>Perdendo as contas

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Eu trabalho com gases no regime de degenerescência quântica. Um nome pomposo pra dizer que o gás está tão frio, mas tão frio que ele passa a se comportar de uma maneira diferente, de acordo com as leis da física quântica. Isso te lembra alguma coisa?

Pois bem, a primeira vez que um gás nesse regime foi produzido foi em 1995, mais de 15 anos atrás. O gás era unicamente composto por um elemento: Rubídio. Purinho.
Depois vieram Sódio, Lítio, Potássio, Césio, Hidrogênio, Hélio. A menos do último, todos os outros tem algo em comum: moram na coluna mais da esquerda da tabela periódica… E mesmo o Hélio, nas condições em que foi feito, a gente pode dizer que é equivalente aos outros.

Aqui onde eu trabalho foi o segundo lugar a produzir um “ousider”: Cromo. Isso em 2005, já a 6 anos. Um pouco antes, Itérbio entrou na parada. Até aí e ainda um pouco depois eu costumava seguir quais átomos entravam pra lista e riscar numa tabela periódica. Eu riscava inclusive os isótopos, 2 Potássios, 2 Rubídios e por aí vai.

Mas recentemente, a coisa ficou impossível. Incontáveis isótopos de Itérbio, de Estrôncio, Cálcio e eu comecei a me perder. Pois bem, hoje soubemos que Disprósio é o novo membro do clube. Bem vindo e… você sabe onde fica o Disprósio na tabela aí em cima pra eu poder colocar mais um xis…?

>O estranho mundo quântico

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Imagine você alguém andando calmamente. Você mesmo, por exemplo, na sala da sua casa… De repente, oh meu Deus!, uma batente aparece na sua frente: pode ser a soleira da porta ou o primeiro degrau de uma escada, enfim, um degrau, desnível ou seja lá o que for…

Por acaso isso é motivo de angústia no seu coração? Aperreio, aporrinhação, descontrole emocional? “Não, é claro!”, vão me responder 99.99999% de vocês, certo?

Pois saiba você que, no mundo quântico, não é bem assim. O senhor Elétron morre de medo de um degrauzinho, faz xixi nas calças só de imaginar um um desnível em seu caminho, tem pesadelos com escadas quase toda noite!

E você faz ideia porque é assim? Porque o mundo quântico é estranho.

Quando o mr. E (pseudônimo do sr. Elétron) encontra um degrau, várias coisas podem acontecer com ele. Primeiro, o comum, que acontece com todos nós, ele vem e sobe o degrau, vai embora. Geralmente é isso que acontece quando ele vem bem rápido… Nem vê o degrau direito! Mas quando ele vem mais devagar, aí o bicho pega! Pois mr. E bate no degrau e volta! Já imaginou um degrau, pequenino que seja, simplesmente agir como uma parede e devolver você para onde você veio?

Mas isso nem é o pior. No mundo quântico, se duas coisas são possíveis ao mesmo tempo, então elas acontecem juntas. Assim, veja, mr. E chega ao degrau e “se divide”: parte dele passa, parte volta! Agora imagine isso com você: chega na soleira da porta da sua casa, vai subir e, surpresa!, a sua cabeça passa e o seu corpo volta, ou o seu tronco vai em frente e as suas pernas são mandadas de volta! É ou não é de dar dor de barriga em qualquer um?

Mas então, alguém de vocês pode dizer: besteira! Bobagem! Mentira! Nunca vi isso acontecer! Nem comigo nem com ninguém! Onde já se viu, bater na soleira da porta e se dividir?! Pois eu te respondo: você está certo (uma soleira nunca dividiu ninguém no meio), mas está errado, isso é, ainda assim, a verdade.

O mundo quântico, estranho como ele pode ser, é quem, no fundo, no fundo, rege a natureza. As leis fundamentais são invariavelmente quânticas. Mas o “mundo real”, esse onde a gente vive, não é quântico, ou melhor, é um mundo onde a gente não vê as estranhezas do mundo quântico.

Ficou curioso pra saber o porquê? Eu te conto num outro post… 😉

>A discussão mais vazia…

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Uma das discussões mais vazias que existem é a da dicotomia entre ciência e religião. As pessoas normalmente não entendem que uma não invalida a outra. Ciência, grosso modo, é obra do homem, para entender natureza. Religião, grosso modo, igualmente, é obra do homem, para entender as coisas de Deus. 

Mas, vou dizer de novo, MAS, o homem, em si, é uma obra de Deus, tal qual a Natureza e, se a ciência é a forma de entender a Natureza, então, Ciência e Religião são realmente diferentes? E é justamente por isso que a discussão é totalmente inócua. Ciência e Religião buscam entender diferentes (ou nem tanto) ramos da mesma coisa.

E se você não concorda com um cientistazinho furreca que nem eu, talvez você concorde que alguns dos grandes cientistas da história eram extremamente religiosos. Einstein, a seu modo, Newton, que estudou mais tempo da sua vida sobre religião do que ciência e Galileu, só pra ficar em três nomes mais conhecidos. E pra fechar, faço minhas as palavras de Galileu:

“A ciência humana de maneira nenhuma nega a existência de Deus. Quando considero quantas e quão maravilhosas coisas o homem compreende, pesquisa e consegue realizar, então reconheço claramente que o espírito humano é obra de Deus, e a mais notável.” (Galileu Galilei)


E você, tem algo a dizer sobre isso?

