Laboratórios híbridos de interface arte/neurociências – L’IMPLORANTE LAB

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– Por Jose Otavio Pompeu e Silva

Um encontro inusitado entre cientistas e artistas em um laboratório montado para funcionar durante o congresso IBRO 2015 que acontecerá no Rio de Janeiro e é um dos maiores encontros entre neurocientistas do mundo. Serão duas apresentações de uma performance que une a proposta de uma pesquisadora de pós-doutorado, a atriz Dorys Calvert; um aluno de mestrado, o pintor Danilo Moveo; a aluna de doutorado e videomaker Cristina Amazonas que assina a direção de arte e o som do pesquisador e DJ Eufrásio Prates. José Otávio e Maira Fróes, dois neurocientistas da UFRJ, comandam a interface arte/ciência que simula uma rede neural com oscilações entre dados eletrofisiológicos e artísticos criando um ambiente de imersão em que o tema universal dos sentimentos profundos da mulher é mostrado no texto das cartas da artista francesa Camille Claudel.

O laboratório ArtSci L’Implorante trabalha com o conceito de ruído que está por trás de toda rede comportamental e cognitiva, integrando performance teatral, pintura abstrata ao vivo e música eletrônica holofractal, combinada com abordagens neurofisiológicos clássicas, representada por gravações electrodérmicas e eletroencefalográficas diretamente obtidas a partir dos arteistas e complementado por impressões subjetivas . Um encontro entre o subjetivo e o objetivo, artistas e cientistas contemporâneos em busca das bases neurobiológicas da experiência humana. Vamos exercer nesses ambientes o potencial de inspirar e propor abordagens inovadoras para lidar com afirmações científicas para uma cognição emocional e afetiva incorporada no comando da criação humana.

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arte / neurociência e ciência / interfaces de sujeitos

. UMA QUESTÃO DE CORPO
8 de julho quarta-feira 17:00
Conceitos emergentes e conhecimentos experimentais de comportamentos emocionais e cognitivos incorporadas

. UMA QUESTÃO DE COR
9 de julho quinta-feira 17:00
Paletas da experiência humana objetiva e subjetiva com cores

. UMA QUESTÃO DE SOM
Sexta-feira 10 de julho 17:00
Palavras sonoras, soando imagens sonoras e
cérebros sonoros na ciência

Experiência interativa
A geração das interfaces de artsci ao vivo (a qualquer momento)

Sul America Centro de Convenções – Mezanino
Av Paulo de Frontin , 1 -. Cidade Nova, no Rio de Janeiro
anatomiadaspaixoes.blogspot.com

Artistas, cientistas:
Caetano DABLE,
Cecilia Hedin-Pereira,
Cristina Amazonas,
Dandara Dantas,
Danilo Moveo,
Dorys Calvert,
Eufrasio Prates,
Fernando de La Rocque,
Franey Nogueira,
Gabriel Brasil,
João Bosco
Bedeschi Filho,
José Otávio
Pompeu e Silva,
Maira Fróes,
Mario Fiorani Jr

 

Infecção Hospitalar: o perigo subestimado

hospital-staph_600Imagem: Mike Adams http://www.naturalnews.com/023156_MRSA_staph_infections.html

Autor: Samuel Pereira
Discente do quinto semestre do curso de Biomedicina na Universidade Estadual de Santa Cruz, onde também realiza iniciação científica.

Nos últimos dias, quando a mídia noticiou sobre o isolamento de uma bactéria resistente causando infecção em dois pacientes, em um hospital de Brasília pôs em discussão a temática das infecções hospitalares (IHs). No Brasil, as estatísticas das IHs não são atualizadas com frequência, mas o Ministério da Saúde (MS) estima que a taxa média no país seja de 15,5%, muito acima da média mundial que é de 5%.

O Ministério da Saúde por meio da portaria nº 2612 de 12 de maio de 1998 estabelece infecção hospitalar como um processo infeccioso adquirido após admissão do paciente e que se manifesta durante internação ou após alta, quando puder ser relacionado com internação ou procedimentos hospitalares. Desde a década de noventa o termo IH vem sendo substituído por Infecção Relacionada à Assistência em Saúde (IRAS), porém as duas denominações são utilizadas.

Os primeiros casos de infecção hospitalar surgiram logo após a criação dos hospitais, pois nestes ambientes coexistiam os fatores essenciais ao aparecimento das IRAS. A circulação de microrganismos, uma cadeia de transmissão e hospedeiros comprometidos, associados a ineficientes programas de prevenção e controle existentes em grande parte dos hospitais contribuem para uma incidência crescente das IRAS.

No Brasil, uma das primeiras medidas de prevenção e controle deste grave problema de saúde pública foi o desenvolvimento das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), na década de setenta. Por determinação do Ministério da Saúde (portaria 196 de 24 de junho de 1983) as CCIHs deveriam existir em todos os hospitais brasileiros, sendo constituídas por profissionais de saúde capazes de estabelecer inferências e intervenções. Cerca de vinte anos após essa determinação do MS constatou-se que apenas 30% dos hospitais possuíam uma CCIH.

Ao longo dos anos, a utilização de antibióticos funcionou como principal estratégia tanto no combate às infecções comunitárias, quanto às infecções relacionadas com os serviços de saúde. No entanto, o que preocupa na comunidade científica atual são os recorrentes casos de resistência aos antimicrobianos disponíveis no mercado. Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) divulgou estatísticas mostrando que 16% (do total de IRAS) são causados pela bactéria Staphylococcus aureus, sendo que 60% dessas bactérias apresentavam resistência a algum antibiótico.

As estratégias de prevenção e controle adotadas até o momento não foram suficientes para estabilizar o número de casos de infecções hospitalares. Buscar novas estratégias é indispensável, uma alternativa são as ações de educação em saúde que mostam resultados positivos no combate as infecções comunitárias. As atividades de educação em saúde podem ser efetivas ao aproximar o conhecimento teórico da vivência prática de cada profissional envolvido na cadeia de transmissão, permitindo que eles percebam a sua participação tanto no estabelecimento quanto no controle das IRAS.  As atividades podem ser estendidas à comunidade, visto que algumas práticas como o uso de antimicrobianos sem prescrição médica também contribuem no surgimento de infecções hospitalares.

 

REFERÊNCIAS

DF registra casos de superbactéria em três hospitais e uma UPA. 

BRASIL. Portaria nº 2616, de 12 de março de 1998. Definição de infecção hospitalar e outras providências.

Azambuja, Eliana Pinho de, Denise Pires de Pires, and Marta Regina Cezar Vaz. “Prevenção e controle da infecção hospitalar: as interfaces com o processo de formação do trabalhador.” Texto Contexto Enferm 13 (2004): 79-86.

