Tem Ciência nisso… n°1
A Ciência está em todos os lugares, mas ver Ciência em tudo que é coisa a todo instante só vai torna-lo ao longo do tempo um maluco, ou pior, um chato, ou ainda pior, os dois.
Vou correr o risco…
“Tem Ciência nisso…” é uma série de postagens que eu lanço hoje, sem quantidade ou frequência definida (mas que ajuda muito a tapar buraco), sobre coisas com algum fundo científico, mas que talvez você ainda não tenha percebido.
E pra começar, música! Do fundo do baú!
Se você tem quarenta anos ou mais, deve lembrar do Righeira (ou não). Se você é dessa geração que escuta Restart e Justin Bieber, saiba que Righeira é um dueto formado por Stefano Rota e Stefano Righi. Em 1983 ficaram mundialmente bastante relativamente bem conhecidos com o single Vamos A La Playa. Mais do que um grande sucesso de Italo Disco (?), Vamos A La Playa é uma música sobre Bombas Atômicas (!).
Escute enquanto continua lendo…
A tradução da música é simples, basicamente, “vamos para a praia” seguido de uma espécie de gemido repetido várias vezes. Outros trechos são mais interessantes.
“Vamos para a praia / todos de chapéu / O vento radioativo / despenteia o cabelo”
O Atol de Bikini no Oceano Pacífico, além da casa do Bob Esponja, é um dos mais famosos sítios de testes nucleares. Entre 1946 e 1958 os EUA realizaram 23 detonações.
A Bomba Tsar, da ex União Soviética, é a maior bomba de Hidrogênio já construída, com 50 megatons, é equivalente a 2500 vezes a bomba que foi jogada sobre Nagasaki durante a Segunda Guerra. Se uma dessas fosse detonada em uma praia do Rio de Janeiro, seu cabelo seria despenteado junto com várias cidades próximas.
“As radiações queimam / e pintam de azul” … “Sem peixes mal cheirosos / Somente água fluorescente”
Eu já falei aqui sobre como coisas potencialmente destrutivas podem ser bonitas. Os cogumelos das explosões de bombas nucleares são bastante bonitos, mas a música fala sobre tons de azul e água fluorescente.
Isso me faz lembrar que quando uma partícula viaja em um meio, com velocidade maior que a da luz naquele meio, ela libera um tipo de radiação. Também conhecido como efeito Cherenkov, visto em reatores nucleares.
Como parece, você se pergunta. Bem, a água fica azul e fluorescente:
Por hoje é isso, porque agora eu vou pra a praia (só que não).
Do outro lado da montanha
Percival Lowell já era um cientista reconhecido em 1894 quando fundou seu próprio observatório em Flagstaff, no Arizona, com a motivação de observar os Canais de Marte. Lowell acreditava que tais canais eram construções de uma civilização.
Marcianos só invadiriam a Terra na famosa adaptação de Orson Welles do clássico Guerra dos Mundos de H.G. Wells. Os canais de Marte eram apenas ilusão de ótica.
Lowell publicou “Marte e seus canais” em 1906, no mesmo ano iniciou suas buscas ao Planeta X. A posição observada de Netuno e Urano não eram aquelas previstas, alguma coisa estava interferindo nas órbitas dos dois planetas, provavelmente, um outro planeta, desconhecido, não visto, uma incógnita, X. Percivall Lowell morreu em 12 de Novembro de 1916, sem encontrar seu planeta perdido.
Também em 1906, nascia em Streator no estado americano de Illinois, Clyde Tombaugh. Filho de fazendeiros, viu seus planos de ir para a faculdade frustrados após uma tempestade destruir a plantação da família. Muitos teriam desistido aqui, mas Tombaugh construiu um telescópio com suas próprias mãos e começou a fazer observações por conta própria. Ele enviou alguns desenhos de suas observações para o Observatório Lowell, que gostou de seu trabalho e lhe ofereceu um emprego.
O trabalho de Tombaugh no observatório era capturar a mesma posição do céu durante várias noites, e tentar encontrar algum objeto se movendo entre as imagens. Encontrar o Planeta X. Em 18 de Fevereiro de 1930, Clyde Tombaugh percebeu um objeto em movimento além da órbita de Netuno. Ele havia descoberto Plutão.
Tombaugh entrou para a Universidade do Kansas em 1932. Saiu do Observatório em 1943 para trabalhar com a Marinha dos Estados Unidos. Após o fim da Guerra, alegando falta de recursos, o Observatório Lowell não devolveu o emprego para Tombaugh que voltou a trabalhar em projetos militares. Durante sua vida pesquisou sobre Objetos Voadores Não Identificados e atravessou os EUA e Canadá, dando palestras para conseguir fundos para a Universidade do Estado do Novo México.
Clyde Tombaugh morreu em 17 de Janeiro de 1997.
Hoje sabemos que a massa de Plutão não seria suficiente para influenciar as órbitas de Netuno e Urano como proposto pelo Percival Lowell. Novos dados mostraram que a diferença entre a posição prevista e observada era na verdade causada por um erro na determinação das massa dos planetas, e não pela existência de um outro corpo. É consenso que o Planeta X, como descrito por Lowell, não existe.
Em 2006, a União Astronômica Internacional decidiu modificar a definição de planeta, e Plutão foi reclassificado para a categoria de planeta anão.
Também em 2006, a sonda New Horizons foi lançada com o objetivo de estudar corpos além da órbita de Netuno. Ela passará por Plutão em 2015 levando em sua carga, além dos materiais para a analise científica, as cinzas do ex ultimo descobridor de um planeta no Sistema Solar, Clyde Tombaugh.