, K. J., 2010. A medium-sized ornithopod (Dinosauria: Ornithischia) from the Upper Cretaceous Bajo Barreal formation of Lago Colhué Huapi, southern Chubut province, Argentina. Annals of CarnegieMuseum 79 (1):39–50.


Sanjuansaurus gordilloi: um novo Herrerassaurídeo


Uma nova espécie de um grupo bastante antigo de dinossauros, os Herrassaurídeos, foi descoberta em sedimentos da Formação Ichigualasto, no noroeste da Argentina.
Nomeado como Sanjuansaurus gordilloi, este animal estava entre os primeiros dinossauros à caminharem na face planeta Terra ainda no final do Período Triássico.
A nova espécie, junto a outros dinossauros como o Herrerasaurus, Eoraptor e o Staurikosaurus gêneros equivalentes geocronologicamente – isto é, referentes a um mesmo momento do Tempo passado –podem indicar uma rápida explosão e diversificação dos Saurísquios (ordem que inclui os dinos saurópodes e terópodes, ou seja, com ‘pelve de lagarto’) para os finais do Triássico.

Bibliografia:

Alcober, O.A., Martinez, R.N
., 2010.
A new herrerasaurid (Dinosauria, Saurischia) from the Upper Triassic Ischigualasto Formation of northwestern Argentina. Zookeys, 63:55-81


Panamericansaurus schroederi: um novo Titanossaurídeo da Patagônia

Nova espécie de saurópode titanossaurídeo foi descoberta pela equipe do Proyecto Dino, em Neuquén, Patagônia argentina. Panamericansaurus schroederi pertencia ao grupo dos Aeolosaurini, e constitui o primeiro registro de dinossauro para a Formação Allen, de Neuquén, Argentina.

Vértebras caudais de Panamericansaurus. Escala=5cm

Bibliografia:

Calvo, J.O., Porfiri, J.D., 2010. Panamericansaurus schroederi gen. nov. sp. nov. Un nuevo Sauropoda (Titanosauridae-Aeolosaurini) de la Provincia del Neuquén, Cretácico Superior de Patagonia, Argentina. Brazilian Geographical Journal: Geosciences and Humanities research medium 1: 100-115.

>Tempestade de Paleocurtas – PARTE 1

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Depois da longa ausência estamos finalmente de volta! Setembro foi o mês do VII Congresso Argentino de Paleontologia e Bioestratigrafia e do X Congresso Latinoamericano de Paleontologia, realizados em um único evento na cidade de La Plata, Argentina. Os Colecionadores compareceram em peso e por isso o blog ficou meio às traças.

Nesse meio tempo, diversas novidades fabulosas da paleontologia se acumularam – vários bichos foram descritos (sim, dentre eles, tudo o que o mundo precisava… mais ceratopsídeos…); bizarrices anatômicas foram revisitadas; uma curiosa revelação fez-se quanto a coloração de pingüins fósseis gigantes; nova literatura fundamental foi publicada; deu-se o pré-lançamento do escândalo dos “saurópodes que eram um só” (?); surgiram mais novidades sobre o sexo pré-histórico; dentre outros. – .Mas além disso, trouxemos para completar boas novas da Paleontologia Latinoamericana, entre elas o recém-anunciado – e surpreendente – dinossauro brasileiro: Tapuiasaurus! (Que muitos de vocês devem ter visto pela televisão ou no caderno especial do “Estadão”, algumas semanas atrás).

Vamos sacudir a poeira dos fósseis e partir para uma campanha relâmpago. Com vocês, uma tempestade de paleocurtas – PARTE 1:

