Como se faz física teórica na prática, pelo menos na teoria

theorythinktank

A bela foto acima é parte de um ensaio que o alemão Peter Ginter fez sobre o SLAC (Acelerador Linear de Stanford), uma das principais instituições de física de partículas dos EUA. Além de razões estéticas, a foto chamou minha atenção porque acho que ilustra bem como se faz física teórica. A cena parece com o tipo de discussão real que costumava presenciar quando era aluno no IFT, com os físicos improvisando juntos um raciocínio no quadro negro, se não soando tão bonito quanto músicos de jazz, tão concentrados quanto.

Também me atraiu pelo fato de todos na foto serem mulheres, infelizmente ainda em minoria na física. É tão raro encontrar um grupo de pesquisa em física só de mulheres que fiquei curioso em conhecer a história da foto.

E então descobri que se trata de uma montagem…

“Desculpe desapontá-lo, a foto foi posada, nós quatro raramente conversamos sobre física como um grupo, embora todas nós já tenhamos interagido”, me contou em um email  Helen Quinn, a senhora de pé no centro da foto. Quinn faz parte da história da física de partículas (todo aluno da disciplina já ouviu falar na teoria de Peccei-Quinn) e é co-autora com Yossi Nir do livro de divulgação  The Mistery of the Missing Antimatter, que está na minha lista de futuras leituras. Agachada com as mãos no quadro negro está JoAnne Hewett. Colega de Quinn no SLAC, ela é outra física teórica de calibre e que nas horas vagas contribui para o blog coletivo Cosmic Variance. Agachada segurando um papel é Yue Chen, uma estudante de pós-graduação chinesa. A moça pensativa sentada à direita é outra estudante, a iraniana Jasamin Farzad. “Se tem uma coisa que a foto mostra é a natureza internacional da nossa área!”, Quinn escreveu.

A foto foi tirada no “aquário”, a sala de discussão no andar da seção de teoria do SLAC que, segundo Hewett me garantiu em um email, está sempre em uso por grupos de verdade. Os cálculos e diagramas que preenchem os quadros são de discussões que aconteceram ali anterioremente.

Nuvens gigantes solitárias em forma de tubo na Austrália

Olha só esta foto selecionada pelo pessoal da Imagem Astronômica do Dia. “Nuvens Glória da Manhã podem gerar uma velocidade do ar de 60 quilômetros por hora sobre uma superfície com brisas pouco discerníveis”, diz a legenda. Há uma página dedicada a essas nuvens que existem em uma região da Austrália no site da Associação Sociedade dos Apreciadores de Nuvens. O texto da associação cita o trabalho do meteorólogo Doulgas Christie que acredita saber como essas nuvens se formam (vejam um artigo científico dele aqui).

O Renan do blog N-dimensional reclamou em sua resenha do guia dos apreciadores de nuvens que as figuras do livro são em preto-e-branco. A associação se redime em seu site com uma vasta galeria. Bom, deixa agora tirar a cabeça das nuvens e voltar para o trabalho…

UPDATE: elas existem tb no Brasil; vejam o comentário 3.

Agito de animais marinhos pode afetar clima

Ventos e marés forçam a água das calmas camadas profundas dos oceanos a subirem e descerem, misturando e distribuindo ao longo do caminho sais nutrientes, oxigênio, gás carbônico e o calor que mantêm ecossistemas marinhos e o equilíbrio do clima global. Em artigo na Nature de 30 de julho, uma dupla de bioengenheiros apresentou evidências que faltavam para provar que além dos vento e das marés, a natação dos animais pode ser a terceira grande força que garante a mistura global dos oceanos.

A maioria dos oceanógrafos torcia o nariz para a ideia de que o movimento coletivo de incontáveis nadadeiras, tentáculos e patinhas contribuiria para a mistura global. Isso porque o rastro de turbulência na água provocado pela passagem dos animais parecia ter pouco alcance. Ninguém deu muita bola quando, em 1953, o físico Charles Galton Darwin, neto do grande biólogo Charles Darwin, propôs que, além do rastro de turbulência, um animal nadando verticalmente produziria atrás dele uma correnteza de força suficiente para arrastar água a distâncias consideráveis.

