Nobel de Química é brilhante e colorido

Bactérias coloridas e fluorescentes cultivadas em uma placa de petri. O DNA das bactérias foi modificado para que elas produzam proteínas coloridas e fluorescentes, desenvolvidas em 1996 por Roger Tsien, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Química de 2008. Crédito: Nathan Shaner, Paul Steinbach, Roger Tsien, Wikimedia CommonsBactérias coloridas e fluorescentes cultivadas em uma placa de petri. O DNA das bactérias foi modificado para que elas produzam proteínas coloridas e fluorescentes, desenvolvidas em 1996 por Roger Tsien, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Química de 2008. Crédito: Nathan Shaner, Paul Steinbach, Roger Tsien, Wikimedia Commons

O prêmio Nobel de química deste ano talvez seja o mais fotogênico de todos os tempos. Para saber mais por enquanto, veja o blog no Marcelo Leite e o Brontossauros no Meu Jardim. E não perca a edição da Folha de S. Paulo de amanhã que terá uma reportagem sensacional e exclusiva sobre o assunto, feita pelo Rafael Garcia e o Cláudio Angelo!

Cientistas descrevem código genético de dois parasitas da malária

Microgametócito de P. vivax em uma amostra de sangue. Fonte: Wikimedia CommonsMicrogametócito de P. vivax em uma amostra de sangue. Fonte: Wikimedia Commons

Cientistas mapearam os genomas de dois agentes causadores da malária, a doença que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, matou 881 mil pessoas e infectou 247 milhões no mundo todo em 2006.

Os novos dados ajudarão a desenvolver remédios e vacinas para combater a doença transmitida pelos mosquitos Anopheles, afirmam os dois grupos de pesquisadores que publicam hoje seus trabalhos na revista “Nature”.

“Será uma ferramenta poderosa”, disse Jane Carlton, da Universidade de Nova York, principal autora do mapa do genoma do Plasmodium vivax, em reportagem da agência de notícias Reurters.

Entre os que colaraboraram com o estudo de Carlton estão o técnico de nível superior Márcio Yamamoto, da Universidade de São Paulo, e Hernando del Portillo, atualmente no Centro Internacional de Pesquisa em Saúde de Barcelona, mas que estava na USP quando participou do estudo.

A equipe de Carlton descreveu a sequência completa do código genético do animal unicelular que é o responsável pela maior parte dos casos de malaria na América Latina e grande parte da Ásia. No total, de todos os casos de malaria no mundo, 40% são provocados pelo P. vivax –2,6 bilhões de pessoas correm risco de serem contaminadas por ele.

Embora o tipo de malaria que o P. vivax provoque não seja normalmente fatal, os sintomas são mórbidos: febres que somem e reaparecem de hora em hora, dor de cabeça, cala-frios, suor excessivo, vômito, diarréa e inchaço do fígado–justamente o órgão onde o parasita se instala no corpo.

Depois da primeira aparição da doença, o vivax pode permanecer adormecido no fígado por meses ou anos, até voltar a atacar. Os pesquisadores descobriram genes que podem ser os responsáveis pelo adormecimento, o que talvez ajude os cientistas a encontrarem uma maneira de estragar o “sono” do parasita. Outros genes descobertos pelos pesquisadores parecem ajudar o parasita a invadir as células vermelhas do sangue e escapar da polícia do corpo–o sistema imunológico. O P. vivax está se tornando resistente a alguns remédios antimalária.

A maioria da mortes por malária na África são causadas pelo Plasmodium falciparum, cujo genoma foi mapeado em 2002.

Os pesquisadores descobriram que o genoma do vivax se parece de várias maneiras com o do falciparum, o que significa que certas estratégia para vacinas sendo testadas contra o parsita africano podem ser úteis no combate ao vivax.

Outra equipe, liderada por Arnab Pain, do Instituto Wellcome Trust Sanger (Reino Unido), fez o mesmo tipo mapeamento completo para o genoma do parasita de macacos Plasmodium knowlesi.
Esse parasita está rapidamente se estabelecendo como o quinto mais importante causador de malária em pessoas.