Um Raptor como você nunca viu: Balaur bondoc, o estranho dragão romeno

Reconstituição artística de Balaur bondoc


Estranho é apelido. Balaur bondoc veio responder uma questão antiga: “Com o que se pareciam os dinossauros predadores na Europa durante o fim do Cretáceo?”
Descrito na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) por Zoltán Csikia e colaboradores, entre eles Mark Norell, o novo dino predador surpreendeu paleontólogos do mundo todo. Parente dos velociraptores – o que quer dizer que tratava-se de um dromeossaurídeo – ele possuía uma construção corporal parecida… até certo ponto. Com ossos fundidos, constituição mais pesada e duplas garras retratoras nos pés (!), B. bondoc deveria ser o terror na Europa do fim do Cretáceo.
A Europa era bem diferente nesse período. Com o nível do mar mais alto, toda essa região era um arquipélago habitado por animais de pequeno porte e relativamente mais ‘primitivos’ que os seus parentes continentais. Inclusive formas anãs, como saurópodes do tamanho de vacas e dinos ornitópodes também de tamanho bastante reduzido em comparação com seus parentes do continente. B. bondoc, tão diferente de qualquer coisa conhecida, soma-se às esquisitices dinossaurianas e vem ensinar mais um pouco sobre a fauna pouco-usual da região européia durante o auge do reinado dos grandes répteis-ave.

Membro posterior de Balaur bondoc evidenciando a dupla de garras retráteis

Leia mais sobre isso Aqui.

Csiki, Z., Vremir, M., Brusatte, S., & Norell, M. (2010). From the Cover: An aberrant island-dwelling theropod dinosaur from the Late Cretaceous of Romania Proceedings of the National Academy of Sciences, 107 (35), 15357-15361 DOI: 10.1073/pnas.1006970107

O dino-quasímodo e.. com penas?? Concavenator corcovatus

Reconstituição artística de Concavenator (acima) e suas relações filogenéticas dentro dos Allosauroidea (abaixo)

Anunciado pela Nature, por Ortega e colaboradores, esse novo Carcharodontossaurídeo espanhol foi descrito com base em um esqueleto articulado quase completo. O animal deveria medir cerca de 6m de comprimento. Entretanto, o que mais chamou a atenção foram outras características….:
1) As cristas neurais de suas vértebras dorsais – que formavam uma corcova no bicho (característica que já havia sido observada no enigmático Becklespinax);
e o mais surpreendente:
2) Cicatrizes de inserção de penas nos ossos do braço do animal;
Dinos alossauróides com penas???? Pois é….

Leia mais sobre isso Aqui.

Ortega, F., Escaso, F. & Sanz, J. L. 2010. A bizarre, humped Carcharodontosauria (Theropoda) from the Lower Cretaceous of Spain. Nature 467, 203-206.

Os novos ceratopsianos: Utahceratops e Kosmoceratops – e o ano desses bichos continua

Reconstituições artísticas de Utahceratops (acima) e Kosmoceratops (abaixo)

Os dois novos ‘chifrudos’ da lista são da região sul do Estado de Utah, EUA. A descoberta dos novos ceratopsídeos foi detalhada na revista on-line de acesso livre PLoS One.
O maior dos dois, Utahceratops gettyi, tem um crânio de 2,3 m de com
primento, já o menor deles,
Kosmoceratops richardisoni, tem um total de 15 chifres na cabeça – o dino com a cabeça mais ornamentada conhecido.

Leia mais sobre isso Aqui.
Veja os antigos (julho) tópicos deste blog sobre “O ano dos Ceratopsia” Aqui (parte 1) e Aqui (parte 2).

Sampson, S., Loewen, M., Farke, A., Roberts, E., Forster, C., Smith, J., & Titus, A. (2010). New horned dinosaurs from Utah provide evidence for intracontinental dinosaur endemism PLoS ONE, 5 (9) DOI:10.1371/journal.pone.0012292

Xixiasaurus, o novo troodontídeo da China (Mas que nome!)

O crânio parcial de Xixiasaurus

Proveniente da Formação Majiacun, da Bacia Xixia, na Província de Henan da China, Xixiasaurus henanensis foi descrito com base em um crânio parcialmente completo. Proximamente relacionado com Byronosaurus e Urbacodon, esses três animais provavelmente formam um clado à parte, sugerindo uma radiação endêmica de troodontídeos pela Ásia.

