Mais água na fervura

gotas

O VALOR ECONÔMICO publicou na última sexta-feira no suplemento Eu& Fim de Semana uma cascata de minha lavra sobre as razões pelas quais o IPCC está pronto para decretar, no fim deste mês, que a previsão de aumento do nível do mar no fim do século será maior do que o painel havia estimado em 2007.

O texto é fechado para não assinantes, portanto vou me eximir de reproduzi-lo aqui. Mas, como na internet ninguém e de ninguém, um amigo encontrou um bootleg governamental nesta página. Você vai descobrir, entre outras coisas, por que os esquimós não estão nem um pouco preocupados com a elevação do oceano.

A matéria vem ilustrada com algumas fotos que eu fiz com a Xereta que peguei emprestada da minha filha e uma linda imagem aérea feita pelo fotógrafo, caçador de fim de semana e professor aposentado groenlandês Finn Pedersen.

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Corrente de gelo de Upernavik, glaciar do tamanho de Sergipe e que hoje é um dos maiores contribuintes individuais para o aumento do nível do mar no planeta. As rochas no primeiro plano estavam cobertas por gelo sete anos atrás.

O geofísico paquistanês Abbas Khan verifica uma das estações de GPS que usa para medir a aceleração da geleira de Upernavik

O geofísico paquistanês Abbas Khan verifica uma das estações de GPS que usa para medir a aceleração da geleira de Upernavik

Frente da geleira de Upernavik, onde o glaciar encontra o oceano. Os cientistas acham que a água mais quente do Atlântico é responsável pelo colapso acelerado de diversas geleiras na Groenlândia nos últimos 15 anos (Foto Finn Pedersen)

Frente da geleira de Upernavik, onde o glaciar encontra o oceano. Os cientistas acham que a água mais quente do Atlântico é responsável pelo colapso acelerado de diversas geleiras na Groenlândia nos últimos 15 anos (Foto Finn Pedersen)

 

Quem tem pacu tem medo

UM ESPECTRO ronda a Europa: o pacu. O pânico do verão europeu deste ano tem sido esse peixão amazônico, primo mais carnudo e não muito mais saboroso da piranha. Nas últimas semanas, a imprensa europeia tem noticiado, alarmada, que pacus foram encontrados no rio Sena e no canal de Oresund, entre a Dinamarca e a Suécia. Não que ele tenha o apetite por sangue de suas parentas menores, nem o hábito de nadar em bandos. O medo decorre do aparente hábito do bicho de morder testículos.

No Reino Unido, ele foi apelidado de “peixe comedor de testículos”. Na França, banhistas no Sena tem sido advertidos a nadar de roupa (fala sério, quem nada no Sena?). Na Suécia, o alerta é para ninguém nadar pelado (quem nada pelado naquele frio?). O pacu é um peixe de hábitos vegetarianos e insetívoros, portanto ele não ataca seres humanos deliberadamente. Ocorre que seus dentes e mandíbulas são adaptados a quebrar castanhas, que caem das árvores nas matas de igapó. E bagos podem ser confundidos com bagas . E aí já viu.

Quando tomei conhecimento do caso, por obra e graça da impagável Alexandra Moraes, juro que achei que fosse piada ou algum erro de tradução. Afinal, a palavra em inglês para castanhas, “nuts”, é a mesma para culhões. Aí resolvi consultar um especialista: Fernando Meyer Pelicice, da Universidade Federal do Tocantins. Fiquei surpreso com a resposta.

“É real esse lance do pacu”, conta o ecólogo. Segundo ele, incidentes foram registrados em Papua Nova Guiné. Os nossos peixes aparentemente andaram atacando as partes baixas e machucando homens por lá. Ganharam até um episódio do documentário na NatGeo (ou um outro canal desses) “Monstros do Rio”. “Nesse caso identificaram a espécie como Piaractus brachypomus, amazônico”, diz Pelicice.

Os europeus, porém, podem ficar tranquilos, afirma o pesquisador. “Espécies amazônicas não suportam frio. Ou seja, esses peixes não devem suportar o próximo inverno. Por isso imagino que o problema não se sustente, ao menos nos países nórdicos. Deve se considerar também que pacus têm exigências ambientais restritas para reprodução (e.g. alguns migram, precisam de várzeas para os jovens, etc), o que pode atrapalhar a colonização de alguns locais.”

Isso, claro, até algum engraçadinho resolver soltar candirus nos rios europeus.

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