Chemtrails x Contrails
Você andando pela rua olha para o céu e vê um OVNI avião comercial. Você percebe que ele deixa pelo caminho uma espécie de nuvem branca. Você não sabe o que isso é, mas como não pode controlar a curiosidade, ao chegar em casa tenta achar algo sobre isso na Internet. Então, é bastante provável que você acabe lendo algo sobre chemtrails.
Chemtrail (do inglês, trilha química) é uma teoria conspiratória, daquelas bizarras. Os adeptos da conspiração do chemtrail alegam que aviões supostamente comerciais são usados para jogar produtos químicos na atmosfera, com o objetivo de controle climático e populacional.
Não que eu queira tirar o direito de alguém pensar que os Illuminatis, a NWO, ou o governo estão tentando nos matar. Mas acontece que o que os conspiracionistas chamam de chemtrail é um fenômeno conhecido e um pouco mais inofensivo.
Contrail (do inglês trilho de condensação) é o nome daquela trilha de “fumaça” branca que acompanha algumas aeronaves em altitude de cruzeiro. É uma trilha de condensação deixada pela presença do gás quente da saído da turbina do avião em contato com a atmosfera fria. Conspiracionistas dirão que há “diferença” entre contrails e chemtrails. Dirão que os contrails duram poucos segundos, enquanto os chemtrails permaneceriam até por horas na atmosfera. Por isso, entender como os contrails podem ser formados é um passo importante para entender porque os conspiracionistas estão errados.
Os dois principais fatores responsáveis pela formação de contrails são a temperatura e a umidade da atmosfera. Veja o gráfico:
Esse gráfico vai nos ajudar a descobrir quando e como um contrail vai se formar. A área azul é uma região de condensação (mudança de gasoso para líquido), ali os trilhos podem ser formados (carinha feliz). A área cinza é uma região de formação de gelo, é o que define a duração do contrail. E a área branca é uma região de sublimação (mudança de sólido para gasoso), onde nunca teremos a formação de rastros (carinha triste). O combustível do avião é queimado e o escapamento libera o gás da combustão, quente e úmido. Então colocamos nosso avião no canto superior direito do gráfico.
O ponto A no gráfico representa a condição atmosférica na altitude de voo da aeronave (temperaturas abaixo de 0 °C). O material liberado vai começar a entrar em equilíbrio com o ambiente, descendo para o ponto A no gráfico.
Três tipos de contrails podem se formar, dependendo da posição do ponto A, e das áreas que o caminho entre o avião e o ponto A cruza.
Esse é um Contrail de vida curta. Ele vai se formar quando a atmosfera estiver seca (o ponto A está na área branca). No gráfico o caminho da temperatura entre o avião e ponto A passa muito pouco por dentro da área azul, passa rapidamente pela área cinza (pelo tempo de duração do contrail) e sai para a área branca, desaparecendo.
Em um Contrail Persistente o ponto A está exatamente na borda que divide a área cinza da área branca (um pouco úmido). No caminho entre o avião e A, há um tempo maior dentro da área azul e da área cinza, tornando o rastro visível por muito mais tempo.
Em um Contrail espalhado o ponto A está dentro da área cinza (umidade maior). O gelo não vai sublimar e se espalhará pelo céu com características de uma nuvem do tipo cirrus.
Se o caminho não passar pela região azul, então não serão formados contrails.
E ainda pode ficar mais interessante. Se onde você mora é possível ver o trafego de aeronaves, você pode usar o conhecimento sobre os trilhos de condensação para estimar a umidade do ar na altitude de voo em que o avião está. Um ar seco não deixará rastro, um ar um pouco úmido deixará um contrail que logo se dissipará. Caso o contrail persista, temos um ar úmido, e se ele se espalhar pelo céu, significa que o ar está bastante úmido. Faça o teste, acompanhe os contrails por alguns dias e confira com a meteorologia do local. 😉
Não eram Klingons
Era final de Novembro de 2010 e eu participava ativamente de um fórum de discussão sobre Ufologia. A NASA convocou uma entrevista coletiva para tratar de uma descoberta astrobiológica que impactaria na busca por vida extraterrestre. Enquanto a maioria do grupo subia pelas paredes imaginando que a Área 51 seria aberta, eu pensei que era mais um meteoro marciano. Ambos errados, no fim das contas.