Lü, J.-C., Xu, L., Liu, Y.-Q., Zhang, X.-L., Jia, S. and Ji, Q. 2010. A new troodontid (Theropoda: Troodontidae) from the Late Cretaceous of central China, and the radiation of Asian troodontids. Acta Palaeontologica Polonica 5X: xxx-xxx. doi:10.4202/app.2009.0047

Sarahsaurus e o sucesso dos dinossauros

Crânio de Sarahsaurus em parte desarticulado

Sarahsaurus aurifontanalis é o mais novo sauropodomorfo que vem juntar-se à família. Encontrado no Arizona, EUA, tratava-se de um dino herbívoro relativamente pequeno em comparação com os seus primos gigantescos que viveram pouco depois. Com 190 milhões de anos (início do Jurássico) ele ajuda a contar algumas partes da história sobre a evolução e radiação dos dinossauros: o que aconteceu depois da extinção Triássico-Jurássica, como foi a invasão do Hemisfério Norte – a partir do Hemisfério Sul – por esse grupo de animais?
Sarahsaurus foi uma das formas que se originou alguns milhões de anos depois do pulso de extinção do fim do Triássico e o seu estudo, somado ao que já era conhecido sobre outros sauropodomorfos encontrados na América do Norte, ajudou a entender melhor a história sobre a dispersão dos dinossauros para essa região.
O estudo foi publicado na Proceedings of the Royal Society por Timothy e colaboradores.

Leia mais sobre isso Aqui.

Timothy B. Rowe, Hans-Dieter Sues, and Robert R. Reisz (2010). Dispersal and diversity in the earliest North American sauropodomorph dinosaurs, with a description of a new taxon. Proceedings of the Royal Society B : 10.1098/rspb.2010.1867

Mais curtas em breve…

Vertebrados fósseis da região de Marília, SP

O paleontólogo e coordenador do Museu de Paleontologia de Marília, William Nava, vem há 17 anos fazendo um minucioso trabalho de escavação e coleta de fósseis nas rochas da região de Marília, interior de São Paulo. Seu trabalho resultou em importantes descobertas para a Paleontologia brasileira no que tange estudos sobre o Cretáceo do Brasil. Nesta postagem, convidamos William para nos contar um pouco da sua história trabalhando com fósseis no interior de São Paulo:

Texto de William Nava

As minhas primeiras coletas de fósseis em Marília datam do início dos anos 90 e referem-se a fragmentos ósseos identificados como pertencentes à saurópodes do grupo dos titanossauros.Fiz a primeira descoberta de ossos de um dinossauro na região de Marília em 1993, na estrada vicinal P. Nóbrega-Rosália. O achado ganhou repercussão nacional na época, sendo amplamente divulgado pelos meios de comunicação. 

O incremento das pesquisas ao longo dos anos, revelou inúmeros afloramentos do Cretáceo Superior por toda a região. A partir de 1996, com o achado dos primeiros fósseis de crocodilomorfos notossúquios (que 3 anos depois seriam descritos cientificamente como  Mariliasuchus amarali) em rochas próximas ao vale do Rio do Peixe,  foi possível  concluir que a região tinha  potencial para fósseis muito bem preservados. A grande maioria desses fósseis vem sendo coletada em cortes de estradas rurais. Inúmeros materiais, principalmente de crocodilomorfos, como  o pequeno crocodilo Adamantinasuchus navae,   foram descobertos durante a  escavação de obras  no Córrego Arrependido, afluente do Rio do Peixe.
A vantagem de residir na cidade onde estão os sítios paleontológicos é que se pode ir à campo a qualquer dia, ou mesmo nos finais de semana.  Igualmente, se pode abrir novas frentes de escavação e acompanhar esse trabalho, catalogando, fotografando as ocorrências e os níveis estratigráficos onde ocorrem os fósseis.
William Nava explicando sobre os fósseis e a geologia da região. Foto de Bernardo Pimenta.

Com o passar dos anos, acumulei muitos restos ósseos de dinossauros e crocodilos que escavava pela região, além de alguns materiais obtidos por doação (como peixes do Nordeste e restos de madeiras petrificadas oriundos de outros estados) formando um considerável acervo, que mais cedo ou mais tarde, necessitaria de ser exposto à comunidade. Em pouco mais de uma década de escavações e coletas, os trabalhos na região resultaram numa diversificada fauna de vertebrados fósseis, com dinossauros do grupo dos titanossauros, pequenos crocodilomorfos (Mariliasuchus e Adamantinasuchus), escamas ganóides (de peixes lepisosteiformes), dentes e restos ósseos de vários tipos de peixes, dentes de pequenos terópodes, um pequeno lagarto, além de microfósseis. 