Tortora, Gerard J., Berdell R. Funke, and Christine L. Case. Microbiologia. Artmed, 2012.

Inventores brasileiros pedem sua ajuda, em dinheiro, para levar ao mercado um dos designs mais premiados do mundo em 2014

– Por Henry Suzuki

Imagine que a próxima vez que você for comprar água no supermercado, você possa escolher entre uma garrafa fechada com uma tampa “normal” ou com um tampa que, após ser usada, possa ser reutilizada como bloco de montar. Imagine agora que, além de encaixarem entre si, essas tampas-blocos de montar também se encaixem com blocos das principais marcas encontradas no mercado (Lego, Megablocks, etc).

Pois é. Essas tampas existem: Nominadas pelo London Design Museum como um dos “Designs of The Year 2014” e vencedoras de diversos prêmios nacionais e internacionais de design e sustentabilidade, as Clever Caps (www.facebook.com/clevercaps) são tampas de garrafa que já saem de fábrica com duas vidas: Na primeira vida, são tampas compatíveis com gargalos de garrafas PET convencionais. Na segunda, são blocos de montar compatíveis com Lego. Isso tudo sem necessidade de reciclagem ou de qualquer outro tipo de reprocessamento.

claver caps

Criadas pelos inventores brasileiros Cláudio Patrick Vollers e Henry Suzuki, as Clever Caps estão muito perto de chegarem às gôndolas. O lançamento será feito por uma empresa brasileira de águas minerais. No entanto, para esse primeiro lançamento a produção será feita com maquinário de pequena escala, utilizado para o desenvolvimento das tampas.

Para acelerarem a ampliação de escala de fabricação, os inventores lançaram uma campanha de “crowdfunding” (financiamento coletivo). Qualquer pessoa física ou jurídica (inclusive você que está lendo este texto) pode colaborar.

As doações, que são feitas online, podem ser partir de 1 dólar. Dependendo da quantia, os colaboradores podem escolher entre diferentes tipos de recompensas. Uma das mais populares é a doação de Clever Caps para instituições de caridade: para cada dólar arrecadado, dez tampinhas serão doadas.

Para colaborar com o crowdfunding das Clever Caps veja o site: http://igg.me/at/clevercaps/x/7851837

Informações sobre as Clever Cap, incluindo um tutorial sobre como contribuir na campanha podem ser vistas nesse vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=KWQlI3GEXPA

 

Henry Suzuki é inventor, empreendedor e especialista em patentes.

 

Por que estudar química?

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Imagem de Shutterstock

– Texto de Roberto Costa

Tabela periódica, cadeia de carbono, átomos. Para muita gente, essas palavras assustam. Estudar química pode parecer complicado à primeira vista, mas quando começamos a relacionar a ciência ao nosso cotidiano o estudo pode se tornar muito mais natural e prazeroso.

Química é a ciência que estuda a estrutura das substâncias, a composição e as propriedades das diferentes matérias, suas transformações e variações de energia. Na prática, isso quer dizer que o papel da química da nossa vida é muito importante. Indústria alimentícia, petroquímica, farmacêutica, têxtil e outras dependem diretamente da química, assim como a criação de novos medicamentos e materiais biodegradáveis.

Ela faz parte do nosso dia-a-dia. O simples fato de estarmos vivos indica que reações químicas estão acontecendo dentro de nós, o tempo todo. A nossa respiração é pura química, e todas as atividades diárias envolvem química. Cada cheiro que sentimos demanda uma série de reações químicas intra-neuroniais. Acetona, álcool, grafite… Esses termos comuns do dia a dia também fazem parte do repertório da química.

Aprendendo química, é possível entender melhor o mundo ao seu redor. Com ela você fica sabendo porque o detergente retira a gordura, porque as folhas mudam de cor no outono e como a cerveja é produzida, por exemplo. Com ela, você entende os rótulos de produtos e pode até aprender a cozinhar melhor!
Além disso, ela é importante para compreender outras disciplinas, como Biologia, Ciências Ambientais, Física, Medicina e Ciências da Saúde. É por interligar tudo isso que a química é chamada de “ciência central”.

E atenção: se você se apaixonar pela química, ela é também uma ótima opção profissional. Entre as atribuições de um químico estão a elaboração de projetos de instalações industriais, manutenção de equipamentos, pesquisa e criação de novos materiais, controle e supervisão da produção e aplicação de testes de qualidade.

O momento para seguir nesta área não poderia ser melhor. A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) estima que os investimentos na indústria química brasileira devem chegar a 167 bilhões de dólares até 2020 e criar mais de 2 milhões de empregos. Segundo o Guia do Estudante, entre os melhores cursos de química estão o da Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Para quem já embarcou nos estudos mas enfrenta dificuldades, uma boa dica é buscar informações complementares na internet. Algumas ferramentas são gratuitas e podem ser muito úteis, como o PasseiDireto, rede social acadêmica onde é possível trocar conhecimento e compartilhar arquivos com outros estudantes universitários, de diversas instituições do país, públicas e privadas.

Roberto Costa, formando de jornalismo que ama pesquisas científicas.

Fontes:
http://quimicaouniversoemmovimento.blogspot.com.br/
http://www.abiquim.org.br/home/associacao-brasileira-da-industria-quimica
http://passeidireto.com/

 

Experimento Micro-ondas – dia 22: o resultado final

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Experimento micro-ondas: mudou o pH, e agora?!

 

Depois de analisar os dados coletados durante os 22 dias de experimento, é hora de revelar os resultados.

Primeiramente, uma recapitulação básica do que é tudo isso:

Há algum tempo, voltou a circular um velho mito nas redes sociais de que o forno de micro-ondas teria capacidade de alterar características físico-químicas dos alimentos nele aquecidos. Para mostrar que essas mudanças eram perigosas, haviam fotos de duas plantas, uma regada com água fervida no micro-ondas e a outra com água fervida no fogão. A planta que recebia água do micro-ondas morria em 9 dias.

Mas será que é realmente isso que acontece?

Responder essa pergunta foi umas das minhas motivações para a realização desse simples porém relevante experimento. Acompanhe os textos anteriores nos links acima caso você ainda não os tenha lido. Garanto que tudo vai fazer mais sentido.

No último texto, “Experimento micro-ondas – Dia 20: mudou o pH, e agora?!” demonstrei como o aquecimento da água pode alterar suas características físico-químicas, como por exemplo o pH. Sim, aquecer a água ou qualquer alimento no forno de micro-ondas muda algumas características da substância, na maioria das vezes tornando-a mais básica (menos ácida). Mas o efeito é exatamente o mesmo de ferver a água num fogão à gás.