Dr. McCoy nos explica que, enquanto para os humanos, o arsênio é altamente venenoso, para os Klingons é parte fundamental da dieta. Sem esse elemento, os Klingons ficam sujeitos a diversos problemas de saúde. Sabendo disso, não é surpresa que “ENGAGE” ecoou pela USS Enterprise quando a tripulação ficou sabendo do anúncio da NASA sobre bactérias que não somente sobreviviam em ambiente rico em arsênio, mas também haviam substituído o fósforo pelo tira gosto trekker em seu DNA.
Enquanto uns falavam em novas formas de vida, outros eram mais cautelosos e apontavam equívocos na pesquisa.
Existem duas coisas que eu faço quando alguém divulga algo extraordinário, e eu não estou diretamente envolvido com essa coisa: ou, eu faço uma aposta com alguém, sento e espero; ou, eu apenas sento e espero.
Sentei, esperei, e periodicamente acessei o blog da Rosemary Redfield.
Rosie é microbiologista, fez críticas aos métodos e controles utilizados pela Felisa Wolfe-Simon, autora do artigo das bactérias arsênicas, e resolveu repetir o experimento. Para nooooossa alegria, ela compartilhou o passo a passo, dia a dia, da pesquisa no blog. Desde o início dos trabalhos, os resultados conforme a pesquisa avançava, e finalmente o envio para publicação.
Outros posts podem ser encontrados procurando por “GFAJ-1”, um nome bastante Klingon, para uma bactéria que não come arsênio.
Com publicação na Science essa semana, as bactérias GFAJ-1 não sobrevivem sem o fósforo, nem o substituem por arsênio em seu DNA. O artigo pode ser lido aqui.
Seria legal se essas bactérias fossem realmente um novo tipo de vida, mas não foi dessa vez. Mas esse processo todo mostra que science works, bitches, e isso também é legal.
A ameaça Klingon passou e a USS Enterprise pode agora continuar audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve.
O fim do mundo ainda não acabou
Em Fevereiro, aqui no ScienceBlogs, realizamos uma blogagem coletiva sobre o tal do Fim do Mundo em 2012. O que eu escrevi você pode ler aqui.
Mas muito enganado estava quem pensou que o assunto acabaria por ali… Até 21 de Dezembro muito ainda vai se ouvir sobre o final dos tempos. (e depois de 2012 também).
Estou eu lendo meus e-mails quando a wild news appears. Leia essa notícia antes de continuar: Prefeito mobiliza São Francisco de Paula, RS, para ‘fim do mundo’.
Reação inicial: ufa, uma cidade próxima, estou salvo. Reação após um instante: vocês estão fazendo isso errado…
Eu não sei onde o Prefeito de São Francisco de Paula se aprofundou em teorias da geofísica e astrofísica, mas o fato é que em nenhuma dessas duas Ciências se encontram fundamentos para eventos catastróficos associados com 21 de Dezembro ou com Calendário Maia.
Dito isso, desastres naturais podem acontecer, e não acho que exista alguma cidade que pode estar livre deles.
É importante que as Prefeituras, junto com Defesa Civil, Bombeiros e Polícia montem planos para emergências, treinem os moradores para quando algo acontecer. Mapear áreas de risco e caso houver necessidade, mover os moradores para localidades mais seguras, por exemplo. Estudos técnicos e científicos, nada de conspirações ou pseudociências.
Os desastres naturais não são o Fim do Mundo que o prefeito de São Francisco de Paula espera, mas preveni-los e montar esquemas e estratégias para contorna-los caso aconteçam é muito importante.
Desnecessário é o alarmismo sem fundamentação.
É bom lembrar que de nada vai adiantar você ter toneladas de comida estocada em casa, se um deslizamento de encosta levar tudo embora. Planejamento e Gestão de Risco é o ponto chave aqui.
O prefeito não deixa de estar correto quando diz que outros países se preparam para desastres. O Japão é um exemplo. Mas ao invés dos governantes japoneses se preocuparem com fim do mundo Maia ou ataque de Godzilla, eles focam naquilo que realmente pode causar grandes catástrofes. Os terremotos.
A população é educada e orientada sobre o que fazer em uma situação de risco, há treinamentos periódicos e as prefeituras preparam guias até mesmo para os estrangeiros terem noção do que fazer em uma situação de emergência.
Lembrem-se das eleições municipais no final desse ano. Evite candidatos que baseiam suas decisões em pseudociências e conspiracionismo, discuta com eles sobre planos de emergência, sobre locais de risco, sobre como a população da sua cidade pode agir em uma necessidade grave.
Se o mundo não acabar em 2012, vocês poderão precisar.