Reconstituição artística de um dinossauro saurópode titanossaurídeo. Arte de Felipe Elias (http://felipe-elias-portfolio.blogspot.com/)

 
Mariliasuchus e Adamantinasuchus

Entre os fósseis mais importantes relacionados aos crocodilomorfos da região de Marília estão ovos fossilizados e coprólitos de Mariliasuchus amarali.  Esses ovos fósseis constituem o primeiro registro desse tipo de fóssil no Brasil. Em 2002 encontrei num bloco de arenito uma ninhada composta por 9 ovos fossilizados, um achado fantástico. Tudo indica que os animais, vivendo em populações perto de lagoas, ali depositavam seus ovos e muitos  eram rapidamente soterrados por grandes cargas de sedimentos, passando assim para o registro fóssil. 

Reconstituição de Mariliasuchus em vida. Arte de Maurílio de Oliveira.

De acordo com estudos já publicados sobre o Mariliasuchus e o Adamantinasuchus, apurou-se que esses animais, além de um comportamento gregário e terrestre, que lhes permitia caminhar longas distâncias em áreas com clima quente e seco, tinham um hábito alimentar bastante diversificado, podendo incluir em sua dieta desde carne até vegetais. Isso é um dado bastante incomum para os crocodilos de hoje, que só vivem na água e possuem dieta carnívora. Dessa forma, as duas espécies de crocodilos encontradas em Marília, além de muito raras no registro fossilífero, permitem a nós, paleontólogos, inúmeras possibilidades de estudos, devido à boa preservação dos fósseis encontrados nas rochas da Formação Adamantina, que ocorrem em todo o oeste do estado de São Paulo.
Reconstituição Artística de Adamantinasuchus navae. Arte de Deverson da Silva (Pepi).
O MUSEU DE PALEONTOLOGIA

Museu de Paleontologia de Marília

Inaugurado em novembro de 2004 pela Secretaria Municipal da Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Marília, o Museu de Paleontologia é uma significativa contribuição ao conhecimento científico nacional e internacional na área da paleontologia. Está localizado no centro da cidade, e vem se tornando um dos grandes potenciais científicos da região, tendo em vista a raridade do material  encontrado. Trata-se do segundo museu do interior paulista com exposição permanente de fósseis de animais que viveram no período Cretáceo, entre 70 e 90 milhões de anos atrás. Está aberto a toda a comunidade e também á escolas e universidades. Além das dezenas de escolas da cidade e da região, também já recebemos alunos de graduação e pós-graduação do curso de Geologia da Universidade Federal do Paraná, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade de São Paulo, entre outras.
O Museu abre novas perspectivas no campo científico e também para o turismo local e regional com o incremento de atividades pedagógicas, visitas técnicas monitorizadas, produção de material impresso e outros recursos que auxiliam na educação e na maior divulgação do espaço, até como forma de gerar e atrair novos recursos e investimentos. O museu tem como objetivo a busca e pesquisa dos fósseis, sua preservação, divulgação junto à comunidade local e regional, exposição do acervo de ossos principalmente de dinossauros, que são o grande chamariz para o público leigo e crianças, e as reconstituições em vida do Mariliasuchus e do Adamantinasuchus, para dar uma idéia de como eram esses pequenos crocodilos, que viviam entre os grandes titanossauros. Temos recebido milhares de visitantes tanto daqui e da região, como também de outros estados, fazendo do museu hoje, um forte atrativo cultural e turístico para uma vasta região do interior do estado.
 
No museu podem ser vistos diversos ossos de dinossauros (titanossauros), restos de crocodilos, ovos fossilizados, peixes da Chapada do Araripe (CE), troncos de árvores  fossilizados, restos de tartarugas, banners ilustrativos, fotografias de expedições realizadas nos campos de pesquisa da região e mapa de ocorrências fossilíferas dentro do Grupo Bauru, entre outras atrações.

O museu está situado na Av. Sampaio Vidal, 245, esquina com a Av. Rio Branco, em Maríla, no centro, e fica aberto de segunda à sexta, das 8h30 às 18h00.
O telefone para contato é (14) 3402-6600 –  ramal 6614.
  