John Dabiri e Kakani Katija, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, calcularam a intensidade desse efeito e perceberam que ele poderia ser importante. Resolveram, então, mergulhar com cardumes de água-vivas Mastigias em uma lagoa salgada na ilha da República de Palau, Oceano Pacífico. Mediram a velocidade das partículas de uma tinta verde espalhada pelas água-vivas usando uma câmera equipada com raio laser. Descobriram que noventa por cento da mistura da tinta na água aconteceu pelo efeito proposto pelo neto de Darwin.

No mesmo artigo na Nature em que apresentam suas medidas das água-vivas, Dabiri e Katija estimam que por meio do efeito de Darwin a energia cinética transferida pela natação de todos os animais marinhos (do zooplâncton às baleias) à água dos oceanos chega a potência de um trilhão de Watts, uma potência comparável a dos ventos e das marés. Embora o efeito deva certamente ser importante onde há migrações verticais de grandes populações–caso dos cardumes de krill na Antártica, onde já se comprovou que a energia transferida pelos pequenos crustáceos é grande–alguns pesquisadores ainda duvidam que o efeito tenha importância global. Se futuros estudos comprovarem a estimativa de Dabiri e Kajita, então os modelos de clima global precisarão ser modificados para levar o efeitos dos animais em conta, algo que ninguém sabe ainda como fazer.

FONTES: Nature News, New Scientist, National Geographic News, Science News, Wired Science Blog, Science NOW, BBC, Physics World.

Pênalti perfeito existe, diz cientista no Globo Esporte (ATUALIZADO)

UPDATE, 5 de julho: A Martina Navarro, que participa desse estudo sobre o pênalti, passou em um comentário abaixo o LINK para o blog do estudo, com explicações e informações, inclusive com referências bibliográficas.

***

Não acompanho o Globo Esporte, mas hoje assisti a uma boa reportagem de ciência no programa:


Foi baseada em pesquisa do biofísico Ronald Ranvaud, cuja referência bibliográfica não consegui achar na internet.
Ranvaud costuma colaborar com um grupo excelente de ciência dos esportes, o laboratório de biofísica da EEFE-USP. O portal do laboratório tem vários recursos didáticos, inclusive um site sobre a física do futebol.

O Globo Esporte fez há alguns anos uma reportagem sobre esse grupo, mostrando a curiosa análise da mecânica do salto da ginasta Daiane dos Santos.


Quatro cuidados que fazem um bom jornal

A edição 690 de Jornalistas&Cia., um boletim impresso
distribuído entre profissionais da imprensa, informa que a “Folha dá mais um passo na direção de novo
conceito de jornal”. O boletim cita um co
municado escrito pelos
principais dirigentes da redação do jornal, Otavio Frias Filho e Eleonora de
Lucena, que propõe quatro novas diretrizes aos seus jornalistas.

Sinceramente, não consigo ver nada de originalnessas “novas” diretrizes. Contudo, elas resumem tão bem as regras de ouro de um bom jornal que não resisti em publicá-las aqui [texto entre colchetes são observações minhas]: 

1. Organizar a pauta [gíria dos jornalistas que
significa “assuntos/fatos/histórias sobre os quais vamos escrever”],
selecionando mais os assuntos e priorizando as abordagens exclusivas dos fatos de relevo. Buscar o furo
como prioridade máxima. Ter um planejamento de médio e longo prazo
para o desenvolvimento de pautas mais abrangentes.

2. Na produção, cuidar para ampliar o número de fontes,
buscar o contraditório e sempre entender o contexto e os interesses que cercam
a notícia. Não hesitar em pautar histórias que revigorem o prazer da leitura.

3. Na elaboração dos textos, trabalhar com concisão e
didatismo. Observar a necessidade de a redação ter: a) frases e parágrafos
curtos (máximo de 10 linhas justificadas); b) uso de aspas apenas quando houver
relevância ou quando a declaração for curiosa; c) emprego de números e cifras com
mais critério, lembrando sempre de relacionar a parte e o todo; d) preocupação
com as nuances, os matizes de argumentos e fatos, fazendo relatos com
fidelidade, sem tentar enquadrá-los em categorias preconcebidas; e) a memória
do caso e suas inter-relações; f) narração clara e fácil, evitando jargões; e
g) conexão com a vida prática dos leitores.