>2011 – Ano Internacional da Química

>Este ano de 2011 foi anunciado Ano Internacional da Química, com abertura oficial nesta semana, dias 27 e 28 de janeiro, na sede da UNESCO em Paris. O ano foi escolhido por ser o centenário do prêmio Nobel em Química dado a Marie Curie, o segundo dela, de fato, já que em 1903 ela ganhou também o de Física.

A escolha é semelhante ao que foi feito em 2005, no centenário do ano fabuloso de Albert Einstein. De fato, duas belas homenagens.

Marie Curie foi a primeira mulher a receber o Nobel, a primeira pessoa a ganhar dois Nobel (e por muito tempo a única) e uma cientista excepcional, não só pelo que fez, mas pelo contexto temporal em que fez. No fim do século XIX, começo do século XX, quando a mulher era normalmente tratada como “peça decorativa” e não como pessoa capaz de fazer ciência (ou qualquer coisa) mais e melhor que o homem (talvez cuidar da casa e dos filhos apenas), fazer tudo o que ela fez é realmente fabuloso. Mais ainda é pensar que ambas suas filhas também estiveram, anos mais tarde, envolvidas com o Prêmio.

Como o dono do blog admira mulheres que fazem pesquisa de alto nível, Marie está oficialmente eleita uma das heroínas do blog, exemplo de que fazer ciência de alto nível é possível mesmo que se tenha que passar por cima de convenções sociais, limitações culturais, e todas as limitações que a vida impõe. Viva Curie!

>O Pescoço

>O Pescoço é uma pedaço muito maravilhoso do nosso corpo. É a via única de comunicação da cabeça com o corpo, em mão-dupla. Nesse pequeno espaço passam laringe e faringe, para alimentação do corpo, a coluna vertebral, com direito à toda a “fiação” de controle do corpo e as vértebras que protegem a coluna e ajudam  na sustentação da cabeça. Ali no pescoço fica também a tireóide, importantíssima para a regulação de muitas das funções do nosso corpo. E é ali no pescoço que passam também uma série de músculos e tendões que nos permitem sustentar e movimentar a cabeça, e é isso que é o que temos de mais importante no pescoço…
Não acredita? Então veja só: minha tireóide tá funcionando, coluna, vértebras, faringe, laringe, tudo em ordem. E aí, por causa dos relegados “à segundo plano” músculos e tendões, que estão doendo pra caramba, culpa de uma noite mal-dormida, eu nem posso escrever no blog…

Paciência. Até semana que vem.

>Matéria e anti-matéria

>Simetria é algo meio sagrado em Física… Muito é construído tomando-se como base a manutenção das simetrias, nos mais variados níveis.

Por outro lado, normalmente os experimentos procuram provar essas simetrias ou, mais divertido, quebrá-las. É nesse ponto que novos estados da matéria aparecem, fenômenos não previstos anteriormente são observados, partículas novas são descobertas, prêmios Nobel são concedidos…
Uma das simetrias, na verdade a falta dela, que mais intrigam os físicos é a da matéria com a anti-matéria. Sabe-se hoje que matéria e anti-matéria são rigorosamente iguais (até onde se pode medir), a menos da carga elétrica que carregam, que é contrária. Ou seja, massa é igual, propriedas das mais diversas são iguais, só troca-se + por – na carga elétrica. Além disso, sabe-se que, a partir de energia, só pode-se criar matéria se for criada, juntamente, anti-matéria, o par perfeito. O processo inverso vale também: matéria e sua “alma-gêmea” aniquilam-se dando origem à energia pura.
A questão é: o Universo que conhecemos é feito de matéria. Onde está a anti-matéria? Ou o anti-Universo, se você quiser pensar assim? Há duas possibilidades mais aceitas como explicação. A primeira, que matéria e anti-matéria não são rigorosmente iguais e aí todas as teorias fundamentais teriam que ser alteradas, esquecendo-se essa simetria para só aí tentar explicar o desbalanço de matéria e anti-matéria. A segunda explicação, que seria, para mim, muito mais divertida, mas igualmente chocante em termos físicos é que entre matéria e anti-matéria haveria anti-gravidade… Hein?! Pois é… A gravidade é uma força que atrai quaisquer dois pedaços de matéria. Mas todas as forças por aí tem a sua componente atrativa e a repulsiva. E onde está a da gravidade? Pronto, você já entendeu: a gravidade entre matéria e anti-matéria seria repulsiva, ou uma anti-gravidade! Resultado disso tudo? Quando matéria e anti-matéria foram primeiramente criadas, elas se repeliram e de uma lado do Universo temos matéria, do outro, bem lá longe, temos um anti-Universo, só com anti-matéria. E daí viria o fato que aqui do nosso lado só vemos matéria.
Lá do outro lado do Universo, então, provavelmente tem um anti-eu escrevendo um anti-blog para um anti-você vir ler de vez em quando… E antes que você torne-se anti este blog com esse excesso de antis-isso e  antis-aquilo, eu paro este artigo por aqui. Até mais!