Os pesquisadores descobriram um truque usado pelo P. knowlesi para evitar a detecção pelo sistema imune. Alguns de seus genes são muito parecidos com o gene humano envolvido na regulação dos sistema imune.

Para saber mais

Um perfil engraçado de Jane Carlton, uma “viciada em genômica”, publicado na Inkling Magazine, conclui falando do trabalho sobre o P. vivax:

Embora não seja tão letal quanto o P. falciparum, essa espécie de malária einfecta muito mais gente no mundo inteiro e tem um alcance muito maior, persistindo na África, Ásia e América do Sul. Ela [Carlson] planeja lançar o genoma do P. vivax como uma comporação entre quatro espécies diferentes de malária. Ela espera encontrar pistas de alvos para remédios comuns a todas as espécies e ganhar intuição nas diferenças de suas virulência e letalidade. Por favor, note que apenas um usuários experiente do calibre de Carlton poderia tentar tal estudo intenso. E que Carlton seja um exemplo para todos considerando fazer genômica: cuidado, você pode se viciar.

Tudo o que você sempre quis saber sobre o Plasmodium vivax e malária em geral, mas nunca encontrou alguém para lhe explicar, está no Vivax Malaria, um site mantido por Carlton.

Origem da matéria dá Nobel a japoneses

Esta é uma versão expandida da reportagem sobre os ganhadores do Nobel 2008 de Física que fiz ontem em parceria com o grande Eduardo Geraque, e que foi publicada hoje na Folha de S.Paulo:

Um trio de origem japonesa ganhou ontem o Prêmio Nobel de Física por seus trabalhos que ajudam, sem exagero, a explicar por que tudo existe.

Se uma tal de “quebra de simetria”, estudada pelos laureados, não tivesse acontecido no início do Universo, toda a matéria teria sido aniquilada pela sua irmã gêmea “do mal”, a antimatéria.

O japonês naturalizado americano Yoichiro Nambu, 87, que está desde 1952 na Universidade de Chicago, vai receber US$ 700 mil pelo Nobel. Em 1960, Nambu inventou o conceito de “quebra de simetria”.
Makoto Kobayashi, 64, que trabalha no acelerador de alta energia KEK em Tsukuba, Japão, e Toshihide Maskawa, 68, da Universidade Kyoto, ganharão US$ 350 mil cada.

Nambu foi o primeiro a introduzir o conceito de “quebra espontânea de simetria” no estudo das partículas, inspirado em um trabalho anterior seu com supercondutividade elétrica. O físico usou a tal quebra de simetria para explicar porque a chamada força nuclear fraca tem um alcançe tão curto, se comparada à força eletromagnética. A explicação é que no início do Universo deve ter ocorrido uma quebra de simetria entre as partículas que transmitem a força eletromagnética, os fótons, e as partículas que transmitem as força nuclear fraca, os bósons W e Z. Enquanto os fótons permaneceram sem massa e portanto podem viajar à velocidade da luz, os bósons W e Z engordaram demais e vivem pouco, deslocando-se somente por distâncias subatômicas.

Dois trabalhos de Nambu, em 1961, contribuíram de forma decisiva para o surgimento do chamado Modelo Padrão, que consolida todo o conhecimento que os físicos têm sobre as partículas elementares.

A única peça faltante no Modelo Padrão é o chamado bóson de Higgs, que dá uma massa diferente para cada uma das partículas, justamente por uma “quebra de simetria”.

O físico brasileiro Rogério Rosenfeld, do Instituto de Física Teórica da Unesp (Universidade Estadual Paulista), explica a quebra de simetria imaginando um chapéu mexicano. “Imagine que sobre o cocuruto do chapéu exista um animal. A aba, neste caso, forma um extenso vale onde existe comida. Em tese, ele pode escolher qualquer direção mas, ao fazer isso, estará quebrada a simetria. Ele poderia ter ido tanto para a esquerda quanto para a direita”, explica.

Rosenfeld contou com a presença de Nambu na sua banca de doutorado, em 1990, na Universidade de Chicago.

Kobayashi e Maskawa levaram o Nobel por descobrirem a quebra de simetria que fez a matéria sobrepujar a antimatéria no Big Bang.

