“A caça aos fósseis é de longe o mais fascinante de todos os esportes. Nele, a gente acha incerteza, excitação e todo o arrepio do jogo de azar, sem nenhum dos aspectos negativos dele. (…) No próximo morro pode estar enterrada a grande descoberta. (…) Além do mais, o caçador de fósseis não mata, ele ressuscita.”
>O Brasil pré-histórico era realmente dos crocodilos…
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Por exemplo, o icnogênero de pegadas de mamíferos conhecido como Brasilichnium elusivum ( descrito para Fm. Botucatu, Bacia do Paraná) comumente é confundido com o nome do produtor das pegadas… que na verdade não é conhecido por nenhuma evidência de fóssil corporal! O nome B. elusivum se refere somente às pegadas, não ao seu produtor. Até mesmo animais diferentes poderiam ter produzido o mesmo tipo de vestígio. Cuidado…
>Colecionadores na Rádio
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A Paleontologia e a Mídia no Brasil
A Paleontologia é uma ciência carismática, que desperta curiosidade, admiração – as vezes assombro -, mas sobretudo, nos faz refletir sobre uma questão muito importante – e até filosófica: ‘De onde viemos‘?
Essa busca talvez esse seja o verdadeiro tempero da ciência que ‘estuda os seres antigos‘…
Pa.le.on.to.lo.gi.a (do grego: palaiós – antigo; onto – ser; lógos – estudo)Paleontologia é a ciência natural que estuda a vida do passado na Terra e o seu desenvolvimento ao longo do tempo geológico, bem como a integração da informação biológica no registro geológico (isto é: a formação de fósseis).
A Paleontologia divide-se basicamente em Paleobiologia, Tafonomia e Biocronologia. A primeira estuda a vida do passado geológico propriamente dita, a segunda, a integração da informação biológica no registro geológico e a terceira, estuda o desenvolvimento temporal dos eventos paleobiológicos. A Paleobiologia, por exemplo, apresenta inúmeras subdivisões e estas, por sua vez, outras mais (Paleozoologia, Paleobotânica, Paleoicnologia, Paleoecologia, Paleopatologia, etc.). Algumas áreas de estudo da Paleontologia – não se pode deixar de dizer – são fundamentais para a prospecção e exploração de recursos geológicos como o carvão e o petróleo.
Falando em novela, esta tem abordado de um jeito bastante realista o trabalho do paleontólogo: Como é a vida de um acadêmico nesta área, como é executar um projeto sob financiamento, como ocorrem as atividades de campo, além de expor algumas das dificuldades que o profissional da paleontologia enfrenta, como o problema real do tráfico de fósseis. É interessante também, que a região de Marília tenha sido escolhida, já que realmente é uma área prolífera em fósseis. As informações paleontológicas estão bastante condizentes e a acessoria técnica fez um bom trabalho.
>Paleontologia dos Micro: O que é MISS?
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Darei uma pequena e sucinta amostra sobre o tema do meu projeto de mestrado. Sou suspeita em falar, mas acho fantástico o estudo de MISS, pois através do mesmo permito-me viajar ao remoto tempo em que a vida começou, e enxergar a importância de seres tão diminutos mas ao mesmo tempo tão influentes em processos grandiosos, como a formação de rochas… está curioso ou confuso? Vamos explanar conceitos agora mesmo…
O que é MISS?!
Estruturas sedimentares primárias, ou seja, aquelas formadas durante o processo de deposição, junto com fatores físicos do meio e na presença de microbiais produzem o que hoje se é chamado de MISS – Microbially Induced Sedimentary Structure. Esse termo foi proposto pela pesquisadora alemã Nora Noffke. Ela, em seus estudos sedimentares, notou uma série de estruturas que pareciam de origem orgânica, que formavam uma esteira ou camada sobre o sedimento. Num estudo mais detalhado em laboratório, foi possível identificar essas estruturas como esteiras microbianas. Tais microbialitos produzem uma mucilagem especifica que se adere sobre o sedimento recém depositado, protegendo-o como uma capa dura mantendo sua forma original. Os principais micróbios estudados em MISS são as cianobactérias, ou algas azuis.
MISS é uma classificação e objeto de estudo relativamente novo dentro da geo-paleontologia. Estruturas microbiais antes eram observadas, mas deixadas de lado, pois pesquisadores não lhes davam significativa importância. Isso mudou até que em estudos aprofundados, notou-se que estas estruturas poderiam ser de grande influência na formação de rochas sedimentares e na preservação das mesmas e de outras estruturas deixadas por seres vivos do passado, como por exemplo, pegadas de dinossauros..
Esteiras microbianas se desenvolvem especialmente em planicies de maré, lagoas e plataforma continental. Seu crescimento se dá, segundo registro geológico e fossilífero, em períodos de transgressão – ou seja, quando o nível do mar aumenta e numa profundidade onde haja luz suficiente para atividade bacteriana fotoautotrófica.
Diferentemente dos estromatólitos, que são registros de atividades bacterianas em rochas carbonáticas, MISS ocorre em rochas siliciclásticas, ou seja, aquelas formadas a partir da fragmentação de outras rochas.
Estas estruturas preservadas são importantes para análise paleoambiental, uma vez que ajudam a manter a forma original do sedimento. Para estudo do MISS, é importante uma análise do ambiente presente (tafonomia atualistica), como dita o principio do atualismo, é necessário estudar o presente para então se entender o passado, pois as leis físicas que atuaram no passado são as mesma que atuam hoje, porém, não necessariamente com a mesma intensidade.
Registros de MISS existem desde o Proterozóico (Mais de 550 M.A.), sendo um objeto de estudo de grande potencial para o tema “Origem da Vida” e “Vida Extraterrestre”, adentrando em estudos astrobiológicos realizados pela NASA, por exemplo. Assim como para a indústria do petróleo, seu estudo é relativamente significativo, uma vez que podem ajudar a manter intactos os poros de rochas reservatório. Essa é um discussão que será melhor abordada no fim do projeto, depois de muito estudo sobre o tema.
Planicia de Maré moderna, com variedade de microbiota bentica. Foto: Nora Noffke
Microscopia eletrônica mostrando biofilme e mucilagem envolvendo grãos de quartzo. Foto: Nora Noffke
Origem das cianobactérias
Entender a origem das cianobactérias é extremamente importante, tendo em vista que a atmosfera primitiva, no começo da formação da Terra, era isenta de oxigênio. Com o passar do tempo, bactérias foram evoluindo e passaram a produzir oxigênio através da luz solar, como as plantas verdes. Isso é inferível através de MISS de cianobactérias encontradas, por exemplo, em rochas de 2,9 Ga do Supergrupo Pongola, no Sul da África. Contudo, ainda não é claro se esteiras microbianas encontradas há milhões e bilhões de anos são provenientes de cianobactérias ou de algum outro organismo fotoutotrófico. A resposta para isso, talvez, sabe
remos em estudos futuros mais detalhados…
A priori, essa é a conceituação, ao meu ponto de vista, mais enxuto sobre o tema. MISS, como já supracitado, é ainda uma novidade nas ciências geológicas. Em cima dela, espero que façamos grandes descobertas que esclareçam mais os nossos estudos sobre os processos geológicos desse gigante planeta, e quem sabe, de outros mundos desconhecidos…
Para entender melhor sobre o assunto, aconselho a ler os livros de Nora Noffke, em especial:
Geobiology: Microbial Mats in Sandy Deposits from the Archean Era to Today