>Cresce o interesse por ciência no Brasil

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         E não é que no dia que eu resolvo ressucitar este blog pinga na minha caixa de mensagens uma reportagem sobre uma pesquisa do MEC que tenta entender como o brasileiro vê a ciência? Eu diria que são bons presságios, especialmente considerando que a pesquisa conclui que cresceu o interesse brasileiro por ciência em geral.
   
            Mas, é isso mesmo? Lendo com mais cuidado o texto (íntegra aqui) me parece que a conclusão é um pouco precipitada. A pesquisa intilula-se “Percepção Pública da Ciência e Tecnologia” e conclui que o índice de brasileiros que se diz interessado em ciência e tecnologia cresceu nos últimos 4 anos (de 41% para 65%) a ponto de superar os que se dizem interessados, por exemplo, por esportes (62%) ou por arte e cultura (59%).
No entanto, na hora que se olha os temas de maior interesse, saúde, informática e computação e engenharias são alguns dos temas de maior interesse e dominam quase 70% do total. Para mim, isso é claro reflexo de que, nos últimos anos, os brasileiros tiveram mais acesso a computadores, internet, celulares, equipamentos de todos os tipos e ainda informação em massa, muito mais do que antes. Isso traz naturalmente um interesse por informática, engenharias, computação. E, eu reconheço, tem ciência aí, mas aplicada e não básica, como química ou física que ficam na faixa dos 3% de interesse. Então, o título da matéria, pra mim, leva o leitor a um claro engano. Sem demérito, no entanto, dos resultados em si, que são excelentes, porque quando uma população sabe mais sobre ciência e/ou tecnologia, se interessa mais, vê melhor a importância, então o próprio país passa olhar a ciência com um viés mais positivo.
Só pra fechar, vale ressaltar que a ciência nacional é pouco conhecida, como também aponta a pesquisa e é claro que, além de se interessar mais por ciência, é importante que o povo conheça mais o que é feito no seu quintal. Só assim é possível manter o crescimento do interesse e da ciência nacional a longo prazo.

>Sobre este blog

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Esta é, a rigor, a “segunda chance” deste Caderno de Laboratório. Quando ele foi fundado, alguns anos atrás, o momento não era propício, a maturidade não era tão grande e os propósitos não eram claros. E só com “vontade de fazer” não funciona. Aliás, a maioria das coisas não funciona sem propósitos claros, planejamento bem feito, muita disciplina e, claro, uma boa dose de vontade e persistência.

Nesse sentido, os meus objetivos aqui são claros agora: quero escrever sobre ciência e, eventualmente, sobre algum outro assunto que me dê vontade. Mas o foco é ciência, e ciência na sua definição mais ampla, como a atividade humana de descobrir, investigar, saber mais, saber melhor. É claro que, por ser físico, os meus assuntos provavelmente penderão para esse lado mas, de forma alguma, serão monopolizados por ele.
No entanto, a vontade aqui não é apenas escrever sobre ciência pura e limpa, mas também sobre outros aspectos que cercam o ambiente científico. Então, de vez em quando, eu vou tentar abordar também coisas como ensino de ciências, financiamento à pesquisa, o dia-a-dia de um pesquisador, a aplicação da ciência e a ciência por trás das aplicações.
No momento que escrevo este texto (Janeiro/2011), eu não sei quem será meu público, mas a idéia aqui é escrever para um público mais geral, algumas vezes mais experiente, outras menos, mas textos acessíveis à todas às cabeças. Eventualmente, assuntos mais especializados talvez apareçam. Tentarei fazê-los o mais simples possível.

E um pouco sobre mim…

Meu nome é Emanuel, eu sou físico. Um pouco sobre mim como cientista, carreira, publicações e atividades atuais você encontra na minha página pessoal (somente em inglês).

Aqui neste blog eu sou menos o cientista que tem que se haver com laboratório, bolsa, equipamentos, detalhes técnicos e teóricos, e mais um apaixonado por ciência que tem a sorte de ser pago pra trabalhar com isso.
Eu gosto de “saber” de um modo geral, gosto de saber sobre tudo, ler sobre tudo, me informar sobre o que de mais novo há no que quer que a humanidade esteja fazendo, mesmo que às vezes isso se inclua na categoria “cultura inútil”.
Nesse sentido, é ótimo trabalhar com ciência e ser casado com uma super-especialista, o que me dá acesso ao lado mais “nobre” do conhecimento humano, vulgarmente conhecida como “ciência de ponta”, mas é ótimo também ter e herdar uma família com interesses e atividades tão variadas, o que me garante acesso também a “especialistas” nas outras muitas (e mais realistas) facetas da atividade do homem.
É este quem eu sou e é daí, das minhas experiências e das pessoas que me cercam, que vou tirar as idéias e temas. Espero que você goste, participe e volte. E mesmo que não goste, ainda assim participe e volte.

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