Como quica uma nanobola?
Nanobola quica se arremessada com velocidade abaixo de 900 m/s. Acima de 2 mil m/s, a bola gruda no chão. Crédito: T. Dumitrică/Univ. of Minnesota
Uma bola de basquete quica cada vez mais alto, quanto mais forte você a arremessar contra o chão. Mas uma bola microscópica, com um milhionésimo de milímetro de diâmetro, pode acabar grudada no chão se for arremessada forte demais.
Esse fenômeno é usado para aplicar, com um spray, uma camada de tinta protetora sobre ferramentas. As nanopartículas de tinta grudam na superfície da ferramenta sem espirrar, como aconteceria se as partículas de tinta fossem maiores. Para a técnica funcionar, essas nanobolas precisam ser arremessadas com uma velocidade maior que 2 mil m/s e ninguém sabia o por quê, até agora.
Simulações de computador mostraram que o que acontece é que as bolas feitas de apenas 30 mil átomos de silício batendo contra o chão a 900 m/s se comportam como bolas de basquete. Um pouco além dessa velocidade, porém, o choque com o chão provoca mudanças nas ligações químicas entre os átomos que fazem a bola perder energia para o ambiente. A uma velocidade de 2 mil m/s a perda de energia é tanta que as forças de atração do chão agarram a bola.
FONTES: reportagens de Kenneth Chang, do New York Times, e de Michael Schirber, do Physical Review Focus.
Confuso? Se quer ser cientista, vai se acostumando…
Se você quer realmente por a mão na massa da pesquisa científica, prepare-se para se sentir a pessoa mais burra da Terra, mesmo depois da graduação, do mestrado, do doutorado, do pós-doutorado, do pós-pós-pós-doutorado.
Escrevi semana retrasada sobre a enxurrada de informação sobre a qual os físicos vivem hoje. Claro que o problema não é exclusividade dos físicos, nem dos cientistas. Temos que lidar com tanta informação, tanta coisa para ler e assistir, que se sentir meio confuso e burro às vezes é natural.
Bactérias Patógenas Adolescentes Ninja
O que as bactérias ganham deixando a gente doente?
“As bactérias não ganham nada”, explicou Vanessa Sperandio, do Southwestern Medical Center, da Universidade do Texas, durante uma entrevista que fiz sobre o trabalho dela com um novo tipo de antibiótico que, em vez de matar as bactérias, impede que elas acionem seu arsenal de toxinas que provocam doenças em nosso corpo.
Segundo Sperandio, o processo de seleção natural que faz o seres vivos evoluir ao longo de milhões de anos favorece as bactérias que conseguem habitar nossos corpos em harmonia, como muitas das bactérias que vivem pacificamente em nosso intestino.
As bactérias que causam diarréia sanguinolenta, por exemplo, são espécies relativamente novas, que ainda não se adaptaram aos nossos organismos. “Costumo dizer que essas bactérias são como adolescentes com problemas de adaptação”, ela disse.
Caçadores de meteoritos na Antártica
Essa foi a foto do Astronomy Picture of the Day de hoje. A tradução do texto do site:
Onde é o melhor lugar da Terra para encontrar meteoritos? Embora meteoris caiam em todo o mundo, eles simplismente afundam em geral no leito do oceano, são enterrados por terrenos deslocados ou são confundidos facilmente com rochas terrestres. Na “parte de baixo” da Terra, porém, na Antártica Leste, camadas enormes de gelo azul permanecem puras e desertas. Ao atravessar uma camada dessas, uma rocha negra fica presa. Essas rochas tem uma grande probabilidade de serem verdadeiros meteoritos – provavelmente pedaços de outro mundo. Uma explosão ou impacto pode ter catapultado esses meteoritos da Lua, Marte, ou até de um asteróide, fornecendo informação valiosa a respeito desses mundos distantes e do Sistema Solar primitivo. Pequenas equipes de exploradores da neve até agora acharam milhares dessas rochas. Na foto acima, caminhantes do gelo vasculham um campo de 25 quilômetros em frente ao Maciço Otway na Cadeia Montanhosa Transantértica, durante o verão antártico de 1995-1996.
Ainda vou arrumar uma desculpa jornalística razoável para o SECIRM me levar para a Antártida!
