Dor fantasma

A melhor definição/explicação de dor fantasma que já li, por Sidarta Ribeiro na sua coluna “limiar neurociências” na revista Mente&Cérebro deste mês.

A cada ano, milhões de pessoas passam pela experiência da perda traumática de uma extremidade corporal. Frequentemente, as penas psicológicas e sociais da amputação vêm acompanhadas de uma dor mais bruta, fruto da percepção fantasmagórica do pedaço perdido, mão ou pé ausente doendo em pesadelos de sono e vigília. Pulsando, queimando ou coçando, o membro fantasma reclama da incompletude do mutilado. Um corpo que já não se representa como é, e sim como foi.

Decepado de forma acidental, o membro leva consigo terminais nervosos que não se reconstituem no coto. Disso resulta o desequilíbrio de vastos circuitos neurais que cartografam a interface com o ambiente, chegando até o âmago do sistema nervoso. As regiões cerebrais correspondentes ao membro amputado são invadidas e loteadas por representações vizinhas, num processo que pune a falta de atividade neural com a inexorável substituição de sinapses e células. Tal plasticidade remapeia a relação do corpo com o mundo, provocando a sensação fantasma. Um poeta diria que o cérebro transforma em incômodo a saudade do pedaço que perdeu. Será possível reverter esse processo?

O texto prossegue por mais três parágrafos que comentam uma pesquisa da UFRJ, na qual uma técnica usada para transplante de ambas as mãos tem levado à reorganização do cérebro dos pacientes, de modo a recuperar parcialmente a sensibilidade e o movimento e ainda diminuir a sensação fantasma. Se puderem, leiam.

Neurobiólogo, Sidarta Ribeiro chefia o laboratório do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra e leciona na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Escreve divinamente e já faz tempo que está nos devendo um livro de crônicas reunidas.

Discussão - 1 comentário

  1. Karl disse:

    Muito legal! Merleau-Ponty na Fenomenologia da Percepção aborda o tema de forma interessante e de uma perspectiva diversa dos neurofisiologistas. Para ele, o membro fantasma é uma forma de entender que fenômenos psiquicos se entrelaçam com fisiológicos e assim, destitui a teoria do corpo como máquina autômata.
    "Não temos um corpo, o somos".

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