Portanto, ao partirmos da noção de que a água fervida (sem importar o como) será mais básica, poderíamos esperar um efeito no desenvolvimento das plantas envolvidas. O pH das águas utilizadas no experimento estão descritas na Tabela 1:

Tipo de água pH
Mineral 6,0 ±0.1
Torneira 6,0 ±0.1
Fervida em forno de micro-ondas 6,8 ±0.1
Fervida em forno à gás 6,8 ±0.1

 

 

 

Tabela 1 – Relação de pHs

O experimento estava dividido em três testes: germinação em terra, germinação em algodão e crescimento. Achei interessante partir de três abordagens diferentes e tentar chegar em resultados que não se contradissessem. Será que deu certo?

 

1.    Germinação em terra – Rúcula e Chicória

 

Existem alguns textos pela internet dizendo que a água fervida em micro-ondas faria com que sementes ficassem estéreis. Será que é realmente isso que acontece?

Para o teste de germinação em terra, escolhi duas espécies de plantas que resistem bem ao calor e tem um tempo de germinação relativamente diferente entre si: Eruca sativa (Rúcula) e Cichorium endívia (Chicória). Foram mais de mil sementes espalhadas por 104 espaços em uma sementeira, como a Figura 1:

Figura 1: sementeira para testes de germinação.

Figura 1: sementeira para testes de germinação.

As sementes e respectivas mudas foram regadas duas vezes ao dia com uma quantidade padrão de água durante todo o período do experimento. Será que a fervura realmente deixou as sementes estéreis?

Veja você mesmo na Figura 2. Na metade superior temos as Chicórias e na inferior as Rúculas:

Figura 2: Sementeira ao final do experimento.

Figura 2: Sementeira ao final do experimento.

Você consegue dizer qual fileira recebeu qual tipo de água simplesmente olhando para esta imagem?

A distribuição foi a seguinte, da esquerda para a direita: água mineral, água de torneira, água fervida no micro-ondas e água fervida no fogão. Acertou alguma?

Conclusão: Não há efeito observável em relação ao tipo de água utilizado. Todos os quadradinhos tiveram uma germinação parecida.

Talvez você não tenha gostado muito desse resultado, por ser provindo de uma análise puramente qualitativa e subjetiva, onde a avaliação foi “no olho”. Mas esse não é nem o teste primário, o melhor acabou ficando para o final!

2.    Germinação em algodão – Feijão

 

Este foi um teste com um apelo um pouco mais didático, facilmente reproduzível por qualquer um (professor, faça esse experimento em sua classe!). Separei 60 feijões-comuns e coloquei 3 em cada pote. Cada grupo de 5 potes recebia um tipo de água. A brita no fundo do pote é para que o mesmo não saia voando, veja a Figura 3:

Figura 3: Feijões no algodão para teste de germinação.

Figura 3: Feijões no algodão para teste de germinação.

O que aconteceu? Será que algum feijão não germinou?

Acompanhe a Figura 4. Talvez seja um pouco difícil de observar, mas os feijões germinaram normalmente em todos os potes:

Figura 4: Feijões já germinados.

Figura 4: Feijões já germinados.

Conclusão: Não há efeito observável em relação ao tipo de água utilizado. Todos os feijõezinhos cresceram normalmente, como esperado!

 

3.    Teste de Crescimento – Cuphea gracilis e Torenia fournieri

 

Agora partimos para uma análise um pouco diferente. Mais robusta e quantitativa, o teste de Crescimento busca avaliar exemplares de duas espécies de flores comuns e como diferentes tipos de água afetam seu crescimento, medindo em biomassa. Esse foi o experimento de verdade, que usa números e porcentagens, imensamente melhores do que comparações “no olho” como fizemos até agora.

3.1  “Biomassa”? Isso é spaghetti para biólogos?

A piada pode ter sido ruim, mas a explicação é boa: biomassa é um termo chique para falar sobre a quantidade total de matéria viva existente num ecossistema ou numa população animal ou vegetal. [1]

Existem principalmente dois tipos de biomassa: específica, que trata da massa total de determinada espécie, e a biomassa de comunidade, que leva em consideração todas as espécies naquela comunidade.

Toda vez que utilizei biomassa aqui, estava me referindo à biomassa específica ou, no caso da biomassa média, a média da biomassa específica de nossas duas espécies: a Torênia e a Cufeia.

 

A biomassa foi medida de forma padronizada, na mesma hora e com o mesmo espaçamento temporal entre a última regada de cada planta. Uma balança de precisão foi utilizada para uma medida com maior acurácia. Isso significa que eu pesei elas na mesma hora, para garantir que eu não estaria pesando junto água da última regada.

 

As plantas estavam divididas de acordo com a Tabela 2:

Tipo de água Quantidade
Mineral 12 plantas (6 de cada)
Torneira 12 plantas (6 de cada)
Fervida em forno de micro-ondas 24 plantas (12 de cada)
Fervida em forno à gás 12 plantas (6 de cada)

 

 

 

Tabela 2 – Relação de distribuição de plantas

Para comparar o crescimento das plantas, escolhi utilizar a medida de biomassa média de cada conjunto. Pesei em uma balança de precisão cada planta no início do experimento e as fotografei. Ao final, pesei e fotografei novamente todas as plantas. A ideia inicial era pesá-las diariamente, mas tal processo mostrou-se logisticamente complicado.

Calculei a média aritmética de cada um dos 4 grupos no início e no fim do experimento. O gráfico a seguir mostra a biomassa inicial, em azul; biomassa final, em laranja; variação em porcentagem em amarelo. As medidas de massa estão em gramas. Veja a Figura 5:

Figura 5: Comparação de Biomassa Média.

Figura 5: Comparação de Biomassa Média.

A tendência é clara. Veja a Tabela 3:

 

Tipo de água

Média inicial

Média final

Variação

Porcentagem

Mineral

280,17

281,00

0,83

0%

Torneira

267,92

285,67

17,75

7%

Fervida micro-ondas

249,00

290,71

41,71

17%

Fervida fogão

248,92

290,25

41,33

17%

Tabela 3 – Comparação de biomassa média por tipo de água.

Podemos concluir, a partir dessa análise geral, que:

1.       No geral, as plantas utilizadas pelo experimento preferem as águas fervidas;

2.       A água mineral foi a que pior se saiu no nosso teste: as plantinhas que a receberam mal conseguiram sobreviver.

 

3.2  – Comparação de Biomassa Média de espécimes de Cuphea gracilis.

 

Agora, vamos analisar uma espécie por vez, a começar pela Cuphea gracilis (Cufeia). O procedimento adotado foi o mesmo: foi feita a média aritmética da biomassa inicial e da final e uma comparação simples. Acompanhe a Figura 6 e a Tabela 4:

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Figura 6: Comparação de Biomassa Média de espécimes de Cuphea gracilis.