Asteróide Steins parece um diamante no espaço
Fotos do asteróide Steins tiradas por um dos instrumentos da sonda Rosetta. O Steins tem 5 km de comprimento. O brilho do asteróide é excepcional, bem como a sua composição mineral, que a Rosetta deve analisar com mais detalhes na próximas semanas. As várias crateras em sua superfície indicam que é muito velho. Acredita-se que seja um pedaço do material que formou a Terra, há 5 bilhões de anos. Crédito: ESA
Veja nesta animação a partir de fotos reais se não parece mesmo. A Agência Espacial Européia divulgou nesta manhã as primeiras imagens do asteróide Steins, distante 360 milhões de quilômetros da Terra, obtidas pela sonda espacial Rosetta. A sonda passou a apenas 800 km de distância do Steins ontem, as 16h58 (horário de Brasília), de acordo com o sensacional blog da missão, que relatou todas as etapas da aproximação. Veja as seguintes páginas do site da ESA para saber mais sobre o Steins e sobre asteróides.
Duas vias para o Computador Quântico
Escrevi para a Folha de S. Paulo no começo do mês uma reportagem especial sobre em que pé estamos de construir um computador quântico. Me detive mais em uma das vias principais, baseada no spin de elétrons em pontos quânticos (ponto quântico é uma espécie de “curral” para elétrons em um material com propriedades elétricas semelhantes ao do silício, onde dá para deixar preso um único elétron; também é chamado de “átomo artificial”, porque um elétron preso no ponto quântico emite luz como um elétron isolado em um átomo).
Isso porque entrevistei Daniel Loss, um dos teóricos que desenvolveu a idéia de computador quântico com pontos quânticos, e Seigo Tarucha, o físico experimental que construiu os primeiros pontos quânticos em laboratório, durante um congresso internacional de spintrônica.
Quando perguntei ao Loss se havia alternativas aos pontos quânticos, ele respondeu que sim, havia uma outra abordagem baseada em íons presos por raios laser. Mas ele ironizou, afirmando que a outra abordagem não tinha chance de ser miniaturizada. “Como você põe um canhão laser dentro de um chip de computador?”, ele disse e nós rimos.
Bem, no dia seguinte, perguntei a Stuart Wolf, que havia dirigido um programa do governo norte-americano para promover a pesquisa em computação quântica nos EUA, o que ele achava disso. Meu queixo caiu quando Wolf disse que David Wineland e seus colaboradores já tinham colocado os tais canhões laser dentro de um chip…
Foi dai que corri atrás de entrevistar alguém que trabalhasse com armadilhas laser de íons. E para minha surpresa, descobri que um colega de graduação, Alessandro Villar, trabalhou ano passado na Universidade de Innsbruck (Áustria) no laboratório de Rainer Blatt, o principal “concorrente” de Wineland.
Para quem quiser saber mais sobre as armadilhas de íons, poder ler na Scientific American Brasil de setembro um artigo de Wineland, disponível online em inglês.
E para quem está com vontade de ir realmente a fundo na coisa, pode ler as perspectivas publicadas pela revista IEEE Spectrum sobre a computação com armadilhas de íons e com pontos quânticos.
Uma outra coisa que não ficou clara na reportagem para a Folha é que um computador de 10 mil qubits é algo muito além dos sonhos de muitos pesquisadores. “Quem te falou 10 mil qubits devia estar pensando em algo avançadíssimo…”, comentou Villar. Na verdade, tanto o Villar, como o Loss e o Tarucha disseram que com uns 100 qubits já daria para fazer coisas muito interessantes como as tais “simulações de sistemas quânticos”, que seriam simulações detalhadas do comportamento quântico de moléculas. As simulações atuais usam várias aproximações, algumas que são inerentes a própria natureza clássica do computador normal.
Escrevendo com estilo, por Kurt Vonnegut
Dicas de como escrever com estilo, do escritor norte-americano Kurt Vonnegut (via 3QuarksDaily):
- Encontre um assunto que lhe interesse
- Não divague
- Simplifique
- Tenha estômago para cortar
- Soe como você mesmo
- Diga o que você quer dizer
- Tenha pena dos leitores
- Leia Strunk&White
Os oito pontos só fazem realmente sentido se você ler o ensaio completo.
O escritor Kurt Vonnegut (1922-2007) era um soldado norte-americano aprisonado pelos alemães em Dresden, quando um bombardeio dos Aliados dizimou a cidade. As estimativas de mortes provocadas pelo bombardeio vão de 250 mil a 25 mil, dependendo da ideologia do historiador. Uma sorte enorme foi Vonnegut ter escapado e se tornado escritor, para nos contar o que aconteceu em seu livro tragicômico Matadouro 5, que morro de vontade de reler para resenhar aqui.