4. Na edição, ter a preocupação de oferecer um produto
mais compacto e integrado, sem reduzir espaço reservado a artes e fotos. É
necessário reforçar a hierarquia nas páginas. Ajuste gráfico em curso auxiliará
nessa tarefa. É preciso dar visibilidade ao “outro lado” e usar com mais
frequência recursos como: a) “análise”; b) “perguntas e respostas” / “para
entender o caso”; c) “quem ganha e quem perde”; d) “saiba mais”; e e) “e eu com
isso?”. 


No item 2, eu acrescentaria “buscar ir além de meras opiniões, verificando as evidências científicas que existem sobre os fatos”. 

Censura no Stoa – Mais um sintoma de “fachadismo”

Menos virulenta que a gripe suína, porém mais perigosa a longo prazo, uma doença crônica e altamente adaptada ao seu hospedeiro causou sintomas agudos na USP, nesta semana. A reitoria da USP censurou a rede social da comunidade da instituição. O motivo foi obviamente injusto (leia mais aqui, por exemplo). 

Trata-se de um sintoma do “fachadismo”, uma doença que João Barata, professor do Instuto de Física  da USP,  define muito bem:  

“uma atrofia moral, abundantemente observada no seio da USP, que se manifesta na tentativa de preservar a todo custo a imagem externa da instituição como a de a mais importante universidade do país, livre de vícios e máculas. Segundo essa prática, todos os escândalos e todos os desvios de conduta devem ser internamente abafados e ocultados para que a sociedade externa não altere sua visão da universidade como sendo a de uma vestal erudita e serena, impoluta e estática.” LINK 


O único tratamento eficaz contra o fachadismo, escreve Barata, “a única postura realmente eficaz em preservar a dignidade de uma instituição, qualquer instituição, é a oposta: a da transparência isenta e austera nos julgamentos e procedimentos corretivos.”

Infelizmente, o fachadismo não é exclusividade da USP. Felizmente, a cura também não é. Está amplamente disponível e é só questão de aplicar.

***

DECLARAÇÃO DE CONFLITO DE INTERESSE:  Everton Alvarenga é meu amigo e ex-colega do IFUSP, onde me graduei bacharel em física. Barata foi o melhor professor que tive durante a graduação.  

Os gases de efeito estufa do gado bovino brasileiro

Para quem ainda não viu, minha reportagem na edição de março da Scientific American Brasil está disponível no site da revista. Um dos pesquisadores que entrevistei foi o Ítalo Guedes, do Geófagos. A reportagem foi feita para acompanhar a tradução de um artigo da Scientific American sobre os gases estufa da pecuária bovina no mundo. 

Esse assunto vai esquentar em breve, quando o Ministério da Ciência e Tecnologia divulgar o novo relatório brasileiro às Nações Unidas com as estimativas das emissões de gases estufa em todo o país. O último relatório brasileiro foi divulgado em 2004, mas com base em dados colhidos entre 1986 a 1996. O novo relatório terá dados de até 2007 e mais confiáveis que os anteriores.  

Coming soon: the ScienceBlogs Brazil´s blog in English

Hello, global audience, welcome to ScienceBlogs Brazil! This is my blog, “Universo Físico”, that means “physical universe” in Portuguese. As a former physics graduate student turned a science writer, most of my posts deals with physical science although I am interested in all branches of science.

Since August 2008, I have been part of the only science blogging community in Portuguese, that we called “Lablogatórios” (lablogatories), created in part inspired by the ScienceBlogs community. Before that, there were Brazilian science bloggers scattered out there but we didn´t know each other. Once, Carl Zimmer asked in The Loom about science bloggers around the world if English speak science bloggers are too first-world-centered; it was in the comment section of this Zimmer´s post that I discovered an excellent Brazilian science blog called Geófagos. It was the first time I realized that there are others science bloggers in Brazil! Then soon, I was reached by Carlos Hotta and Atila Iamarino that invited me to participate of “Lablogatórios”.

