O desmatamento subiu e ninguém viu

QUINTA-FEIRA SANTA, véspera de feriado. Ministra do Meio Ambiente na Indonésia. Presidente do Ibama convoca entrevista coletiva para dar os dados do desmatamento na Amazônia. Entre agosto de 2012 e fevereiro de 2013, o ronco da motosserra disparou: 26,6% de crescimento em relação ao mesmo período do ano anterior. Dois jornais noticiaram, discretamente. Ficou nisso.

O Ministério do Meio Ambiente escolheu o dia, a hora e o porta-voz a dedo para abafar a disparada, num momento em que o desempenho ambiental (logo ele) aparece como uma das razões da popularidade descaralhante-que-nem-o-cogumelo-gigante de Dilma Rousseff, a presidenta-TPM. Soltou um press release dando um belo spin na má notícia, desmentido já previamente pelo contraspin do Greenpeace. Aparentemente o ministério comemora que a devastação tenha caído entre agosto e fevereiro, mas deixa eu contar um segredo: cai todo ano entre esses meses, porque chove na Amazônia. Se o índice acumulado subiu quase 27% no final do ano é porque a coisa pode ficar bem feia de maio em diante, quando começa a estação seca e o pau canta (ou melhor, chora) na floresta. Por menos do que isso Marina Silva baixou a lista dos municípios campeões de desmatamento, que deu no que deu nos anos seguintes.

É direito do ministério apresentar sua versão dourada dos fatos. Afinal, qualquer cidadão com acesso à internet pode ir até a página do Inpe na internet checar a real dos dados do Deter. Ou pelo menos podia.

Desde a disparada de 220% em agosto os dados do sistema não são postados na internet com a frequência prometida. Depois que o site O Eco flagrou o pulo da devastação, o Inpe prometeu que colocaria os dados do Deter no ar de 15 em 15 dias. Mas nem mesmo a frequência mensal foi mantida, já que o sistema ficou meses sem atualização. Em 2008, quando o desmatamento disparou (também no segundo semestre) e o governo de Mato Grosso jurava que não, o Inpe moveu céus e terra para provar que seus dados estavam certos. “A transparência dos dados do Deter é uma conquista da sociedade brasileira”, repetia na época o diretor do instituto, Gilberto Câmara. É preciso que a sociedade cobre o Inpe pela manutenção dessa conquista.

O governo tenta reagir ao crescimento do desmate como sabe: na porrada. A esperança é que o dado do Prodes, o sistema que dá a taxa oficial, fique estável ou mesmo caia em 2012/2013, mas, assim como a política econômica lulodilmista, o efeito da pancada tem uma eficiência cada vez mais baixa com taxas mais baixas de desmate. E a flexibilização da legislação ambiental, no governo Dilma, juntamente com o avanço do PAC sobre a Amazônia, não ajudam muito na contenção.

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