Eu no Skeptics in the Pub
Na noite de ontem estive presente em mais um Skeptics in the Pub. Minha segunda oportunidade de participar desse evento que já se encontra em sua sexta edição.
Para quem não conhece, o “Skpetics in the Pub” (ou Taverna Cética, como carinhosamente é chamado por aqui) surgiu na Inglaterra em 1999. A ideia é uma espécie de encontro informal para conversas sobre temas referentes a Ciência, Ceticismo, a vida o Universo e tudo mais.
Hoje em dia os SitP’s estão espalhados pelo mundo.
O tema de ontem foi Astronomia X Astrologia, e os convidados foram Åsa Heuser (ex-astróloga, vice presidente da LiHS) e de Horacio Dottori (astrofísico, pesquisador do Instituto de Física da UFRGS).
Åsa comentou sobre sua experiência na Astrologia (um resumo aqui) e o Dottori, trajado como um verdadeiro astrólogo, comentou sobre as questões científicas relacionadas com o tema debatido.
O Professor Renato Flores foi convidado para comentar sobre o processo contra ele movido por uma astróloga. Mais detalhes sobre o caso você pode ler aqui.
Fica aqui o meu apoio aos Professores, e o suporte do NiM para a campanha “Cadê o Paper”.
Os eventos SiTP (Skeptics in the Pub, ou Taverna Cética) Porto Alegre, são uma iniciativa conjunta do Coletivo Ácido Cético (http://coletivoacidocetico.blogspot.com) e da Liga Humanista Secular do Brasil (http://ligahumanista.org).
Calendário NiM do Fim do Mundo
Que o mundo acabará em 21 de Dezembro de 2012, todos já sabemos. Mas até lá (e após), muitos outros fins de mundo [não] acontecerão. Para que você não perca nenhum desses grandiosos eventos apocalípticos, o Nightfall in Magrathea lança mais uma novidade:
O Calendário Pirelli é para os fracos. Chegou o Fabuloso Calendário Nightfall in Magrathea do Fim do Mundo.
Então, atentos antes de marcar seus compromissos para Novembro:
O Asteroide 2005 YU55 terá sua aproximação máxima em relação a Terra no dia 8 de Novembro. Certamente trazendo terremotos, maremotos, extinções em massa, e todo tipo de destruição que um corpo celeste passando próximo da Terra pode causar.
Onze do Onze do Onze. Obviamente, comentários são desnecessários. Onze é o número favorito dos Illuminatis e outros membros da Nova Ordem Mundial, que provavelmente realizará um grande ataque maligno em comemoração. Mas outros eventos também estão programados, desde a aberturas de “portais dimensionais” devido a configuração Universal dessa data, até a invasão de seres alienígenas.
E as viúvas do finado cometa Elenin não cansam. Segundo elas, entre os dias 11 e 22 de Novembro os efeitos do cometa serão (finalmente) sentidos na Terra. Para terminar de destruir aquilo que o Asteroide e a Nova Ordem Mundial deixaram pra trás.
E é isso pessoal, um Novembro divertido para todos vocês.
Onde está sua rapidez da luz agora?!
Eis que há pouco mais de uma semana: bomba, bomba, neutrinos viajando mais rápido que a velocidade da luz! Eu não sou tão rápido, então a postagem sobre esse interessante assunto só está saindo hoje. Mas se ainda assim você não estava sabendo, é interessante dar uma lida em alguns desses links antes de continuar:
– http://astropt.org/blog/2011/09/22/mais-rapido-que-a-luz-3 (em português)
– http://theastronomist.fieldofscience.com/2011/09/superluminal-claims-require-super.html (em inglês)
A regra é clara. Se algo que sai de um lugar e chega a outro, demora menos tempo para percorrer essa distância do que a luz teria demorado, então é possível assumir que esse algo foi mais rápido que a luz.
Viu a rapidez daquele neutrino? |
Imagine então que não existem mais radares para fiscalizar a rapidez dos veículos nas estradas. Você, ao sair, define um lugar onde quer chegar. E então, alguém mede o tempo que você levou para percorrer a viagem e calcular sua rapidez. Você poderia andar acima do limite em alguns trechos, porém, abaixo em outros, e chegar ao fim de sua viagem sem ser multado.
Os neutrinos chegaram antes do que havia sido estipulado pela Polícia Rodoviária do Universo.
E pode isso, Arnaldo?
“A Física não permite.” |
Bem, ainda não se sabe, na verdade.