“Eu não esperava ganhar. É uma honra receber o prêmio pelo meu trabalho tanto tempo depois”, afirmou Kobayashi logo após o resultado ter sido divulgado, ontem de manhã. “Estava apenas perseguindo meu interesse [acadêmico].”

Em 1972, Kobayashi e Maskawa usaram o conceito de quebra de simetria para explicar o comportamento estranho de uma partícula chamada kaon, observada em 1964. O problema, explica o físico da Unesp, é que para o modelo deles fazer sentido deveria haver três quarks a mais do que os conhecidos na época, o “up”, o “down” e o “estranho”. Os quarks são partículas do núcleo do átomo que são os menores constituintes da matéria.

“O modelo deles foi ignorado na época”, conta o físico Gustavo Burdman, da USP. “A explicação que estava na moda era outra, que foi provada errada.”

Todos os físicos, porém, logo reconheceram a explicação de Kobayashi e Maskawa como a correta quando os quarks que eles previram (“charme”, “bottom” e “top”) foram descobertos, em 1974, 1977 e 1994.

Além de explicar o kaon, a proposta da dupla sobre a quebra de simetria relacionada às cargas dos pares de partículas e antipartículas explica a própria existência da matéria.

No momento do Big Bang, se toda a matéria tivesse sido aniquilada pela antimatéria, só teríamos a radiação. A sorte, talvez, é que houve um pequeno desvio da ordem de uma partícula de matéria para cada 10 bilhões de partículas de antimatéria. “O desbalanço é grande, mas os parâmetros que levaram a essa assimetria são pequenos”, diz Rosenfeld. Exatamente a explicação de parte dessa assimetria é que rendeu o Nobel à dupla japonesa.

Em 2001 e 2002, aceleradores de partículas nos EUA e no Japão -o mesmo onde Kobayashi trabalha-, confirmaram a sutil diferença entre matéria e antimatéria em partículas chamadas mésons B. Os mésons B são partículas feitas de um par de quark bottom e anti-quark bottom. O par oscila rapidamente se transformando um no outro e essa oscilação é afetada assimetria entre matéria e antimatéria.

A diferença descoberta por Kobayashi e Maskawa, porém, não é suficiente para explicar a quantidade de matéria que sobreviveu ao aniquilamento primordial.

O experimento LHCb, do gigantesco acelerador de partículas LHC, que deve entrar em operação ano que vem, vai medir com maior precisão o comportamento dos mésons B, em busca de outras assimetrias desconhecidas entre matéria e antimatéria.

Portal invisível da saga de Harry Potter é possível, calculam físicos

A “Plataforma 9 3/4” segundo cálculos de Xudong Luo, Tao Yang, Yongwei Gu e Hongru Ma. Na figura à esquerda, a coluna retangular no meio da passagem é feita de material normal, que deixa as ondas de luz (em colorido) passarem. À direita, a coluna revestida de metamaterial impede que a luz de dentro chegue aos olhos de “Harry Potter”.A "Plataforma 9 3/4" segundo cálculos de Xudong Luo, Tao Yang, Yongwei Gu e Hongru Ma. Na figura à esquerda, a coluna retangular no meio da passagem é feita de material normal, que deixa as ondas de luz (em colorido) passarem. À direita, a coluna revestida de metamaterial impede que a luz de dentro chegue aos olhos de "Harry Potter".

Físicos chineses descobriram como usar materiais especiais que manipulam a luz para criar uma passagem secreta invisível em uma parede.

Um dos autores da descoberta, Xudong Luo, da Universidade de Jiao Tong, em Xangai, confessou à Folha que é fã da série de livros “Harry Potter” e que não teve dúvida de concluir no artigo científico em que descreve seus cálculos que “um dispositivo como a Plataforma 9 3/4 (…) é realizável”.

Para os leitores que, como este repórter, nunca leram os livros, nem viram os filmes da série, aqui vai uma explicação: o trem que leva Harry Potter e seus amigos à escola de bruxaria de Hogwarts sai da estação King’s Cross, em Londres, de uma plataforma secreta, a Plataforma 9 3/4. Sua entrada invisível fica na parede entre as plataformas 9 e 10.