PARCERIAS, ESTUDOS e DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
 
Diversos fósseis escavados nas rochas da região encontram-se depositados para estudos em instituições como Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Museu Nacional da UFRJ, UNIRIO, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Museu de Zoologia da USP, UNESP campus de Bauru-SP, Museu de História Natural de Taubaté-SP, e recentemente UnB- Universidade de Brasília, em parcerias técnico-científicas bastante promissoras.
Atualmente Marília se coloca ao lado das grandes regiões fossilíferas do país, contribuindo com seus fósseis para um melhor entendimento acerca dos ecossistemas e da paleofauna que existiu no Brasil há milhões de anos. Os fósseis aqui achados já foram citados em periódicos de Paleontologia, como o American Museum Novitates, Gondwana Research, e recentemente o Bulletin of Geosciences, da República Tcheca.

Visite o site www.dinosemmarilia.blogspot.com para saber mais sobre os fósseis de Marília e região.
 
William Roberto Nava
Paleontólogo e Coordenador do Museu de Paleontologia de Marília
Secretaria Municipal da Cultura e Turismo
Prefeitura Municipal de Marília

>Faxinalipterus minima, o réptil voador mais antigo do mundo é gaúcho, tchê!

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Não podia faltar… demorei pra escrever sobre esse bichinho, mas aqui está, finalmente!

Faxinalipterus minima  foi encontrado na região de Faxinal do Soturno, RS, e veio ajudar a escrever um importante capítulo da história dos répteis voadores. O bichinho gaúcho, teria cerca de 220 milhões de anos (Triássico Superior) e tratar-se-ia da peça mais antiga de toda história dos Pterosauria até então.

O animal foi descrito no compendio “New Aspects of Mesozoic Biodiversity”, novo livro da série Lecture Notes in Earth Sciences, publicado pela Springer. O livro reúne uma série de sete artigos relevantes para o discernimento da evolução da vida num dos períodos mais fascinantes da história do planeta Terra, o Mesozóico, e inclui aquele que descreve os restos do que teria sido um pequenino réptil voador muito primitivo e do tamanho de um pardal: “Pterosauria from the Late Triassic of Southern Brazil” é o nome da publicação de José Bonaparte, Cesar Schultz e Marina Bento Soares. Ali se descreve o nosso pequeno Faxinalipterus

Fragmentos do fóssil de Faxinalipterus



Porque Faxinalipterus é tão importante?

A maioria dos pterossauros triássicos –  os mais antigos – foi encontrada na Europa em depósitos de idade Noriana (216 – 203 milhões de anos atrás) no norte da Itália. Lá eles são representados por espécimes quase completos que ajudaram a fornecer vislumbres muito importantes sobre história evolutiva desses fascinantes seres alados. 
Entre alguns dos animais ali encontrados podemos citar Eudimorphodon, Pteinosaurus e Preondactylus. Nesses três animais, apesar de bem antigos, foram observadas algumas características anatômicas consideradas já bastante derivadas e típicas do vôo ativo, como por exemplo modificações na cintura peitoral semelhantes às dos pterossauros do período Jurássico. Foi a partir principalmente dessa observação (entre outras) que os cientistas concluíram que a principal diferenciação desses répteis de seus ancestrais essencialmente terrestres teria se dado em algum momento anterior dentro do Triássico ou mesmo bem antes, durante o final do período Permiano.
Sendo assim, parte da história evolutiva dos pterossauros, na verdade a parcela mais significativa, permanecia obscura.

Fóssil de Eudimorphodon, Triássico Superior do Norte italiano
Reconstituição de Preondactylus por Mark Witton.
Pteinosaurus, ilustração de N. Tamura.
Filogenia dos Pterosauria mostrando a possível origem e diversificação das primeiras linhagens. Os nós 1 e 2 representam Ramphorhynchidae e Pterodactyloidea, respectivamente, as duas principais linhagens do grupo.

