Apenas uma reflexão sobre o Futuro

Tentar prever o Futuro. Pensar em um milhão de possibilidades de como algo pode acontecer. Cada movimento, cada passo, cada palavra. E quando o Futuro se torna Passado, perceber que nada foi como você imaginou. A possibilidade um milhão e um aparece. Aquela que você não pensou.

Tanto a se falar, tanto e se fazer. Nada feito, nada falado.

Uma armadilha do Tempo. Uma semana é como séculos. Horas passam em segundos. Um instante, e tudo muda. Nem o improviso é como você imaginou que seria.

O Futuro está sempre a espreita. Sempre lhe convencendo que na próxima vez será como você pensa. Que da próxima vez tudo vai dar certo. Que você dirá o que precisa ser dito. Que fará o que precisa ser feito. E você irá acreditar. Mais uma vez enfrentar o Futuro.

Nesse jogo, o Futuro nunca perde. Se der certo, se der errado, não será um problema do Futuro. Será um problema do Passado.

Em pouco tempo você aparecerá de novo, Futuro. E eu estarei pronto para o seu desafio.

Fracasso

Stewie é um robô.

É o primeiro de sua série construído para fracassar. A ideia é simples: Stewie é um robô de treinamento. Se os alunos do treinamento forem capazes de identificar onde estão os erros de Stewie, então serão capazes de identificar os erros em suas futuras atividades.

Os testes de Stewie foram satisfatórios, sempre que requisitado, Stewie fracassava. Após alguns meses de fracassos, os técnicos resolveram apresentar Stewie aos diretores do Centro de Treinamento.

Na tarefa Número 1, Stewie fracassou, e os alunos identificaram.
Na tarefa Número 2, Stewie fracassou, e os alunos identificaram.
Na tarefa Número 3, Stewie fracassou, e os alunos identificaram.

Ninguém entendeu qual foi a resposta de Stewie para a tarefa Número 4.

Na tarefa Número 5, Stewie acertou, e na Número 6 também, e na Número 7 também, e em todas as outras que seguiram.

Os técnicos não sabiam o que estava acontecendo, mesmo Stewie não sabia o que estava acontecendo com ele, não sabia o motivo que o levou a começar a acertar.

Os diretores não gostaram nada do que viram e cancelaram o Projeto. Stewie foi abandonado e os técnicos passaram a trabalhar em um novo sistema de treinamento.

E foi ao tentar fracassar, que Stewie fracassou, pela ultima vez.

Uma história sobre chás

Do alto da montanha ainda era possível ver os últimos raios de sol. Mas na casinha que ficava em sua base, já era possível ver a iluminação interior através das janelas.

Um jovem bate na porta.
Um velho abre a porta.

– O que procura, meu jovem?
– Todos os velhos precisam falar dessa maneira?
– Sim, está no Regulamento dos Velhos Sábios da Montanha. Eu sou um profissional regulamentado. O que deseja, meu jovem?
– Bem, me disseram que o senhor sabe fazer desver.
– Desver?
– O que foi visto, não pode ser desvisto. Mas o que foi visto nem sempre é bom. Quero desver.
– Eu lamento, mas como você mesmo disse, o que foi visto não pode ser desvisto.
– E dessentir?
– Dessentir?
– O que eu vi me fez sentir, será que posso dessentir?
– Humm. Eu imagino que seja possível dessentir, mas será necessário um tratamento.
– Que tratamento?
– O tempo! Entre, vou lhe preparar um chá.

O chá dos velhos sábios de montanhas foi eleito por uma importante revista do ramo culinário como a mais nova melhor bebida da semana. Desde então, redes do ramo alimentício passaram a servir para seus clientes o chá, que por questões de registro de patente e direitos autorais, não poderia ser chamado de “chá do velho sábio da montanha”. As redes então utilizaram uma técnica mais milenar que qualquer sábio da montanha. Mudaram o nome do chá. Se uma rede se localizava em uma praia, chamavam de “chá do velho sábio da praia”, se estava localizada em um campo, chamavam de “chá do velho sábio do campo”, se fosse em uma rua qualquer, chamavam de “chá do velho sábio de uma rua qualquer”. Em Porto Alegre, os publicitários acharam melhor chamar somente de “chá”.

Os velhos sábios das montanhas, por outro lado, mudaram a fórmula do Chá.

– Garotas? – perguntou o velho.
– Não. Só chá já está bom. – respondeu o jovem.
– Quero saber se seu problemas é com garotas.
– E por qual outro motivo alguém procuraria um velho sábio da montanha?
– Bem, já vieram até mim por dinheiro…
– Dinheiro para ter garotas – interrompeu o jovem.
– Por saúde…
– Saúde para ter garotas – interrompeu o jovem.
– Pelo chá…
– Para oferecer para as garotas…
– Certo. Parece que você será um bom velho sábio quando envelhecer. – Concluiu o velho.
– Não quero envelhecer, só quero dessentir.
– O tempo, já lhe disse.
– Velho, se eu quisesse esperar até isso passar, não teria vindo até aqui pedir sua ajuda.
– Jovens… Quem falou em esperar? Eu falei em tempo. O tempo vai fazer com que você deixe de sentir.
– Não te entendo.

O grande problema que uma pessoa que não é um velho sábio da montanha tem, quando fala com um velho sábio da montanha, é entender a linguagem codificada. O grande problema que um velho sábio da montanha tem, quando fala com outro velho sábio da montanha, é entender a linguagem codificada. Muitos problemas foram criados por conta disso, sendo o maior deles, de acordo com uma revista especializada, a grande crise da receita de chá do velho sábio da montanha.

– Quando falei em tempo, não estava falando sobre esperar até o tempo curar seus sentimentos. Não precisa ser um velho sábio da montanha para dizer isso.
– Mas e então?
– Quando eu falei sobre tempo, falei sobre voltar no tempo…
– Eu posso voltar no tempo? – perguntou o jovem.
– É claro, basta beber aquele chá, mas saiba que essa é uma decisão que…..

Antes que o velho pudesse terminar a frase, o jovem já havia terminado o chá.

Algum tempo se passou desde então, e do alto da montanha ainda era possível ver os últimos raios de sol. Mas na casinha que ficava em sua base, já era possível ver a iluminação interior através das janelas.

O jovem bate na porta.
O velho abre a porta.