Halo em São Paulo
O paulistano que resolveu fazer uma pausa para olhar para o céu, ontem, viu um halo– um halo solar— nada haver com este halo.
Um arco-íris em forma de anel ao redor do Sol, mais ou menos do tamanho de um palmo, pôde ser visto ontem de manhã. O halo solar, como é conhecido o fenômeno, é produzido por nuvens de minúsculos cristais de gelo a uma altura de 10 km.”Os cristais de gelo funcionam como prismas que decompõem as cores que formam a luz branca dos raios do Sol”, explicou a meteorologista Mônica Lima, do Cptec, por telefone para mim, na redação da Folha.
Veja várias fotos do halo, tiradas por pessoas ontem em São Paulo no Flickr.
“Os cristais de gelo e o ângulo de incidência dos raios do Sol acabam formando o halo”, explcou Lima. Uma frente fria e úmida que avança sobre a camada de ar seco que permanecia até ontem em São Paulo produziu os cristais. A frente avança primeiro na alta atmosfera, onde os ventos são mais fortes, e depois chega ao nível do solo. Os halos, portanto, apesar de bonitos, alertam para uma mudança de tempo. “São um indicativo de que o tempo vai mudar e deve chover.”
Perguntei mais detalhes sobre o fenômeno, mas a meteorologista não soube me responder. Procurei algum especialista em ótica atmosférica no Brasil, pelo Google, e não achei. Alguém conhece algum?
Em todo caso, achei um site dedicado ao assunto, em inglês. Descobri que existem vários tipos de halos e o que foi visto ontem em São Paulo é chamado de “halo de 22 graus“, por ter um diâmetro ângular de 22 graus no céu, mais ou menos o tamanho de um palmo. Os vários tipos de halo se formam dependendo do formato e do tamanho dos cristais de gelo e dá para simulá-los com um software gratuito, disponível no site.
Também achei um blog, em inglês, dedicado totalmente à ótica atmosférica, com fotos lindas. Uma delas, emociona qualquer lablogueiro…
O fenômeno é freqüente, segundo Lima. “É que nem sempre a gente olha para o céu e enxerga”, ela diz.
Ontem, assim como o blogueiro do Idéias Cretinas, não olhei para o céu e perdi o fenômeno… :- (
Meu consolo é que a maioria dos meteorologistas também não deve ter assistido, pois estava enfurnada no centro de convenções do Shopping Frei Caneca (sem janelas, com um ar condicionado frio para chuchu…), participando do Congresso Brasileiro de Meteorologia…
Conserve primeiro, pesquise depois
Essa é a opinião do ecólogo Daniel Janzen, da Universidade da Pensilvânia (EUA), um dos principais responsáveis pela economia sustentável da Costa Rica, baseada na preservação da biodiversidade do país.
Mandei um email para o Janzen, enquanto preparava minha reportagem sobre as frutas brasileiras que os mamíferos gigantes pré-históricos deviam comer.A reportagem focaliza uma pesquisa inspirada em um artigo de Janzen de 1982, que é uma beleza de ler, só pelo estilo (se todos os artigos científicos fossem escritos assim, eu voltava a ser cientista…).
Fiz ao Janzen a seguinte pergunta: O que podemos aprender do estudo da origem ancestral dos mecanismos de dispersão de semente que possa ajudar a conservar ecossistemas ameaçados?
A resposta dele é um verdadeiro discurso, que infelizmente não tive espaço para incluir na reportagem. Aqui está, na íntegra, traduzido por mim: CONTINUE LENDO
Restos de lipoaspiração tratam distrofia muscular de camundongo
Esta é uma versão pré-editada da minha reportagem publicada pela Folha, ontem.
Quando a bióloga Natássia Vieira decidiu fazer uma lipo, não imaginava que assinaria seis anos mais tarde um artigo científico na revista “Stem Cells” com dez pesquisadores, incluíndo Vanessa Brandalise, a sua cirurgiã plástica.
Preocupada com sua lipoaspiração, em 2002, Vieira lia sobre o assunto quando descobriu que um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles havia encontrado células-tronco no meio das células do tecido de gordura que existe, em maior ou menor quantidade, debaixo da pele dos seres humanos.
Células-tronco são capazes de se transformar em praticamente qualquer tipo de tecido do corpo humano e são justamente a especialidade da orientadora do doutorado de Vieira, Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo.
Zatz, Vieira e Brandalise iniciaram então um trabalho com células-tronco de gordura humana com o objetivo a longo prazo de criar uma terapia para tratar as distrofias musculares progressivas. CONTINUE LENDO