Feliz 74, Skylab

Humanos vivendo no espaço. Desse simples conceito, que animou as mentes de escritores de ficção científica, futurólogos e pesquisadores pioneiros da exploração espacial, nasce em 1973 o Skylab.

Para não jogar fora tornar peças de museus, e na falta de um Trato Feito, a NASA preferiu mandar os restos do recém cancelado Projeto Apollo para o Espaço. Não era nenhuma Space Station V, mas com 320 m³, dois andares, sala, cozinha, banheiro, dormitório, bela vista e vizinhança tranquila, o Skylab era mais que uma casa no espaço. Era, principalmente, (como o nome deveria estar sugerindo) um laboratório no céu.

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SKYLAB

Mas a brincadeira tinha hora pra acabar. Em 16 de Novembro de 73 a terceira e ultima tripulação foi enviada para o Skylab.

O Comandante Gerald Paul Carr, nascido em 22 de Agosto de 1932. Mestre em Engenharia Aeronáutica. Piloto da Marinha Americana. Selecionado pela NASA na turma de Abril de 66. Reconhecido pelos seus 6 filhos e uma façanha, dois casais de gêmeos.

O Piloto William Reid Pogue, nascido em 23 de Janeiro de 1930. Entrou para a Força Aérea em 1952. Serviu na Guerra da Coreia. Pilotou no Esquadrão de Demonstração da Força Aérea, os Thunderbirds. Também selecionado na turma de Abril de 66. Gostava de Handball. Morreu em casa e de causas naturais, em Março de 2014.

O Cientista Edward Geroge Gibson, nascido em 8 de Novembro de 1936. Engenheiro e Físico pelo CalTech. Trabalhou com Física Solar, Física de Plasmas e, na Philco, com lasers. Foi selecionado pela NASA na turma de Junho de 65.

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Da esquerda para a direita: Gerald Carr; Edward Gibson; e William Pogue.

Chamada de Skylab 4 (com um grande 3 na insígnia) foi a primeira e ultima vez em que os três estiveram no espaço.

Essa turminha do barulho aprontou confusões de outro mundo. Logo no início da missão, Pogue sofreu com enjoos, mas a tripulação não avisou o Controle em Terra. Quando Houston ficou sabendo, gerou um climão, que foi ainda mais agravado por causa das constantes reclamações dos Astronautas sobre a rotina e a carga de trabalho que estavam submetidos. A NASA precisou reagendar algumas tarefas e dar mais tempo livre pra galera do Skylab 4.

A missão quase precisou ser abortada por problemas no giroscópio da Estação, mas os Astronautas conseguiram completar os 84 dias previstos. Foram dezenas de experimentos, observações do Espaço, da Terra, do Sol e do cometa Kohoutek, atividades médicas e educacionais, a bordo e extraveicular.

Árvore de Natal feita pelos Astronautas no Skylab.

Árvore de Natal feita pelos Astronautas no Skylab.

Tendo partido em Novembro e voltado em Fevereiro do ano seguinte, não foram os primeiros a passar um Natal fora da Terra (a Apollo 8 foi), mas foram os primeiros humanos a passar um Ano Novo no Espaço.

Gibson, Pogue e Carr foram acordados por Bob Crippen no dia 31 de Dezembro de 1973, às 6:00 no horário de Houston.

CC: “Skylab, aqui é Houston desejando um bom dia. […] Então, está na hora de levantar e aproveitar a voz da minha cantora favorita. Brigette Bardot. Ela está cantando “Come Back My Love”, enquanto todo o povo da França deseja a vocês um Feliz Ano Novo“.

Crip também comentou o curioso fato do Skylab estar entrando e saindo de 1974 cada vez que cruza um fuso horário que esteja trocando de ano.

CC: “[…] vocês agora estão em 1974, e logo mais estarão de volta para 1973. E entrarão e sairão de 1974 cerca de 16 vezes. Então celebrem com o que vocês estiverem a bordo para celebrar.”

Foi um longo dia de observações astronômicas, e os Astronautas receberam a notícia de que o dia de folga havia passado para o dia 2 de Janeiro. No dia Primeiro, acordariam uma hora mais cedo para aproveitar a posição da Estação nas pesquisas sobre a superfície terrestre.

Mesa onde os Astronautas faziam suas refeições. Atrás, uma janela com vista para a Terra.

Mesa onde os Astronautas faziam suas refeições. Atrás, uma janela com vista para a Terra.

Apesar de, oficialmente, o Skylab seguir o horário de Greenwich (GMT), a escala de trabalho era baseada no horário do Texas (CST). Passava das 16 horas CST quando trocou o turno da equipe que fica no Controle da Missão. Faltando apenas 2 horas para a meia noite no horário GMT, novos cumprimentos de Ano Novo foram trocados. Quando finalmente o povo que segue o horário de Greenwich estava comemorando a passagem de Ano, no espaço todos trabalhavam.

Pouco depois das 22 horas no horário americano, após os Astronautas passarem relatório diário com o consumo de alimento e recursos gerais da Estação, e informações física e médicas, o Controle da Missão fez o ultimo contato com o Skylab, sem esquecer de passar aos tripulantes o resultado final do jogo de Futebol Americano Universitário.

CC: “Skylab, o final do Sugar Bowl foi Notre Dame 24, Alabama 23. Houveram 7 viradas.”

POGUE: “Ok, Story. Muito obrigado.”

GIBSON: “Parace que é obrigatório ter o vídeo desse jogo no nosso relatório final.”

CC: “Sim senhor. Skylab, estamos a poucos minutos da perda de sinal, essa vai ser nossa ultima chamada do ano. Se precisarem da gente, a próxima estação é Guam as 4:16.”

CARR: “Entendido, Story, boa noite.”

CC: “Boa noite, Feliz Ano Novo.”

CARR: “O mesmo pra você. E em qual horário ouviremos o pessoal da manhã?”

CC: “Vai ser em Hawaii as 11:06”.

CARR: “Ok, obrigado.”

CC: “Ajuste o temporizador pra 11:00 se quiser.”

GIBSON: “Feliz Ano Novo, Story”.

Skylab 4 foi dormir ao som de Auld Lang Syne, tradicional música de fim de ano nos EUA. No dia Primeiro, Skylab 4 acordou com Paralyzed e um “Feliz Ano Novo” do Bob Crippen, para mais um dia cheio de trabalho.

Apesar de alguns problemas, além dos resultados técnicos e científicos, o Programa Skylab mostrou que era possível viver no espaço. Tivemos outras estações espaciais, e muitos outros Astronautas já passaram de ano no espaço.

Pra você pode ainda parecer uma ideia distante. Mas já é comum o suficiente para que quando você estiver olhando para o céu na passagem de ano, sequer lembre das pessoas que estarão, naquele exato momento, vivendo no espaço.

O Futuro é agora. Feliz Ano Novo.