Uma plataforma 9 3/4 existe realmente, mas aqueles que tentarem atravessar a parede podem muito bem parar no Royal London Hospital, em vez de em Hogwarts.

Luo e seus colaboradores calcularam o que é preciso para realizar a mágica de ocultar uma abertura em uma parede. O truque é usar materiais especiais, capazes de manipular a luz que incide sobre eles. Chamados de “metamateriais”, eles podem entortar raios de luz em direções impossíveis para materiais comuns, graças a rugosidades microscópicas em suas superfícies.

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Mande seu nome para o espaço!

Satélite Glory, da Nasa

Satélite Glory, da Nasa

Talvez eu nunca vá para o espaço, mas o meu nome, gravado em um microchip, está pronto para ser lançado em órbita, em junho de 2009. Você também pode mandar o seu nome para o espaço, preenchendo este formulário da Nasa, somente até o dia primeiro de novembro.

Como prova, a Nasa fornece um certificado como este aqui.

O microchip com os nomes gravados será carregado dentro do satélite Glory, que os meteorologistas esperam usar para medir o efeito sobre o clima da poeira de partículas suspensas na atmosfera e das variações da intensidade da radiação solar.

Essas partículas suspensas no ar, os meteorologistas chamam de aerossóis. “Sem dúvida, os gases do efeito estufa [como o metano e o gás carbônico] causa o maior feito no clima”, diz Michael Mishchenko, cientista do Glory, em um press release da Nasa. “Mas a incerteza no efeito dos aerossóis é a maior das incertezas no clima atualmente.”

O Sensor Polarimétrico de Aerossóis do Glory vai medir o papel dos aerossóis, tantos os naturais, (produzidos por vulcões, por exemplo) quanto os produzidos pela indústria, nas mudanças climáticas. Veja este vídeo sobre aerossóis e o Glory.

Outro instrumento do Glory, o Monitor de Radiância Total, vai registrar o total de energia na forma de luz que a Terra recebe do Sol, o que é essencial para entender o clima.

TSE comete erros astronômicos nas eleições municipais

A Gabriela “Bia” Pereira, do blog Mercado&Malagueta, é astrônoma amadora, membro do Clube de Astronomia de São Paulo. Em seu perfil no Facebook, a Bia chamou atenção para a quantidade de erros absurda dessa propaganda do TSE. Vocês conseguem perceber quais são os erros?

Se o rapaz quisesse mesmo obervar o céu, teria ficado contente do lampião ter apagado! Assim, sua pupila dilataria para enxergar no escuro, ficando mais sensível à luz dos corpos celestes. E o que era aquilo que passou pelo céu? Um cometa não poder ser–passou rápido demais. Também não pode ser um meteorito–passou devagar demais. Esses são apenas alguns dos erros.

Mas em um coisa o reclame do TSE tem razão: Não dá para perder a oportunidade de fazer história nessas eleições municipais.

Reflita bem antes de votar, por exemplo, sobre as seguintes informações do Projeto Excelências, da ONG Transparência Brasil, que o Tom Alvarenga me repassou:

“Mais de 91% da atividade dos vereadores de São Paulo é irrelevante
para a cidade”

De um total de 3.021 projetos apresentados entre 2005 e 2008 pelos vereadores
que se encontram em exercício na Câmara Municipal paulistana, 892 foram
aprovados; destes, apenas 206 se referiam a assuntos com impacto concreto
sobre a vida e a administração da cidade. Os demais ou não foram aprovados
ou, se aprovados, diziam respeito a homenagens, fixação de datas
comemorativas e outros assuntos irrelevantes.

A média de produtividade relevante dos vereadores foi de apenas 8,6%. Isso
significa que a taxa média de improdutividade da Casa é de 91,4% de projetos
produzidos pelos vereadores que não tiveram impacto algum sobre a vida da
cidade.

Fechando a atenção sobre as 892 proposições aprovadas, as 206 relevantes
corresponderam a 23% desse conjunto. Os demais 77% (686 projetos) tratavam
de assuntos inúteis para a coletividade.


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