Tipo de água

Média inicial

Média final

Variação

Porcentagem

Mineral

264,00

258,50

-5,50

-2%

Torneira

238,83

270,33

31,50

13%

Fervida micro-ondas

223,50

257,83

34,33

15%

Fervida fogão

213,00

258,17

45,17

21%

Tabela 4 – Comparação de biomassa média por tipo de água de espécimes de Cuphea gracilis.

O efeito agora é um pouco mais sutil. Não há uma diferença tão gritante entre a água de torneira e as fervidas. O que é interessante de se notar é o péssimo desempenho da água mineral, que fez as plantas perderem biomassa, ou seja, emagreceram um pouquinho. Nota: não recomendo ao leitor interessado em perder alguns quilinhos beber água mineral em excesso; caso o leitor não se recorde, as plantinhas aqui estudadas funcionam de modo ligeiramente diferente de um ser humano.

 

Podemos concluir, a partir dessa análise de biomassa de espécimes de Cuphea gracilis, que:

1.       No geral, as Cuféias utilizadas pelo experimento preferem as águas fervidas no fogão, com uma pequena diferença entre a água de torneira e a fervida no micro-ondas;

2.       A água mineral obteve o pior desempenho; os espécimes que receberam-na não apenas deixaram de crescer, mas definharam perdendo em média 2% de sua biomassa inicial;

 

3.2 – Comparação de Biomassa Média de espécimes de Torenia fournieri.

 

O mesmo procedimento foi repetido para os espécimes de Torenia fournieri. Veja a Figura 7 e a Tabela 5:

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Figura 7: Comparação de Biomassa Média de espécimes de Torenia fournieri.

Tipo de água

Média inicial

Média final

Variação

Porcentagem

Mineral

296,33

303,50

7,17

2%

Torneira

297,00

301,00

4,00

1%

Fervida micro-ondas

274,50

323,58

49,08

18%

Fervida fogão

284,83

322,33

37,50

13%

Tabela 5 – Comparação de biomassa média por tipo de água de espécimes de Torenia fournieri.

O efeito agora é inverso. A água fervida no forno de micro-ondas se saiu melhor que a fervida no fogão, ao contrário do que ocorreu com a Cufeia. E desta vez o pior desempenho ficou com a água de torneira.

A partir de todos esses dados, podemos extrair algumas conclusões gerais:

1.       Em geral, as plantas utilizadas no estudo preferiram água fervida, ou seja, menos ácida;

2.       O pior desempenho médio ficou com a água mineral, com um crescimento quase nulo;

3.       A água de torneira, não-filtrada, teve um desempenho superior ao da água mineral, mas inferior ao das águas fervidas.

4.       Dentro das águas fervidas, a água fervida no forno de micro-ondas teve uma miserável vantagem de 0,00145% sobre a água fervida no fogão. Tecnicamente, seu desempenho foi melhor.

 

E temos um vencedor!

Conclusão principal: O experimento mostrou que a água fervida no micro-ondas não apenas não faz mal algum as plantas, como se mostrou a melhor dos quatro tipos de água!

pódio

Se você leu até aqui, deve estar se imaginando o porquê que água mineral obteve um desempenho inferior ao da água de torneira. Bem, eu também. Isso é assunto para um próximo experimento, a ser detalhado em breve…

Convido a todos a postarem suas perguntas na seção de comentários abaixo.

E aqui um experimento se encerra, mas a minha motivação não. Pretendo publicar um texto em breve respondendo às perguntas feitas e completando com mais detalhes que não foram incluídos aqui para não deixar o texto muito pesado. Também vou aproveitar o próximo texto para discutir com um pouco mais de detalhamento os resultados obtidos.

O objetivo agora é sintetizar os resultados para publicação em periódicos específicos ou não. No próximo texto detalharei melhor como tudo isso será feito.

Convido a todos para replicarem a ideia, utilizando outras plantas ou outros tipos de água. Expresso aqui minha vontade de que todos possam realizar o exercício científico como hobby. Meu experimento foi simples, mas serviu para mostrar como se mistifica muita coisa a respeito do fazer científico. É claro que não acho que isso aqui se compara a uma pesquisa de verdade, mas serve para ilustrar o conceito.

Agradeço a todos que apoiaram a execução e deram sugestões. Um agradecimento especial à minha mãe, que me ajudou do começo ao fim do experimento, ao Rafael Bento aqui do ScienceBlogs, que me incentivou a escrever sobre o experimento e a minha ex-Professora de Biologia, Sharon, que sempre alimentou meu interesse pelas plantas!

Também aceito desafios para desbancar lendas urbanas!

Saliento para vocês leitores: perguntem, duvidem, critiquem, elogiem, proponham, desafiem. O espaço de comentários está aqui a seu dispor! E não se esqueça, se gostou do experimento, compartilhe e mostre para seus amigos e familiares.

Até o próximo experimento!

 

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Experimento micro-ondas: mudou o pH, e agora?!

Experimento micro-ondas – Dia 20: mudou o pH, e agora?!

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Mudou o pH, e agora?!

Dia 22: O resultado final

Primeiramente, minhas sinceras desculpas. Não tive como manter o ritmo de atualização que esperava devido a algumas pendências a resolver. Mas vamos lá:

Muito se fala, mas pouco realmente se sabe sobre o funcionamento do forno de micro-ondas. Um equipamento quase místico que é onipresente na maioria das residências, ele não resistiu a formação de uma lenda urbana em seu entorno.

Recentemente chegou até mim uma lenda urbana que fala sobre os efeitos nocivos do uso do micro-ondas para aquecimento de alimentos, utilizando como base um experimento que supostamente mostrava uma planta morrendo depois de 9 dias regadas com água fervida no forno de micro-ondas, como abordei no texto anterior: http://scienceblogs.com.br/ensaios/2014/02/experimento-microondas-dia-03/

Por sua forma de funcionamento ser ligeiramente mais complexa, muitas pessoas ficam criando mitos e lendas ao redor deste inofensivo eletrodoméstico. Aí é claro, os charlatões de plantão aproveitam para arrebanhar audiência para suas ideias de conspiração, assunto que eu abordei no texto anterior também.

O problema aumenta quando as poucas pessoas que se interessam por entender como o aparelho funciona se deparam com outra lenda urbana: a de que o forno de micro-ondas funciona de modo a fazer com que as moléculas de água supostamente entrassem em ressonância com a frequência emitida pelo forno. O que não é o que realmente acontece.