Sob esse prisma, o que torna Faxinalipterus tão interessante é que apesar de também pertencer ao Triássico tardio, ele apresenta características interpretadas como primitivas pelos autores. Isso indicaria que pterossauros primitivos e derivados teriam vivido praticamente ao mesmo tempo, porém de em diferentes cenários geográficos, e que a evolução inicial do grupo talvez tenha se dado mais rapidamente que o esperado.
O grande furor no entorno da descoberta desse bichinho também está relacionado com o fato dele ser o primeiro registro do grupo no Triássico da América do Sul. Isso modifica algumas questões biogeográficas e levanta algumas dúvidas interessantes quanto à outro aspecto… Faxinalipterus foi encontrado em rochas que refletem um ambiente continental, diferente daquele dos pterossauros europeus, tipicamente litorâneo. Isso poderia evidenciar que a evolução dos pterossauros teria ocorrido em ambientes continentais ou mediterrâneos, e a colonização de ambientes litorais marinhos teria sido um passo posterior.

O fóssil, sua história e um pouco mais …

O artigo de Bonaparte e colaboradores analisa restos fósseis bastante incompletos. O material é escasso e permitiu somente poucas conclusões com relação a história evolutiva dos Pterosauria.
Os fragmentos ósseos atribuídos ao grupo foram descobertos durante uma campanha entre 2002 e 2005 numa velha pedreira próxima à cidade de Faxinal do Soturno, RS. O material estava concentrado em um único pequeno bloco de arenito da Formação Caturrita e foi considerado como pertencente à um mesmo indivíduo por causa de seu tamanho e sua estrutura. 
Foi atribuído como pertencente à Pterosauria por apresentar feições ocas, pequena proporção e a presença de outras determinadas características ósseas reconhecidas somente em pterossauros e aves.  Peculiaridades de alguns  elementos esqueletais como o úmero e o coracóide é que permitiram classificar o material como definitivamente de um pterossauro primitivo.


O fragmento da maxila esquerda com 3 dentes ainda inseridos.

Os materiais consistem: da cabeça de um úmero, da ulna e rádio esquerdos, de um coracóide praticamente completo, da tíbia e fíbula esquerdas, de partes da tíbia e fíbula direitas, do fêmur esquerdo, de um provável elemento metatarsal e de um fragmento da maxila esquerda com três dentes.

A análise especialmente do coracóide, da porção proximal do úmero e de caracteres da fíbula é que permitiu aos autores inferir a condição primitiva de Faxinalipterus. Ele seria o pterossauro mais primitivo conhecido.

Faxinalipterus pode ser considerado também mais antigo que os pterossauros da Itália. A idade das rochas em Faxinal do Soturno representaria a transição Carniano-Noriano (de acordo com a geocronologia européia) e não o final do estágio Noriano como as rochas do norte italiano. Ele teria convivido com animais como o procolofonídeo Soturnia calodon, o dicinodonte Jachaleria candelariensis, o tritelodontídeo Riograndia guaibensis e o Saurischia basal Guaibasaurus candelarienis.

Os pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Fundación de Historia Natural Félix de Azara, da Argentina, escolheram o nome do pequeno pterossauro em homenagem a cidade de Faxinal do Soturno e ‘minima’ em referência ao tamanho diminuto do animal, não muito maior que um camundongo.

Continuando os estudos…

O artigo de Faxinalipterus saiu somente esse ano, apesar do fóssil ter sido encontrado há 5 anos atrás. Os estudos todavia continuam, os pequenos ossos encontram-se já há cerca de um ano sob análise do Professor Alexandre Kellner no Museu Nacional, no Rio de Janeiro.
Kellner parece ter alguma cautela e afirma tratar-se de uma questão em aberto. Ele tem dúvidas quanto a classificação e acredita que Faxinalipterus possa tratar-se de um animal na base da linhagem dos pterossauros e não um pterossauro verdadeiro.
Se comprovada a possibilidade, a teoria de que os pterossauros se originaram no hemisfério norte cairia por terra.

Vamos continuar acompanhando!

Nota sobre a referência


Bonaparte, J.F.; Schultz, C.L. & Soares, M.B. 2010 - Pterosauria from the Late Triassic of Southern Brazil. Lecture Notes in Earth Sciences 132:63-71.


“New Aspects on Mesozoic Biodiversity”, apesar de envolver aspectos primariamente dentro paleontologia de vertebrados – paleobiologia, paleoecologia e paleobiogeografia de alguns tetrapoda, especificamente – , ele é de interesse para qualquer pesquisador que lide com biologia evolutiva e biodiversidade. Infelizmente o acesso é pago.