Now, we started a partnership with Seed Media Group and “Lablogatórios” became ScienceBlogs Brazil. As Hotta and Iamarino said, we hope that “ScienceBlogs Brazil will turn our local voices into global ones.”

All my posts so far are written in Portuguese and will continue to be written in this language, the last flower of Latium, for three main reasons. First, you English speakers have already a lot of relatively good science writing sources when compared with my fellow Brazilian citizens; most of them don´t speak English and rely on awful churnalistic translations. Second, while I keep studying it (afterall, besides complains, it is the lingua franca of Science), I´m still struggling with English — writing in English still feels to me like being a pianist having to play a violin concerto. Finally, I really enjoy write in Portuguese.

But if you are still curious to know what we Brazilian ScienceBloggers are discussing, and want to know more about Brazil, its culture, its people, its landscapes, its fauna and flora, and all about the science made here, keep whatching! We´re planning to launch soon a blog written in English, featuring translations of the best posts of ScienceBlogs Brasil and exclusive photos, videos, articles, essays and stories by our bloggers.

CampusParty+SciAm+Unesp+ScienceBlogs = 1 mês sem blogar

Uau, fiquei um mês sem escrever aqui. Pensam que eu estava de férias? Quem me dera! Deixa resumir o que aconteceu comigo neste começo de ano.

No final de janeiro, escrevi correndo minha primeira reportagem para a Scientific American Brasil. Foi sobre as emissões de gases de efeito estufa do gado bovino brasileiro. O texto é um complemento ao artigo do economista Nathan Fiala sobre a contribuição do consumo de carne ao aquecimento global, publicado pela Scientific American nos EUA em fevereiro. Aqui, a Scientific American Brasil deve publicar ambos em sua edição de março.

Terminei a reportagem a tempo para participar de um debate na seção Campus Verde, da Campus Party. Foi uma conversa livre e fragmentada, mas nem por isso menos profunda, com a Maira Begalli, a Isis Diniz, o Átila Iamarino, o Rafael Soares, uma amiga estudante de direito amgia do Rafael cujo nome não lembro (vergonha…) e um rapaz que parecia entender de filosofia e que entrou e saiu da conversa de repente. Uma amostra das duas horas de do debate ficou registrada no Twitter. A conversa girou principalmente em torno dos aspectos da pesquisa científica que são mais difícieis de comunicar ao público em geral e como essas dificuldades podem moldar nosso futuro. Quem quiser ver na íntegra, foi gravado em vídeo:

Broadcasting Live with Ustream.TV

Em fevereiro, traduzi um artigo para a edição de abril da Scientific American Brasil e começei a preparar minha bagagem eletrônica para me mudar para a versão brasileira do ScienceBlogs.

Mas o que mais tomou meu tempo durante este mês foi o meu novo emprego de repórter na Assessoria de Comunicação em Imprensa (ACI) da Unesp. Fui contratado para reforçar a equipe de jornalismo científico da ACI, com a função de fuçar nos periódicos científicos em busca de pesquisas interessantes para divulgar e escrever matérias para o Portal Unesp,o Jornal Unesp ou press releases.

Agora, o desafio vai ser me equilibrar entre as minhas obrigações com a Unesp e o blog e evitar os conflitos de interesse. Espero que com o tempo se estabeleça entre os dois uma espécie de simbiose. Veremos…

Newton descobrindo a lei da gravitação, por Vladimir Kush

Em um dia do ano de 1666, Newton tinha ido ao campo e, ao observar a queda de uma maçã, segundo o que a sua sobrinha me contou, deixou-se cair em profunda meditação a respeito da causa do que atrai todo objeto ao longo de uma linha cuja extensão atravessaria praticamente o centro da Terra. – Voltaire, em Elementos da Filosofia de Newton (1738) [citado em Gravitation (1973)
 

Essa pintura surrealista é do mágico Vladimir Kush. Procurem obras dele na web e vocês vão achar maravilhas tais como:
 

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