“O que aquece os conteúdos em um forno de micro-ondas é principalmente o campo elétrico e o efeito é o seguinte. Uma molécula de água – e água é abundante nos alimentos – tem maior concentração de cargas negativas em um de seus extremos e de cargas positivas no outro. Assim, as moléculas de água tendem a se alinhar com um campo elétrico que atua sobre elas. Mas o campo elétrico, no caso, é oscilante, invertendo sua orientação bilhões de vezes por segundo. Portanto, as moléculas tenderão a se alinhar em uma direção, logo em seguida em direção oposta e depois na mesma direção, etc. Durante esse movimento as moléculas interagem com as suas vizinhas e a energia que absorvem do campo elétrico vai sendo distribuída, aquecendo o conteúdo do forno” explica Otaviano Helene, professor da USP, em matéria para o Observatório da Scientific American [1].

Veja a Figura 1 para um melhor entendimento:

Figura 1: Exemplificação do alinhamento molecular com o campo elétrico oscilante. [2]

Figura 1: Exemplificação do alinhamento molecular com o campo elétrico oscilante. [2]

Agora que entendemos um pouco melhor de como realmente funciona, vamos partir para as perguntas que geralmente são levantadas:

1 – Poderia o aquecimento no micro-ondas alterar propriedades do alimento?

Ao que muitos céticos prontamente respondem um enfático “não”, a resposta é sim.

Detalhe: não é devido ao método e sim ao aquecimento da própria água. Ferver água no fogão e no micro-ondas resultam na mesma coisa. Acompanhe:

Primeiro, peguei água da torneira. Segundo a conta de água, seu pH é de 6,01. Meu medidor mostrou 6.0 ±0.1, o que está bem dentro do esperado. Veja a Figura 2:

Figura 2: Medindo o pH da água saída da torneira.

Figura 2: Medindo o pH da água saída da torneira.

Então, peguei esta mesma água e fervi no forno de micro-ondas. Tenho tempo cronometrado para que ela apenas comece a ferver. Medi o pH mais uma vez, conforme a Figura 3:

Figura 3: Medindo o pH da água após ser fervida no forno de micro-ondas.

Figura 3: Medindo o pH da água após ser fervida no forno de micro-ondas.

Agora foi para pH 6.8 ±0.1.

Se eu fosse apenas ligeiramente tendencioso, já teria me aproveitado dessa leitura e afirmado que o micro-ondas é prejudicial e blá blá blá. Mas, calma lá. Veja o que acontece quando eu fervo a água de torneira no fogão, na Figura 4:

Figura 4: Medindo o pH da água fervida no fogão.

Figura 4: Medindo o pH da água fervida no fogão.

Ahá! Mesma coisa. pH de 6.8 ±0.1.

O que podemos concluir então é que não é o método, e sim o ato da fervura que muda essa coisa misteriosa chamada pH. Muda também o gosto pelo mesmo motivo.

1.1  – O que diabos é esse pH?

Em resumo, é uma forma de indicar a acidez ou alcalinidade de uma solução aquosa. O tal número é cologaritmo de base 10 da atividade de íons de H+. A faixa de medição vai de 0 a 14 (não é o limite, é uma convenção de uso), sendo 0 um ácido MUITO forte e 14 uma base MUITO forte. A água pura, neutra, deveria ter um pH de 7.0. [3]

1.2  – Porque o ato da fervura altera o pH?

Nossa água de torneira, longe de ser pura, possui uma série de sais de cálcio, magnésio, sódio e potássio, além de outras coisas como oxigênio e dióxido de carbono dissolvidos. É desta mistura de componentes que vem o gosto da água.

O dióxido de carbono (CO2) dissolvido reage com a própria água e cria ácido carbônico (H2CO3), que por sua vez se dissocia para criar pequenas quantidades de íons H+ e HCO3. Então o pH da água é regulado pelas quantidades de dióxido de carbono e íons de bicarbonato (HCO3).

Mas os íons de bicarbonato (HCO3) são vulneráveis a calor e sofrem termólise (também chamada de decomposição térmica), transformando-se em um íon carbonato e dióxido de carbono, como a seguinte reação:

2HCO3 ↔ CO3-2+ CO2 + H2O

Quando a água é fervida, tanto os dióxidos de carbono quanto os oxigênios dissolvidos na água são expelidos fora de nossa solução. Mesmo que a água resfrie, a reentrada de dióxido de carbono não consegue equiparar a perda dos bicarbonatos. Isso significa que teremos uma concentração reduzida de bicarbonatos e íons H+, diminuindo o caráter ácido da solução e por consequência, aumentando seu pH. [4] [5]

 

Então não, o forno de micro-ondas não tem a capacidade de alterar características físico-químicas da água mais do que o seu fogão convencional. Nada a se preocupar.

 

2 – Poderia a água fervida no micro-ondas causar alterações no crescimento de plantas?

Sim, claro que pode. Assim como a água fervida no fogão. Não vou me cansa de repetir, o efeito do aumento do pH provém do aquecimento em si, e não da forma com que você faz isso. Para plantas que preferem solos mais básicos (alcalinos), regar com água fervida pode ajudá-las a se desenvolver melhor.

3 – Você espera alguma diferença no desenvolvimento das plantas?

Sim, exclusivamente devido ao pH. Ambas águas mineral e de torneira possuem pH próximo de 6.0 ±0.1 e as fervidas de 6.8 ±0.1. Se existir algum efeito, ele será identificado num par mais ácido (torneira e mineral) ou mais básico (fervidas).

4 – É verdade que o forno de micro-ondas opera numa frequência que causa câncer?

Se isso fosse verdade, deveríamos estar muito mais preocupados com nossos roteadores WiFi, televisão e aparelhos de celular. Todos operam na faixa eletromagnética dos micro-ondas. Roteadores de WiFi operam inclusive na exata mesma frequência (2.4GHz) do que a maioria dos fornos de micro-ondas convencionais.

E lembre-se: seu micro-ondas está ligado poucos minutos por dia e está envolto por uma Gaiola de Faraday muito boa, feito para que as ondas não escapem. Seu roteador é feito para transmitir mais sinal para o maior número de lugares possível. O mesmo vale para aparelhos de celular, rádios UHF, televisão, entre muitos outros.

A resposta é Não.

5 – Como está o andamento do experimento?

Em ritmo de encerramento. Os feijõezinhos já estão sofrendo e serão replantados em breve, estando já fora do experimento e devidamente pesados e fotografados. O resto das plantas será pesada e fotografada individualmente para que possamos conferir se houve alguma diferença em seu desenvolvimento.

O exército de plantas utilizado para o experimento está começando a mostrar sinais de definhamento: precisam sair de seus vasinhos. Depois de todo o empenho, nada como uma repaginada no jardim e uma boa salada!