>Querida, encolhi as crianças!

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Quem já não assistiu o clássico “Querida, encolhi as crianças”? Para àqueles que ainda não viram, a aventura trata de um cientista que inventa uma máquina de “miniaturizar” objetos e acaba encolhendo seus filhos. Pequeninos e perdidos no jardim de casa, eles se deparam com abelhas, borboletas e formigas gigantes, que, dada a situação, parecem bichos aterrorizantes. Pois bem, se pudéssemos voltar no tempo alguns milhares ou milhões de anos, poderíamos vivenciar de fato esse cenário fictício, no entanto, sem precisar da famosa máquina encolhedora do cientista maluco…

Pesquisadores encontraram recentemente uma ossada do que teria sido o maior rato já encontrado até hoje. Sim, um rato enorme. O animal, que se encaixa no gênero Coryphomys, e tem aproximadamente 1,5 mil anos, habitava as regiões do Timor Leste, na Ásia. O mais interessante – não se assustem – é que o tal bicho podia chegar a 6 kg, sendo que hoje, os maiores ratos possuem no máximo 2 kg e são encontrados nas florestas da Nova Guiné e Filipinas.
Segundo estudos, a ilha do Timor Leste vem sendo habitada pelo ser humano há pelo menos 40 mil anos. Com a chegada do homem e o começo da agricultura na região, há aproximadamente 2 mil anos, é que teria se iniciado o processo de extinção do animal. Este teria se dado não só por alteração de seu habitat, mas provavelmente porque o rato gigante também era largamente utilizado na alimentação dos nativos.
Embora muitos não simpatizem com roedores, especialmente os ratos, esses animais são de incontestável importância para o ecossistema, sendo importantes dispersores de sementes e elementos fundamentais na manutenção de propriedades do solo.

Ossada do maior rato do Mundo (à esquerda) em comparação com o crânio de um tipo de rato atual.

Não só o curioso e bizarro Coryphomys, mas outros animais que hoje não passam de alguns centímetros um dia tiveram seus dias de glória sobre a Terra:

O estranho invertebrado artrópode Jaekelopterus rhenaniae, por exemplo, tratava-se de um tipo escorpião marinho – um euriptérido – que media cerca de 2,5 metros de comprimento e viveu há 390 milhões de anos. O tamanho de Jaekelopterus foi inferido a partir de sua garra de 46 cm encontrada na Alemanha. Para se ter uma idéia, os maiores escorpiões atuais chegam à cerca de 30 cm, mas em geral são muito menores do que isso. Os cientistas ainda acreditam que este europtérido tenha dado origem aos atuais escorpiões e aracnídeos. – Tenho que dizer que esse sutil e “simpático” animal me causa calafrios.

Imagem comparativa do tamanho de
Jaekelopterus rhenaniae e um homem

Outro fascinantes seres gigantes também já foram descobertos: aranhas, centopéias, libélulas e baratas de tamanhos descomunais; preguiças, cobras, crocodilos e aves tão grandes que inspirariam filmes de terror; porém muitos ainda estão a espera de serem desvendados. A ciência tem muito o que vasculhar e é incrível a possibilidade de reconstituir parte do fantástico cenário de vida de épocas e eras passadas. Reviver paleopesadelos!

Agora a pergunta que não quer calar: Por que esses animais atingiram esse grande porte? Bom, há muitas hipóteses. Para explicar o gigantismo dos artrópodes terrestres, por exemplo, há cientistas que afirmam que na época em que esses animais viveram, a atmosfera era abundante em oxigênio, o que teria favorecido parcialmente essa adaptação corporal. Já outros, acreditam que esse grande crescimento teria se dado pela falta de predadores como os vertebrados nos ambientes terrestres recém-colonizados. Para os vertebrados, no entanto, o gigantismo tem outras explicações, pode se dar por questões intrincadas de fisiologia, relação predador/presa e ainda há a interessante “regra de Cope”. Esse é um assunto que gera um intenso debate e que em outras oportunidades iremos dar continuidade aqui no Colecionadores.