Podem haver erros de medição, pode ser que eles realmente tenham viajado com rapidez acima da rapidez da luz, ou ainda, pode ser que eles não tenham percorrido certo trecho do espaço… ou outra coisa… ou não…
Então quer dizer que não preciso jogar meu GPS fora?
Eu não sei usar mesmo… |
Afirmações de que a relatividade está errada, de que Einstein estava errado, e outra nesse sentido foram ditas e escritas por aí. Na verdade, toda a Teoria Científica é válida dentro de um determinado modelo, seguindo determinados parâmetros.
Mesmo que as evidências sugiram que os neutrinos de fato viajaram a uma rapidez superior à luz, isso não significa que a Relatividade proposta por Einstein esteja errada, da mesma forma que a Mecânica de Newton não estava errada quando a Relatividade de Einstein foi proposta.
São apenas modelos diferente que, a sua maneira, podem ser usados para descrever a natureza que está a nossa volta.
O GPS é apenas um exemplo de aplicação prática do que propõe a Teoria da Relatividade. E a menos que você seja um padre querendo voar com balões, sabe que os GPS’s estão funcionando, e muito bem. Mas supondo que a Teoria não seja mais válida, a ponto de não poder mais incluir os efeitos relativísticos usados no funcionamento dos GPS’s, então teríamos que procurar uma outra Teoria para explicar como é que eles estão funcionando. Não é como viajar com balões, mas é ainda é muito emocionante.
Cientistas não são contra a mudança ou adaptação de modelos teóricos. Pelo contrário, ser cientista é estar disposto a mudar de opinião diante de novas evidências. Mesmo que alguns estejam trabalhando em teorias opostas para explicar o comportamento medido pela equipe do CERN, estão todos entusiasmados.
O tempo dirá qual das hipóteses permanecerá como mais aceitável, enquanto isso, pegue sua pipoca, acomode-se na cadeira, e assista a História acontecendo diante de seus olhos.
Você é a pessoa mais fácil de se enganar
Peguei emprestado esse título do Richard Feynman, para tratar de um tema um pouco diferente do que ele usou originalmente no “Ciência do Culto à Carga”.
Meu problema era o seguinte: o que faz uma pessoa mudar de ideia, ou de outra forma, o que faz uma pessoa não mudar de ideia. O problema tem origem em discussões intermináveis e cíclicas sobre conspirações, ufologia e pseudociências.
Não que eu ficasse o tempo todo com esse problema em mente, mas, pensei em uma possível hipótese para resolver a questão. Ou não.
Duas ideias não precisam (e geralmente não tem) o mesmo valor. A principio, não deveria existir dificuldade em perceber quando uma ideia tem mais suporte lógico ou empírico do que outra. Porém, se o problema for de fato, esse, então entendo como melhor focar o rumo da discussão para a compreensão da diferença entre os pesos das ideias. Mas não é disso que pretendo tratar aqui.
Em casos em que está evidente que uma ideia é superior a outra, aposto na “hipótese do engano” como fator principal para que uma pessoa recuse trocar de ideia.
Todo mundo pode ser enganado, principalmente quem pensa que nunca poderá ser enganado. Um debatedor de vertente conspiracionista, por exemplo, costuma se colocar como vidente de uma realidade onde todos ao seu redor estão constantemente sendo enganados. Menos ele.
Ao admitir que aceitou ou mesmo defendeu uma ideia que tem pouca força quando confrontada com outra, ou mesmo uma ideia nitidamente mentirosa (como uma fraude revelada após um tempo), automaticamente faz com que a pessoa tenha que admitir que foi enganada, ou que se auto enganou.
Para algumas pessoas pode ser difícil assumir um erro, assumir um engano, demonstrar ser falível. Principalmente diante de um confronto com outra pessoa, ou em um grupo de pessoas.
Não há nada de ruim em estar enganado em uma ideia ou situação. Na verdade, ruim é você permanecer enganado por vontade própria. Eu confesso que não entendo o motivo que levaria uma pessoa a preferir isso, mas pode acontecer. Restando então criar todo um conjunto de ideias e situações (geralmente sem fundamentos lógicos) para dar suporte àquela ideia inicial. Seria um crença sobre outra crença. A crença de que sua crença não é um engano.
E adaptando Carl Sagan, o problema com as crenças é que elas se baseiam unicamente na vontade de acreditar.
Falta de um raciocínio crítico treinado, vergonha de errar, e vontade de acreditar. Penso que esses são os ingredientes da postura de aversão com as mudanças de ideias.
Mas claro, eu posso estar enganado. : )