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Os textos continuarão vindo, apesar da longa pausa que fui obrigado a fazer. O experimento continuou sem interrupções e estarei compilando os resultados para publicação aqui na semana que vem. Prometo que não vai demorar muito.

O próximo texto será surpresa!

Até a próxima!

Referências:

[1] – Observatório SciAm, Scientific American Ano 12, nº139, pág 20 – Dezembro 2013;

[2] – http://www.pueschner.com/basics/phys_basics_en.php

[3] – http://pt.wikipedia.org/wiki/PH

[4] – http://www.hindu.com/seta/2005/08/25/stories/2005082500271600.htm

[5] – http://www.hc-sc.gc.ca/ewh-semt/pubs/water-eau/ph/index-eng.php

 

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Mudou o pH, e agora?!

Dia 22: O resultado final

Experimento Micro-ondas: Dia 03

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Mudou o pH, e agora?!

Dia 22: O resultado final

Agora que você já conhece um pouco mais do experimento que está sendo realizado ou o que, chegou a hora de saber o porquê.

Toda nova tecnologia, quando chega ao grande público, vira alvo de polêmicas e conspirações. Com o forno de micro-ondas não foi nada diferente. Criado por acidente em 1947 pela Raytheon, empresa estadunidense que desenvolve sistemas de radares ativos para fins militares e aeroespaciais, o aparelho até hoje é um verdadeiro mistério na cozinha de muitas pessoas. Exploraremos melhor a história e funcionamento do forno de micro-ondas em um futuro próximo.

Polêmicas em torno do micro-ondas ganham força com o alcance e a relativa facilidade de se criar e disseminar conteúdo (as vezes de péssima qualidade) pela Internet. Muitos blogs, quando não atrelados a uma rede que lhes ateste credibilidade (como o nosso querido ScienceBlogs) acabam divulgando conteúdo sensacionalista e por vezes completamente errado. Se é feito por ingenuidade ou com intenções perversas não é nosso foco aqui. O problema é que muitas dessas informações caem nas mãos (ou olhos) de muitas pessoas, que na base da confiança cega e falta de ceticismo acabam acreditando em tudo que leem ali.

Nesse sentido, há o excelente E-Farsas, uma iniciativa de Gilmar Lopes, um Analista de Sistemas que analisa as várias polêmicas e supostas notíciais que circulam na Internet, fazendo e incentivando o bom uso do ceticismo.

Recentemente voltou a circular um velho mito sobre o forno de micro-ondas: que ele teria a capacidade de “alterar a estrutura molecular de água e criar compostos tóxicos”. A alegação era evidenciada a partir de um “experimento” no qual durante 9 dias se molhou uma planta com água fervida no fogão e outra fervida no micro-ondas, e aquelas fervida no micro-ondas morria ao final dos 9 dias. Este suposta notícia foi requentada; surgiu em 2010 comentando sobre a experiência das plantinhas que supostamente havia sido feita em 2006 por uma jovem chamada Arielle Reynolds, para uma feira de ciências em Knoxville, Tennessee, EUA. [1][2]

Figura 1: Primeiro dia do suposto experimento. A planta da esquerda recebe água fervida em micro-ondas e a da direita fervida no fogão.

Figura 1: Primeiro dia do suposto experimento. A planta da esquerda recebe água fervida em micro-ondas e a da direita fervida no fogão.

 

Figura 2: Ao quinto dia, é visível a diferença no desenvolvimento das duas plantas.

Figura 2: Ao quinto dia, é visível a diferença no desenvolvimento das duas plantas.

 

Figura 3: Visivelmente, há algo de errado com a planta da esquerda.

Figura 3: Visivelmente, há algo de errado com a planta da esquerda.

Esbarrei com esta “notícia” há algumas semanas por um compartilhamento do Facebook. Li com atenção e fiquei um pouco incomodado com algumas coisas:

  • Porque o texto não apresenta nenhuma indicação de quais seriam estes “compostos tóxicos” ou ao menos apontaria alguma fonte para consulta aprofundada?
  • Porque o experimento foi realizando com apenas duas plantas? Uma amostragem dessas é minúscula para tirar uma conclusão de tal magnitude.
  • Já que os resultados foram tão surpreendentes, porque não replicaram o experimento mais vezes e com outras plantas, para aumentar credibilidade?
  • Porque justificavam a falta de artigos e publicações sobre o assunto como uma conspiração das fabricantes de eletrodomésticos?

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O tom sensacionalista, alarmista e pouco técnico da maioria dos textos que encontrei falando sobre os perigos do uso de fornos de micro-ondas fez soar meu alerta cético interior. Me lembrou muito aqueles pseudodocumentários sobre alienígenas, 11 de setembro, Área 51 e afins. Mas dessa vez era um pouco diferente.

Uma coisa é um pseudodocumentário revisionista, que buscar “relativizar” e “reavaliar” fatos e evidências em busca de uma explicação alternativa para corroborar devaneios de conspiracionistas, onde existe um sentimento de impotência frente ao que está sendo exibido. Outra coisa completamente diferente é a exibição de um suposto experimento, malconduzido, que detalha um aparte da realidade. Isso nós podemos fazer, qualquer um de nós.

O simples experimento que criei utiliza elementos básicos do método científico. Não precisa de muito investimento (minhas estimativas iniciais colocam os custos do experimento em R$120-R$150) nem muito tempo dedicado. Apenas precisa de nossa iniciativa, da não conformação frente a uma notícia mal dada ou um experimento malconduzido.

Reconheço que o ônus da prova recai sobre quem afirma a hipótese, em conduzir um experimento decente, replicável, detalhado e devidamente documentado. Minha intenção aqui é tentar mostrar para o grande público não apenas se a água do micro-ondas faz mal ou não, mas também sobre os benefícios de duvidarmos de informações e explicações reconhecidamente ruins. Quero incentivar o maior número de pessoas possível de que é sim tangível você separar algumas horas por mês e conduzir um experimento científico simples de seu interesse. Não para necessariamente descobrir uma coisa nova ou almejando um Nobel e sim para entender um pouco melhor como o mundo ao nosso redor funciona.

Anseio o dia em que a prática científica amadora seja tão comum quanto tomar café-da-manhã ou assistir à novela das 8. Anseio o dia em que as pessoas não se contentem com as respostas deglutidas e tendenciosas, mas formem as suas próprias quando possível.

Chega de reflexões, vamos às plantinhas:

Figura 4: Olá, eu sou um feijão.

Figura 4: Olá, eu sou um feijão.

Todas as plantas estão se desenvolvendo, sobrevivendo e germinando. Umas mais, outras menos, o que será objetivamente avaliado por meio de comparação de biomassa e fotos ao final. Além de ser muito cedo para dizer quais plantinhas estão vivendo melhor, o que cada planta está recebendo está documentado e só será revelado ao final do experimento.

Figura 5: O saudável grupo C, com 6 Torenia fournieri e 6 Cuphea gracilis.

Figura 5: O saudável grupo C, com 6 Torenia fournieri e 6 Cuphea gracilis.

E devo confessar, é quase terapêutico acordar um pouco mais cedo e ir regar as plantinhas, acompanhar sua germinação e crescimento. Recomendo a todos, principalmente para os mais agitados e estressados, replicarem o experimento. Além do exercício científico e relaxamento, acompanhar o crescimento de rúculas e chicórias pode render uma boa salada no final do experimento. Ou você acha que minha mãe está ajudando de graça?

Figura 6: Os 52 pés de Rúculas, futuramente serão salada.

Figura 6: Os 52 pés de Rúculas, futuramente serão salada.

No próximo texto, vamos explorar um pouco melhor o que é verdade e o que não é nas alegações de efeitos dos fornos micro-ondas.

Até a próxima!

Ah, e aceito sugestões de preparo de saladas que envolvam grandes quantidades de Rúculas e Chicórias.

Tulio Baars – http://alexaradio.org/

Fontes:

[1]: “Alimentos preparados no micro-ondas fazem mal à saúde?”http://www.e-farsas.com/alimentos-preparados-micro-ondas-saude.html

[2]: Tudo começou nesta página: “Microwaved Water – See What It Does to Plants” – http://www.rense.com/general70/microwaved.htm

LOGBOOK 06/02/2014 até 08/02/2014:

– Rúculas de modo geral germinam muito rápido, talvez não sejam adequadas para timelapse;

– Conseguir uma GoPro ou câmera automática para fotos da germinação das Chicórias;

– Há uma visível diferença de crescimento entre alguns grupos de feijão. Ansioso para saber que água recebem;

– Quantidade de água ótima encontrada: 100mL de água por planta. Necessita de mais observações para determinar as diferenças de quantidade de água para cada espécie;

– Ideia para experimento futuro: relacionar o desenvolvimento e germinação em função da diferença entre a temperatura da água regada em relação a temperatura ambiente: plantas preferem água gelada quando está mais quente?

– Borrifar folhas com água, é uma boa ideia? Algumas parecem levemente ressequidas quando vistas com uma lupa.

 

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Mudou o pH, e agora?!

Dia 22: O resultado final

Experimento Micro-ondas: Dia 01

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Mudou o pH, e agora?!

Dia 22: O resultado final

Olá, meu nome é Tulio Baars e eu amo ciência.

Não é como uma música especial ou um filme que se tem um apreço. Eu realmente amo a ciência. Sem delongas, para mim é a mais pura e linda forma de expressão humana, criando uma forma de contemplar e entender o Universo, do micro ao macro, em uma escala sem precedentes. Me pego as vezes, em momentos de reflexão, pensando emocionado no quão insignificantemente especiais nós somos, assunto que já abordei em um texto no blog do meu projeto principal (http://alexaradio.org/singularidade-insignificancia-a1/).

Minha ideia é tentar aplicar ao máximo o método científico e o ceticismo no meu dia a dia. O ceticismo não serve apenas para questionar hipóteses novas, mas é uma filosofia de vida. É uma forma não de interpretar o mundo, mas de interpretar e avaliar com clareza as informações que recebemos dele. E é partindo dessa ideia que bolei um experimento simples, mas digno de acompanhamento.

Depois de muito ler sobre os alegados “perigos” dos microondas, principalmente utilizando como evidência uma planta que morria ao ser regada com água aquecida num forno micro-ondas, resolvi fazer algo a respeito. Elaborei um simples e barato experimento para testar a hipótese da alegação alarmista, utilizando o pouco que conheço do método científico. Convido você, leitor, a embarcar nessa “jornada” em busca de confirmar ou refutar uma lenda urbana, divulgando os benefícios do pensamento sistemático ao mesmo tempo em que eu mesmo aperfeiçoo minhas noções do mesmo. Convido você também a comentar sua opinião e quaisquer sugestões, elogios e críticas.

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O teste, que tem a duração estimada em 15 dias (estendível se necessário), busca avaliar o efeito de cada tipo de água escolhido em dois momentos da vida de uma planta: vida adulta e germinação. Os tipos de água escolhidos são: água mineral, água de torneira não-filtrada, água de torneira fervida em fogão e água de torneira fervida em forno micro-ondas.

Para o teste de sobrevivência em vida adulta, selecionei duas espécies de plantas, Torenia fournieri (Torênia) e Cuphea gracilis (Cufeia) para o teste. A escolha não foi arbitrária, resistência a calor, durabilidade, idade e preço foram levados em conta. São 60 mudas, 30 de cada, distribuídas do seguinte modo:

– 12 mudas (6 de cada espécie) receberão água mineral;

– 12 mudas (6 de cada espécie) receberão água de torneira não-filtrada;

– 12 mudas (6 de cada espécie) receberão água de torneira fervida em fogão;

– 24 mudas (12 de cada espécie) receberão água de torneira fervida em forno micro-ondas.

A terra utilizada é padrão para todos os testes, aumentando ainda mais a credibilidade deste (simples) experimento.

Para o teste de germinação, escolhi duas plantas que tem uma relativa boa capacidade de germinação nesta época do ano: Eruca sativa (Rúcula) e Cichorium endívia (Chicória). São 52 de cada, em uma sementeira, conforme a Figura 1:

sementeira

Figura 1: sementeira para testes de germinação.

Para efeitos didáticos, também separei 20 copinhos com o clássico feijão-no-algodão, que todos já fizemos nas séries iniciais, conforme a Figura 2:

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Figura 2: Feijões-no-algodão para testes de germinação.

O procedimento de pesquisa é simples. Todos os dias de manhã, às 7h30, pegarei uma medida de cada água que já deixei preparada no dia anterior e rego as plantas, todas na mesma quantidade. Após regar, peso individualmente cada planta (que já foi individualmente catalogada) e tiro uma foto.

Ao final do dia, as 19h30, somente o procedimento de regar é repetido.

O objetivo é ter um acompanhamento da evolução do peso de cada planta ao longo de todo o procedimento, por meio de um banco de dados. Cada planta recebeu uma etiqueta individual, que a caracteriza em um grupo de 12 plantas, conforme a Figura 3:

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Figura 3: Exemplo de uma Torenia fournieri fotografada e catalogada.

O mais interessante de tê-las fotografadas de forma individual e diária é depois poder fazer um timelapse para cada planta e acompanhar seu desenvolvimento de forma visual. Vale lembrar que o experimento está sendo realizado com duplo-cego, graças a ajuda de minha mãe.

Aliás, cabe aqui um sincero agradecimento a ela, que sempre me incentivou a perseguir as respostas para minhas inquietações e que não apenas ajudou a custear e transportar os insumos, plantas e apetrechos, mas ficou até a noite me ajudando a etiquetar e catalogar cada plantinha. Valeu, mãe!

Os resultados colhidos serão agrupados em forma de um artigo e devidamente submetido aos periódicos adequados. Por enquanto, você pode acompanhar o andamento do experimento por aqui. Ou pela televisão, se você é da região de Rio do Sul – SC. Hoje mesmo (05/02/14) a RBA TV veio aqui fazer uma reportagem sobre o experimento.

Os textos serão organizados e escritos de modo a serem facilmente lidos para qualquer um, mas sem dispensar o devido rigor científico. Ao final de cada texto teremos um indicativo do que vem a seguir e um pouco de transcrições do meu logbook, onde escrevo tudo aquilo digno de nota dos experimentos realizados.

Nos próximos dias, vocês poderão conhecer com um pouco mais de detalhes as plantas que usamos, as motivações para o experimento, o que é real e o que não é com os mitos do micro-ondas e é claro, quem sou eu que estou aqui tomando seu tempo.

Lembrando que tenho 17 anos e ainda sou muito novato nestes assuntos (quaisquer que sejam, rs). Aceito de bom grado sugestões de condução do experimento, dicas de literatura a ser consultada, críticas e elogios.

Até a próxima!

Tulio Baars – http://alexaradio.org/

 

LOGBOOK 05/02/2014:

– Deixar mais água fervida preparada para regar, grande demora em esfriar totalmente;

– Documentar temperatura ambiente na hora de cada regada;

– Documentar hora de cada regada;

– Aumentar quantidade de água para as plantas, todas se mostram levemente desidratadas;

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Mudou o pH, e agora?!

Dia 22: O resultado final

Um garoto contra um mito: Tulio vs Microondas

tulio

Não existe nada mais poderoso do que uma mente humana focada (fenômeno também conhecido como “um cabra encanado”).

E se essa pessoa encanada ainda tiver iniciativa e gostar de pôr a mão na massa, pronto, temos um desbravador. Não vou falar que essa pessoa é uma cientista, porque há gente assim em todas as áreas, nas artes e na filosofia, e na falta de palavra genérica melhor usei “desbravadores” mesmo.

E sabe do que desbravadores não gostam? Respostas fáceis.

Vamos começar um experimento neste blog com um desbravador: Tulio Baars – o cara interessado por astronomia que com 16 anos fez um curso a distância; aprendeu sobre uma tal Anomalia Magnética do Atlântico Sul; se inscreveu num programa da NASA e ganhou dela um kit para coletar seus dados; se interessou por Perturbações Ionosféricas Súbitas; falou com a Universidade de Stanford e ganhou mais dois kits para pesquisa e depois mais um detector de raios cósmicos.

Mas chega de puxar o saco dele, veja a história toda aqui.

Mesmo com tanta atenção voltada para o universo, o Tulio não se desligou das pequenas perguntas terrenas – curiosidade não é seletiva e perguntas são perguntas. Ficou encucado agora com um monstro cheio de mistérios e magias: o forno de microondas.

Tão presente e tão controverso, uns dizem que ficar perto dele dá câncer, tomar água fervida nele dá câncer, comida requentada nele dá câncer, e por aí vai. [Fora aqueles shows pirotécnicos com metais dentro de microondas que sempre aparecem na TV com um aviso “Não façam isso em casa”.]

Um experimento tem rodado o mundo das internets, usando água fervida (e esfriada depois, claro) para regar plantas, onde supostamente essas plantas sofrem mais em comparação com as regadas com água normal.

O Tulio não se aguentou e vai tocar mais esse experimento no maior estilo FAÇA-VOCÊ-MESMO. Nós do ScienceBlogs Brasil vamos acompanhar e publicar esse experimento que qualquer um pode fazer em casa. De hoje em diante vamos publicar o diário do Experimento Microondas.

Fique ligado. E se quiser fazer o seu em casa, escreva para a gente!

Siga o experimento:

Acompanhe o experimento desde o começo:

Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas

Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01

Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03

Dia 20: Mudou o pH, e agora?!

Dia 22: O resultado final

Mais uma prova de que mulheres são mais ciumentas que homens

Por Bruno Camera

As chuteiras da discórdia

As chuteiras da discórdia

A esposa olha para o par de chuteiras no fundo do armário transitando entre a incredulidade e o ódio puro. Minutos antes o marido se despedira, sacola de academia na mão, saindo como todas as quintas-feiras para o futebol com os amigos. Ela sempre desconfiou: não conhecia os amigos de pelada; os amigos que conhecia não jogavam futebol. Agora aquelas chuteiras ali, denunciando a mentira. Ela nem se lembrava mais quantos anos fazia que ele ia todas as semanas àquele jogo. Como pôde ser tão burra?

Sempre achei que mulheres são mais ciumentas que os homens e que sentem ciúmes por motivos diferentes. Será só impressão? Um grupo de pesquisadores gaúchos testou o nível de ciúme sexual e emocional em mais de 400 voluntários, homens e mulheres ao redor dos 27 anos, a maioria comprometida. Os entrevistados responderam se seria mais difícil perdoar infidelidade emocional ou sexual.

O resultado foi realmente interessante, mostrou que mulheres sentem mais ciúmes do que homens. Entre elas os ciúmes emocionais são mais fortes que os sexuais. Já nos homens não houve diferença entre o ciúme emocional e sexual.

De acordo com a teoria da seleção sexual, fêmeas de diversas espécies perdem mais quando seus parceiros deixam de investir nelas do que quando acasalam com outras parceiras. Machos, por outro lado, seriam prejudicados ao criar filhos de outro macho, daí o ciúme sexual.

Foram horas remoendo o flagrante, pensando no retorno iminente do marido à casa e em como o colocaria contra a parede. O ódio transmutado numa secreção ácida que fervia no estômago. Sentada na poltrona de frente para a porta, a esposa ouve a maçaneta. Do outro lado da porta o marido, com uma folhinha de grama estrategicamente colada à testa, um esfolado no joelho esquerdo e o suor azedo rescindindo à distância, proclama: “Estou com os pés em carne viva! Esqueci as chuteiras e tive que jogar descalço.”

 

Por Bruno Camera

Fernandes, H. B. F.; Natividade, J. C. e Hutz, C. S. 2011. Diferenças Sexuais em Ciúme: Teste de Hipóteses Evolucionistas Através de Medidas Escalares. Resumo publicado no Salão de Iniciação Científica da UFRGS.